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Espiritualidade


Máximas e reflexões de São Rafael Arnáiz: O valor da intenção
 
AUTOR: IR. ISABEL LAYS GONÇALVES DE SOUSA, EP
 
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O mérito de uma ação não está na dificuldade em executá-la ou no sofrimento que ela produz, mas sim na intenção com que é realizada. Quando feitos por amor a Deus, os atos mais singelos e corriqueiros tornam-se de grande valor.

“Quando compreenderás que a virtude não está em comer cebola, mas em comer cebola por amor a Deus?”1

Onde se encontra o túmulo
de São Rafael Arnáiz

Tão singular consideração soará, sem dúvida, estranha aos nossos ouvidos. Pois como alguém poderá alcançar a santidade comendo cebola ou, quem sabe, descascando nabos? Entretanto, sua autoria pertence a um jovem religioso venerado como Santo pela Igreja: o Ir. Rafael Arnáiz Barón.

Com essa frase ele nos ensina que o mérito de um ato está, sobretudo, na intenção com que é realizado.

A santidade não está nos atos externos

“A intenção pode modificar radicalmente a natureza de um ato”,2 ensina-nos a doutrina católica. Desse modo, acrescenta o santo trapista logo após a frase acima citada: “A santidade não está nos atos externos, senão na intenção interna de qualquer ato”.3

Atos considerados neutros e corriqueiros às vistas humanas, revestem-se de imenso valor se direcionados à glória do Altíssimo. Por esse motivo, afirma São Rafael: “Não são necessárias grandes coisas para ser grandes Santos, basta fazer grandes as coisas pequenas. […] Deus pode me fazer Santo tanto descascando batatas, quanto governando um império”.4

Às vezes julgamos que o mérito de uma ação apresenta proporção direta com a dificuldade que temos ao realizá-la ou com o tamanho do sacrifício a que ela nos obriga, mas equivoca-se quem assim pensa. O sofrimento, em si mesmo, não é termômetro de santidade. 

Uma pessoa poderá padecer de um terrível e doloroso câncer, sendo obrigada a ficar dias ou meses num hospital, abandonada por aqueles que lhe são mais caros; mas se não suportar esses tormentos por amor a Deus, eles de nada lhe valerão. Pior ainda, se vier a revoltar-se diante da situação em que se encontra, tais sofrimentos ser-lhe-ão até motivo de condenação.

Deus aceita nossas fraquezas como se fossem virtudes

O valor sobrenatural de nossas ações depende, portanto, da intenção com que as executamos.

O Criador penetra o interior de cada alma e nada Lhe pode escapar, porque “o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração” (I Sm 16, 7). E Ele Se regozija quando nota que uma de suas criaturas aproveita os pequenos desgostos da vida para, por meio deles, alcançar a bem-aventurança.

“Deus fica satisfeito com qualquer oferta, desde que seja feita de coração inteiro”.5 Aceita com agrado até o próprio nada. Por isso proclama São Rafael: “Ofereci ao Senhor a minha pobreza absoluta, a minha alma vazia. Procurei cantar-Lhe o cântico de quem só misérias pode oferecer. Mas não importa, pois as misérias e fraquezas oferecidas a Jesus por um coração verdadeiramente cheio de amor, são aceitas por Ele como se fossem virtudes”.6

Quantas ocasiões nos são assim oferecidas para conquistar o Céu!

“Deus pode me fazer Santo
tanto descascando batatas,
quanto governando um império”
Exterior da Abadia de Santo Isidro
de Dueñas, em Palência (Espanha) 

É-nos pedido muito pouco para alcançar o Céu

Certo dia encontrava-se São Rafael trabalhando na cozinha quando, repentinamente, uma luz penetrou-lhe a alma impelindo-o a exclamar: “O que faço eu, Virgem Santa? Descascar nabos! Descascar nabos… para quê? E o coração pulando no peito contestou-lhe sem refletir: Eu descasco nabos por amor a Cristo!”7

Veio-lhe então uma paz muito grande no mais fundo da alma, acompanhada pela ideia: “O mero fato de pensar que no mundo se possa fazer das menores ações da vida, atos de amor a Deus; que o fechar ou abrir um olho em seu nome, nos pode levar a obter o Céu; que descascar nabos por vedadeiro amor a Deus, pode dar tanta glória a Ele e a nós tantos méritos, como a conquista das Índias; […] é algo que enche a alma de alegria!”8

E concluiu: “Na realidade para ganhar o Céu nos é pedido muito pouco”,9 pois, como afirma Santa Teresinha do Menino Jesus, Deus “olha mais para a intenção do que para o valor da ação”.10

“Não são necessárias grandes
coisas para ser grandes Santos”
São Rafael Arnáiz,
com hábito de trapista

Pequenos atos acompanhados de grandes intenções

Poucos são os que têm por missão conquistar impérios para o Reino de Deus, raras são as vocações destinadas a guiar países ou povos. Mas não pensemos que, por não sermos chamados a isso, estamos impedidos de alcançar um alto lugar no Céu, bem perto do Imaculado Coração de Maria e do Sagrado Coração de Jesus.

“Nada somos e nada valemos; com a mesma facilidade com que nos afogamos na tentação, voamos cheios de consolo ao sentirmos o menor toque do amor divino”,11 observa São Rafael.

Ofereçamos a Nosso Senhor, pelas mãos da Santíssima Virgem, todos os nossos atos, ainda que pequenos, acompanhando-os de excelentes e grandes intenções! Eles se assemelharão ao óbolo da viúva mencionada na Sagrada Escritura (cf. Mc 12, 41-44). Tendo lançado no cofre do Templo apenas duas moedinhas, ela mereceu ser elogiada pelo próprio Deus e recebida no Paraíso. Havia dado tudo o que possuía, por amor!

1 SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN. Escritos, n.1170. In: Obras Completas. 6.ed. Burgos: Monte Carmelo, 2011, p.954. 2 BOULENGER, A. Doutrina católica. Manual de instrução religiosa. Moral. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980, t.II, p.16. 3 SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN, op. cit., p.954. 4 Idem, n.790, p.712. 5 SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN. Escritos por temas. 2.ed. Burgos: Monte Carmelo, 2000, p.553. 6 Idem, ibidem. 7 SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN, Escritos, op. cit., n.787, p.710. 8 Idem, p.710-711. 9 Idem, n.789, p.711. 10 SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS E DA SAGRADA FACE. História de uma alma. 27.ed. São Paulo: Paulus, 2010, p.268. 11 SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN, Escritos, op. cit., n.788, p.711.

 
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