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Espiritualidade


As cores do outono
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 04/02/2018
 
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No outono, como se regidas por um misterioso maestro,as folhas despem-se do verde que lhes é comum e tomam emprestadas as cores do sol.

O universo é cheio de segredos. No entanto, ao longo dos séculos Deus foi iluminando certos homens para desvendarem os arcanos da Criação. Por exemplo, Arquimedes e Leibniz o fizeram no campo das ciências exatas; Hipócrates e Andreas Vesalius na medicina; e Aristóteles e São Tomás de Aquino na filosofia. Suas descobertas, e as de muitos outros, passaram para o patrimônio dos conhecimentos humanos, e hoje tanto jovens como adultos podem beneficiar- se dessas ciências nas diversas instituições de ensino disseminadas pelo mundo afora.

É bom ter presente, porém, que nem todos os ensinamentos se adquirem na escola ou na universidade; muitos deles, assaz úteis tanto para o intelecto quanto para a alma, estão postos ao alcance de nossa vista, e mesmo de nossas mãos.

Assim, contemplando a imensidão do oceano, podemos ter uma noção profunda a respeito da grandeza, como muitos tratados filosóficos não são capazes de dar. O cãozinho que continua a seguir o seu dono empobrecido, mesmo quando a comida não é abundante e o trato é pouco bondoso, pode falar-nos de fidelidade melhor do que muitos escritos bem alinhavados. Para não irmos mais longe, lembremos os insuperáveis exemplos do labor da formiga, da mansidão do cordeiro e da astúcia da raposa.

Contudo, vale a pena dar uma vista de olhos também no reino vegetal. Embora as descrições feitas adiante sejam mais folha do outono_europa..jpgpróprias aos países de clima temperado ou sub-tropical, elas certamente não serão de todo estranhas a quem vive em regiões de outras temperaturas, pois a veloz mídia moderna tratou de difundi-las por toda parte.

As plantas obedecem ao ciclo das estações. Ao despontar da primavera, os galhos das árvores cobrem-se de uma miríade de tenros e pequeninos pontos verdes, os quais de início surgem modestamente, mas, passados alguns dias, crescem com espantosa rapidez, numa explosão de vida que o rigor do inverno parecia ter sobrepujado.

As macias folhas primaveris estão, por assim dizer, em sua infância. Entretanto, logo o calor do verão lhes traz cores mais densas, elas se tornam mais rígidas e seu tamanho chega ao auge: já atingiram sua maturidade. Agora exuberantes, elas, contudo, não descansam, na sua incessante tarefa de proporcionar ar e luz para a árvore que as gerou. Poderiam olhar com certo orgulho para os suculentos frutos pendentes dos ramos, pois esses doces elementos são, em parte, resultantes de seu trabalho.

Mas seguem-se as semanas. A colheita já foi feita. Um discreto vento frio começa a soprar… As folhas talvez percebam que sua missão está encerrada, e pouco tempo lhes resta de vida. A árvore da qual todas nasceram começa a recolher sua seiva, e o pedúnculo que prende cada uma delas ao galho vai-se tornando aos poucos mais ressequido e quebradiço.

É o momento de elas darem seu derradeiro lance. Como se regidas por um misterioso maestro, todas as folhas, quase ao mesmo tempo e numa mágica sinfonia, despem-se do verde comum a todas elas e tomam emprestadas as cores do sol… Disputando entre si numa maravilhosa competição de beleza, umas vestem um amarelo radiante, outras um laranja incomparável, outras ainda se tingem de um vermelho mais vivo que o sangue. Mesmo depois de terem sido arrancadas impiedosamente dos galhos, pelo vento, e atiradas ao chão, elas continuam por mais algum tempo a exibir suas cores fascinantes, num encantador mosaico que cobre o solo.

Na hora de se despedirem da vida, tornam-se mais belas do que jamais o foram em toda a sua existência. Em vez de trazer melancolia, seu adeus nos inspira uma alegre aceitação das regras simples e naturais, inerentes ao ciclo da existência nesta terra.

O singelo exemplo das folhas fala por si. Se as pobrezinhas chegam aos seus últimos dias com tanta “nobreza”, porque não haveremos nós, homens, de fazer o mesmo?

Deus deu a cada ser humano uma alma imortal. Assim, muito se engana quem imagina que, quando passam a pesar sobre os ombros de uma pessoa os anos e os incômodos da velhice, a vida já não tem para ela encanto nem razão de ser.

Sem dúvida, o físico decai, mas o espírito pode e deve buscar um contínuo aperfeiçoamento; e alguém que com sinceridade de coração almeja a verdade e o bem, no entardecer da vida poderá com despretensão oferecer a seus irmãos e semelhantes a generosa dádiva das virtudes, do bom exemplo e da experiência, cuja beleza sobrenatural supera em brilho as cores de todos os outonos… (Revista Arautos do Evangelho, Out/2006, n. 58, p. 50-51)

 
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