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São João da Cruz: Mestre da reforma carmelitana
 
AUTOR: IR. CARMELA WERNER FERREIRA, EP
 
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Santa Teresa de Jesus o considerava "uma das almas mais puras e santas que Deus suscitou na sua Igreja". Esse "meio frade" de compleição franzina foi grande na fé, baluarte do Carmelo Descalço e da Contrarreforma.

São João da Cruz, amparado e escolhido por Nossa Senhora

São João da Cruz (João de Yepes) nasceu em 1542, no pequeno vilarejo de Fontiveros, incrustado nas amplas planícies de Castela. Com efeito, seu pai, Gonzalo de Yepes, era um membro da nobreza toledana que renunciou às prerrogativas de sua origem para contrair matrimônio com Catarina Álvarez, uma humilde tecelã. Então, desta união nasceram três filhos, sendo João o último deles.

A cruz – que um dia esse menino escolherá com encanto para figurar em seu próprio nome – de fato haveria de estar presente junto a ele desde seus primeiros anos. Os sucessivos fracassos nos negócios paternos levou o lar a uma situação de extrema pobreza, sanada apenas em parte pelos trabalhos de tecelagem do casal.

Entretanto, o maior infortúnio verificou-se quando o Santo contava dois anos de idade, com o falecimento do pai, que foi acometido por uma dolorosa moléstia. A viúva, sem outro recurso que a proteção da Providência, lançou-se numa luta sobre-humana pelo sustento da família. Indagada pelos inocentes olhares dos filhos acerca do futuro, partiu para outros povoados e, finalmente, para Medina del Campo, na tentativa de ser melhor remunerada por seus serviços. Destes anos marcados por provações restou uma preciosa recordação: o grande desvelo de Maria Santíssima por aqueles desamparados.

Despontar da vocação

Numa instituição de caridade de Medina del Campo João aprendeu a doutrina católica, a acolitar a Missa entre outros ofícios. Sua maior felicidade era exercer essas funções, pois junto ao altar expandia a alma em colóquios com o Divino Crucificado.

Os benfeitores, dando-se conta da pureza ilibada daquela alma e, ao mesmo tempo, da sua aptidão para os estudos, favoreceram a entrada do jovem no colégio dos jesuítas. Ali permaneceu por vários anos aplicado em árduas matérias, enquanto meditava com seriedade acerca de sua vocação. Quando esta se tornou clara, não hesitou: bateu às portas do Convento do Carmo pedindo o hábito de Nossa Senhora.

Um encontro providencial

Contudo, foi no Carmelo de Medina del Campo recebeu a tonsura, abraçando a regra da Ordem com o nome de Frei João de São Matias. Além disso, costumava passar longas horas diante do sacrário e ajudava a Missa com prazer e alegria, até ser encaminhado pelos superiores para o noviciado de Salamanca.

Assim, foi na velha catedral da cidade, Frei João de São Matias recebeu a unção sacerdotal aos 25 anos, com disposições verdadeiramente angélicas. Todavia, seus anseios de contemplação clamavam por um convívio com Deus muito mais próximo. Por isso, ao regressar a Medina del Campo cogitava em trocar o Carmelo pela Cartuxa, onde, supunha ele, a oblação de si mesmo seria maior.

Nessas circunstâncias encontrou-se pela primeira com Santa Teresa de Ávila. A grande reformadora viera a Medina em 1567 fundar um convento de descalças e percebeu ser a ocasião de estender a reforma ao ramo masculino, uma vez que já havia sido autorizada pelo geral da Ordem a dar esse passo.

Numa entrevista decisiva com Frei João, na qual também esteve presente Frei Antônio de Heredia, Madre Teresa o convidou a tomar parte na santa aventura.

Santa Teresa de Jesus visita São João da Cruz e Frei Antônio de Heredia em Duruelo - Convento de Santa Teresa, Ávila (Espanha).jpg
“Sob a ação conjunta dessas duas almas de fogo, o movimento da reforma
difunde-se como uma mancha de óleo”

Santa Teresa de Jesus visita São João da Cruz e Frei Antônio de Heredia
em Duruelo – Convento de Santa Teresa, Ávila (Espanha)

São João da Cruz Doutor Místico

O principal legado do reformador à família carmelitana e à Igreja é, sem dúvida, a sua vida mística. Deus, que não poupou a este filho os mais atrozes sofrimentos, deu-lhe já nesta Terra grande recompensa: conforme ia purificando sua alma, convidava o servo fiel a gozar de sua intimidade, como costuma fazer aos melhores amigos.

Dessa forma, o insigne Doutor da Igreja deixou aberto atrás de si um caminho privilegiado para se chegar ao Céu, seguido por legiões de almas amantes do holocausto como meio de expiação pelas faltas da humanidade pecadora. Afinal, seus anseios de restituição ao Criador haviam se cumprido, tal como ele desejara ao ingressar na venerável Ordem do Monte Carmelo: “Esta é a grande satisfação e contentamento da alma: ver que dá a Deus mais do que ela é e vale em si mesma, com aquela mesma luz e calor divino que d’Ele recebe”. (Revista Arautos do Evangelho, Dezembro/2014, n. 156, pp. 22 à 25)

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