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Contos Infantis


“Mãe de Misericórdia, salvai-me!”
 
AUTOR: JULIANA GALLETTI
 
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Giovanna notou que estavam subindo e subindo… Ao aproximarem-se do ponto mais alto a luz se intensificou. Dando-se conta de que em breve seria julgada, um brado de súplica brotou-lhe do fundo do coração…

Que lugar seria aquele, tão amplo que parecia não ter fim? Assemelhava-se a um imenso vale, ladeado por escarpadas montanhas e sulcado por abruptos precipícios cuja profundidade não se podia medir…

   Um jovem vestido de branco, muito luminoso, guiava Giovanna, explicando-lhe cada detalhe do que acontecia ao seu redor. Era São Miguel, o Arcanjo guardião da Fé. Ele apontava para as almas que chegavam de todos os quadrantes da terra e a menina se deu conta de onde estava: dirigia-se ao tribunal de Deus!

   Que visão grandiosa e terrível! Centenas de almas se jogavam no inferno, reconhecendo a maldade de sua vida impenitente; outras iam para o Purgatório para se purificar; pouquíssimas entravam diretamente no Céu…

   Assustada, Giovanna perguntou ao Arcanjo:

   — Meu Senhor, por que tantas pessoas são condenadas?

 

Um jovem vestido de branco
guiava Giovanna, explicando-lhe
cada detalhe do que acontecia ao seu redor

 — Ah… Elas fecharam o coração, apesar dos inúmeros convites da graça e dos avisos de Maria Santíssima. Hoje, poucos cumprem os Mandamentos, rezam e frequentam dignamente os Sacramentos…

   — É verdade… Mas por que há tantas pessoas de nossa cidade?

   — Porque ali se instalou uma epidemia que leva à morte em poucos dias a quem é atingido por ela.

   — Nossa! Ali não está Marco, o sapateiro? Por que está fugindo de Deus para se jogar no abismo incandescente?

   — Ele nunca ia à Missa, pois dizia não ter tempo… Como a vida toda fugiu de Deus, agora não consegue ficar em sua presença. E vai odiá-Lo por toda a eternidade!

   — Que coisa horrível! E aquela alma?

   — Tampouco rezava… Uma semana antes da morte Deus lhe incutiu um forte desejo de ir à igreja para se confessar. Ela, porém, não quis!

   Apontando para outro lado, acrescentou:

   — Aquela outra alma que vês indo para o Purgatório, igualmente levou uma vida de pecado, todavia abriu o coração à graça e se arrependeu a tempo. Uma boa Confissão a salvou do fogo eterno!

   — E as que vão direto para o Céu, fizeram algo para merecê-lo?

   — Reconheceram seus defeitos e misérias, recorreram a Maria, minha Rainha, para as ajudar a vencê-los e se fortaleceram com o Pão Eucarístico. Quase todas rezavam o Rosá- rio diariamente e, por isso, a própria Nossa Senhora as conduz ao Paraíso.

   — Como são admiráveis as almas virtuosas! E aquela que vai para o Purgatório, não é também de nossa cidade?

   — Sim… Vê como são os caminhos de Deus: sua vida era muito medíocre, mas há pouco visitou uma catedral gótica e ficou maravilhada! Ela viu que uma obra tão bela só podia ter saído de um coração muito amante de Deus e, no fundo, se encantou com sua presença ali. Recebeu tal graça que fez o firme propó- sito, consolidado pelo Sacramento da Reconciliação, de abandonar as vias da tibieza. Dali em diante viveria com os olhos só postos em Deus. E o cumpriu.

   — Como a Providência usa de mil caminhos para salvar a todos! Que lástima que alguns não querem se beneficiar de tanta misericórdia!

   Giovanna notou que estavam subindo e subindo… Ao aproximarem-se do ponto mais alto, onde a luz divina se intensificava, São Miguel lhe disse:

   — Prepara-te, porque está chegando a tua hora…

   Prostrada aos pés de Nosso Senhor, ela viu que seria julgada. Toda a sua vida passou-lhe como um raio pela mente, fazendo-a exclamar:

   — Meu Deus, como tudo é sé- rio!…

   Um brado de súplica brotou-lhe do fundo do coração:

   — Mãe de Misericórdia, salvai-me!

   Ouviu-se então uma voz melodiosa e suave como uma brisa:

   — Meu Filho, Giovanna se consagrou a Vós em minhas mãos, pelo método de nosso dileto Luís Maria Grignion de Montfort! Ela é, portanto, nossa escrava de amor e a quero muito bem.

   Extasiado com a bondade de sua extremosa Mãe, Jesus voltou-Se para Ela e disse com um carinho inefável:

   — Minha Mãe, pois ela é vossa: julgai-a Vós!

De repente os olhos da menina
se iluminaram e ela exclamou:
“Mãe de Misericórdia, salvai-me!”

   Nesse instante Giovanna acordou! Eram seis horas da manhã…

   — Nossa! Foi um sonho?! Tudo parecia tão real…

   Aprontou-se com agilidade, tomou seu café da manhã e saiu apressadamente para a paróquia, onde o Pe. Enzo, como de costume, já se encontrava no confessionário. Depois de declinar suas faltas e receber a absolvição, contou ao padre o sonho que tivera e ele lhe disse:

   — Tudo isso é muito impressionante, pois justamente nesta semana começou a se alastrar em nossa cidade uma doença que nenhum médico sabe como curar. Há inú- meras pessoas hospitalizadas. O sonho que você teve bem pode ser um sinal…

   Depois que Giovanna saiu, o bom sacerdote ajoelhou-se diante do tabernáculo e começou a pensar em como preparar para a morte tanta gente, pois logo se instalaria a epidemia! Ocorreu-lhe percorrer os hospitais da cidade, atendendo Confissões, administrando a Unção dos Enfermos e levando o Viático aos que o pedissem, e assim o fez.

   Em menos de uma semana trinta dos doentes atendidos pelo Pe. Enzo morreram, com excelentes disposições de espírito. Seu trabalho pastoral, com a bênção de Maria Santíssima, produzia abundantes frutos.

   Alguns dias depois, ao visitar o hospital central ele se deparou com uma criança deitada num dos leitos, tendo um quadrinho de Nossa Senhora à cabeceira. Ao acercar-se, a reconheceu:

   — Giovanna?! Você também apanhou a terrível doença?

   — Sim, padre. Há três dias estou com o vírus e sei bem que a morte se aproxima. Por isso gostaria de ser mais uma vez ouvida em Confissão.

   O sacerdote atendeu-a, administrou-lhe a Unção e ficou rezando o Rosário junto a ela. Vinha-lhe à memória o sonho que a pequena contara, os conselhos de São Miguel Arcanjo e a intervenção de Maria Santíssima no momento crucial…

   De repente os olhos sofridos da menina se iluminaram, voltaram-se confiantes para o alto e ela exclamou:

   — Mãe de Misericórdia, salvai-me!

   Parecia estar vendo a Rainha dos Anjos sorrindo diante de si e ergueu os braços, como querendo abraçá-La. Mas logo eles voltaram a cair… Não obstante, antes que o último sopro de vida abandonasse seu rosto angélico e sua alma voasse para o Céu, Pe. Enzo escutou-a sussurrar:

   — Como sois clemente! Como sois boa! Como sois doce! E quão amável é vosso Filho, Jesus! (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2018, n. 197, p. 46-47)

 
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