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Tesouros da Igreja


Museu de Arte Sacra de São Paulo: Cinco séculos de nossa História
 
AUTOR: PE. ANTONIO JAKOŠ ILIJA, EP
 
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Nas dependências do famoso Mosteiro da Luz, deparamo-nos com uma bela mostra do esplendor alcançado pela cultura e pela arte sacra na Terra de Santa Cruz.

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Em meio ao intenso trânsito e à poluição, próprios à cidade de São Paulo, por vezes nos deparamos, para refrigério de nossa alma, com inesperados tesouros arquitetônicos, culturais e religiosos. Um deles, sem dúvida, é o Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz.

Neste autêntico oásis espiritual incrustado no meio da floresta de concreto armado paulistana, religiosas concepcionistas de clausura adoram a Deus, reverenciam os restos mortais de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão e rezam pelos habitantes da cidade. Ademais, o histórico edifício alberga o Museu de Arte Sacra de São Paulo, uma das mais belas coleções de arte colonial existentes na América.

Memória da cultura e da Fé

O valioso patrimônio do estabelecimento está composto por uma harmoniosa conjunção de objetos habilmente trabalhados por artesãos brasileiros, com obras-mestras trazidas da Europa no período da colonização portuguesa, e abrange mais de cinco séculos de história da Terra de Santa Cruz.

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Vitrines contendo a coleção de pratarias e ostensório do
Congresso Eucarístico Nacional de 1942

“A arte sacra” – explica o diretor executivo do museu, José Carlos Marçal de Barros – “exerceu papel central na colonização da América. Oleiros, carpinteiros, mestres de obras e prateiros acompanharam a ocupação territorial, construindo capelas e igrejas em torno das quais se desenvolveram povoados e cidades. E foi no interior de mosteiros e recolhimentos que se organizaram as primeiras oficinas de artes e ofícios da América portuguesa”.1

O Museu de Arte Sacra de São Paulo nasceu no final dos anos 1960, mas a origem de sua coleção remonta às primeiras décadas do século XX, quando a Diocese de São Paulo, recém-elevada a arquidiocese pelo Papa São Pio X, era governada por um prelado de notável zelo e cultura: Dom Duarte Leopoldo e Silva. Ele “tudo fez para iniciar sua organização, com o empenho de cultivar a memória histórica da cultura e Fé da Terra de Piratininga”,2 afirma o presidente do conselho do museu. Para isto, “recolheu imagens, pinturas, indumentária, obras raras e peças de numismática”,3 atesta a diretora técnica, Maria Inês Lopes Coutinho.

Mais de 18 mil peças

Seu acervo artístico conta atualmente com mais de 18 mil itens, desde imagens, prataria e ourivesaria, alfaias e objetos litúrgicos, até mobiliário, pinturas, desenhos e literatura.

Entre as mais importantes peças ali expostas, encontra-se uma escultura feita por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nosso ostensorio.jpggenial artista a quem Germain Bazin, conhecido historiador francês e especialista em arte, alcunhou como o “Michelangelo brasileiro”.4 Chama também a atenção do visitante um presépio napolitano do século XVIII, constituído por mais de 1.600 peças, que inclui encantadoras cenas da vida cotidiana.

A instituição conta ainda com uma biblioteca de 4.500 volumes, entre os quais se destacam um incunábulo contendo o tratado De Trinitate, de Santo Agostinho, bem como manuscritos de São Pio X e de São Carlos Borromeu.

Esplendor da Igreja brasileira

Um dos principais atrativos do museu é a possibilidade de seguirmos cronologicamente a História do Brasil, alimentada desde o berço pela cultura e a Religião Católica, como exprimem as crônicas de Pero Lopes de Sousa, no pitoresco linguajar do século XVI: “A todos nos pareceu tão bem esta terra que o capitão determinou de a povoar […]; e pôs tudo em boa obra de justiça, de que a gente toda tomou muita consolação, com verem povoar vilas e ter leis e sacrifícios [Missas], e celebrar matrimônios e viverem em comunicação das artes”.5

Tanto o mobiliário quanto os paramentos e objetos litúrgicos pertencentes ao museu revelam o esplendor com o qual a Igreja Católica no Brasil soube cultuar a Deus e agradecer os dons prodigalizados a esta terra que, no emblemático parecer de Pero Vaz de Caminha, “em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente”.6

Pelo zelo e dedicação de virtuosos missionários, aqui foi plantada a Fé, cujos frutos, pela graça de Deus, ainda haverão de encher de admiração o mundo inteiro! (Revista Arautos do Evangelho, Junho/2016, n. 173, pp. 49 a 51)

1 BARROS, José Carlos Marçal de. Colecionar, registrar, preservar e divulgar. In: COUTINHO, Maria Inês Lopes (Org.). Museu de Arte Sacra de São Paulo. São Paulo: Museu de Arte Sacra de São Paulo, 2014, p.29-30.
2 SANTOS, José Roberto Marcellino dos. Portas abertas para a História. In: COUTINHO, op. cit., p.25.
3 COUTINHO, Maria Inês Lopes. Entre o passado e o futuro. In: COUTINHO, op. cit., p.35.
4 BAZIN, Germain, apud BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de ideias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014, p.226.
5 SOUSA, Pero Lopes de. Diário de navegação pela costa do Brasil até o Rio Uruguai, de 1530 a 1532, apud SALA, Dalton. A fundação da arte brasileira. In: COUTINHO, op. cit., p.41-42.
6 VAZ DE CAMINHA, Pero. Carta a El Rei Dom Manuel. São Paulo: Dominus, 1963, p.67.

 
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