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Espirito Santo


E renovareis a face da Terra…
 
AUTOR: CLARA ISABEL MORAZZANI ARRÁIZ
 
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Se da ação do Espírito Santo em Pentecostes nasceram tantas belezas da cultura e da civilização e, sobretudo, tantos milagres da graça, o que não aconteceria se houvesse um novo sopro do Paráclito sobre a face da Terra?

Incansável, ardendo de zelo pela glória de Deus, o Apóstolo Paulo percorria as cidades da Grécia, pregando a todos o Evangelho de Cristo. Por vezes, a hostilidade de muitos se opunha a seu apostolado e atentava contra sua vida. Grande era, entretanto, o consolo que lhe proporcionavam as numerosas conversões.

Chegando a Atenas – cidade rica e orgulhosa, centro da filosofia e do intelectualismo – o coração do Apóstolo das Gentes encheu-se de amargura, à vista de tanta idolatria (cf. At 17, 16). Entre os múltiplos locais de culto, onde eram oferecidos sacrifícios às divindades mais absurdas, deparou ele com um altar no qual figurava esta inscrição: “A um deus desconhecido”.

Chocado ante a ignorância daquele povo, sem embargo tão inteligente, Paulo pôs-se a pregar no Areópago, exclamando: “O que adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio!” (At 17, 23). E logo os iniciou no conhecimento da verdadeira religião.

Nos dias de hoje, em nosso Ocidente cristão, não vemos mais aqueles templos destinados à adoração dos ídolos, pobres imagens feitas por mãos humanas.

Pelo contrário, passados quase dois mil anos de pregação apostólica, continuada fielmente pelo Magistério, erguem-se agora numerosos templos cristãos, ostentando no alto de suas torres o glorioso símbolo da cruz.

Entretanto, se a confissão de um só batismo e a crença na Trindade reúnem os cristãos, não faltam aqueles para os quais o Espírito Santo poderia chamar-Se o “Deus desconhecido”.

Semelhantes aos discípulos de Éfeso que, interrogados por Paulo, responderam: “Nem sequer ouvimos dizer que há um Espírito Santo” (At 19, 2), muitos são hoje os que, sem chegar a esse extremo, desconhecem as características e os poderes do Paráclito e se esquecem de invocá-Lo.

Quanto mais O conhecemos, mais O amamos

No Antigo Testamento, a humanidade ignorava a existência de Três Pessoas em uma única Essência Divina; e se algumas expressões dos Livros Sagrados faziam vislumbrar esse conhecimento, eram apenas lampejos de uma Revelação que Deus Se reservava transmitir por meio de Seu Filho, na plenitude dos tempos.

Errôneo seria julgar que a doutrina sobre o Espírito Santo não deveria ser difundida entre os fiéis, por temor de causar confusões ou desvios.

Não foi este o exemplo dado pelo Salvador, ao prometer a vinda do Paráclito ou ao explicar tal mistério ao velho Nicodemos, que não chegava a compreendê-lo. Também não foi essa a conduta observada pelos discípulos de Jesus ao escreverem repetidas vezes sobre a ação e a presença da Terceira Pessoa Divina no seio da Igreja.

Em sua Encíclica Divinum illud munus, o Santo Padre Leão XIII exortava aos pregadores a ensinar e inculcar essa devoção no povo cristão, visto que seus frutos haviam se revelado abundantes e profícuos: “Insistimos nisso não só por tratar-se de um mistério que nos prepara diretamente para a vida eterna e que, por isso, é necessário crer firme e expressamente, mas também porque, quanto mais clara e plenamente conhecemos o bem, mais intensamente o queremos e o amamos.

Isso é o que agora queremos recomendar-vos. Devemos amar o Espírito Santo, porque é Deus: ‘Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças’ (Dt 6, 5). E deve ser amado porque é o Amor substancial eterno e primeiro, e não há coisa mais amável que o amor; portanto, tanto mais devemos amá-Lo quanto Ele nos cumulou de imensos benefícios que, se testemunham a benevolência do doador, exigem a gratidão da alma que os recebe” (Divinum illud munus, 13)

Entender com o coração, e não apenas com o intelecto

Ao procurar nos aprofundar no conhecimento desse Divino Espírito, a quem a Igreja invoca como “Luz dos corações”, faça-mo-lo não apenas por um exercício do intelecto, mas compreendendo, sobretudo, com o coração.

A inteligência, como explica São Tomás, é potência régia e imóvel: traz a si o objeto sobre o qual ela se aplica e o torna proporcionado à sua capacidade. Se esse objeto é superior à razão, ela forçosamente o diminuirá ao adaptá-lo a si. A vontade percorre o caminho inverso: naturalmente inclinada à entrega e à doação de si mesma, ela voa até o objeto e adquire suas proporções.

Quando este se manifesta superior, ela se alarga e cresce até tomar as suas medidas.

Ora, no caso do Espírito Santo, não se trata de um objeto apenas superior ao pobre entendimento humano, mas de um Ser infinitamente distante de nossa frágil natureza.

É necessário voarmos a Ele com a vontade, amando-O sem medida até nos tornarmos “deuses”, como Ele mesmo afirma nas Escrituras (cf. Sl 81, 6; Jo 10, 34-35).

Deste modo, estaremos aptos para anunciá-Lo àqueles que ainda não O conhecem, conforme a expressão de Lacordaire: “La raison ne fait que parler, c’est l’amour qui chante!” – A razão só sabe falar, é o amor que canta!

Dupla influência do Espírito Santo

Para conhecer o Espírito Santo e se relacionar com Ele, não necessitam os batizados voar muito longe, pois, se bem Ele “habita nos céus” (Sl 122, 1), também Se encontra próximo às almas em estado de graça, exercendo sobre elas uma dupla influência.

Pela primeira, íntima e direta, comunica-lhes seus dons, purifica-as das misérias, inspira-lhes os bons propósitos… Essas almas se tornam, assim, semelhantes a um navio prestes a zarpar: o sopro de uma suave brisa enfunará suas velas e o conduzirá a bom porto. Sem dúvida, ao criar o vento, fê-lo Deus com o intuito de simbolizar esta ação do Espírito Santo no interior dos corações, como o indicou o próprio Jesus ao fariseu Nicodemos: “O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aqueles que nascem do Espírito” (Jo 3, 8).

A segunda influência que d’Ele vem manifesta-se por meio do magistério da Igreja, da palavra infalível dos Pontífices ou do ensinamento dos Bispos, pelos quais o povo fiel é guiado. “O Espírito Santo – afirma ainda Leão XIII -, que é espírito de verdade, pois procede do Pai, Verdade eterna, e do Filho, Verdade substancial, recebe de um e de outro, juntamente com a essência, toda a verdade que em seguida comunica à Igreja, assistindo-a para que jamais erre, e fecundando os germes da revelação até que, no momento oportuno, cheguem à maturidade para a salvação dos povos” (Divinum illud munus, 7).

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Os dons do Espírito Santo em Maria

A alma que se abre às inspirações do Espírito, ao mesmo tempo em que é iluminada pela doutrina da Igreja, torna-se, de certo modo, inerrante.

Essa misteriosa atuação do Espírito Santo passa por cima de todas as fraquezas e misérias, transformando completamente aqueles que a recebem.

Divina inabitação

Para os corações assim renovados, a única lei consistirá em obedecer ao dulcis Hospes animæ (doce Hóspede da alma), deixando-O operar no seu interior. Assim recomendava insistentemente a santa carmelita, Madre Maravillas de Jesús, a cada uma das suas filhas espirituais: “Si tú Le dejas…” – Se você Lhe permitir…

É sabido que a presença de Deus, enquanto Pai e Amigo, nas almas dos batizados compete às três Pessoas da Santíssima Trindade. Entretanto, atribui-se a inabitação especialmente ao Divino Espírito Santo, pois esta dá-se pelo amor e efetua-se apenas nas almas em estado de graça.

Ora, o Espírito Santo é o amor substancial, porque procede da união eterna e amorosa entre o Pai e o Filho.

São Paulo, ao referir-se a essa divina inabitação, mostra-se ainda mais ousado, não a restringindo apenas à alma, mas, considerando seus reflexos no próprio corpo: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós?” (I Cor 6, 19).

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Os doze frutos do Espírito Santo

Os Apóstolos antes de Pentecostes

Muitas vezes, a ação do Espírito Santo nas almas faz-se de modo suave e paulatino, na medida em que estas não lhe oponham obstáculos, purificando-as de suas culpas e convidando-as a progredir sempre mais na virtude. Em outras ocasiões, porém, essa transformação se opera de modo súbito e fulminante. Tal foi o caso dos Apóstolos.

Durante a Paixão de Jesus, eles revelaram toda a pusilanimidade própria à natureza humana. Temerosos de sofrer o mesmo destino do Mestre, tinham fugido, abandonando-O no momento em que Ele mais necessitava de sua companhia. E se, após aqueles dias de tragédia, ainda se conservavam reunidos no Cenáculo, isto se devia às preces e à ação da Santíssima Virgem.

Seus corações permaneciam ainda vacilantes, seus bons desejos, mesclados à ambição pelo primeiro lugar, não eram perfeitos. Eles mesmos deveriam experimentar um sentimento de indignidade em relação à grandeza da obra que o Senhor lhes confiara. Entretanto, uma esperança os mantinha juntos, perseverando unânimes na oração (cf. At 1,14): era a promessa feita sob juramento pelo próprio Cristo: “Digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei” (Jo 16, 7).

Sim, era necessário que Jesus fosse para que viesse o Espírito; convinha que os discípulos, cuja visão do Mestre era por demais humana, sentissem o vazio criado pela Sua ausência e compreendessem, agora distanciados, a origem divina d’Aquele que os congregara.

Essa nova perspectiva só seria atingida por ação do Paráclito que lhes ensinaria “toda a verdade” (Jo 16, 13).

 

Transformação dos Apóstolos

Assim, dez dias após sua ascensão aos céus, realizando a profecia que Ele mesmo fizera, o Filho enviava sobre os discípulos o Defensor prometido. Por cuja ação repentina e eficaz aqueles homens tímidos e cheios de lacunas foram transformados em verdadeiras colunas da Fé.

Simão Pedro, que havia poucas semanas negara seu Senhor por medo de uma criada, não temia agora pregar esse mesmo Crucificado às portas do Templo. Tiago e João, os boanerges, de temperamento colérico e ambicioso, tornavam-se os paladinos da doçura, Apóstolos do “novo mandamento do amor”. Tomé, o incrédulo, faria chegar sua palavra ardorosa até os confins longínquos da Índia.

Que força inexplicável para olhos humanos movia-os agora, impelindo- os a conquistar o mundo para Cristo? Que misterioso poder os cumulara de uma nova infusão de dons e dos mais preciosos carismas?

Fora, ouvira-se um ruído insólito, vindo do céu, semelhante ao de um vento impetuoso. Simultaneamente, sobre a cabeça de cada um repousara uma língua de fogo. Estes sinais exteriores, que confirmavam a mudança operada em seus espíritos eram símbolos da graça outorgada, do ímpeto da caridade e da grandeza de Deus que descia. O vento, ao qual Jesus já fizera alusão na conversa noturna com Nicodemos (cf. Jo 3, 8), figurava as inspirações repentinas enviadas pelo Espírito. As línguas de fogo indicavam a plenitude de Fé e amor que convinha aos anunciadores da Palavra de Deus.

Magnitude dos dons concedidos em Pentecostes

Para compreender bem a importância desse acontecimento é necessário conhecer a magnitude dos dons que ali foram concedidos. E não só pessoalmente aos discípulos, mas a toda a Igreja, perpetuando-se pelos Sacramentos do Batismo e do Crisma.

Pelas virtudes infusas, a alma age segundo seu livre-arbítrio auxiliado pela graça, à maneira de um pássaro que voa pelo esforço próprio de suas asas. Os dons, porém, dispõem-na para deixar-se conduzir diretamente sob o impulso do Espírito Santo: “Quem são estes, que voam como nuvens?” (Is 60, 8).

Sete são os dons que provêm do Espírito e adornam a alma, conferindo- lhe beleza e atração. Por eles, segundo explicam os Santos Padres e os teólogos, adquire-se força para resistir às principais tentações e afastam-se os obstáculos à vida de perfeição. Quatro desses dons têm por finalidade iluminar a inteligência, enquanto os outros três põem em movimento a vontade.

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Reflexões sobre Pentecostes

Dons e frutos do Espírito Santo

O dom de sabedoria ilustra a alma para o conhecimento de Deus e a contemplação de seus adoráveis atributos; o da ciência é um dom que faz penetrar com discernimento nas criaturas e julgá-las de modo acertado; o dom de entendimento permite compreender os mistérios divinos; e o dom de conselho rege as ações, de modo a usar ordenadamente os conhecimentos anteriores.

Já o dom de fortaleza opera no campo da vontade, aperfeiçoando a virtude do mesmo nome e robustecendo- a contra o vão temor mundano; o dom da piedade inclina ao amor de Deus e à caridade para com o próximo; por fim, o santo temor opõe-se às inclinações de orgulho e soberba, tão enraizadas no coração humano.

A alma que se deixa inundar pela ação do Espírito Santo não tardará em produzir frutos de santidade. Esta alma espargirá ao seu redor o bom odor de Cristo que comunicará à sua pessoa um encanto todo espiritual. Em seu coração reinarão a paz e a mansidão, a bondade transparecerá no seu relacionamento com os outros. Assim também a modéstia brilhará no seu comportamento e o gozo pela posse do Amado acompanha-la-á constantemente. É por isto que o Espírito Santo é chamado também o Espírito da alegria, pois Sua presença e atuação vêm sempre seguidas de um bem-estar interior que, por vezes, reflete- se no próprio físico, e que constitui o verdadeiro tesouro dos santos.

A alma da Igreja

Aqui tocamos nos umbrais de um mistério que envolve a História da Igreja. Este mistério tem sido causa de confusão e desconcerto para aqueles que se esforçam por destruí-la. Ao prometer a Pedro que as portas do inferno não prevaleceriam contra Sua Igreja, Jesus não falava da parte humana. Referia-se sim, à parte divina, que é a que confere à Esposa Mística de Cristo seu caráter triunfante e imortal. A alma da Igreja é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Ele é o Defensor prometido e enviado, que a santifica e enriquece pela ação de Sua graça e Seus dons, impedindo que a Igreja venha a sucumbir, ou até mesmo enlanguescer, sob os reiterados ataques de seus adversários.

No Paráclito encontramos a explicação do grande segredo pelo qual a Igreja “toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5, 27) continua seu cortejo vitorioso ao longo dos séculos, engendrando novos filhos e levando sua doutrina até os confins do mundo. Compreendemos, então, de onde provém o ensinamento infalível dos Papas durante quase dois milênios, o surgimento de novos carismas sempre que suas necessidades o requerem, o incessante florescer de almas santas que, como outros Cristos, prolongam por meio do exemplo sua adorável presença na Terra: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

Antes e depois de Cristo

O mundo, antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, estava numa decadência enorme. Pode-se dizer que a humanidade tinha alcançado um auge de maldade inimaginável. Isso porque, por todas as partes imperava a idolatria, observavam-se os costumes mais depravados e a degradação da dignidade atingira profundidades nunca vistas. Se nossos primeiros pais, Adão e Eva, ainda vivessem naquela época, não poderiam crer que, por um só pecado cometido, sua descendência houvesse chegado à situação em que se encontrava no tempo do nascimento de Jesus.

Assim, a Encarnação de Nosso Senhor foi um marco histórico que dividiu as eras em antes e depois de Cristo. O fato da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade ter assumido a nossa carne e, após cumprir Sua missão redentora, ter subido aos Céus e enviado o Espírito Santo, mudou a face da Terra. (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2008, n. 77, p. 18 a 23)

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