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Espiritualidade


Beata Maria Felícia de Jesus Sacramentado: Pequena vítima pelos sacerdotes
 
AUTOR: EP
 
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Nos escritos da “Chiquitunga” desborda um amor de quem não concebe a existência vivida na mediocridade. Queria ser como o incenso que se queima ao cair sobre as brasas, ou como a cera que se derrete ao calor do fogo.
“Se não fosse por este Pão, este Pão da Vida,
não sei o que teria sido de mim”.

Maria Felícia de Jesus Sacramentado é o nome religioso da jovem carmelita descalça paraguaia beatificada em Assunção no dia 23 de junho deste ano. Nascida a 12 de janeiro de 1925, partiu para o encontro definitivo com o Senhor aos trinta e quatro anos de idade, em 28 de abril de 1959. Em seu país natal todos a chamam de Chiquitunga, apelido pelo qual era conhecida em família e nos seus círculos sociais.

“Tenho sede de uma entrega total”

A exemplo do Sol de sua vida, Jesus Eucarístico, imolou-se como vítima por Ele, primeiro como leiga comprometida com a Igreja, depois como religiosa de clausura. “Ofereci-me como pequena vítima pelos sacerdotes”, confidenciou certa vez.

Sua singela e penetrante espiritualidade vai diretamente ao essencial, em consonância com os voos místicos das grandes Teresas carmelitas: Santa Teresa de Ávila, Santa Teresinha do Menino Jesus e Santa Teresa de Los Andes. Maria Felícia de Jesus Sacramentado segue o sulco aberto por estas, de modo especial o da insigne reformadora do Carmelo.

Como elas, também a nova Beata deixou escritos de profundo sentido cristão e carmelitano. “Tenho sede de uma entrega total”, escreveu. Quanta coisa contém esta curta frase! Ela exprime um ideal de vida, o mais sublime que se possa imaginar.

Jesus Sacramentado, de quem tomou o nome,
foi sua força, junto com Maria, à qual se
consagrou como escrava de amor

Jesus Sacramentado foi sua força

No blog Amigos del Carmelo Teresiano se recolhe esta belíssima afirmação a respeito dela: “Sua vida foi uma Missa, na escuta da Palavra, em ofertório, como consagração e como comunhão”. Perto já do fim de sua vida, não hesitou em declarar: “Se não fosse por este Pão, este Pão da Vida, não sei o que teria sido de mim”. Jesus Sacramentado, de quem tomou o nome, foi sua força, junto com Maria, à qual se consagrou como escrava de amor.

Chiquitunga escreveu um breve relato de sua vida, que as carmelitas descalças do Paraguai publicaram sob o título de Diários Íntimos. Dela conhecemos também algumas poesias de encantadora simplicidade e dotadas de notável densidade teológica, bem como sessenta e uma cartas manuscritas.

Palpita em seus escritos um apaixonado amor de combatente. Ela não concebia a existência vivida na mediocridade. Em verdade, a qualquer batizado se pede integridade, nada de meios- -termos, mas ela é dos poucos que conquistou essa coerência consumada, renunciando ao amor humano e às falaciosas promessas de bem-estar pessoal e prestígio social que o mundo não deixa de nos apresentar como alternativa.

Rimas despretensiosas, mas muito profundas

Não vem ao caso retratar nestas linhas toda uma vida que, embora curta, foi fecunda. Apenas transcrevo abaixo alguns versos que mostram seu perfil eucarístico. Rimas despretensiosas, mas muito profundas. Nada têm de erudição acadêmica ou literária, são versos de um menino ou uma menina… daqueles que entram – e só eles – no Reino dos Céus.

“Tudo te ofereço Senhor”
Absolutamente tudo, já e
para sempre…
Junto à imagem de
Nossa Senhora
do Carmelo de Assunção,
pouco tempo depois de ter
professado como noviça

“A Hóstia elevada, com nívea transparência, / irradia no altar com divino esplendor; / quero que minha vida, trocadas as substâncias, qual Hóstia consagrada, deixe atrás de si / um caminho de intensa claridade. / Quero que em sacrifício, qual vítima imolada, / minha vida se consuma em santa Caridade. / Senhor! pela Hóstia pura, o Pão da Vida Eterna, / e o Cálice do Sangue de nossa Redenção, / concede aos que, unidos, assim Te suplicamos: perdão de nossas culpas e Eterna Salvação. / Meu Senhor e meu Deus!”

Pode-se dizer algo de mais transcendente com tanta precisão e singeleza? Estamos diante de um modesto mas autêntico tratado de Teologia eucarística, ao alcance de todos: de quem participa da catequese para a Primeira Comunhão e do teólogo familiarizado com a ciência divina.

A palavra “tudo” não admite relativizações

“Tudo Te ofereço, Senhor”. Este lema, ela o estampava em seus manuscritos à maneira de uma fórmula química: T2 OS (T ao quadrado, OS). Nessa divisa se resume a radicalidade de seu ideal.

A palavra tudo não admite relativizações: é tudo mesmo, e pronto! Entretanto, elevado ao quadrado, representa uma excelência da totalidade. É como afirmar: “absolutamente tudo, já e para sempre”.

Segue-se o “O” de ofereço. A palavra oferenda significa sacrifício, holocausto, imolação, destruição… Eucaristia. Como o incenso que se queima ao cair sobre as brasas, ou a cera que se derrete ao calor do fogo, assim quis ela ser, e assim foi.

Por fim, a razão de ser desse generoso oferecimento: o Senhor.

Que a flamejante Beata interceda pela comunidade carmelitana de Assunção, com a qual compartilhou seus últimos anos de vida, por todas as carmelitas descalças do mundo, suas irmãs de hábito, pela Igreja no Paraguai e por seu país natal, que ela tanto amou. Por fim, por todos os cristãos do universo que se empenham em cumprir os propósitos batismais, entre os quais este tão, tão, tão primordial: adorar Jesus no Santíssimo Sacramento do Altar. (Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2018, n. 200, p. 24-25)

Publicado originalmente em www.opera-eucharistica.org, página web da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja, da qual o autor é conselheiro de honra

 
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