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Contos Infantis


“Seja feita sempre vossa santa vontade!”
 
AUTOR: IR. DIANA MILENA DEVIA BURBANO, EP
 
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Depois de haver contemplado a luz do sol e o céu azul, a pequena ametista via-se novamente encerrada na escuridão. Entretanto, na solidão de sua tediosa masmorra, ela não deixava de rezar a Deus.
Alojada num enorme geodo, a ametista era feliz por
saber que Deus Se deleitava com sua beleza

   Era escuro e frio o interior da montanha onde morava uma graciosa pedrinha de ametista. Alojada num enorme geodo e rodeada de outras muitas gemas, era feliz por saber que Deus, seu Criador, a amava e Se deleitava com sua beleza. Assim passava sua existência glorificando-O e desejando agradá-Lo, embora enclausurada dentro de um monte perdido na vastidão da terra.

   Conversava-se muito na morada da ametista: as pedras mais velhas contavam às mais jovens míticas e extraordinárias lendas do exterior, as quais conheciam pelos relatos do manancial que por ali as visitava nas estações quentes do ano.

   Entre história e história, a pequena ametista ia amando aquele mundo feito de homens, flores e animais, iluminado por um astro magnífico a quem chamavam sol, por meio do qual as cores refulgiam num incessante cântico de adoração. Anelava ela fazer sempre a vontade d’Aquele que tantas coisas criara e tanto amor merecia. E rezava:

   — Ah, meu Deus, que dos Céus olhais para esta pequena pedrinha, fazei em mim sempre o que estiver em vossos eternos desígnios!

   O Senhor aceitou a oração fervorosa da ametista… E, certo dia, as pedras foram acordadas por ruídos ensurdecedores:

   — O que será?! – perguntavam- -se aflitas, enquanto sentiam sua milenar morada desfazer-se numa confusão de pó, detritos e tremores.

   Apenas uma voz, muito tênue pelo medo, repetia sem cessar em meio à grande desordem:

   — Oh, meu Deus, se esta é a vossa vontade, assim seja feito!

   Era a nossa pequena ametista que tremia, alarmada… mas glorificava a Deus!

   Chorava assustada a pedrinha, sem saber o que iria lhe acontecer, quando sentiu que as explosões a atingiam também. E antes de que todas as pedras, atordoadas, pudessem entender o que havia ocorrido, uma forte torrente de água arrastou- as até uma cavidade. Aí foram separadas por mãos estranhas e distribuídas em curiosos recipientes, para serem transportadas a um local desconhecido.

   — Para onde iremos? O que farão conosco? – indagava a pequena ametista, sem achar resposta entre suas desditosas companheiras.

   Somente um pensamento lhe trazia tranquilidade: a certeza de que o bom Deus dela não havia de Se esquecer. E, de fato, no alto do Céu o Senhor olhava comprazido para a sua fiel pedrinha.

   A caminho da indústria de mineração para onde um trem a conduzia, e afastada de suas amigas, que haviam sido depositadas em diferentes bandejas, a pequena ametista observava o mundo exterior. Ali estavam os esplendores do Criador, dos quais tanto lhe haviam falado, as fulgurações do astro rei e o espetáculo da natureza, ornada de gala nos albores de um cálido dia de primavera. Ao contemplar tamanha magnificência, ela se alegrou porque, afinal, conhecia as maravilhas com que sonhara quando ainda vivia no negrume da caverna:

   — Na escuridão ou na luz, na montanha ou nos campos, só desejo fazer vossa vontade, Senhor! – era a exclamação que a cada instante lhe brotava do coração.

   Chegando por fim a uma imponente construção, a ametista e as outras pedras foram lavadas, pesadas, classificadas e guardadas com todo cuidado em caixinhas, separadas em compartimentos individuais. A seguir, elas foram depositadas nas gavetas de um enorme cofre, onde haveriam de permanecer por longos meses…

   A espera foi dolorosa! Depois de haver contemplado a luz do sol e o céu azul, outra vez estava encerrada na escuridão. E agora se via sozinha, sem nem mesmo ter com quem conversar. Entretanto, na solidão de sua tediosa masmorra, a pequena ametista assim rezava:

   — Ó meu Deus, na constante noite desta prisão, nestes dias tão negros em que estou, só desejo fazer o que Vós queirais de mim. Senhor, ainda que o futuro me seja desconhecido, Vós sabeis o que me aguarda… Seja feita a vossa vontade!

Além de contemplar as maravilhas da criação com
que sonhara, a abnegada pedrinha passou a ser
instrumento para honrar a Mãe do Redentor

   Repetindo na hora da desolação a mesma prece que em tempos mais felizes rezara, a pedrinha tornava-se tão agradável ao Criador que Ele a designou para uma sublime missão!

   Esta começou a se delinear no horizonte de nossa pedrinha quando, numa fria manhã de inverno, um famoso joalheiro adquiriu a caixa de ametistas em que ela estava, para confeccionar uma joia especial. Para tal, encomendou a um lapidador experimentado a difícil tarefa de transformar aquelas lindas pedras irregulares, nas delicadas contas de um belo rosário.

   Processo doloroso! À medida que a lapidação purificava a pequena ametista das suas imperfeições, ela sofria a mais terrível das provações. Indizíveis foram seus sofrimentos, porém os suportou com resignação e até com alegria, por saber que tudo o que lhe acontecia era desígnio de Deus. Em meio às dores, entre gemidos e soluços, a pedrinha rezava:

   — Senhor, só quero o que Vós quereis; fazei de mim o que Vos aprouver!

   Uma vez lapidadas, as ametistas que estavam ainda em bruto na caixinha se tornaram gemas refulgentes! Concluída pelas hábeis mãos do joalheiro aquela obra-prima de ourivesaria, o rosário de ametistas chegou a seu destino.

   — É esplêndido!
 
   — Realmente formidável!

   — A mais rara joia que tenha visto!

   Cheios de admiração, alguns sacerdotes olhavam para a caixinha de veludo onde se encontrava o estupendo terço de ametistas que seria presenteado ao Sumo Pontífice, no qual uma das pedrinhas, talvez a mais admirável e luminosa de todas, sorria e agradecia a Deus:

   — Senhor, quão bom sois para comigo! Eu não sou digna de fazer parte deste rosário tão bonito!

   Tal foi a feliz missão da abnegada pedrinha: ser instrumento para honrar a Mãe do Redentor nas mãos do Vigário de Cristo! E cada vez que aquele terço de ametistas era utilizado pelo nobre e santo varão que com ele rezava devotamente à Rainha Celestial, a pedrinha elevava aos Céus sua perfeita oração:

   — Senhor, seja feita sempre vossa santa vontade!

(Revista Arautos do Evangelho, Outubro/2017, n. 190, pp. 46 à 47)

 
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