Fale conosco
 
 
Receba nossos boletins
 
 
 
Artigos


Catecismo


Asas para voar até Deus
 
AUTOR: IR. ALINE KAROLINA DE SOUZA LIMA, EP
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
0
0
 
Aqueles que em tudo desejam imitar o Divino Mestre, fazendo-se pobres, puros e obedientes pela prática dos conselhos evangélicos, antegozam, ainda nesta terra, a paz de alma prenunciativa das alegrias que terão no Paraíso.

Infinitos, porque divinos, são os méritos e graças que a Sagrada Árvore da Cruz trouxe ao gênero humano. Deus, contudo, os proporciona às almas em função do chamado e da glória que preparou para cada uma. O caminho a percorrer, não importa o estado de vida escolhido, é sempre o da busca da santidade, a qual se alcança praticando os Mandamentos, com o auxílio da oração, dos Sacramentos e dos vários meios ensinados pela Santa Igreja.

Entre o comum dos homens, no entanto, um número restrito de batizados recebe do Salvador a vocação para alcançar essa meta seguindo um caminho mais rápido e seguro: a via dos conselhos evangélicos.

Auxílio na virtude e escudo contra as tentações

Há uma grande diferença entre a exímia observância dos preceitos da Lei e a prática dos conselhos evangélicos. Todos os católicos têm obrigação de cumprir os primeiros, mas são relativamente poucos os chamados a se entregar nas mãos do Altíssimo praticando de forma radical a pobreza, castidade e obediência.

Quem opta pela via dos conselhos evangélicos, costuma formalizar sua escolha pela profissão dos respectivos votos religiosos. Por meio deles, deseja-se imitar o Divino Mestre que, “sendo rico, Se fez pobre” (II Cor 8, 9) para nos enriquecer por sua pobreza; que eleva os “puros de coração” (Mt 5, 8) à bem-aventurança; que “aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo” (Fl 2, 7) para a nós Se assemelhar; que foi “obediente até a morte, e morte de Cruz” (Fl 2, 8), para nos redimir.

Abraçar a vida fraterna em comum, seja em institutos de vida consagrada ou em sociedades de vida apostólica, estimula a prática da virtude e é escudo contra as tentações. E caso o religioso venha a cometer alguma falta, poderá contar com as correções dos superiores, as boas leituras e as meditações, bem como os edificantes exemplos e conselhos dos irmãos, que o auxiliarão a retomar a via de perfeição abraçada: “Se um vem a cair, o outro o levanta” (Ecl 4, 10).

Semelhanças com o Sacramento do Batismo

Ao comentar a entrada na vida religiosa, São Tomás de Aquino explica que, pela profissão dos votos perpétuos, o religioso obtém “a remissão de todos os pecados”.1 Em favor desta afirmação, ele argumenta que, se pela simples prática da esmola, que é algo temporal, pode o homem satisfazer a pena merecida por suas faltas (cf. Dn 4, 24), com muito mais razão a satisfará por este ato de total consagração ao serviço divino.

Partindo do ensinamento do Doutor Angélico, o Pe. Antonio Royo Marín faz a seguinte analogia: “A alma do que termina de emitir sua profissão perpétua fica tão limpa e purificada como se acabasse de receber um segundo batismo sacramental”.2 E explica que a diferença consiste apenas no modo de isto se produzir: no Batismo sacramental, o efeito se realiza ex opere operato, ou seja, por sua força intrínseca; na profissão religiosa, “ex opere operantis, ou seja, por via de méritos, em virtude do ato de caridade perfeita que supõe e leva consigo quando é emitida com plenitude de conhecimento e de entrega”.3

Abraçar a vida fraterna em comum estimula a
prática da virtude e é escudo contra as tentações
Membros da Sociedade de Vida Apostólica Regina
Virginum aplaudem as irmãs que acabaram de
fazer a profissão dos votos perpétuos, em 22/6/2018

Com efeito, o próprio da profissão religiosa “consiste no fato de, por ela, se levar as exigências do Batismo à sua máxima plenitude e perfeição”.4 Nesse sentido, as “exigências batismais – morte para o mundo e vida para Deus – se ratificam e se afirmam de maneira tão plena e consumada na profissão religiosa, que esta ratificação não só produz na alma de quem a faz os mesmos efeitos do Batismo – remissão total da culpa e da pena devida pelos pecados anteriores –, senão que a eleva a um estado de perfeição que não foi produzido na simples recepção do primeiro Batismo”.5

Íntima relação com o martírio

Os teólogos também comparam a profissão religiosa com o martírio.

Mártir é aquele que leva às últimas consequências sua inteira configuração com Cristo, aceitando a morte como profissão e consumação de sua fé. Nesse sentido, ele é o cristão perfeito, pois ao chegar aos últimos extremos da participação na Morte e Ressurreição do Redentor, iniciada no Batismo, “se identifica com Cristo, é assimilado à Morte inocente de Cristo e admitido na vida sobrenatural do Reino de Deus”.6

Na profissão dos votos não intervém, como no martírio, um elemento externo e hostil que destrói a vida temporal, todavia não faltam na vida religiosa elementos interiores que a tornam uma espécie de martírio voluntário. Claro está que o professo “não pode entregar fisicamente toda sua vida num instante, pois seu futuro não lhe pertence; mas pode comprometer de modo integral esse futuro, entregando-o a Deus mediante um voto perpétuo e irrevogável”.7 Faz ele, assim, um verdadeiro e perfeito holocausto de si mesmo, e se compromete a renová-lo e consumá- -lo, a cada momento, por sua conduta e fidelidade exímias.

O religioso renuncia a dispor com inteira liberdade dos bens que vier a possuir, à possibilidade de constituir uma família e, o que é ainda mais meritório, à sua própria vontade. Além do mais, quem leva vida fraterna em comum sofre as dificuldades a ela inerentes, que o obrigam a subjugar sem cessar suas más tendências por amor a Deus.

Recompensa e glória no Céu

Um bom religioso entrega a Cristo toda a sua pessoa, de sorte que pode dizer: “Senhor, tendo-Vos dado a minha vontade, nada mais tenho a dar-Vos”.8 Impelido pela caridade, ele aceita todas as renúncias e humilhações, com a esperança de, como o Apóstolo, no fim da vida receber a “coroa da justiça” (II Tim 4, 8).

Com quanta propriedade São Bernardo costumava afirmar: “Da cela para o Céu a passagem é fácil, porque dificilmente sucederá que um religioso, morrendo na sua cela, não se salve, visto que é muito difícil que persevere na cela até a morte aquele que não é predestinado ao Céu”.9 Por isso, ao observar os conselhos evangélicos, o religioso não considera a morte como uma perda, mas sim como o encontro com seu Amado, a quem se entregou com inteira radicalidade.

Eis a excelência da profissão religiosa, sublime ato de misterioso e total holocausto da vida a Deus. Bem-aventurados aqueles a quem é dado entregar-se a tão divinos mistérios, quando chamados a abraçá-los, pois os que tudo abandonam para seguir a Cristo, fazem nascer em seu espírito asas para voar até Deus. (Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2018, n. 200, p. 22-23)

1 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II, q.189, a.3, ad 3. 2 ROYO MARÍN, OP, Antonio. La vida religiosa. 2.ed. Madrid: BAC, 1968, p.183. 3 Idem, ibidem. 4 Idem, p.182. 5 Idem, ibidem. 6 AGUILAR, CMF, F. Sebastián. La vida de perfección en la Iglesia, apud ROYO MARÍN, op. cit., p.184. 7 ROYO MARÍN, op. cit., p.186. 8 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Obras ascéticas. In: CRISTINI, CSsR, Thiago Maria (Org.). Meditações para todos os dias do ano, tiradas das obras ascéticas de Santo Afonso Maria de Ligório. Friburgo em Brisgau: Herder & Cia, 1921, t.II, p.79. 9 SÃO BERNARDO, apud SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. A verdadeira esposa de Jesus Cristo. Aparecida do Norte: Santuário, 1922, v.I, p.49.

 
Comentários