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Virgem Maria


A advertência precedeu o castigo
 
AUTOR: IR. ELIZABETH VERONICA MACDONALD, EP
 
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Apenas um ano depois das aparições de Lourdes, Maria Santíssima fez uma maternal advertência ao povo norte-americano. À mensagem da Mãe de Deus sucedeu um terrível castigo.

“Arvores, árvores por toda parte”…1 Foi esta a primeira observação feita pelo missionário canadense, Pe. Peter Pernin, ao chegar em 1868 a uma vasta e verdejante região do Estado de Wisconsin, nos Estados Unidos. Escrevendo um século depois, um historiador local observou que sobre aquele imenso tapete de árvores podia-se já antever um panorama promissor: “Era um território em transição de mata agreste para o que se esperava ser um futuro glorioso, industrializado”.2

   De fato, ali se localizava Peshtigo, cidade que possuía três elementos suficientes para, naqueles tempos, ser considerada próspera: ferrovia, telégrafo e a maior indústria madeireira do país, com possantes máquinas a vapor. Os lenhadores e operários que trabalhavam nela não brilhavam pela prática dos bons costumes, mas os fazendeiros se ufanavam de serem cidadãos arrojados e cumpridores da lei. E o jornalzinho local oferecia aos leitores uma divertida mescla de notícias e mexeriquices.

Maternais advertências para um mundo em crise

No ano passado, os bispos dos Estados Unidos
elevaram a capela das aparições ao rango de
Santuário Nacional
Vistas interior

   Peshtigo reproduzia em miniatura o ambiente mundial da época: a humanidade julgava ter encontrado o meio de resolver seus problemas contando apenas com a ciência e técnica. Em fins do século XIX, a felicidade decorrente do progresso parecia sorrir a todos os homens.

   A este mundo de mentalidade ateia e costumes em larga medida contrários à Lei de Deus, veio a Santíssima Virgem sacudir-lhe a consciência por meio de maternais advertências, feitas em três aparições ocorridas no curto período de vinte e oito anos: em 1830, na Rue du Bac, Paris; em 1846, em La Salette; por fim em Lourdes, em 1858. Nelas a Rainha dos Céus alertava a humanidade sobre as graves consequências de continuar virando as costas ao Criador.

   Apenas um ano depois de aparecer em Lourdes, Maria voltou-Se para seus filhos norte-americanos, na que seria a primeira aparição mariana nos Estados Unidos a ser aprovada pela Igreja Católica.3

Uma formosa mulher aparece na floresta

   Quando, em inícios de outubro de 1859, Adele Brise, então com vinte e oito anos, partiu de sua casa, no povoado de Robinsonville, levando um saco de trigo para o moinho, nada parecia indicar que aquela humilde imigrante belga ia se tornar em breve porta-voz da Mãe de Deus.

   Por isso, não foi pequena sua surpresa ao se deparar com “uma Senhora toda vestida de branco, de pé entre duas árvores, um bordo e um pinheiro”.4 A visão se esvaneceu lentamente, numa nuvenzinha branca. Adele relatou a seus pais o singular fato e estes levantaram a hipótese de ter sido uma alma do Purgatório necessitada de orações.

   A aparição se repetiu no domingo, 9 de outubro, quando ela se dirigia à igreja pelo mesmo caminho, desta vez em companhia de sua irmã e de uma vizinha. Depois da Missa, consultou o padre sobre o que estava acontecendo. Este a tranquilizou, explicando que, se aquela Senhora fosse uma mensageira celestial, Adele voltaria a vê-La e, neste caso, deveria ela perguntar- Lhe: “Em nome de Deus, peço- Vos que me digais quem sois e o que quereis de mim”.

Exterior do Santuário Nacional de
Nossa Senhora do Bom Auxílio

   No percurso de volta, chegando ao mesmo local, Adele viu, elevada pouco acima do solo e cercada de resplandecente luz, “uma formosa mulher,trajando um deslumbrante vestido branco que descia até seus pés em elegantes dobras, com uma faixa amarela na cintura. Tinha na cabeça uma coroa de estrelas; seus longos, ondulados e louros cabelos caíam-lhe sobre os ombros”.5

   Adele se ajoelhou e fez-Lhe a pergunta sugerida pelo padre. E todo o seu temor se dissipou quando a Senhora começou a falar: “Sou a Rainha do Céu. Rezo pela conversão dos pecadores e desejo que faças o mesmo. Recebeste nesta manhã a Santa Comunhão, e está bem. Mas deves fazer mais. Faze uma Confissão geral e oferece a Comunhão pela conversão dos pecadores. Se não se converterem e fizerem penitência, meu Filho será obrigado a castigá-los”.6

“Reúne as crianças e ensina-lhes o catecismo”

   Suas acompanhantes nada viam, mas Adele mandou que se ajoelhassem. Nossa Senhora voltou-Se para elas e as fitou com bondade, dizendo: “Bem-aventurados aqueles que acreditam sem ter visto. O que estás fazendo aqui, no ócio, enquanto as tuas companheiras trabalham na vinha do meu Filho?”7

   Esta maternal censura da Virgem Santíssima tem uma explicação. Na época de sua Primeira Comunhão, feita estando ainda na Bélgica, Adele havia prometido, junto com algumas amigas, tornar-se religiosa e missionária; quando sua família decidiu emigrar, ela pediu ao pároco conselhos sobre o que fazer, e este lhe recomendou obedecer aos pais, certa de que, se fosse a vontade de Deus, acabaria por se tornar religiosa na América.

   — Que mais posso fazer, amada Senhora minha? – indagou Adele, desfeita em lágrimas.

   — Reúne as crianças desta agreste região e ensina-lhes o que devem saber para a salvação.

   — Mas como ensiná-las, se eu mesma sei tão pouco?

    — Ensina-lhes o catecismo, a se persignarem com o sinal da Cruz e a se aproximarem bem dos Sacramentos. Quero que faças isto. Vai e nada temas. Eu te ajudarei.

   E a Rainha do Céu partiu, levantando as mãos como quem dá uma bênção.8

Uma das imagens feitas
seguindo as indicações
de Ir. Adele

Alvo de suspeitas, calúnias e traições

   Adele lançou-se logo ao trabalho, e assim prosseguiu durante trinta e sete anos, até sua morte. Decidida a cumprir fielmente a missão recebida, percorreu incríveis distâncias a pé a fim de alcançar com seu apostolado uma região tão ampla quanto possível. Chegando a um lugar, além de instruir as crianças nas verdades da Fé, não perdia oportunidade de relembrar as palavras de advertência da celestial Senhora: “Se os pecadores não se converterem e fizerem penitência, meu Filho será obrigado a castigá-los”.

   Ao cabo de algum tempo, conseguiu formar um pequeno grupo de terciárias franciscanas e, poucos anos depois das aparições, erigiu no local uma capela e uma escola.

   Como costuma acontecer com todas as pessoas incumbidas de uma missão de cunho sobrenatural, o zelo de Adele despertou admiração, mas suscitou também antipatias e incompreensões. Ela foi alvo de suspeitas, calúnias e traições. “Nossa querida irmã teve muito que sofrer, devido a alguns mal-entendidos, especialmente da parte do clero”,9 explica sua fiel colaboradora, Ir. Pauline LaPlante. “Mas tudo isso era para fazê-la sentir que esta não é a nossa verdadeira Pátria, e ela aceitou com bom espírito”.10

   Sua integridade de conduta foi decisiva para provar a veracidade das visões. “Adele era sempre obediente às autoridades da Igreja e firme na missão. […] Seu caráter pessoal é um dos principais fatores a favor do reconhecimento das aparições”, 11 afirma Dom David Ricken.

Atitude displicente diante do perigo

  Normalmente as chuvas eram generosas no fértil norte de Wisconsin. O ano de 1871, porém, foi mais seco que de costume. Um mau pressentimento oprimia as mentes, e pairava sobre a península uma nuvem de fumaça proveniente dos pequenos incêndios esporádicos que, ao longo de dois meses, haviam consternado os habitantes. Contudo, à medida que a natureza multiplicava seus sinais de advertência, a população tomava uma inesperada atitude, assim descrita por um historiador: “Quando o perigo persiste durante certo tempo, os homens aprendem a ignorá-lo, ou fingem fazê-lo, na esperança de que, se ninguém o olhar de frente, ele desanime e desapareça”.12

   Naquele domingo, 8 de outubro, pesava no ambiente um estranho silêncio. Ao cair da tarde, o Pe. Peter Pernin viu acender-se no horizonte um reflexo carmesim e ouviu um prolongado zumbido, como uma “estranha e desconhecida voz da natureza”.13 Prevendo um desastre iminente, recolheu depressa alguns vasos sagrados para enterrá-los.

   Ao vê-lo cavar no jardim, algumas moças se divertiam às suas custas, mal disfarçando as risadas em meio a um jantar cujos ruídos festivos o padre ouvia à distância. Duzentos trabalhadores ferroviários, que chegaram embriagados naquela manhã, enchiam o ar com suas blasfêmias.

“Olha, mãe, está chovendo fogo!”

A integridade de conduta de Ir. Adele foi decisiva para
provar a veracidade das visões
Ir. Adele com os estudantes e as outras religiosas

   A catástrofe desabou com fúria inusitada: “Uma laje giratória de fogo desceu do céu escuro”,14 declarou uma testemunha. Outra sobrevivente, que tinha cinco anos na época, se lembra de ter gritado: “Olha, mãe, está chovendo fogo”!15 De fato, ele caía em lençóis ardentes sobre as copas secas das árvores.

   O Pe. Pernin precisou lutar contra uma forte ventania para chegar até o Santíssimo Sacramento. Tomou o tabernáculo, colocou-o em sua carroça e partiu a toda pressa em direção ao Rio Peshtigo.

   Em seu livro intitulado Aí está o dedo de Deus!, descreve a cena na rua: “As pessoas estavam atônitas de terror. Empurravam-se mutuamente sem trocar olhar, palavra ou conselho. […] Somente a natureza levantou sua voz e falava. […] Apressávamo-nos cegamente rumo ao nosso próprio destino”.16

   Várias testemunhas afirmaram ter visto um fenômeno estranho: grandes objetos, em forma de balão, giravam vertiginosamente no ar antes de explodir em pontos que pareciam ser alvos predeterminados, provocando destruição instantânea.

   Na tentativa de explicar a origem da inusitada tempestade ígnea, opinam alguns que ela foi desencadeada por fragmentos do Cometa Biela. O fato concreto é que, até hoje, a ciência se revelou incapaz de explicar satisfatoriamente muitos aspectos do fenômeno.

Recuperação milagrosa do tabernáculo

   A duras penas, o Pe. Pernin chegou ao rio. Depois de empurrar sua carroça para dentro, saltou ele mesmo para as águas gélidas, onde numerosas pessoas se debatiam contra as chamas que lambiam as bordas da superfície líquida. Longa e terrível noite! Somente às três horas e meia da madrugada os sobreviventes puderam sair do rio e caíram exauridos às suas margens.

   O alvorecer revelou uma cena desoladora: homens e animais reduzidos a cinzas; casas e árvores arrasadas; os trilhos da ferrovia retorcidos em formas grotescas. Mergulhando seu bastão numa cavidade antes preenchida pela raiz de uma árvore, o Pe. Pernin constatou que o fogo tinha consumido até suas extremidades mais profundas.

   De repente, em meio às mais sombrias cogitações, soou uma voz exultante:17

   — Padre, o senhor sabe que fim levou o seu tabernáculo?

   — Não. Qual foi?

   — Venha depressa e veja! É um grande milagre!

   Correndo até o rio, o ministro de Deus deparou-se com uma maravilha: a carroça havia tombado, mas o tabernáculo estava intacto sobre um
tronco de árvore flutuante. Até o tecido de seda de seu interior se mantivera limpo e seco! Abriu o cibório e constatou que a Hóstia consagrada
estava perfeitamente preservada.

Reunidos com Ir. Adele junto do sacrário

   O fogo saltara para o outro lado da baía e avançava rapidamente rumo ao povoado de Robinsonville, próximo do local onde ocorreram as aparições. Ao verificar que tudo ao seu redor estava em chamas, os habitantes fugiram para a capela onde Ir. Adele se encontrava. Até os animaizinhos da floresta descobriram instintivamente para onde correr…

   Ela logo impôs ordem e organizou uma procissão no perímetro do terreno, levando uma imagem de Nossa Senhora e rezando o Rosário, mas, forçados pela fumaça, pelo calor e pelo vento, tiveram todos de refugiar- se no interior da capela, onde se comprimiram em torno do sacrário e suplicaram misericórdia, recordando à Virgem Santíssima sua promessa de ajuda.

Retratos do Pe. Peter Pernin

   Chegada a aurora, o vento mudou de direção e caiu uma salvadora chuva. Comemorava-se naquele dia o décimo segundo aniversário das aparições.

   A catástrofe destruiu cerca de quatro mil e novecentos quilômetros quadrados de área florestal em Wisconsin. Arrasou doze povoados. Só em Peshtigo, ceifou perto de mil e quinhentas vidas. Entretanto, no local das aparições tudo foi poupado: capela, escola e convento.

   Muito se comoveu o Pe. Pernin ao ver como o fogo havia respeitado aquele recinto que a presença da Virgem Maria tornara sagrado e que “agora se destacava como uma ilha de esmeralda num mar de cinzas”.18

   Em 1859, Nossa Senhora, advertira: “Se não se converterem e fizerem penitência, meu Filho será obrigado a castigá-los”. Doze anos depois, o mais pavoroso incêndio da história norte-americana devastava a região.

   Hoje, Ela nos convida novamente, no aniversário das aparições de Fátima, a não ofendermos mais “a Deus nosso Senhor, que já está muito ofendido”. 19 E nos promete, em contrapartida, conduzir-nos muito em breve à época mais feliz e mais luminosa da História: o Reino de Maria! (Revista Arautos do Evangelho, Setembro/2017, n. 189, pp. 36 à 39)

1 PERNIN, Peter. The Finger of God is There! Montreal: John Lovell, 1874, p.11. 2 WELLS, Robert W. Embers of October. Peshtigo: Peshtigo Historical Society, 1995, p.6. 3 O decreto de aprovação foi assinado em 8 de dezembro de 2010 por Dom David L. Ricken, Bispo de Green Bay, diocese onde ocorreram as aparições. 4 DOMINICA, OSF, M. The Chapel: Our Lady of Good Help. De Pere (WI): Journal Publishing, 1955, p.7. 5 Idem, p.8. 6 Idem, ibidem. 7 Idem, p.9. 8 Cf. Idem, ibidem. 9 LAPLANTE, OSM, Pauline, apud KELLY, Brian. First Approved Marian Apparition in the US. In: http://catholicism. org. 10 Idem, ibidem. 11 RICKEN, David Laurin. Decree on the Authenticity of the Apparitions of 1859 at the Shrine of Our Lady of Good Help. Diocese of Green Bay. Wisconsin, 8/10/2010. 12 WELLS, op. cit., p.35. 13 PERNIN, op. cit., p.34. 14 WELLS, op. cit., p.107. 15 Idem, p.236. 16 PERNIN, op. cit., p.41. 17 Cf. Idem, p.74-75. 18 Idem, p.100. 19 IRMÃ LÚCIA. Memórias I. Quarta Memória, c.II, n.8. 13.ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2007, p.181.

 
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