Fale conosco
 
 
Receba nossos boletins
 
 
 
Artigos


Eucaristia


Súplica suave, portentosa recompensa
 
AUTOR: SEVERIANO DE OLIVEIRA
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
7
0
 
Por ter muita fé, confiança e persistência, uma devota da Eucaristia obteve o que pedia. Exemplo para todos quantos querem ser ajudados. Haverá quem não o queira?

Paris, 31 de maio de 1725. Pelas ruas engalanadas do “Faubourg Saint-Antoine”, seguia majestosa a procissão do Santíssimo Sacramento.

A certa altura, um acontecimento inesperado quebrou a solenidade do augusto evento. Na porta de uma casa, uma mulher visivelmente extenuada por alguma enfermidade desvencilhou- se das amigas que a sustentavam de pé e tentou Ostensório Santissimo Sacramento..jpgajoelhar-se diante do Deus Sacramentado que passava. O resultado foi desastroso: caindo ao chão, viu-se ela reduzida à humilhante situação de ficar apoiando-se nos joelhos e nas mãos.

Indiferente a tudo, porém, fixando a branca Hóstia consagrada, ela suplicava em alta voz: “Senhor! Se quiserdes, podeis curar-me!” Algumas pessoas compassivas fizeram menção de ajudá-la, mas ela, sem lhes dar atenção, insistia: “Senhor, sois o mesmo Jesus que restituiu a saúde a tantos enfermos, durante vossa vida terrena. Perdoai meus pecados e serei curada!”  Vendo passar o Santíssimo Sacramento, ela começou a avançar de rastos, como podia, e não cessava de gritar: “Jesus Cristo, curai-me!”

– Coitada, é uma louca – comentavam alguns.

– Está embriagada… – sentenciavam Outros.

De uma ou outra maneira, todos os circunstantes mostravam-se escandalizados por esse espetáculo de uma mulher arrastando-se assim por terra e gritando sem parar. E a pressionavam para que se retirasse. Mas nada foi capaz de detê-la: “Deixai- me livre de seguir meu Deus!” – respondia aos que a interpelavam. E continuou a avançar, repetindo aos brados sua súplica: “Senhor, perdoai meus pecados, e serei curada!”  Quem era a heróica protagonista dessa dramática cena que nos faz recordar vivamente diversos episódios dos Santos Evangelhos?

Fé recompensada

Era uma mulher cuja fé foi posta à prova de forma admirável e recompensada com um maravilhoso prodígio que comove e serve de exemplo para todos quantos dele tomam conhecimento. Chamava-se Ana, tinha 45 anos, era esposa do mestre-marceneiro Delafosse, senhora de vida exemplar e piedade edificante. Há duas décadas, sofria de uma hemorragia que foi se agravando a ponto de os médicos julgarem tão inútil quanto perigoso prosseguir o tratamento.

Nos últimos meses, seu esgotamento não lhe permitia mais caminhar nem sequer de muletas. As dores tornavam- lhe insuportável a permanência no leito, e precisava ser carregada para sentar-se numa poltrona. Esse seu lamentável estado era público e notório no “Faubourg Saint-Antoine” e em vários outros bairros de Paris.

Reduzida a esse extremo, ela tomou a resolução de recorrer diretamente a Nosso Senhor Jesus Cristo no dia em que a procissão do Santíssimo Sacramento passaria diante de sua casa. Chegada a hora, pediu para ser levada até a porta. Lá permaneceu à espera, sustentada por duas caridosas amigas. Quando uma delas lhe disse: “Está chegando o Santíssimo Sacramento”, ela soltou-se de seus braços e tentou ajoelhar-se sozinha. Aí deu-se o comovente episódio narrado acima.

Persistência recompensada

Longe de se deixar abater pelos que a pressionavam para sair da procissão, Ana Delafosse sentiu-se de repente fortalecida e conseguiu pôr-se de pé. Então, gritou com voz mais forte ainda: “Senhor, concedei-me a graça de entrar na vossa igreja, e serei curada!” Isto dito, pediu àquelas que a amparavam para soltá-la, pois queria caminhar sozinha.

Estupefação geral! Todos a viram andar no meio da multidão. Sem socorro de ninguém, mas perdendo uma grande quantidade de sangue, ela continuou caminhando até a igreja paroquial de Santa Margarida, ponto terminal da procissão. Diante da porta da igreja, Ana Delaffose intensificou suas preces: “Senhor! Não permitais que eu entre no lugar santo sem estar plenamente curada!”  Os circunstantes observavam com crescente respeito e admiração essa mulher tão sofredora, tão confiante e ousada em suas súplicas.

No exato momento em que transpôs o umbral do templo sagrado, ela sentiu secar-se a fonte da hemorragia. Sem ajuda de pessoa alguma – ora de pé, ora de joelhos – assistiu à longa Missa solene durante cerca de duas horas. Depois se aproximou do sacrário e ficou rezando mais algum tempo diante de Jesus Sacramentado.

Quando, por fim, retornou à sua casa – caminhando com toda normalidade, sem qualquer auxílio – foi acompanhada de uma grande multidão, que louvava a Deus por ter dado aos pobres mortais uma tão eloqüente prova de seu poder e de sua bondade.

Lá chegando, a feliz Ana não pôde conter um sorriso ao ver que estavam à porta alguns parentes, com uma poltrona, prontos a carregá-la para sua cama de enferma incurável… Não tendo presenciado o milagre, não conseguiam esconderCapela do Santíssimo Sacramento - Paróquia de Saint Giles, Cheadle - Inglaterra.jpg seu espanto ao verem-na subir a escada e caminhar pela casa como se nunca houvesse estado doente.

Testemunhas insuspeitas

A notícia do prodígio espalhou-se por toda a cidade. Um dos primeiros a dele tomar conhecimento foi o Dr. Prouhet, cirurgião que dela havia tratado durante quinze anos seguidos. “Não acredito, a menos que eu mesmo a veja caminhando”, afirmou. E foi no mesmo dia verificar com seus próprios olhos. Vendo-o entrar na casa, sua ex-cliente levantou-se e foi ao seu encontro, dizendo:

– Meu caro Doutor, um médico muito mais poderoso do que vós acaba de me curar!

Emocionado, o experiente cirurgião não mais duvidou do milagre, após ver a mulher descer com ele a escada e acompanhá-lo até a porta de saída, movimentando-se com a agilidade de uma jovem saudável. Dois ilustres contemporâneos deixaram registrados seus insuspeitos depoimentos. O advogado Barbier anotou em suas memórias: “Tivemos em Paris, na procissão de Corpus Christi, um milagre tão autêntico que até eu vejo-me obrigado a nele crer, o que não é pouca coisa” (Diário de Barbier, tomo I, p. 119).

E o ímpio Voltaire, tendo testemunhado o fato, depôs favoravelmente na investigação promovida pela autoridade eclesiástica. Escreve ele, numa carta a Madame de Bernières: “O milagre do ‘Faubourg Saint-Antoine’ deu-me um pequeno verniz de devoção. Fui citado no decreto. Fui convidado para o Te Deum cantado em ação de graças pela cura da Sra. Delafosse”.

Pronunciamento da autoridade eclesiástica

Tomando conhecimento do extraordinário acontecimento, o Arcebispo de Paris, Cardeal Noailles, promoveu logo um inquérito. As informações e depoimentos de sessenta testemunhas conduziram à constatação da inegável veracidade do fato: a Sra. Delafosse, sofrendo de uma moléstia que se agravava a cada dia, de tratamento já não só inútil mas até mesmo perigoso, ficou num instante inteiramente curada, a ponto de parecer ter gozado sempre de perfeita saúde.

Não havendo, pois, como pôr em dúvida esses fatos, o Cardeal-Arcebispo Noailles emitiu um decreto de reconhecimento do milagre. E determinou que todos os anos, no domingo da oitava da festa de Corpus Christi, se realizasse uma comemoração litúrgica na Igreja de Santa Margarida. (Revista Arautos do Evangelho, Janeiro/2005, n. 37, p. 32-33)

 
Comentários