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Palavra dos Pastores


Mestres, ministros e pastores
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Para ser de fato voz da Palavra, o sacerdote necessita deixar que, à semelhança de Nossa Senhora no “Magnificat”, a Palavra exerça o seu primado em sua vida.

Dom Benedito Beni dos Santos
Bispo emérito de Lorena

No pequeno trecho da Carta aos Gálatas proclamado na segunda leitura desta Missa, São Paulo registra a promessa de Deus de enviar ao mundo o Redentor. Escreve ele: “Quando chegou a plenitude dos tempos” – ou seja, o momento mais importante da história da Salvação – “Deus enviou o seu Filho ao mundo, o qual nasceu de uma mulher” (Gal 4, 4). Essa mulher é Nossa Senhora. Portanto, Ela é a mulher da plenitude dos tempos, do momento mais importante da história da Salvação.

A pressa de quem tem um grande segredo guardado no coração

O Concílio Ecumênico Vaticano II afirma, no capítulo VIII da Lumen gentium, que a Virgem Maria é a excelsa Mãe do Divino Redentor. E como Mãe do Redentor, desempenha um papel único na história da Salvação, sobretudo na economia da graça, na dispensação da graça, cuja fonte é Cristo.

E o Evangelho da Anunciação mostra justamente esse papel de Nossa Senhora. Quis Deus servir-Se do seu consentimento, do seu “sim”, para que viesse ao mundo o Redentor, seu Filho. E como narra São Lucas no Evangelho há pouco aqui proclamado, logo após a Anunciação, Nossa Senhora partiu apressada em direção à casa de Zacarias e Isabel, que neste trecho evangélico simboliza todo o povo de Israel.

Partiu apressada. Não se trata de uma pressa qualquer. Não é a pressa do peregrino ou do turista, mas a de alguém que tem um grande segredo guardado no coração, uma boa nova que não consegue guardar só para si, sente necessidade de anunciá-la aos outros. E foi justamente neste sentido que Isabel interpretou a visita de Nossa Senhora. Logo que esta colocou os pés na porta da sua casa, Isabel deu um grande grito, como relata o Evangelho. Exclamou perplexa: “Como é possível que a Mãe do meu Senhor me venha visitar?”. Mãe do meu Senhor significa Mãe do meu Deus.

Missão de Maria: conduzir as almas a seu Divino Filho

Portanto, foi Isabel, inspirada pelo Espírito Santo, a primeira a proclamar Nossa Senhora Theotókos, Mãe de Deus. E a resposta da Virgem à exclamação de Isabel foi o seu Magnificat, no qual proclama que só Deus é grande, e Ela é a sua serva. Mas logo acrescenta: “O Todo- Poderoso realizou maravilhas em Mim”. Irmãos e irmãs, todas as maravilhas realizadas por Deus em Nossa Senhora – sua Conceição imaculada, o carisma da Virgindade, pelo qual Ela colocou todo o seu ser feminino a serviço do projeto salvífico de Deus, sua maternidade Divina, sua Assunção – todas essas maravilhas, Ele as realizou em nosso favor, para a nossa salvação.

Mas podemos dizer que Deus não apenas realizou maravilhas em sua Mãe Santíssima: para nosso proveito e nossa salvação, Ele continua a operar n’Ela maravilhas ao longo da História. Exemplo disso são as diversas aparições de Nossa Senhora. Estamos celebrando hoje a festa de Nossa Senhora de Guadalupe, que no México apareceu ao índio
Juan Diego. Em todas as suas aparições, a Santíssima Virgem vem para repetir as palavras ditas por Ela nas Bodas de Caná: “Fazei tudo o que Jesus vos disser”. A missão de Nossa Senhora, no Evangelho e em todas as suas aparições, é somente esta: conduzir as pessoas ao seu Divino Filho, fazer com que todos se tornem discípulos e discípulas de Jesus. Por isso mesmo, esta festa de Nossa Senhora de Guadalupe enche nossos corações de alegria, de esperança, de gratidão a Deus.

A primeira tarefa do sacerdote é anunciar a Palavra

Mas nesta manhã, irmãos e irmãs, temos outro motivo de alegria: estão sendo ordenados presbíteros doze diáconos Arautos do Evangelho, que serão colocados imediatamente a serviço da Igreja, Povo de Deus. […]

A primeira tarefa do sacerdote é anunciar a Boa-Nova, a Palavra de Deus. Mas para que alguém possa anunciá-la de modo adequado é necessário tomar consciência da natureza dessa Palavra. Na Sagrada Escritura, Palavra de Deus é chamada de ?????? (dabar), vocábulo da língua hebraica que significa palavra-ação.

Deus age de muitos modos, diversos dos quais são misteriosos para nós, mas age sobretudo através da sua Palavra. Pela palavra Ele criou todas as coisas. Pela sua Palavra, Ele leva à conversão, conduz à salvação. Santo Agostinho mostra outro aspecto da natureza da Palavra de Deus. Ao comentar a expressão de João Batista: “Eu sou a voz que clama no deserto”, afirma: “João Batista não era a Palavra, ele era a voz da Palavra”. E conclui dizendo que vozes da Palavra foram os profetas, os Apóstolos; todos aqueles que pregam são vozes da Palavra. Aqui está um ensinamento importante para nós: quem evangeliza é Cristo, nós somos apenas vozes, sons através dos quais chega às pessoas a Palavra que é Cristo.

Entretanto, para ser de fato voz da Palavra, o sacerdote necessita ser antes de tudo servo da Palavra, deixar que a Palavra modele a sua vida. À semelhança de Nossa Senhora no Magnificat, deixar que a Palavra exerça o seu primado em sua vida.

Estar no mundo sem ser do mundo

O sacerdote desempenha sua missão no mundo. Por isso mesmo, no dia da ordenação sacerdotal, é sempre preciso recordar as palavras de Cristo aos Apóstolos, na Última Ceia: estar no mundo, mas sem ser do mundo (cf. Jo 17, 11-18). Estar no mundo sem ser do mundo significa estar presente no mundo, mas sem assimilar o espírito do mundo: o secularismo, o consumismo, o hedonismo, a procura pelos primeiros lugares. Estar no mundo sem ser do mundo significa dar testemunho de uma vida que transcende esta nossa vida presente, a vida eterna. Quando a Igreja se esquece de anunciar as verdades escatológicas, sobretudo a vida eterna, ela perde a sua identidade. Quando o sacerdote se esquece de anunciar as verdades escatológicas, sobretudo a vida eterna, também ele perde a sua identidade.

Estar no mundo sem ser do mundo significa também ser irmão. O autor da Carta aos Hebreus se refere ao maior título que o Cristo, Sumo Sacerdote, possui: Filho de Deus e nosso irmão. Portanto, prezados ordenandos, a fraternidade, ser irmão, pertence à identidade do sacerdote. Aliás, o nosso povo vê no sacerdote antes de tudo um irmão, aquele que tem capacidade e paciência para ouvi-lo, aquele que consola, que perdoa os seus pecados.

Vamos, pois, pedir a Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira principal da América Latina, nossa Mãe, que Ela interceda junto ao seu Filho para que os novos sacerdotes sejam sempre fiéis à missão que nesta manhã lhes vai conferir a Igreja: mestres da Palavra, ministros dos Sacramentos, pastores da comunidade cristã. ² (Excertos da homilia na Cerimônia de Ordenação de novos presbíteros, Arautos do Evangelho, Basílica Nossa Senhora do Rosário, Caieiras, 12/12/2013) – Revista Arautos do Evangelho, Fevereiro/2014, n. 146, p. 38-39)

 
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