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Espiritualidade


“Sinal de contradições”
 
AUTOR: PE. FERNANDO NÉSTOR GIOIA OTERO, EP
 
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Ao receber o Menino Jesus nos seus braços, o santo sacerdote Simeão profetizou a via de confrontos a ser percorrida pelo Redentor.

Aproximam-se as festividades do Natal, tempo litúrgico em que a Santa Igreja nos recorda a chegada do Príncipe da Paz, nosso Divino Redentor, o Esperado das Nações.

Realçamos sempre neste período, e com razão, a harmonia e a benquerença por Ele trazidas aos corações, conforme as palavras do Anjo aos pastores: “Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo” (Lc 2, 10).

As comemorações natalinas são ocasião de construir belos Presépios, dar e receber presentes, estreitar os laços de união familiar. Uma nota de particular alegria marca esta época do ano.

“Vim trazer não a paz, mas a espada”

“Eis que este Menino está destinado a ser causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel” Apresentação de Jesus no Templo – Museus Capitolinos, Roma

Contudo, pouco se põe em realce, mesmo nos ambientes onde isto deveria ser acentuado de modo especial, um aspecto da Encarnação bem menos agradável de lembrar, por tornar evidente aos nossos olhos que nem tudo é paz, nem tudo é tranquilidade, nem tudo é conúbio com aquilo que nos rodeia. Pois esse Menino, o Deus feito Homem, nos advertirá em determinado momento de sua vida terrena: “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada” (Mt 10, 34).

Na hora da sua Apresentação no Templo, lá se encontrava Simeão, homem justo e piedoso ao qual havia sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ver o Messias, o Salvador do mundo. Contemplamos nesse belo episódio a Santíssima Virgem, Mãe de Deus, carregando em seus braços o Divino Infante, para cumprir o preceito da Lei, e o Santo Patriarca José caminhando a seu lado.

Quando o Santo Casal apresentou a Simeão o Menino Jesus, ele O tomou nos braços e entoou seu famoso hino de louvor. Em seguida os abençoou e disse a Maria, sua Mãe: “Eis que este Menino está destinado a ser causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações” (Lc 2, 34-35). Ou seja, será causa de enfrentamentos, pedra de tropeço, fator de divisões.

O santo sacerdote Simeão profetizava naquele momento a via de confrontos a ser percorrida pelo Redentor em sua vida pública: será um autêntico “sinal de contradições”.

Começam a se revelar os pensamentos dos corações

O vaticínio de Simeão não demoraria em cumprir-se. Sendo Jesus ainda uma tenra criança, os Reis Magos chegaram a Jerusalém perguntando: “Onde está o Rei dos judeus que acaba de nascer?” (Mt 2, 2). E o tetrarca Herodes, inquieto pela visita de tão nobres personagens, consultou preocupado os sumos sacerdotes e os escribas para saber onde nasceria o Messias.

A resposta foi clara: em Belém de Judá. Encaminhou então para lá os Magos, recomendando-lhes ardilosamente: “Quando O tiverdes ­encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-Lo” (Mt 2, 8). Eles, porém, prevenidos em sonhos pelo Senhor, retornaram à sua terra por outro caminho, sem de nada informá-lo.

Furioso ao ver-se logrado pelos Magos, Herodes mandou massacrar todos os meninos de dois anos para baixo em Belém e em seus arredores, na esperança de matar o “Rei dos judeus”, inesperado concorrente ao trono. Deu início assim, com o cruel morticínio dos Santos Inocentes, à revelação “dos pensamentos de muitos corações”.

Em sentido contrário, manifestou-se também neste episódio a proteção dos Céus: “Um Anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: ‘Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise’” (Mt 2, 13). Amparado pelos espíritos celestes, São José exercia com incomensurável grandeza sua função de pai e protetor de Jesus.

A matança dos Inocentes marca o início das hostilidades humanas contra Aquele que, antes mesmo de começar a falar, tornara-Se “sinal de contradições”. A mera existência da Sagrada Família convertera-se numa bandeira de combate desfraldada que os inimigos infernais não podiam suportar e procuravam destruir.

Na noite do nascimento do Salvador, o Céu se unira à terra. Valendo-se de instrumentos humanos, satanás envidava todos os esforços possíveis para eliminar o Menino. Porém, eles eram inúteis: São José recebia avisos do Céu indicando as precauções a tomar para melhor protegê-Lo.

Um ódio crescente que conduz à Crucifixão

Trinta anos depois desse episódio, tendo Nosso Senhor Jesus Cristo iniciado sua vida pública, Ele passou a sofrer o ódio de fariseus, escribas e saduceus, inimigos de sua doutrina e de sua Divina Pessoa.

Os Santos Evangelhos, especialmente o de São Mateus, nos relatam numerosas manifestações dessa sanha infernal contra o Divino Mestre. “Este Homem blasfema” (Mt 9, 3), clamavam irados os escribas. “É por Belzebu, chefe dos demônios, que Ele os expulsa” (Mt 12, 24), bradariam mais tarde os fariseus. E quando o misericordioso Salvador curou em dia de sábado o homem da mão seca, escribas e fariseus “encheram-se de furor e indagavam uns aos outros o que fariam a Jesus” (Lc 6, 11).

Ao longo dos três anos de sua vida pública, o ódio dos inimigos de Jesus não fez senão avolumar-se, a ponto de levá-Lo a ser crucificado entre dois ladrões. Mas o demônio ignorava que a Morte do Redentor selaria definitivamente a derrota dos infernos: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo homem que n’Ele crer tenha a vida eterna” (Jo 3, 14-15).

“Quem não está comigo, está contra Mim”

Jesus Cristo foi, é e será uma pedra de escândalo e de divisão para os homens de todos os tempos. “Quem não está comigo está contra Mim; e quem não ajunta comigo, espalha” (Mt 12, 30). Este é o ensinamento, infelizmente pouco comentado, que nos pareceu útil ser realçado no Natal deste ano.

O mal existe, o mal planeja, o mal agride, e a Santa Igreja nos convoca a estarmos sempre em luta contra ele. Deixou isto bem claro Sua Santidade Bento XVI, em um dos seus últimos discursos ao Colégio Cardinalício: “Hoje, a expressão Ecclesia militans está um pouco fora de moda, mas na realidade podemos compreender cada vez melhor que ela é verdadeira, contém em si mesma a verdade. Vemos como o mal quer dominar no mundo e que é necessário travar uma luta contra o mal. Vemos como o faz de muitos modos cruentos, com diversas formas de violência, mas também com a máscara do bem e, precisamente assim, destruindo os fundamentos morais da sociedade”.1

Não percamos a noção dessa realidade. Sejamos “simples como as pombas”, mas não deixemos de ser “prudentes como as serpentes” (Mt 10, 16). E não esqueçamos, sobretudo, que fez sofrer mais a ­Jesus a cegueira e a incompreensão do povo que o seguia, do que fúria satânica dos seus inimigos. ² (Revista Arautos do Evangelho, Dezembro/2017, n. 192, pp. 24-25)

1 BENTO XVI. Palavras ao Colégio Cardinalício, 21/5/2012.

 
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