Fale conosco
 
 
Receba nossos boletins
 
 
 
Artigos


Plinio Corrêa de Oliveira


O desabrochar da vida mística num menino inocente
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 13/09/2018
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
0
0
 
Ouvindo a narrativa da mãe, Plinio construiu para si uma noção da Alma de Nosso Senhor. E logo foi levado a descobrir na Igreja o desdobramento de todas as maravilhas contidas no Sagrado Coração de Jesus

O desafio de descrever por inteiro e em todos seus riquíssimos pormenores a figura luminosa de Dr. Plinio não é tarefa simples, como ele mesmo o confessou ao Autor, Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias. 

Dr. Plinio nos braços de sua mãe, Da. Lucilia

“Lembro-me de todos os movimentos da graça em minha alma”

          Era uma tarde de sábado, em dezembro de 1967. Acometido por grave crise de diabetes e tendo, em consequência, se submetido a uma operação no pé, Dr. Plinio encontrava-se repousando no sofá vermelho do escritório de seu apartamento. Todos seus amigos ou próximos haviam saído, exceto dois que permaneciam na sala ao lado: o médico que o assistia nos fins de semana e o Autor, que dava expediente para atendê-lo em qualquer necessidade. Ambos conversavam longamente a respeito do que se tinha passado com Dr. Plinio durante os últimos dias.

De repente, tocou a sineta: era Dr. Plinio quem chamava. Quando entraram, ele deitou um olhar cheio de discernimento dos espíritos sobre os dois e, percebendo pelo imponderável que a conversa estava sendo muito abençoada, perguntou antes mesmo de pedir o que precisava:

— Sobre o que estavam conversando aí fora?

Como a oportunidade se apresentava propícia, disseram:

— Sobre um assunto muito precioso, que são os acontecimentos da semana com o senhor, e estávamos desejosos de propor o seguinte: uma vez que, segundo o prognóstico dos médicos, essa convalescença vai se prolongar por dois ou três meses, o senhor não quereria aproveitar os períodos vagos para ditar a sua história? Nós estamos aqui à disposição e poderíamos nos revezar: ora anota um, ora anota outro…

 Ele sorriu, e respondeu:

— Ah, não se iludam! Isso seria interminável, porque eu me lembro dos mínimos movimentos da ação da graça em minha alma desde o primeiro lampejo do uso da razão. E, portanto, se fosse escrever tudo, daria para encher mais de cem volumes!

O que o levava a ter memória de todos os movimentos da graça em seu interior desde quando tomou consciência de si? Era ele um varão de fidelidade privilegiada, que vivia constantemente voltado para Deus e cultivava as graças recebidas com um empenho e um afinco incomparáveis. 

Por esse motivo, é à luz da vida divina que inabitava sua alma e a tornava refulgente e grandiosa que o Autor deseja ressaltar em sua obra os aspectos mais profundos e admiráveis da pessoa de Plinio Corrêa de Oliveira.

O despontar de uma vida pervadida de mística

A experiência mística desabrochou em Plinio pouco depois de seu nascimento. 

A partir do despontar do uso da razão, antes mesmo dos seis meses de idade, estava aceso nele o espírito de admiração, de enlevo e de veneração, sempre receptivo a todas as belezas postas por Deus na ordem da natureza e da graça. Desde a mais tenra infância, brilhou nele o candor da inocência e um surpreendente dom de discernimento dos espíritos, pelo qual analisava, cheio de penetração sobrenatural, a realidade que o circundava. 

Nesse sentido, seu próprio testemunho é do mais alto interesse, pois mostra a intensidade e a força com que Deus agia em seu coração. 

Inocência rutilante

Com efeito, Plinio não tardou a fazer uma correlação entre o que ele havia visto pelo discernimento dos espíritos na alma de Da. Lucilia e tudo aquilo que misticamente sentia de divino na Igreja, à medida que a foi conhecendo. Pervadido de amor entranhado, forte e pleníssimo, concluiu em determinado momento: “Minha mãe é fruto da Igreja!”.

Quem vê a primeira fotografia de Plinio, nos braços de sua mãe, Da. Lucilia, nota logo, além da inocência da criança, o olhar analítico, lúcido e contemplativo de um menino que já tem suas desconfianças e suas percepções.  

“Tanto quanto eu posso me lembrar de mim, em pequeno eu era muito analítico, isto é, de tomar as coisas e pensar sobre elas: ‘São boas, são ruins segundo a moral, mas são ontologicamente apetecíveis ou não?’ Uma aptidão para a análise vivíssima. Por exemplo, na minha fotografia nos braços de mamãe, […] me parece ver já naquela criança uma propensão assim: não permitir que as coisas se apresentem acavaladas e promíscuas, mal diferenciadas. Uma enorme tendência para distinguir, para depois saborear ou recusar, analisar ou aprovar”. 

Mais tarde, no segundo retrato de Plinio, aos dois anos de idade, encontramo-lo sentado numa pequena cadeira e, entretanto, ele está como se fosse um senhor ou um imperador num troninho, já com grandeza, já governando! Esse domínio e esse modo de ser digno defluíam do elevado pensamento que ele possuía.

“Numa fotografia minha já maiorzinho, sentado numa miniatura de cadeira de gente grande, eu percebo que já a análise deu uns passos, e algumas coisas já estão julgadas… Eu estou aprendendo a desconfiar vivamente, conforme o caso, embora também sabendo confiar. Parece-me que até aquela idade existe uma retidão boa: é de um menino que está pensando pouco ou nada em si, mas está preocupado em saber como são as coisas. Este espírito de análise estabelece, então, o desprendimento de si”.  

Visão paradisíaca da ordem do universo

É de se notar a predestinação deste homem: desde menino, a Providência preparou e beneficiou sua própria natureza humana, pondo nele um equilíbrio entre sentidos, vitalidade e primeiro impulso da alma, com a finalidade de levá-lo ao cumprimento perfeito de sua missão, que era a de ter uma visão completa, perfeita, acabada e íntegra da ordem do universo, e amar essa ordem como reflexo da grandeza de Deus. Na realidade, esses princípios primeiros postos na alma de toda criança foram dados a Plinio de forma rica, sólida e excelente, levando-o a ter em relação a tudo uma compreensão como que paradisíaca.  

Consideremos ainda uma de suas recordações, na qual se torna patente o quanto Plinio tinha uma noção implícita, incutida pela graça, da existência de um universo muito superior, do qual este que vemos não é senão um reflexo.  

Plinio aos dois anos de idade

Batendo os olhos sobre alguns ambientes, ele percebia pairar ali certa ação sobrenatural, vinda do mundo dos Anjos: “Eu tinha um feitio de espírito pelo qual as coisas sublimes me atraíam muito a alma. Olhando-as, analisando-as e admirando-as, querendo-as muito bem, eu ia insensivelmente conformando minha alma com aquele mundo ideal. Esse agir interior se aplicava a tudo quanto me parecesse de uma bondade, uma justiça, uma força e uma excelência extraordinárias. Tudo quanto estava nessa categoria de seres, fossem materiais, fossem espirituais, como os Anjos, que eu podia imaginar, tudo me parecia constituir um mundo que pairava por cima deste nosso, um mundo para o qual eu deveria voltar-me com toda a força, para modelar-me por essas sublimidades.

Como era esse conhecimento do pequeno Plinio? Em que consistia sua contemplação? Tão alta visão tem sua causa no “grande desconhecido”, o Divino Espírito Santo, que age mediante seus dons: “O dom de sabedoria”, sustenta o Pe. Philipon numa de suas brilhantes definições, “é o olhar supremo de Deus comunicado pela graça a uma simples criatura. Seu papel contemplativo e apostólico se estende a toda a atividade do cristão. Aos olhos da alma, esclarecida pelo dom de sabedoria, tudo se torna luminoso”.

Dir-se-ia ser essa uma sintética descrição de como Dr. Plinio, desde a infância, via o universo tanto no tocante ao mundo sobrenatural quanto ao natural. 

Alma de brilho auriprateado

Ora, o que sentia ele, quando menino, analisando a própria alma? Tomemos um relato que constitui uma verdadeira confissão a respeito de seu discernimento aplicado sobre si, e que é suficiente para mostrar o quanto era um homem providencial e místico, aquinhoado com dons especialíssimos: “Em virtude de minha inocência eu tinha um estado de espírito pelo qual às vezes eu considerava a minha própria alma e percebia nela uma espécie de brilho auriprateado que fazia com que eu quase sentisse o aroma de mim mesmo e de tudo quanto eu tinha de éclatant, de brilhante, de reto e de puro. Isto era seguido da ideia de que essas coisas que eu admirava e me deliciava em possuir, existiam alhures de um modo muito mais intenso, como em sua potência mater. Era como se existisse um arqui alter ego – outro eu – meu atraentíssimo, porque imensa e infinitamente distante, mas inviscerado dentro de mim e brincando com minha alma como um homem poderia brincar com uma pedra preciosa. Eu tinha a impressão de que esse alter ego se comprazia em intensificar ora tal atitude, ora tal outra em minha alma e contemplá-la”.  

Como afirmará logo adiante, este alter ego, mais ele do que ele mesmo e infinitamente superior, era Deus. Por assim dizer, Ele trabalhava e enriquecia sua alma a fim de torná-la ainda mais parecida consigo e, dessa forma, poder entrar em diálogo e Se comprazer no relacionamento com alguém semelhante a Si. Algo análogo ao convívio de Deus com Adão, passeando às tardes no Paraíso (cf. Gn 3, 8). 

Assim, o ponto de partida da vida espiritual de Plinio, na infância, correspondia ao auge atingido por outros no término de seu caminho. Por quê? Porque, embora ainda não estivesse explícito por ser ele muito pequeno, o grande papel que ia desempenhar e também a trajetória de quase oitenta e sete anos que teria de aguentar, exigiam dele, nesse início, algo colossal.

Contemplando a inocência da mãe 

Como foi visto, em Dr. Plinio já se fazia presente, na mais tenra idade, um dom que ele preservou até o último instante de sua existência: o discernimento dos espíritos. O Autor lembra-se de, uma vez, ter perguntado a ele quando havia desabrochado o discernimento dos espíritos em sua alma.

Com toda a naturalidade e despretensão, ele disse: 

— Eu não me lembro de um momento no qual eu tenha me dado conta que possuía esse dom; quando acordei para o uso da razão, eu já raciocinava com o auxílio do discernimento dos espíritos.

— Mas, em quem o senhor aplicou primeiro esse discernimento?

— A primeira pessoa de quem eu guardo consciência de ter analisado foi mamãe. Lembro-me de que olhando para ela eu via sua alma e pensava: “Como ela é boa! Que bondade, que equilíbrio, que benquerença! Como ela me quer profundamente, com inteiro desprendimento!”.

Dessa afirmação concluímos que, por uma graça imensa, ao fixar nela os olhos, viu mais o espírito do que a própria fisionomia. E declararia ele em outra ocasião: “As primeiras graças que me lembro de ter recebido foram de uma grande sensibilidade em relação a mamãe. Ela me impressionava muito mais pelo que eu percebia de sua alma do que pelas suas palavras. Sua presença exercia em mim um efeito profundo. Mesmo estando longe de mamãe, sabia o que ela quereria ou não quereria, e me desagradava contrariar sua vontade”.

Da. Lucilia foi o parâmetro, os trilhos, a “Tábua da Lei” que o sustentou na vida espiritual: entendeu ele desde muito pequeno, sem conhecer ainda a palavra santidade, como devia caminhar rumo a esta, tendo por modelo sua mãe. Assegura Dr. Plinio: “Passei a vida inteira analisando-a, haurindo-a e, tanto quanto possível, tornando-me semelhante a ela. O quanto ela foi nutrimento para minha inocência primeva, nem sei dizer, mas tento, desse modo, exprimir meu respeito sem nome, minha veneração e meu agradecimento”.

Testemunho disso foi o louvor que ele lhe rendeu, logo que ela exalou o último ­suspiro: “Eu estudei sua bela alma com uma atenção contínua e era por isto mesmo que eu gostava dela. A tal ponto que, se ela não fosse minha mãe, mas a mãe de um outro, eu gostaria dela da mesma maneira, e daria um jeito de ir morar junto a ela. Mamãe me ensinou a amar a Nosso Senhor Jesus Cristo, ensinou-me a amar a Santa Igreja Católica”.

Podemos concluir que Deus, em sua infinita sabedoria, preparou com antecedência o desabrochar da tão elevada vocação de Dr. Plinio, dando-lhe Da. Lucilia por mãe. 

Mas o discernimento de Dr. Plinio, sempre à procura das mais altas causas, estava preparado para descobrir a fonte de onde promanava a virtude, a suavidade e a pureza de sua mãe. 

Encontro místico com Jesus Cristo e sua Igreja         

Com efeito, Plinio não tardou a fazer uma correlação entre o que ele havia visto pelo discernimento dos espíritos na alma de Da. Lucilia e tudo aquilo que misticamente sentia de divino na Igreja, à medida que a foi conhecendo. Pervadido de amor entranhado, forte e pleníssimo, concluiu em determinado momento: “Minha mãe é fruto da Igreja!”.

Para melhor compreendermos esta percepção mística, é indispensável lembrar algumas de suas recordações mais remotas sobre a atmosfera de sacralidade e elevação notada por ele no Santuário do Sagrado Coração de Jesus, em São Paulo, que frequentou desde pequeno. Com seu dom de reversibilidade, um dos desdobramentos da sabedoria em sua alma, aquela criança pura, serena e reflexiva, ia descobrindo maravilhada a relação entre a Igreja e a própria mãe:

“Ao longo de vários domingos, eu ia fazendo a ligação entre a igreja e o órgão, e depois com mamãe que estava ao meu lado. Eu via mamãe rezar, tinha a proximidade física com ela e dizia: ‘Ela e a Igreja têm tal ou qual reversibilidade: o edifício material, as atitudes do padre no altar, os paramentos dele… Eu diria que tudo isso está na alma de mamãe também!’”.

Todavia, as inspirações da graça levariam essa percepção ainda mais longe. Sua experiência sobrenatural, à maneira de um contato direto com a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, tocou de tal modo a sensibilidade, que o pequeno Plinio chegava a considerá-la como uma pessoa. Figura mística que ele criava para bem explicar aos demais o que se passava no fundo de seu coração:

“O que eu vou dizer é naturalmente o Divino Espírito Santo, mas quando se é pequeno não se diferencia bem: ficava-me a ideia de que a Igreja era uma instituição viva, com um espírito próprio, […] andando e reagindo como se fosse uma pessoa ao longo da História, com todas as misericórdias da mãe, paciências da mãe, dignidades da mãe, savoir-faire da mãe, jeitos da mãe; é uma Igreja Mãe! […] A Mãe mais aconchegada, mais íntima, mais bondosa, mais ‘perdoante’ que se possa imaginar; mas também a Rainha mais digna de louvor que se possa imaginar, e a guerreira virginal, à la Santa Joana d’Arc, capaz de todas as vitórias, sem perder a delicadeza feminina, com efetiva força, sobrepujando todos os marechais, inspiradora de todos os heróis!”.

Assim, ele concebeu uma ideia sublime e altíssima da Igreja, enquanto pináculo e modelo de toda a criação: “Na Igreja do Sagrado Coração de Jesus havia algo arquetípico mais ou ­menos esparso pelo ar, do qual estou certo de que era uma graça. Quer dizer, tudo o que eu via lá era arquétipo e ‘arquetipizado’”. Com efeito, Deus concedeu copiosas graças a Plinio a fim de favorecer nele o senso das “arquetipias”, muito ligado à sua extraordinária vocação, mediante o qual seu espírito propendia, de contínuo, à operação psicológica de ver, além da realidade sensível, as imagens mais perfeitas de todas as coisas. 

E não podia deixar de descobrir no cume da Igreja o Arquétipo de todos os arquétipos. Com efeito, a graça dos Sacramentos, o heroísmo dos mártires e dos Santos, a retidão da doutrina, o fulgor da Liturgia, e todos os demais esplendores do Corpo Místico, estão concentrados na Divina Cabeça. Dela transbordam aos membros, ornando a Igreja de luz, vida e grandeza.

Discernindo a mentalidade do Sagrado Coração de Jesus   

Fotografia de Da. Lucilia tirada em 1912, em Paris

      Ao perceber a infinita superioridade do Coração de Jesus, analisando uma singela imagem d’Ele conservada no quarto de Da. Lucilia, Plinio pôde contemplar a fonte da qual brotava a instituição nascida do flanco traspassado do Divino Crucificado. Era, de fato, uma imagem muito bonita, piedosa e tocante, diante da qual Plinio recebeu seu primeiro impulso para a oração, por diligência de Da. Lucilia. As mães, em geral, fazem com que os filhos reconheçam seus pais, e é comum surgir nos lábios de uma criança que está se desenvolvendo a palavra papai ou mamãe antes de qualquer outra. Da. Lucilia, porém, não agiu assim: ela instruiu as duas crianças, Plinio e sua irmã Rosée, a distinguir em primeiro lugar o Sagrado Coração de Jesus. Ao lhes perguntar “Onde está Jesus?”, eles imediatamente olhavam para a imagem e apontavam com o dedo. 

Em presença de Nosso Senhor Jesus Cristo, o que minha alma sentia, tendo a notícia d’Ele que pode ter uma criança? Qual era essa primeira cognição, e como era esse primeiro ato de adoração?”.13 “Eu me lembro de mim mesmo […] dizendo: ‘Afinal, como Ele é?’ […] E maravilhado, achando que aquela imagem atendia as minhas aspirações e correspondia a tudo quanto eu reputava ser bom e direito, e ainda mais: punha ­horizontes e aspectos ­novos, com uma elevação extraordinária! Não só no que dizia respeito à coisa em si, mas tratando-me a mim paradigmaticamente como eu queria ser tratado. Quer dizer, o olhar que aquela imagem pousava em mim era o olhar por excelência, do qual eu gostaria que todos os olhares participassem. E Aquele era, com toda a realidade, meu Deus, Jesus Cristo, Filho de Maria, que nasceu em Belém!”. 

Acostumado a analisar as almas e constituir uma ideia sobre as mentalidades, ele começava a imaginar como seriam os atos praticados pela Pessoa que discernia com impressionante acuidade:

“De modo instintivo eu examinava a fisionomia d’Ele, longamente, atentamente, meditadamente… o quanto pode caber na cabeça de uma criança. […] E procurava me perguntar se os episódios da vida d’Ele condiziam com aquilo que eu imaginava da mentalidade d’Ele, e percebia que não só estavam de acordo, mas tomavam um realce extraordinário quando praticados por aquele Varão, com aquele rosto e com aquela atitude”.

O Autor é levado a acreditar que muitos dos fatos da vida de Jesus descritos por Da. Lucilia ao filho quando menino a tal ponto entravam a fundo em sua alma que, a partir da narrativa da mãe, ele chegou a construir para si uma noção de como devia ser Nosso Senhor. Não era, porém, uma ideia fruto da pura ascese, mas uma visão a respeito de Nosso Senhor que é a mais alta possível aqui na terra, porque provinha da ação do Espírito Santo através de singulares graças místicas.
Amor à Igreja com laivos de adoração

À luz do dom de reversibilidade Plinio ia descobrindo na Igreja o desdobramento de todas as maravilhas contidas no Sagrado Coração de Jesus:

“Confusamente, eu percebia o seguinte: uma imagem é uma coisa muito bonita, mas não tem vida; e eu quereria conhecê-Lo em estado vivo. […] Comecei, então, a perceber que Ele vivo estava na Igreja!”.16 E se perguntava: “‘Se Ele tivesse de fazer a Igreja, tê-la-ia feito como ela é?’. E chegava à conclusão de que sim, ela era por inteiro o que Ele devia fazer. Donde, então, uma confirmação da fé originária”.

A partir de então nasceu nele um amor sempre crescente, de maneira que a Igreja foi sua paixão mais entranhada; amor puríssimo, desapegado; amor de escravidão que, entretanto, não o oprimia, mas lhe trazia liberdade!

“A Igreja Católica é para mim mais do que meu pai, mais do que minha mãe, mais do que minha vida, mais do que tudo que eu possa ter; a Igreja Católica, eu a amo com um amor tal que tem laivos de adoração! Porque ela é o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo!”.

Monsenhor João Clá viu Dr. Plinio comovido até às lágrimas só por duas razões: em certos momentos, pela recordação de Da. Lucilia, sobretudo logo após seu passamento; e em outros, a propósito da Santa Igreja. Destes, os três mais marcantes foram, sem dúvida, os seguintes: quando, em fins da década de 1950, ele se retirou num pequeno cômodo da casa onde costumava se reunir com seus seguidores, e chorou longa e copiosamente, prevendo pelo discernimento dos espíritos as difíceis situações pelas quais a Igreja teria de passar; na Semana Santa de 1966, falando mais uma vez sobre os sofrimentos dela; e, por fim, em 7 de junho de 1978, aniversário de seu Batismo, ao ouvir a referência a ele enquanto sendo filho e fruto da Santa Igreja, “vir catholicus, et totus apostolicus, et ‘totissimus’ romanus – varão católico, todo apostólico, plenamente romano”. Esse elogio arrebatava o seu coração, porque era o que mais lhe poderia causar honra, alegria e glória!

O choque com o mal

A primeira infância de Plinio havia sido um período de felicidade sem sombras. Chamado a uma especial contemplação da ordem do universo, desde o despertar da razão ele se voltara à consideração de tudo quanto via de bom e de belo e, pela proteção de Da. Lucilia, desenvolveu a virtude da caridade na prática de constantes atos de admiração ao sublime, percebido de forma particular na Santa Igreja e no Sagrado Coração de Jesus. Ele imaginava, entretanto, que tal visualização era participada por todos aqueles com os quais convivia, e que tal situação se prolongaria por toda a sua existência.

Assim, havendo ele atingido a idade de dez anos, não fora ainda submetido ao fogo da provação. Faltava-lhe a noção completa da existência do mal.

Plinio aos 10 anos de idade

Plinio estudava em casa desde muito pequeno, recebendo aulas da Fräulein Mathilde, governanta alemã a quem Da. Lucilia confiara a missão de formar, sob sua orientação, seus filhos Rosée e Plinio. Esmero, firmeza e disciplina eram as notas distintivas de seu método germânico de educação. 

Ora, alguns dos seus primos já haviam ingressado no Colégio São Luís, dos padres jesuítas,19 e insistiam para que ele também ali se inscrevesse. Plinio queria saber exatamente como era o ambiente do colégio e, então, conversava amiúde com seu primo Procópio,20 um pouco mais velho do que ele, fazendo-lhe perguntas sobre o estabelecimento. 

Porém, este menino era muito labioso e esperto, capaz de iludir as pessoas e convencê-las. Ele descreveu-lhe a realidade escolar como um jardim de delícias, todo feito para agradar o espírito maravilhoso de seu primo mais novo. Lá existiriam cerejeiras que davam frutos durante todo o ano, deliciosos e abundantes, ao alcance da mão… 

Ludibriado por aquele mito, Plinio procurou seus pais e pediu-lhes com insistência para ser matriculado no São Luís, ao que Da. Lucilia e Dr. João Paulo acederam. Todavia, no primeiro dia de aula teve uma surpresa já ao sair de casa, por verificar que seu primo não passara para apanhá-lo, como prometera, nem o esperava junto aos portões quando chegou conduzido pela Fräulein. 

E qual não foi sua decepção ao procurar as cerejeiras e não as encontrar em nenhuma parte! Percebendo que havia sido enganado por Procópio, Plinio teve o primeiro desapontamento em sua nova vida, fato detonador de muitos outros: “Ele então se esqueceu de mim completamente, sem dar a menor importância à minha decepção… Permaneci isolado, […] pensando nesse primo que eu achava tão bom e direito, a quem admirava com verdadeiro entusiasmo e ao qual queria como a um irmão: Alguma coisa não está certa… Como ele mente desse modo?’”.

Contudo, o maior susto de Plinio seria na hora do recreio. Havendo saído das salas de aula em boa ordem e disciplina, os alunos formaram no pátio e, de repente, ao ouvir o apito de um dos mestres jesuítas, todos se dispersaram no estouro de uma debandada caótica. Era um tropel de meninos que corriam como horda de bárbaros, davam pontapés e derrubavam uns aos outros, transpiravam e rolavam na poeira, em tremenda agitação e gritaria.

Para ele, presenciar essa cena foi um verdadeiro trauma. “Aqueles gritos me pareceram o sumo do que não deveria ser. […] Era uma espécie de orgia de gasto de vitalidade, de intemperança e de falta de ordem. Um grande frenesi absorvia e dominava completamente os alunos, e os jogos se desenvolviam em meio à tensão nervosa e à superexcitação”. “Aquilo me parecia uma espécie de cidade do demônio, onde todos eram moleques, porcos, vulgares e sem fé”.

Diante da Revolução universal

Sozinho no pátio, enquanto assistia o espetáculo de brutalidade e desordem protagonizado pela massa de alunos febricitados, Plinio compreendeu o que antes jamais suspeitaria: “O mundo inteiro é como este colégio”. Sem ainda usar o termo nem definir seu significado, ele havia explicitado a existência da Revolução, e com ela acabava de ter seu primeiro choque. “Eu estava, portanto, diante de um movimento universal, organizado e coeso, com uma mentalidade única, a qual se exprimia sob várias formas e abrangia todos os assuntos. E esse movimento avançava com tanta expansão, segurança e força, que se tinha tornado irresistível […]. Era o início da ideia da Revolução”.

Em certo momento Plinio completou o quadro: tudo quanto ele via de bom no universo tinha relação com o Sagrado Coração de Jesus, e a desordem existente no mundo se levantava contra Ele. De um lado estava Ele, como polo do bem; do outro se encontrava a mentalidade revolucionária, polo do mal, em revolta contra o Sagrado Coração de Jesus e sua Santa Igreja, tendo como aspecto mais saliente a impureza.

Afirmava ele: “Toda essa batalha que eu presenciava tinha como centro a Religião. Em última análise, quase tudo o que os meninos maus faziam, era proibido pela doutrina católica, e tudo aquilo de que eles caçoavam era mandado por ela”.

Sim, a partir de seu encontro com o mal, o enlevo de sua alma pelo bem, pela verdade e pelo belo se havia tornado manifesto e definido como autêntico amor à Igreja. Em contrapartida, passava a ver o quanto esta era odiada e perseguida, e começava a contemplar nela, com encanto, outra característica para a qual ele possuía uma grande propensão: a combatividade. “A Igreja me parecia um horto fortificado, cheio de maravilhas no interior, mas do lado de fora todo preparado, ajustado e assestado para o combate”.

Surgia assim em seu espírito a ideia de feitos heroicos empreendidos para o bem da Santa Igreja.

Era o nascedouro daquilo que mais tarde ele chamaria de Contra-Revolução, cuja única origem estava na adoração a Nosso Senhor Jesus Cristo, como ele o declarava ao narrar tal fase de sua vida: “Toda a luta da Contra-Revolução é uma defesa do que nós poderíamos chamar a mentalidade do Sagrado Coração de Jesus, contra a Revolução”.

A missão pessoal e o sonho de uma ordem de cavalaria

Nessa circunstância punha-se para ele um problema, que formulava para si mesmo com toda a clareza: “Diante de tal situação tenho duas alternativas: se eu seguir o caminho dos outros e me tornar semelhante a eles, farei carreira, terei uma vida tranquila, serei benquisto, elogiado e aceito, e inclusive receberei algo de glória no meio deles. Mas se eu for como tenho sido até agora e levar uma conduta à maneira de mamãe, serei um homem abandonado, perseguido, odiado e traído. O mundo inteiro se levantará contra mim para me esmagar, e serei o único a enfrentá-lo. Sofrerei a dor do isolamento, e a glória só virá mais tarde”.

Essa era a perspectiva apresentada a um menino de 11 anos, todo feito de afeto e doçura, digno filho de Da. Lucilia. Pois bem, depois de ter visto o mal até sua raiz mais profunda, ele soube arrancar dessa afetividade a intrepidez de um herói: “Aconteça comigo o que acontecer, eu serei contra esse mundo. Esse mundo e eu somos irreconciliavelmente inimigos. Serei a favor da pureza, da Igreja, da hierarquia e da compostura. Esses valores confundem-se comigo e com minha vida!”.

Sem duvidar, ele reconhecia: “Eu adquiri a noção de haver nascido para inverter esse jogo de forças”.29 Com essa visão claríssima a respeito do seu futuro e da grandeza de sua missão, nascia e concretizava-se a vocação de Plinio enquanto o varão providencial.

Foi nesse tempo que despontou em sua alma um desejo, verdadeiro sopro do Espírito Santo, que jamais morreria e seria o sonho de sua vida, enriquecido e aperfeiçoado com o passar dos anos e das décadas: um dia ele haveria de fundar uma ordem de cavalaria para combater pela causa do bem. Ele se sentia chamado a levar à sua mais alta e esplendorosa realização todos os valores que constituíram o ideal da cavalaria no passado, e tinha a ideia de uma obra que atravessasse os séculos e os milênios, defendendo a Igreja até o fim do mundo.

Previsão de um castigo universal

Certo dia, Plinio participava de uma aula de ginástica no Colégio São Luís. Segundo ele mesmo descreve, havia ali bonitos bambus, alinhados e elegantes, plantados com regra e simetria, sob os quais o chão era coberto de areias alvíssimas e muito puras. Os raios do sol rebrilhavam atrás do bambuzal e atravessavam a folhagem, deitando algumas réstias de luz que douravam partes do chão.

Ao contemplar aquela magnífica ordenação da natureza, ele ficou encantado e teve uma extraordinária sensação de disciplina, elevação e limpeza. Outro elemento vinha aumentar a beleza da cena: “De vez em quando, um padre andava pelo colégio silencioso, de rosário na mão, outro passava junto aos bambus, rezando o seu breviário, sossegado e tranquilo”.30

Tudo aquilo era digno e composto, contrário à desordem que reinava quando ali se encontravam os meninos, em meio à correria e ao ­caos. Plinio viu, então, o contraste entre a ordem da natureza e da Igreja, tão de acordo com sua mãe, e de outro lado o mundo inteiro mergulhado no pecado.

Nesse instante sentiu a voz da graça em seu interior e disse para si mesmo, cheio de convicção: “A humanidade está perdida e caminha para uma hecatombe. Dia virá em que a ordenação existente na criação não suportará mais os pecados dos homens e se levantará para castigá-los. Em determinado momento, a natureza se aliará a mim e fará com que nos vinguemos desses pecados”.

Essa foi a primeira moção da graça a respeito de um futuro castigo universal e uma intervenção da Providência, abalando a natureza, transformando a humanidade e implantando a ordem: “Entendi que esse desenlace não seria propriamente o fim dos tempos, mas iniciaria uma era em que os homens receberiam os últimos ensinamentos antes de a História terminar. E refleti: ‘O que agora existe de bom vai permanecer, mas essa época será muito melhor do que tudo isso, pois ela constituirá a réplica de Deus contra o mal. E a Igreja será a rainha!’”.31 Era um lampejo do Reino de Maria que brilhava em sua alma.

Ao narrar tais episódios Dr. Plinio não hesitava em reconhecer o aspecto sobrenatural do acontecido naquele dia: “Percebo com clareza que aquilo foi, sobretudo, um fruto da graça, pois, para um menino daquela idade chegar a conclusões tão profundas, não bastavam os meros recursos da natureza. Inclusive sou propenso a aceitar que tenha havido uma ação de caráter místico”.

Nasce a devoção a Nossa Senhora

Havendo discernido a Alma de Nosso Senhor Jesus Cristo ao contemplar a imagem do Sagrado Coração de Jesus, Plinio tivera uma extraordinária atração pela Pessoa d’Ele.

Possuía ele devoção a Nossa Senhora? Sem dúvida, e o incentivo materno nesse sentido jamais faltara, mas existia a esse respeito algo que ele não compreendia bem, surgindo uma interrogação em seu espírito: “Sentia uma espécie de reticência, não com Nossa Senhora, mas com a devoção que Lhe era tributada, e uma vez ou outra me perguntava se não seria um tanto exagerada, pois poderia afastar as almas da adoração ao arquétipo humano que era Nosso Senhor Jesus Cristo”.33

Ora, faltava a Plinio uma experiência mística de amor e bondade para compreender a Santíssima Virgem por inteiro em seu papel de Mediadora junto a Nosso Senhor, e ter sua alma conquistada por Ela. Tal benefício lhe estava reservado para a hora exata, aos 11 anos de idade, no momento de uma terrível aflição.

Repreensão e ameaça de Da. Lucilia

Certa ocasião Plinio recebeu nota seis de comportamento em geografia. Sendo sua conduta irrepreensível na sala de aula, tal qualificação constituía um equívoco e uma injustiça, e ele bem sabia qual seria a reação de Da. Lucilia ao deparar-se com aquela nota no boletim. Ele não teve dúvida: sem refletir sobre as consequências de seu ato, decidiu alterar a anotação, corrigindo o erro e escrevendo por cima do seis a nota à qual julgava ter direito: dez. O resultado, porém, foi uma lamentável borradela, e a autoria da nova qualificação saltava aos olhos de quem a visse…

Ocorreu-lhe outra ideia: saiu ao pátio do colégio com seu boletim e tentou molhar a página em questão com a chuva que caía abundante, a fim de apagar os sinais da modificação operada, mas o efeito foi ainda pior! Era um boletim inapresentável o que ele entregou nas mãos maternas, quando chegou a casa.

Apesar de tão afetuosa e carinhosa, Da. Lucilia primava pelo zelo no cumprimento dos deveres por parte de seus filhos e, em sua retidão, indagou-o sobre o acontecido. Ao ouvir a explicação de Plinio, incapaz de mentir à própria mãe, exclamou:

— Então, um filho meu é falsário?

Era a recriminação mais forte que recebera de Da. Lucilia, segundo ele afirmava. Da. Lucilia ameaçou: Dr. João Paulo iria ao colégio na segunda-feira a fim de verificar o acontecido. Esta cena se desenrolou no sábado à tarde; se fosse comprovado que ele havia praticado alguma ação repreensível na sala de aula, ela o mandaria como aluno interno ao Colégio Caraça, em Minas Gerais, durante um ano.

Após retirar-se da presença de Da. Lucilia sem receber dela o ósculo de costume, Plinio se viu num mar de angústia, afligido até o cerne de sua alma: temia muito ser mandado para lugar tão inóspito, mas, sobretudo, o feria a hipótese de viver longe de sua mãe. Aquela perspectiva era para ele um verdadeiro tormento: “Sentia-me expulso daquele paraíso de sabedoria e de carinho que era a minha união com ela”.34

Por outro lado, ele se encontrava nesses dias em renhido combate, assaltado por tremendas tentações contra a castidade, virtude que ele tanto amava e não desejava perder por nenhum preço. Narrava ele: “Sentia-me [em matéria de pureza] pavorosamente fraco e débil. Sem ter propriamente momentos de desânimo, pareciam faltar-me as energias para a luta”.35

“Salvai-me, Rainha”

No domingo de manhã Plinio saiu de casa muito cedo e dirigiu-se ao Santuário do Sagrado Coração de Jesus para a Missa. Ao entrar na igreja, não havendo lugar livre nos bancos da nave central, ele permaneceu à direita, no fundo. Por coincidência, dali se via à distância uma imagem branca de Nossa Senhora Auxiliadora. Na sua aflição, Plinio começou a rezar uma das orações que sabia de memória: a Salve Rainha. Ora, sem conhecer o significado da saudação latina salve, para ele o sentido da prece era “Salvai-me! Salvai-me, porque minha situação é terrível!”.

Ao pronunciar as palavras “Mãe de misericórdia”, sentiu-se olhado com imensa maternalidade e teve em seu interior uma impressão de apoio e amparo, reconhecendo imediatamente quem era Aquela à qual se dirigia: a Mãe das mães, misericordiosa em extremo, a tábua de salvação! Numa intuição rápida, pensou: “A bondade d’Ela é muito superior à de mamãe! Esta é a Mãe da minha mãe, o suprassumo do que ela é, a arqui-Mãe!”.

Nesse momento, a imagem da Santíssima Virgem parecia sorrir-lhe, cheia de carinho. Tocado no fundo da alma por uma graça mística, ele experimentou em si o amor de Nossa Senhora e o quanto estava Ela disposta a perdoá-lo, reconduzi-lo ao bom caminho, dar-lhe forças e fazer por ele o inimaginável. Plinio também recebeu a confirmação de que perseveraria na fidelidade e na virtude, apesar de sua fraqueza, pois Ela o manteria.

Plinio retornou com o coração transbordante. O domingo transcorreu para ele em plena paz e, no dia seguinte, Dr. João Paulo verificou a realidade do ocorrido com a nota de geografia: tratava-se de um erro de transcrição, pois, de fato, Plinio havia merecido e obtido dez em comportamento. Tudo voltou à normalidade. Entretanto, ele mesmo afirmava que tal solução havia sido a menor das vantagens alcançadas naquela circunstância.

O início de um relacionamento filial com Nossa Senhora

Acima de tudo, Plinio recebera uma insigne graça a respeito de Nossa Senhora, e com esse episódio se iniciava sua devoção a Ela, num relacionamento que deveria crescer cada vez mais ao longo da vida: “Minha devoção a Ela, entranhada, filial e fervorosa, começou nessa ocasião e eu a devo a mamãe, cuja severidade me atirou nos braços de Nossa Senhora. […] A partir desse dia, Ela estabeleceu comigo uma relação de bondade e eu jamais perdi a confiança n’Ela. Fiquei calmo para a vida inteira, pois, fosse o que fosse, uma vez que me sentia envolvido por essa misericórdia, podia descansar”.36

Monsenhor João Clá tem a forte impressão de que, no momento do intercâmbio de olhares de Plinio com Nossa Senhora Auxiliadora, deu-se também algum fenômeno místico análogo à troca de corações, todo relacionado com a vontade, pelo qual ele parece ter-se entregado a Maria Santíssima. E amando-A dessa forma, sua alma mudou, tornando-se semelhante a Ela, enquanto a Mãe de Deus teria Se apropriado da vontade do menino que a Ela recorria, para realizar seus grandes desígnios a respeito dele e de sua missão futura.

 
Comentários