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História da Igreja


Descendo às “alturas”
 
AUTOR: IR. JOSÉ ANTONIO DOMINGUEZ, EP
 
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Como se sobe mais? Descendo às "alturas" heróicas das Catacumbas, ou contemplando o esplendor da Igreja do alto da cúpula de São Pedro?

Subindo à cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma, se tem uma sensação curiosa. Primeiro, contemplando do alto a Cidade Eterna, brota uma exclamação interior de maravilhamento. Fica-se com certa impressão de ver o mundo da perspectiva de Deus, lá das alturas… Depois, vendo as “formiguinhas” humanas embaixo, movendo-se de um lado para o outro na praça, se toma consciência, quase diria palpável, da grandeza daquele edifício.

CUPULA BASILICA....jpgCom efeito, é tal a harmonia de suas proporções que ao entrar ninguém se sente esmagado por aquela grandiosidade, mas se é maternalmente envolvido por ela.

Ao construir a Basílica de São Pedro, os Papas conseguiram simbolizar, através do esplendor material, a grandeza divina da Igreja. Mas se alguém quiser subir a outras alturas, que não as da monumentalidade material, então bem faria descendo às entranhas da terra, penetrando numa galeria apertada e escura para contemplar com os olhos da alma uma grandeza não menos esplendorosa: a dos mártires dos primeiros tempos do Cristianismo.

Nas Catacumbas não há ouro nem prata para deslumbrar a vista, nem mosaicos de um colorido eternamente vivo, como se tivessem sido montados ontem, nem vitrais para transformar os raios de sol em jóias, nem grandiosas cúpulas fazendo ecoar as vozes como se fossem de anjos.

Os olhos só vêem a terra nua. No silêncio sepulcral, os ouvidos só ouvem os passos que parecem ecoar na eternidade…

Aquelas galerias, em cujas paredes se enfileiram as sepulturas já vazias, testemunharam as gloriosas cerimônias fúnebres de inúmeros mártires que a história humana não registrou.

Penetrando naquela penumbra sagrada, somos levados a imaginar cenas que ali ocorreram. As Missas, celebradas sobre a pedra tumular de um mártir (daí se originou o costume de incrustar nos altares relíquias de santos), eram vividas com outra intensidade. A Eucaristia e a vida se interpenetravam. Com que emoção o fiel via cair a gotinha de água no cálice, misturando- se com o vinho, simbolizando assim a união do oferecimento de cada um ao divino sacrifício de Jesus! Pois o cristão que ali assistia ao sacrifício incruento de Cristo, sabia que em breve podia ser chamado a “celebrar” seu próprio sacrifício cruento: o martírio.

Porém, essa imolação era certamente aceita por cada fiel com disposições diversas. A uns arderia no coração o desejo de seguir o exemplo dos que os haviam precedido no holocausto. E pediriam a Deus que chegasse quanto antes o momento bendito em que algum leão faminto devorasse sua carne e a alma pudesse voar para o Céu, para junto de Nosso Senhor Jesus Cristo e de seus Santos.

Mas talvez outros ficassem aterrorizados ante essa perspectiva. E pedissem a Deus que os livrasse de semelhante destino, receosos de não ter forças para resistir, pois neles o instinto de conservação falava alto.

Nuns se manifestava a fortaleza cristã, que desafiava na arena as multidões, os césares e as feras, indo alegremente ao encontro da morte. Noutros, ao transparecer a fraqueza humana, se manifestava a força de Jesus Cristo, transformando tantas vezes, num só instante, cristãos temerosos em mártires corajosos.

O que nem uns nem outros podiam imaginar, na penumbra das Catacumbas, quando fugiam da perseguição dos imperadores romanos, é que aquelas galerias apertadas se “alargariam” definitivamente para inspirar os mais esplendorosos edifícios do mundo. E vinte séculos mais tarde, os peregrinos devotos, depois de contemplar as maravilhas da arte ao serviço da liturgia, penetrariam naqueles subterrâneos e se ajoelhariam admirados diante de seus túmulos já vazios, para tentar reviver um pouco da glória que envolveu o heroísmo daqueles mártires anônimos.

Afinal, leitor, por onde se sobe mais? Descendo às “alturas” heróicas das Catacumbas? Ou contemplando o esplendor da Igreja do alto da cúpula de São Pedro? (Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2005, n. 44, p. 50-51)

 

 
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