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Espiritualidade


Que venha o Reino de Cristo e o Reino de Maria!
 
AUTOR: CAROLINE FUGIYAMA NUNES
 
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Analisando o agir de Deus no decorrer da História, pode surgir em nosso espírito a seguinte questão: por que teria Deus permitido que houvesse na obra da criação o pecado?

Das profundas trevas do pecado, entregue à mercê de sua própria concupiscência e paixões desenfreadas, parecia estar a humanidade regida pelo “príncipe” das trevas, ou seja, o demônio. Após longos séculos de gemidos, à espera de um Libertador, Deus enviou ao mundo seu Filho Primogênito em resgate desta humanidade extraviada de seu único Senhor e Deus.

Analisando o agir de Deus no decorrer da História, pode surgir em nosso espírito a seguinte questão: por que teria Deus permitido que houvesse na obra da criação o pecado? Não teria sido melhor criar um mundo onde este não existisse, e no qual todos fossem, portanto, santíssimos e perfeitos? Teria Deus errado ao criar este mundo?

Quão infeliz e errado estaria quem assim pensasse! Partindo do princípio de que tudo o que Deus faz é perfeito, tendo ele criado um mundo onde houve o pecado, era o que havia de melhor e mais santo.

Afirmam os teólogos que se não tivesse havido o pecado de nossos primeiros pais, o Verbo Eterno não teria tomado nossa mesma carne. E concluem que, embora o pecado tenha sido um mal, significou uma grande vantagem para o homem. Por isso, a Liturgia canta no Sábado Santo: “O felix culpa, quae talem ac tantum meruit habere Redemptorem!” — “Ó culpa tão feliz que há merecido a graça de um tão grande Redentor!”. 1 Quer dizer, sem a culpa original não teríamos a felicidade de possuir o próprio Deus Encarnado como nosso Salvador.

Devemos, então, reconhecer que a Encarnação do Verbo é a o episódio culminante da História da humanidade, que a dividiu em dois: um antes e um depois.

Quiçá, sem a Encarnação e a Redenção não teríamos provas tão palpáveis do extremo e ilimitado amor de Deus por nós. Maior prova de amor do que esta jamais houve e nem haverá. Tal magnífica obra de bondade e misericórdia não teria seu esplendor e não se poria tão em manifesto aos homens, como o foi tendo havido o pecado. E, sobretudo, não teríamos uma Mãe e Advogada agindo em nosso favor ― pecadores que somos ―, como medianeira entre Deus e os homens, Maria Santíssima.

Segundo Garrigou-Lagrange: “a encarnação do Verbo fortifica, assim, grandemente, a nossa fé, nossa esperança, nossa caridade, nos dá o exemplo de todas as virtudes e, sobretudo, é o princípio, na santíssima alma de Jesus, de um ato de amor redentor, que agrada mais a Deus do que todos os pecados podem desagradar-lhe. […]. Verdadeiramente, podemos, com uma profunda gratidão, dizer como São Paulo: “Deus que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, e estando nós mortos pelos nossos delitos, nos deu vida por Cristo, por cuja graça haveis sido salvos”. 2

Portanto, mais do que uma mera reparação, a Encarnação e a Redenção foram por onde o verdadeiro Reino de Deus foi triunfalmente trazido à face da Terra: “eis que o Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17, 21).

E este Reino se mantém entre nós pela presença de seu Corpo Místico, do qual todos os batizados fazem parte como membros vivos: a Santa Igreja Católica Apostólica Romana. “Ela reluz tudo quanto há n’Ele, quando visto na sua autenticidade […]. Ver a Santa Igreja Católica é ver Nosso Senhor Jesus Cristo” 3. É nela que estão entesourados os benefícios da Redenção; é por sua influência “que nascem todas as condições para uma sociedade virtuosa” 4 fazer cumprir nesta Terra o pedido de todos os cristãos há dois mil anos: “seja feita a vossa vontade, assim da Terra como no Céu” (Mt 6, 10).

Entretanto, se por culpa dos próprios homens que se deixam levar por suas “leis contraditórias” este pedido ainda não se realizou em sua perfeição nesta Terra, o mistério de amor da Redenção nos leva a crer que dia virá em que seus frutos atingirão a plenitude e a graça fará aquilo que a natureza por si mesma não é capaz: “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20). E se Cristo quis vir ao mundo para trazer a salvação e a graça por meio de Maria Santíssima, é também por Ela que Ele quer reinar nos corações dos homens.

Adveniat Regnum Christi, adveniat Regnum Mariae!

1 LITURGIA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR. Vigília Pascal. In: MISSAL ROMANO. Trad. portuguesa da 2a. ed. típica para o Brasil realizada e publicada pela CNBB com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. 9. ed. São Paulo: Paulus, 2004. p. 275.

2 GARRIGOU-LAGRANGE, Réginald. El Salvador y su amor por nosotros. Trad. José Antonio Millán. Madrid: Rialp, 1977. p. 170.

3 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Patriarcado e o Sagrado Coração de Jesus: Conferência. São Paulo, 11 jan. 1986. (Arquivo IFTE).

4 Loc. cit.

 
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