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Catecismo


“Coragem! Eu venci o mundo”
 
AUTOR: GIULIANA D’AMARO
 
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Dos que seguem o Cordeiro Imolado em sua via de dor e glória, o Senhor exige o mesmo que, pelos lábios de Judite, pediu ao povo eleito: avançar cheios de ufania e confiantes na sua promessa!
 
 Vitral da Colegiada de
Notre-Dame de Dinant (França)

Poucos são os que nunca ouviram falar de Judite, a mulher providencial que, cheia de confiança e perseverante na oração, livrou o povo judeu das mãos de Holofernes, marechal de Nabucodonosor, rei dos assírios.

Segundo o relato bíblico, quis este monarca submeter a terra inteira ao seu império; entretanto, como alguns povos recusaram a sujeitar-se, encheu-se de cólera “e jurou pelo seu trono e pelo seu reino que havia de tomar vingança de todos eles” (Jt 1, 12). Para isso convocou Holofernes, ordenando-lhe que marchasse para o ocidente e ferisse “sem consideração alguma” (Jt 2, 6) a todos aqueles que desprezaram suas ordens. Não bastava saquear as riquezas, destruir as cidades e matar os que lhe opusessem resistência. Era preciso, ademais, exterminar todos os deuses da terra, “para que só ele fosse chamado deus por todas as nações” (Jt 3, 13).

Foi assim que, após uma longa campanha marcada pela ferocidade, o marechal assírio se aproximou do reino de Judá. Mas, ao contrário dos outros povos, os israelitas, “unidos de coração e de alma, clamaram ao Senhor” (Jt 4, 10) e prepararam-se para fazer face ao exército pagão.

Uma mulher muda o curso dos acontecimentos

O cerne da história desenrola-se na praça-forte de Betúlia, sitiada pelas tropas de Holofernes e reduzida a um estado calamitoso pela falta de água. Esgotados pela sede, os israelitas haviam se reunido ao redor de Ozias, seu chefe, e pediam-lhe que rendesse a cidade. Este, entretanto, rogou-lhes aguardar por mais algum tempo a misericórdia do Senhor: “Se depois de cinco dias não chegar socorro algum, faremos o que propusestes” (Jt 7, 25).

É neste momento que vemos surgir a figura emblemática de Judite, uma rica viúva, piedosa e extremamente bela, estimada como santa por quantos a conheciam. Por inspiração divina, ela tomou uma decisão que iria mudar de forma drástica o curso dos acontecimentos. Sem revelar a ninguém o que tinha em mente realizar, comunicou aos chefes do povo que naquela noite sairia da cidade acompanhada apenas por uma criada.

Antes de partir, porém, recolheu- -se em oração, entregando-se nas mãos de Deus e implorando a Ele que lhe concedesse as forças e a coragem necessárias para levar a cabo sua missão: “Não é na multidão, Senhor, que está o vosso poder, nem Vos comprazeis na força dos cavalos; os soberbos nunca Vos agradaram, mas sempre Vos foram aceitas as preces dos mansos e humildes. […] Lembrai-Vos, Senhor, de vossa promessa; inspirai as palavras de minha boca e dai firmeza à resolução de meu coração” (Jt 9, 16.18).

Horas depois apresentava- -se junto com sua serva diante do general inimigo, ganhando o seu favor e conquistando-o através de sua extraordinária sabedoria e beleza. E, passados alguns dias, no momento oportuno o Senhor o entregou em suas mãos: estando Holofernes a dormir embriagado pelo vinho, Judite tomou uma espada e cortou-lhe a cabeça, metendo-a num saco.

Logo a seguir, retornou a Betúlia e transmitiu ao povo a boa nova, sendo aclamada por Ozias com estas palavras de louvor: “Bendito seja o Senhor, criador do céu e da terra, que te guiou para cortar a cabeça de nosso maior inimigo! Ele deu neste dia tanta glória ao teu nome, que nunca o teu louvor cessará de ser celebrado pelos homens, que se lembrarão eternamente do poder do Senhor” (Jt 13, 24-25).

Destruição do exército de Nabucodonosor

Até aqui, a parte mais conhecida da história. Há, porém, um aspecto dela que encerra valiosas lições para nós.

O exército assírio estava composto de “cento e setenta mil soldados de infantaria e doze mil cavaleiros, além dos homens de armas que tinha aprisionado” (Jt 7, 2). Em pouco tempo haviam varrido o território da Mesopotâmia, espalhando o terror em seu caminho. Será que, mesmo tendo perdido o seu general, não seriam eles capazes de destruir o povo judeu, tão menos numeroso, despreparado para a guerra e enfraquecido pela sede?

Triunfo de Judite, por Francesco Curradi
Museu dos Agostinianos, Toulouse (França)

Não é isso, porém, o que nos narra a história… Depois de anunciar aos israelitas a morte de Holofernes e mostrar-lhes sua cabeça decepada, Judite ordenou-lhes que atacassem o acampamento. Sabia que os assírios ainda ignoravam o sucedido, e previu que seriam tomados de pavor ao descobri-lo.

Confiando nas palavras dela, os israelitas se armaram e agiram como lhes fora mandado. Ao raiar da aurora, as tropas de Nabucodonosor despertaram com gritos de guerra dos judeus e correram à tenda de Holofernes à espera de suas ordens. E qual não foi sua surpresa ao vê-lo morto!

“Quando todo o exército soube que Holofernes tinha sido decapitado, perdeu a razão e o conselho. Agitados pelo espanto e pelo terror, buscaram a salvação na fuga. Sem trocar uma palavra sequer com seu vizinho, com a cabeça baixa, deixando tudo, fugiram pelas planícies e pelos montes, procurando escapar aos hebreus” (Jt 15, 1-3). Foi este o fim daquele invicto e poderoso exército!

Todos tiveram seu papel na vitória

De onde veio aos judeus a força para vencer em tão desigual confronto?

Certamente não proveio das armas ou do grande número de combatentes, nem da capacidade dos mais experimentados guerreiros. Humanamente falando, eles estavam em desvantagem; no entanto, um mesmo ideal unia o povo eleito.

Os assírios eram muito mais numerosos e estavam incomparavelmente mais preparados para a guerra, mas não reinava a união entre eles; por isso se dispersaram e bateram em retirada. E como “iam fugindo desordenadamente, os israelitas que os perseguiam juntos, formados em batalhão, destroçavam todos que podiam atingir” (Jt 15, 4).

Através de Judite, o povo eleito havia recebido a força do Senhor Deus dos exércitos. Embora as palavras daquela mulher de “alma viril e coração valente” (Jt 15, 11) parecessem pedir-lhes algo impossível, souberam reconhecer nelas a voz do Altíssimo. Deus lhes pedia confiar e dar esse ousado passo, para que todos pudessem ter seu papel na vitória, já conquistada pela gesta da sua heroína.

Detalhe do Juízo Final, por Giotto di Bondone
Cappella degli Scrovegni, Pádua (Itália)

A vitória já foi conquistada pelo Sangue do Cordeiro

Não é difícil traçar um paralelo entre a situação narrada nesta passagem bíblica e os dias em que vivemos. As almas que procuram manter-se fiéis à Lei de Deus constituem hoje um conjunto que, aos olhos do mundo, pode parecer pequeno e fraco, cercado por todos os lados pelas hostes inimigas… Entretanto, quem tudo analisa com olhos de fé sabe que eles estão revestidos da invencibilidade do próprio Deus!

A vitória do bem já foi conquistada pelo Sangue do Cordeiro quando Ele Se imolou no alto da Cruz, num fulgor de heroísmo junto ao qual a façanha de Judite se torna apenas um ligeiro coruscar. E dos que O seguem nessa via de dor e glória, o Senhor exige o mesmo que outrora pediu ao povo eleito, isto é, que avancem cheios de ufania e confiantes na sua promessa.

“Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). Imbuídos dessa certeza do triunfo de Deus na História, os que perseverarem até o fim contemplarão a realização de suas esperanças. E enquanto atravessam toda sorte de revezes e tribulações unem suas vozes ao cântico de Judite, dizendo: “Podem abalar-se montanhas e águas, rochedos derreterem-se como cera diante de vossa face: para aqueles que Vos temem, sereis sempre propício” (Jt 16, 15). (Revista Arautos do Evangelho, Julho/2018, n. 199, p. 16-18)

 
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