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Contos Infantis


Lágrimas que moveram Jesus
 
AUTOR: IR. GABRIELA VICTORIA SILVA TEJADA, EP
 
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Mônica confiava inteiramente no Sagrado Coração de Jesus, expunha-Lhe todos os seus problemas e Ele sempre a atendia com inteira solicitude. Um de seus pedidos, porém, parecia não ser ouvido: a conversão do próprio pai…

Séculos depois de Santa Mônica ter derramado copiosas lágrimas pela conversão do grande Santo Agostinho, uma outra Mônica regava com seu pranto o solo de uma aldeia próxima a Milão. Só que desta vez não se tratava de uma mãe chorando por seu filho transviado, mas sim de uma filha aflita, carinhosa e vigilante, que temia pela salvação eterna de seu pai!

Esta boa menina era a filha mais velha da família e, nos últimos anos, cuidava praticamente sozinha de seus cinco irmãos. Sua mãe morrera de forma repentina pouco depois de nascer o filho caçula, e o Sr. Arturo, seu pai, havia já três anos que contraíra uma grave enfermidade, a qual o deixara de cama.

Mônica rezava dia e noite aos
pés do Divino Redentor

Desde tenra idade Mônica confiava plenamente no Sagrado Coração de Jesus, expunha- -Lhe todos os seus problemas e sempre esperava d’Ele as melhores soluções. Possuidora de uma bela imagenzinha que lhe presenteara sua mãe pouco antes de falecer, a jovem rezava dia e noite aos pés do Divino Redentor, o qual, em sua infinita bondade, a atendia com inteira solicitude. Um de seus pedidos, porém, parecia não ser ouvido: a conversão do pai…

Quando ele adoeceu, Mônica teve de exercer também as funções de enfermeira, acompanhando-o horas e horas junto ao leito. Enquanto corriam os dias, a doença tornava-se mais grave e sua morte se aproximava. E a filha se deparava com a terrível situação de que ele não estava preparado para apresentar-se dignamente diante do Divino Juiz!

Por suas atitudes e comentários, ela via que a revolta se apoderara do coração do Sr. Arturo pela perda da esposa e por sentir-se inválido ainda na força de sua maturidade. Acercava-se da morte sem nenhum sentimento religioso e isto a fazia chorar sem consolo todas as noites, suplicando ao Bondosíssimo Jesus que convertesse, com urgência, seu pobre pai.

Ademais, fazia o maior esforço para que ele não notasse sua aflição, caso contrário a moléstia pioraria e, por conseguinte, o momento de prestar as contas ao Justo Senhor chegaria com mais rapidez do que o desejado, encurtando o prazo disponível para obter de Nosso Senhor o milagre que tanto almejava.

Entretanto, com o correr do tempo o obstinado enfermo, vendo os olhos um pouco inchados de sua extremosa filha, e avisado pelo filho menor de que sua irmã se encontrava muito preocupada por ele, indagou:

— Vejo que tens chorado com muita frequência. Qual a razão de tanto pranto? O que te preocupa, minha filha?

— Papai, o que me leva a derramar tantas lágrimas é o pensamento de que temos de nos separar e não nos veremos nunca mais!

— Ah! É preciso ter paciência – objetou, otimista, o Sr. Arturo –, a separação não será definitiva, pois no outro mundo nos tornaremos a ver.

Vendo a oportunidade que o Sagrado Coração de Jesus lhe dava para tentar tocar o coração do pai, Mônica não duvidou em responder com seriedade e profunda tristeza:

— Oh, não! Nunca mais nos veremos!

Surpreso pela convicta reposta da jovem, ele replicou:

— Sim, filha, haveremos de nos ver, sim! Por que não?

— Não, meu pai! Porque se o senhor morrer no estado em que está, na inimizade com Deus, com certeza irá para o inferno. E eu quero ir para o Céu! E não quero vê-lo no inferno, mas sim no Céu.

Ao ouvir tais palavras, tão cheias de dor e afeto da parte da filha, o Sr. Arturo entendeu que não poderia continuar impenitente. Percebeu que tinha uma concepção superficial da vida e que ao longo dos anos, especialmente depois do falecimento de sua esposa e de sua enfermidade, tinha-se afastado de Deus, vivendo em revolta e como se Ele não existisse, porque lhe havia pedido um doloroso sofrimento. Esquecera-se de que àqueles a quem mais o Senhor ama, manda pesadas cruzes para participarem do sacrifício redentor de seu Filho Unigênito no alto do Calvário.

Decerto sua virtuosa esposa, que tão religiosa era nesta vida e de quem tanto sentia falta, deveria estar, da eternidade, pedindo por ele. Agora quem chorava era o Sr. Arturo! Com a alma contrita e arrependida, disse a Mônica:

— Minha querida filhinha, peço- -te que chames o Pe. Alberico. Teu pai já vê quão apartado está de Deus e de sua graça! A vida é demasiado séria e sei que em breve deverei entregar minha alma a Ele. Quero me confessar, pois estou muito arrependido, e espero, por sua divina misericórdia, que perdoe minha recalcitrância e meu pecado.

Agora quem chorava era o Sr. Arturo;
decerto sua esposa deveria estar
pedindo por ele da eternidade

O Sr. Arturo correspondia à graça conquistada pelas inocentes lágrimas de sua filha!

— E, por favor, peça-lhe que também me traga o Viático e a Unção dos Enfermos. Sei que não mereço, mas a Igreja é Mãe, sobretudo de um filho pródigo…

Pressurosa, Mônica pediu a Marcelo, seu irmão, que fosse até a paróquia para chamar o Pe. Alberico, avisando-lhe que seu pai estava pedindo os Sacramentos e não se podia deixar passar o momento em que a graça agia com tanta intensidade sobre ele…

Quando chegou o sacerdote, o Sr. Arturo confessou-se compungido, comungou e recebeu com grande devoção a Unção dos Enfermos. Comovido pela bondade do Pe. Alberico e pela presteza com que o atendera, disse-lhe à sua partida:

— Meu bom padre, muito vos agradeço por esta caridade! Se vós, que sendo um ministro de Deus, sois tão bom e misericordioso, quanto será Ele mesmo?

O Pe. Alberico instou-o a ter muita confiança e prometeu rezar por suas intenções junto ao altar.

Transcorrida apenas uma semana, o estado do Sr. Arturo se agravou e ele morreu serenamente, entregando-se nos braços d’Aquele que não pode deixar de compadecer-Se dos miseráveis e que encontra sua maior alegria em acolher um pecador deveras arrependido. O Sagrado Coração, movido pelas lágrimas de sua filha, não se esquecera dele e o recebia na eternidade com indizível amor. (Revista Arautos do Evangelho, Novembro/2018, n. 203, p. 46-47)

 
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