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Contos Infantis


Uma ponte para o Céu
 
AUTOR: IR. DIANA MILENA DEVIA BURBANO, EP
 
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Ao ouvir que o chamavam, Lucas olhou para a sua cruz: ficara tão pequenina que nem sequer podia dar um passo sobre ela... Como atravessaria aquele terrível precipício?!

Aproximava-se a solene festa de Primeira Comunhão no colégio das Irmãs da Caridade. Apressavam-se as religiosas na confecção dos trajes das crianças e nos ­bordados das toalhas e alfaias litúrgicas que seriam utilizados em tão importante celebração. Muito ocupada e diligente, a bondosa irmã Estella preparava as crianças para o Banquete Celestial. Ela podia se considerar uma mestra feliz: seus alunos mostravam-se zelosos e entusiasmados pelas verdades da Fé, e a devoção refulgia em seus inocentes corações.

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O professor decidiu tomar-lhe a lição
oralmente; no entanto, foi uma
tentativa frustrada…

Um, porém, a contristava: Lucas, o mais travesso do grupo e muito preguiçoso no cumprimento dos deveres. Apesar de ser piedoso e ter bom coração, ele passava o tempo todo reclamando dos sofrimentos, incômodos ou aborrecimentos do dia a dia.
De manhã, quando sua mãe ia acordá-lo, enrolava-se nos cobertores e continuava dormindo. Intimado a levantar-se, fingia com grande talento indisposições e moléstias que lhe angariassem alguns minutos extras na cama…

Na escola, nunca apresentava os trabalhos com pontualidade e fugia das provas sempre que podia. Para evitar uma delas, chegou a simular uma misteriosa paralisia muscular que lhe impedia de segurar o lápis nas mãos… O professor decidiu, então, tomar-lhe a lição oralmente. No entanto, foi uma tentativa frustrada, pois ele aparentou sentir uma terrível dor nos joelhos por ficar de pé durante a arguição, e queixou-se de agudas pontadas na coluna quando recebeu ordem para sentar-se!

Preocupada, irmã Estella resolveu expor suas inquietações à madre superiora e, juntas, decidiram dar ao teimoso jovenzinho um Crucifixo, pedindo-lhe que a cada dia, antes de se deitar, meditasse no sofrimento de Nosso Senhor durante a Paixão.

Naquela noite, Lucas foi se recolher antes do habitual, tomou a imagem nas mãos e, pensativo, sentou-se na cama:

– O que devo fazer com esta Cruz? – perguntava-se, esquecido das instruções recebidas – Irmã Estella não me explicou direito. E estou com muito sono…

Depositou com cuidado o Crucifixo no criado-mudo, recostou a cabeça no travesseiro e adormeceu.

Em sonho, viu seus colegas se reunindo para uma excursão pelo bosque, a caminho de um local onde lhes tinha sido preparado um estupendo banquete. Entretanto, para desfrutá-lo precisavam vencer um desafio: todos deveriam carregar uma cruz de madeira ao longo do percurso. Desejando que a sua fosse bem leve, Lucas espantou-se ao receber uma, a seus olhos, de tamanho descomunal! Apesar de protestar teve que partir, e o fez arrastando os pés, resmungando a cada passo.

Após algum tempo, revoltado com a própria sorte, sentou-se à beira do caminho para recuperar as forças. Ao levantar os olhos, observou com inveja seus companheiros: alguns conversavam animados, outros cantavam ou rezavam. “Devem ser leves aquelas cruzes” – pensou – “Se fossem tão pesadas como a minha, não estariam tão contentes!”.

– Ah, já sei! – disse consigo – Cortarei um pouco suas pontas, para que fique menos pesada… Assim poderei andar mais depressa!

Poucos minutos depois, ele havia serrado discretamente os extremos da sua cruz. Seguro de que ninguém perceberia a trapaça, juntou-se aos amigos em alegre caminhada.

Contudo, ela continuava muito pesada… O esforço e o clima inclemente não tardaram a deixá-lo de novo abatido. Seus companheiros o animavam a prosseguir, oferecendo-lhe água e guloseimas, mas Lucas deixou-se cair à sombra de um bambuzal e ali ficou remoendo com amargura seus queixumes. À sua vista passavam vários meninos com suas cruzes.

Alguns até escorregavam ou caíam sob o peso delas, todavia refaziam suas forças, invocando o nome de Maria Santíssima, e seguiam a marcha.

Certo de que o tamanho de sua cruz ainda era exagerado, Lucas esgueirou-se entre os arbustos e, bem escondido, cortou-lhe outros tantos centímetros.

– Ficou perfeita! – exclamou.

Orgulhoso de seu ardil, pôs-se a andar. Não obstante, quando a fadiga e a preguiça se apoderavam dele novamente, repetia aquela ação. Pouco a pouco a cruz estava ficando menor.

No fim do dia, o grupo deparou-se com uma encosta íngreme que levava ao alto de uma montanha. O cansaço e a irritação de Lucas foram tais que, sem pensar duas vezes, cortou mais e mais os extremos da haste e da trave. E enquanto os colegas subiam com admirável agilidade, ele ia penosamente arrastando o que lhe restava de cruz, agora com menos de um palmo de comprimento…

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No dia seguinte, bem cedo, Lucas
aprontou-se e foi correndo ao colégio
à procura da irmã Estella

Ao atingir o cume, um espetáculo maravilhoso se abriu diante de seus olhos: o céu parecia tocar a Terra e, no horizonte, vislumbravam-se vales, montes e colinas, encimados por castelos e majestosas fortalezas. Na montanha oposta, plantações e jardins entremeados de lagos reluziam com incomparável beleza, os pássaros trinavam encantadoras melodias, sendo acompanhados por jubilosos hinos entoados por crianças e Anjos que, exultantes, desfrutavam do banquete ao qual haviam sido convidados. Os meninos pararam extasiados ante tão magnífica cena. Ao vê-los, os comensais os chamaram para o bem-aventurado convívio.

Sem embargo, antes era preciso transpor um terrível precipício. Para fazê-lo, cada qual devia deitar sua cruz, usando-a como uma ponte. Um a um, os meninos foram vencendo o perigoso abismo. Lucas, atônito e paralisado, ouviu que alguém o chamava do outro lado:

– Venha! Só falta você! Use a cruz como ponte!

No entanto, ela ficara tão pequenina por causa de suas artimanhas, que nem sequer podia dar um passo sobre ela… Como iria atravessar?! Seu desespero e tristeza foram tais, que se despertou num mar de lágrimas!

No dia seguinte, bem cedo, Lucas aprontou-se e foi correndo ao colégio à procura da irmã Estella, segurando o Crucifixo entre as mãos. Ao encontrá-la, contou-lhe o que havia acontecido no sonho e prometeu nunca mais fugir nem reclamar dos sofrimentos e contrariedades. Agradecido pelo bem que ela lhe havia feito com o presente, disse:

– Agora compreendi que a Cruz é a única ponte que me levará ao Céu! (Revista Arautos do Evangelho, Abril/2016, n. 172, pp. 46-47)

 
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