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Virgem Maria


Um oceano de misericórdias
 
AUTOR: GUSTAVO ADOLFO KRALJ
 
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Se contemplarmos com olhos de fé os belos episódios ocorridos nesse remoto recanto do mundo, veremos definir-se com clareza um aspecto da devoção mariana, ao mesmo tempo maravilhoso e comovedor.

Estamos na Baía de Bengala. Ainda não havia raiado o dia quando nosso solerte e incrivelmente intuitivo taxista aparece com seu peculiar sorriso. Não fala nenhum idioma ocidental, mas nos indica com claro gesto que é hora de partirmos para fotografar o alvorecer sobre as esplêndidas águas do Oceano Índico, neste remoto recanto do mundo onde há quase cinco séculos resplandece a devoção a Nossa Senhora da Saúde, ou de Vailankanni.

O sol nasce junto ao santuário

   Logo que chegamos ao nosso destino, o céu começa a se iluminar desvendando um panorama marítimo fascinante. Com uma curiosa mescla de candor e expectativa, chegam numerosos peregrinos, vindos de todas as partes do subcontinente para assistir ao nascer do sol. Revestidas de coloridos saris, as senhoras aguardam placidamente de pé enquanto ao seu redor as crianças correm e saltitam. Alguns minutos depois, quando o sol já se alça majestoso e triunfante sobre as ondas azuis e douradas, os pescadores estendem na areia da praia suas redes ainda úmidas e cheias de vida. Ao redor deles reúnem-se incontáveis pares de olhos negros e brilhantes, desejosos de examinar os fresquíssimos peixes trazidos das vastidões marinhas.

   Enquanto isso, se iluminam as imponentes e esbeltas torres do Santuário de Vailankanni, já transbordante de vida e piedade, de visitantes e peregrinos, de movimento e quietude, nessa mescla tão própria do subcontinente indiano.

Conhecida como a “Lourdes do Oriente”

   Vailankanni é sem dúvida um lugar remoto, tais como foram, em sua época, Lourdes, Fátima, La Salette. Talvez seja esta a característica essencial que faz desta cidade o local onde Maria Santíssima quis atrair para seu Divino Filho os sofredores que arcam sob o peso de terríveis cruzes, de penúrias que mãos humanas não podem extinguir nem sequer aliviar. Nossa Senhora da Saúde lhes fala com a mesma linguagem do coração utilizada pelo próprio Salvador: “Vinde a Mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e Eu vos aliviarei” (Mt 11, 28). Em seu papel de Mãe do gênero humano, Ela não só intercede por nós, mas nos atrai bondosamente e nos encaminha para Jesus, como fez outrora nas Bodas de Caná: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).

   Uma coisa é certa: Nossa Senhora de Vailankanni exerce sobre as multidões uma atração absolutamente surpreendente. Supera a casa dos vinte milhões o número de peregrinos que se dirigem todo ano ao santuário. Assim, a cidade ficou conhecida como a “Lourdes do Oriente” e é hoje um dos principais focos de devoção mariana, não só da Ásia, mas do mundo inteiro. Em 1962 a Santa Sé elevou o santuário à categoria de basílica menor.

   Especialmente concorrido é o período de 29 de agosto a 8 de setembro, no qual o número de peregrinos ultrapassa com frequência a casa dos três milhões.

Nossa Senhora aparece a dois meninos

   Remonta ao final do século XVI a origem dessa devoção, atribuída a três aparições preservadas pela tradição até nossos dias.

   A primeira ocorreu por volta de 1580. Um pastorzinho, que devia levar um cântaro de leite para seu patrão, repousava à beira de um lago quando foi despertado por uma resplandecente Dama que, com modos gentis, lhe pediu um pouco do leite para alimentar o luminoso Menino que portava em seus braços. Cheio de enlevo, ele logo entregou o cântaro à Senhora; chegando algum tempo
depois à casa do irascível patrão, narrou-lhe o sucedido para se desculpar pela pequena quantidade de leite que lhe trazia. Cético e meio enfurecido, o homem abriu o cântaro e… constatou não só que este estava cheio, mas também que o leite transbordava com abundância! A notícia do milagre logo se espalhou e foi construída uma capelinha que em pouco tempo se tornou local de peregrinações conhecido até hoje pelo nome de Matha-Kulam, o “Poço de Nossa Senhora”.

   Não longe dali, teve lugar alguns anos mais tarde a segunda aparição. A celestial Dama apresentou-Se a um infeliz jovem, vendedor de soro de leite. Como não podia caminhar, devido a um defeito nas pernas, ele passava grande parte do dia à beira da estrada, oferecendo aos passantes a mercadoria produzida pela sua pobre mãe viúva. Desta vez, foi o encantador Menino que tomou a iniciativa de pedir-lhe de beber. Sem qualquer hesitação, o jovem ofereceu-Lhe um grande copo. Enquanto Ele bebia, a bela Senhora lhe rogou o favor de visitar um abastado comerciante da vizinha aldeia de Nagapattinam e transmitir-lhe seu desejo de que fosse construída uma capela em seu louvor. O jovenzinho explicou-Lhe que não podia caminhar. Com seu luminoso olhar, a terna Senhora o curou imediatamente, e ele partiu correndo, cheio de alegria, para cumprir a honrosa incumbência.

Em risco iminente de soçobrar

Nossa Senhora da Saúde

   O alto-mar foi o local escolhido para a terceira aparição da Virgem. Um barco português navegava de Macau para Sri Lanka quando foi acometido por uma inesperada e violenta tempestade. Em risco iminente de soçobrar, os tripulantes invocaram o socorro de Nossa Senhora, e a magnífica Estrela do Mar fez a procela cessar imediatamente, salvando a vida de cento e cinquenta pessoas.

   Desembarcando na primeira oportunidade que se lhes apresentou, os marujos portugueses verificaram surpresos que estavam em Vailankanni, onde se localizava a pequena capela construída a rogos da gentil Senhora que, em sua primeira aparição, havia pedido apenas um pouco de leite para dar ao seu Filho. Era 8 de setembro, festa da Natividade de Maria Santíssima.

   Desde esse dia até hoje, são incontáveis os favores materiais e espirituais concedidos por Nossa Senhora de Vailankanni, que acolhe maternalmente as súplicas de milhões de peregrinos provenientes de todos os quadrantes do Índico.

Terna e maternal pergunta

Vista geral do santuário

   Se contemplarmos com olhos de fé estes belos episódios transmitidos pela tradição ao longo de mais de quatro séculos, veremos definir-se com clareza um aspecto da devoção mariana, ao mesmo tempo maravilhoso e comovedor. A Rainha dos Céus e da terra pede com gentileza a um pastorzinho: “Queres dar-Me um pouco de leite?” E ao jovem de pernas estropiadas: “Queres fazer-Me o favor?” E quando seus enlevados interlocutores se entregam à sua bondade, Ela, com maternal desvelo, retribui com graças e favores incomparavelmente superiores às pequenas amabilidades que deles recebeu. Assim, a milhares de seus devotos Ela salva da fúria das tempestades; a outros, cura das mais diversas enfermidades; a todos cumula de uma ternura que ultrapassa os limites do imaginável.

   Consideremos agora que coisa, grande ou pequena, Nossa Senhora pede a cada um de nós, fazendo no fundo de nossa alma a terna e maternal pergunta: “Queres dar-Me…?”

   E não tenhamos dúvida de que, se Lhe respondermos com generosidade, Ela mesma providenciará para nos ser dada aquela “medida boa, cheia, recalcada e transbordante” (Lc 6, 38), prometida pelo Salvador. Medida que excederá tudo quanto possamos almejar. Numa palavra, o cêntuplo nesta terra e, depois, a vida eterna (cf. Mt 19, 29). (Revista Arautos do Evangelho, Julho/2017, n. 187, p. 22 à 24)

 
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