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Espiritualidade


Equilíbrio diante da morte
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Os "gisants" medievais ordenam, repousam e alegram o espírito. Porque há nessas efígies uma seriedade, uma deliberação, um equilíbrio diante da morte que nos introduz num ambiente de refrigério, luz e paz.
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De baixo para cima: Felipe V, o Longo (†1322); Joana de Evreux (†1371); Carlos IV,
o Belo (†1328); Branca de França, duquesa de Órleans (†1382),
filha de Carlos IV e Joana de Evreux

Dentre as obras de arte que nasceram sob o influxo da Esposa de Cristo, chamam poderosamente a atenção os gisants: esculturas jacentes – daí o seu nome, em francês – que ornam os túmulos de santos, nobres e cavaleiros em tantas basílicas, mosteiros e catedrais.

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Roberto II, o Piedoso (†1031) e sua esposa
Constança de Arles (†1032)

Um dos lugares onde essas efígies mortuárias podem ser admiradas é a Abadia de Saint-Denis, ao norte da capital francesa. Erigida por Santa Genoveva no local onde fora sepultado o primeiro Bispo de Paris, a ela acorriam os reis da França a fim de rezar e receber a Auriflama antes de partir para a guerra. E era também ali onde os restos mortais desses poderosos soberanos, de Dagoberto I a Luís XVIII, eram depositados à espera da ressurreição.

Mais do que os traços físicos do finado, o gisant procura apresentar suas qualidades morais e as circunstâncias em que faleceu. Se ele pereceu em campo de batalha, o escultor o representa completamente armado, com luvas nas mãos e a espada desembainhada. Se morreu no leito, é figurado de cabeça descoberta, sem cinto, sem espada nem escudo, tendo aos pés um galgo. Os pés apoiados sobre o flanco de um leão deitado simbolizam a força e o poder que tivera em vida, mas também a ressurreição dos mortos.

Uma grade de ferro em torno da estátua podia indicar que o senhor morreu no cativeiro. Quanto às damas, são apresentadas de vestido longo, quase sempre com as mãos postas, os pés sobre o flanco de um cão, símbolo da fidelidade conjugal.

Roberto II de Artois.jpg
Roberto II de Artois (†1302)

Porém, o atributo mais característico do gisant é sua atitude de “repouso eterno”. O rosto sério e o porte sereno correspondem a quem, livre das agitações da vida terrena, já se apresentou diante do juízo de Deus e aguarda na oração e na paz a ressurreição dos mortos.

Por isso o gisant medieval, afirma o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, “exprime ao mesmo tempo a vida e a morte, o hierático e o vivaz, o movimento e o eterno, de uma maneira muito agradável e cheia de respeito. O rei, a rainha ou o cavaleiro estão ali, naquela posição, imersos no sulco que deixaram na História, mas todos dentro da eternidade. Eternidade e tempo se alternam nos olhares de pedra dos gisants” .1

Paradoxalmente, fitar esses túmulos engalanados ordena, repousa e alegra o espírito. Porque há nessas efígies uma seriedade, uma deliberação, um equilíbrio diante da morte orientado pela esperança no além, que eles parecem nos tirar deste mundo agitado para nos introduzir num ambiente onde há refrigério, luz e paz! (Revista Arautos do Evangelho, Nov/2011, n. 119, p. 50-51).

 
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