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Espiritualidade


Viver de amor
 
AUTOR: IR. RAPHAELA NOGUEIRA THOMAZ
 
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Assim como é pura a água saída das entranhas da terra... puro é o amor que, nascido nas profundezas do coração humano, eleva-se a Deus e de lá desce sobre as criaturas.

Quando se ama, a vontade se volta para o objeto amado como a um fim que tem por bem. Não existe o agir apenas pelo sabor da ação, e sim para encontrar este fim próximo, o seu próprio bem, ou o fim último, a bem-aventurança que, nas Santa Teresinha do Menino Jesus..jpgpalavras de São Tomás, é “o bem perfeito e suficiente, [que] exclui todo mal e satisfaz todo desejo”.1 O homem, então, ou ama a Deus a ponto de esquecer-se de si mesmo, ou ama a si mesmo até olvidar-se de Deus.2

Como nossa alma está sempre à procura do bem existente nas coisas, para nele repousar, se ela não tiver o Bem infinito por objeto último, acabará por apegar-se às criaturas, as quais, de si, não podem proporcionar-lhe tranquilidade nem satisfazê-la.

Há, entretanto, almas generosas que decidem pôr-se ao serviço de Deus consagrando-se inteiramente a Ele. E efetivam sua radical entrega, vivendo num estado de castidade perfeita e perpétua, dentro do qual a pessoa oferece a Deus o holocausto de seu corpo e dos seus afetos naturais, pois “jamais alguém é casto a não ser por amor; e a virgindade não é aceitável nem expansiva senão a serviço do amor”.3

Personificação arquetípica da virgem consagrada é Santa Teresinha do Menino Jesus, que assim canta num de seus poemas: “Viver de amor é banir todo temor, / Qualquer lembrança das faltas do passado. / Dos meus pecados não vejo nenhum vestígio; / Num instante, o Amor tudo queimou… / Chama divina, oh!, dulcíssima Fornalha! / Em teu ardor fixo minha morada / É no teu fogo que eu canto alegremente: ‘Vivo de
Amor!'”.4

O amor a Deus não encerra a alma em si mesma, mas a faz arder em desejos de se entregar no serviço ao próximo. Por isso, dizia Santa Teresinha: “Sinto no meu interior outras vocações. Sinto em mim a vocação de guerreiro, de sacerdote, de Apóstolo, de Doutor, de mártir. Enfim, sinto a necessidade, o desejo de realizar por Ti, Jesus, todas as obras, as mais heroicas…”.5

Assim como é pura a água saída das entranhas da terra, puro é o amor que, nascido nas profundezas do coração humano, eleva-se a Deus e de lá desce sobre as criaturas, como um límpido e cristalino regato se lança do alto da montanha. ² (Revista Arautos do Evangelho, Fevereiro/2014, n. 146, p. 36)

1 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I-II, q.5, a.3.
2 Cf. SANTO AGOSTINHO. De Civitate Dei. L.XIV, c.28. In: Obras. Madrid: BAC, 1958, v.XVII, p.985.
3 ROYO MARÍN, OP, Antonio. La vida Religiosa.
2.ed. Madrid: BAC, 1965, p.298.
4 SANTA TERESA DE LISIEUX. Viver de Amor. Poesia 17, v.6. In: Obras Completas. São Paulo: Paulus, 2002, p.547.
5 SANTA TERESA DE LISIEUX. Manuscrito B. Todas as obras, as mais heroicas. In: Obras Completas, op. cit., p.171.

 
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