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Catecismo


Existe Deus?
 
AUTOR: LUIS JAVIER CAMILO
 
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Pela ordem em sua constituição, precisão em seu movimento e beleza arrebatadora, o universo proclama a impossibilidade de ter se originado do acaso.

Narra uma antiga revista francesa que, encontrando-se Napoleão Bonaparte prisioneiro na Ilha de Santa Helena, o general Bertrand, um de seus oficiais, com a intenção de fazer-lhe um gracejo, perguntou:

– Quem é Deus? Já O viste alguma vez?

– Vou te responder com outra pergunta – replicou Napoleão. Acaso a genialidade é uma coisa visível? Já a viste para crer nela? Entretanto, no campo de batalha, quando se precisava de uma estratégia genial para alcançar a vitória, todos gritavam:

“Onde está o imperador?”.

– É verdade – reconheceu o general.

– Ora, que significava esse brado, senão que acreditáveis na minha genialidade? E da mesma forma que as minhas vitórias vos têm feito crer em mim, o universo me faz acreditar em Deus, pois o que é a melhor manobra de guerra comparada com o movimento dos astros?

Conhecer a Deus através de suas obras

Este pequeno fato ilustra como até alguém ávido de poder e glórias mundanas, que levou uma vida afastada da prática da Religião, era capaz de reconhecer a existência do Criador através de suas obras. Pois, como afirma o Apóstolo, “desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras” (Rm 1, 20).

O raciocínio, aliás, não é novo. Já Aristóteles afirmava que Deus, “embora invisível a toda natureza mortal, pode ser visto em suas obras”.2 E o Catecismo da Igreja Católica, fazendo eco aos dois Concílios Vaticanos, afirma: “A Santa Igreja, nossa Mãe, sustenta e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas criadas”.

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Aristóteles – “Embora invisível a toda
natureza mortal, Deus pode ser visto em
suas obras”
 Voltaire – “Quanto mais penso, menos
posso imaginar que, sem um relojoeiro,
este relógio possa funcionar”

Portanto, servindo-nos de exemplos, comparações e alguns fatos históricos, procuremos reforçar nossas convicções sobre a existência de Deus, para melhor amá-Lo, servi-Lo e reverenciá-Lo.

Causa primeira de todas as coisas

Comecemos por nos perguntar: é possível justificar a existência das coisas que nos rodeiam?

Tomemos, por exemplo, uma casa. Ela não se constrói a si mesma; necessita de um construtor. Assim também uma planta provém de uma semente, e esta, por sua vez, de outra planta. Não há nada que não tenha tido um começo e que não provenha de outro ser. Poderia ainda alguém recorrer a uma longa série de sementes e de plantas, que se antecedem umas às outras; em todo caso, sempre chegaria a uma primeira semente ou a uma primeira planta da qual proviriam as demais. Então, será necessário desvendar quem é o autor e causa da primeira semente ou da primeira planta. Quem é ele? Somente pode ser Deus, a causa primeira de todas as coisas.

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Armand Quatrefages – “Não achei em
nenhum lugar uma raça importante, que
professasse o ateísmo”
 Sir Fred Hoyle – “Qual seria a
possibilidade de, após a passagem de um
tornado por um armazém de peças, restar
um Boeing 747 pronto para voar?”

Imaginemos que, caminhando em pleno deserto, encontramos um esplêndido palácio. E num de seus suntuosos salões nos deparamos com um lauto banquete. Seria realmente possível pensar que eles são fruto da casualidade? Diríamos que não, pois certamente houve quem construísse o palácio, quem montasse a mesa e preparasse a refeição. Seria absurdo afirmar que tudo isso surgiu de forma espontânea, que foi simples consequência do acaso.

Uma ordem surpreendente e inexplicável

Ora, o mundo é um palácio maravilhoso e um banquete magnífico nos é servido todos os dias. Nada é tão belo como a ordem que reina no universo. O movimento dos astros que giram sobre as nossas cabeças sem jamais colidirem uns com os outros, a estrutura das flores, o organismo extremamente complexo do corpo humano, tudo denota uma ordem surpreendente e inexplicável.

Imaginemos agora que encontramos no meio do campo uma estátua de mármore de uma beleza admirável. A primeira pergunta que surge ao vê-la é: quem foi o artista que a fez? Porque ninguém ousaria dizer ter surgido esta estátua do nada.

Pois estamos em presença de uma obra imensamente mais bela: o mundo. A conclusão é inevitável: este mundo não pode ter sido organizado com tanta harmonia a não ser por uma inteligência, e esta inteligência é a de Deus.

Atribui-se ao ímpio Voltaire um adágio que bem sintetiza tal necessidade: “Quanto mais penso, menos posso acreditar que sem um relojoeiro, este relógio possa funcionar”.

Opinião de um cientista contemporâneo

À mesma conclusão chega o astrônomo britânico contemporâneo Sir Fred Hoyle: “A vida não pode ter tido um início aleatório. […] Existem cerca de duas mil enzimas, e a possibilidade de obtê-las todas numa experiência aleatória é apenas uma parte em 1040.000, uma probabilidade tão chocantemente pequena que não deveria ser considerada nem sequer no caso de o mundo inteiro ser uma sopa orgânica”.5 Ou seja, se impõe a necessidade de um Criador.

placa de marfim italiana do Séc XI.jpg

“O homem espiritual contempla e admira nas criaturas
visíveis a sabedoria do Criador”

A criação dos animais, placa de marfim italiana do séc. XI
Metropolitan Museum of Art, Nova York

Mais conhecido e ainda mais expressivo é o outro exemplo dado pelo mesmo cientista: “Imagine-se que passe um tornado por um depósito de sucatas onde estão amontoados em total desordem todos os pedaços e peças de um Boeing 747. Qual seria a possibilidade de, após sua passagem, restar no depósito um Boeing 747 montadinho e pronto para voar? Completamente desprezível, mesmo se o tornado tivesse atravessado depósitos suficientes para encher o universo”.

O duplo exemplo do livro

Tomemos uma sacola repleta de pequenos pedaços de papel, cada um contendo uma letra do alfabeto, e atiremos simultaneamente todos os papéis ao chão. Admitiria alguém que estas letras poderiam formar uma página, ou um livro inteiro conformado por ideias que seguem uma ordem lógica, pelo simples acaso?

– Não, ao lermos um livro pensamos em seu autor. Se a obra é interessante, elogiamos a grande capacidade de quem a fez, mas se é tediosa, desestimamos o escritor. Ninguém elogia ou acusa jamais o “acaso”.

Há muito mais ordem e harmonia no universo que no melhor dos livros. Tudo tem portanto um autor, Deus.

Para a famosa escola dos Vitorinos, “o mundo é, com efeito, um livro escrito pelo próprio dedo de Deus. […] Um ignorante vê um livro aberto; ele percebe sinais, mas não conhece nem as letras nem o pensamento que elas exprimem. Igualmente o insensato, o homem animal que não percebe as coisas de Deus, vê a forma exterior das criaturas visíveis, mas não compreende os pensamentos que elas manifestam. O homem espiritual, pelo contrário, sob essa forma exterior e sensível, contempla e admira a sabedoria do Criador”.

Testemunho da nossa consciência

Os argumentos que tratamos nos conduzem à constatação da existência de Deus através da observação do universo e da ordem na criação. Entretanto, desejamos apresentar a seguir mais dois que falam continuamente em nosso próprio interior.

Praticando boas ações experimentamos um sentimento de alegria, optando pelo mal nossa consciência protesta e nos censura, causando-nos então o remorso. Por si mesma, a consciência discerne o bem e o mal, e sente que há coisas permitidas e outras proibidas.

Ora, havendo esta lei que rege as consciências, é necessária a existência de um Legislador que a tenha determinado. Assim, o apelo da consciência humana proclama a existência de um soberano Mestre das consciências, que é Deus.

Jamais encontramos na História um povo ateu

A humanidade inteira une sua voz à do universo. Sob pena de injuriar o sentimento comum de todos os homens, é descabido colocar em dúvida a existência do Ser Supremo.

E aqui não há exceção de raça, nem de época ou educação. Em todas as partes, por todas as latitudes, em qualquer grau de civilização ou de barbárie a que pertençam, todos os povos têm uma religião. Jamais encontramos na História um povo ateu. Dirigindo-nos a qualquer parte do mundo, independente do período histórico, nos deparamos com templos, altares, cerimônias e dias de festas religiosas em louvor a alguma divindade.

Quem pôde inscrever esta crença no coração do homem? Como a humanidade inteira poderia estar completamente equivocada a este respeito?

Um conhecido antropólogo francês escreveu: “Obrigado pelas minhas investigações a passar em revista todas as raças humanas, procurei nelas o ateísmo de cima a baixo. Mas não o achei, exceto em indivíduos ou em escolas mais ou menos limitadas. […] Em todo tempo e lugar, a grande maioria dos povos fugiram dele. Não achei em nenhum local uma raça importante, e nem sequer uma divisão menos importante dela, que professasse o ateísmo”.

Santo Agostinho..jpg
Por suas tão regulares revoluções e pela beleza
de todas as coisas visíveis, o mundo proclama
em silêncio que foi criado e somente podia ter
sido criado por um Deus de inefável beleza

Santo Agostinho – Mosteiro de São Salvador,
Celanova (Espanha)

Sem dúvida, os povos de todos os séculos e lugares têm diferido em suas crenças. Uns adoram as pedras, outros, os animais e outros ainda, o Sol. Muitos têm atribuído aos seus ídolos os seus próprios vícios ou qualidades. Mas todos são unânimes em concordar que existe uma divindade à qual é necessário render culto.

Contra a humanidade inteira, quais são os ateus que alçam sua voz obstinada? O senso comum testemunha contra eles.

O mundo proclama ter sido criado

A existência de Deus criador é uma verdade tão clara e plausível à inteligência que a Sagrada Escritura denomina insensatos aqueles que dizem não existir Deus.

Falam estes com verdadeira convicção ou por mera conveniência? Não preferem esses “ateus” que Deus não exista para poder mais facilmente abandonar-se sem remorsos ao furor de suas paixões? Não desejam eles que ninguém lhes aponte suas fraquezas, nem julgue suas ações?

Escutemos, pois, o testemunho de nossa consciência e o da humanidade inteira, compreendamos a linguagem maravilhosa da criação que nos circunda. A partir de então, todas as vezes que nosso olhar se perder nas profundezas do firmamento, nas belezas da natureza, na grandeza das montanhas, na imensidade dos mares, rendamos homenagem à sabedoria de Deus que criou e dispôs todas estas coisas.

Muitos há que admiram os avanços da ciência e se extasiam frente aos progressos do pensamento, e é, realmente, um dever de justiça reconhecer-lhes o devido valor. Contudo, mais necessário ainda é elevar-nos até a Inteligência Suprema que colocou a natureza com tanta sabedoria à nossa disposição.

Nesse sentido, canta o prodígio de inteligência que foi a Águia de Hipona: “Sem falar dos testemunhos dos profetas, o próprio mundo proclama em silêncio, por ­suas tão regulares revoluções e pela beleza de todas as coisas visíveis, que ele foi criado e somente podia ter sido criado por um Deus, cuja beleza e grandeza são invisíveis e inefáveis”. (Revista Arautos do Evangelho, Fevereiro/2016, n. 170, pp. 18 e 19)

 
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