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Palavra dos Pastores


Fazer ciência aberta ao transcendente
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Nas universidades católicas, a Razão não pode esvaziar o mistério de amor que a Cruz representa, mas esta pode dar à Razão a resposta última que ela procura

Cardeal Zenon Grocholewski
Prefeito da Congregação para a Educação Católica

Irmãos e irmãs, “a todo homem que procede retamente, eu mostrarei a salvação de Deus”. Com esta feliz promessa, a Liturgia da Palavra de hoje nos convida a encaminhar nossos passos no caminho do bem e a colocar nosso olhar em Jesus Ressuscitado, Rei do Universo e Senhor da História. […]

Duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade

O Evangelho de hoje (Mt 12, 38-42) poderia ser interpretado, ao meu ver, de dois pontos de vista.

De um ponto de vista negativo, Jesus rechaça o pedido dos mestres da Lei e dos fariseus, de dar-lhes um sinal pessoal. Encerra de modo incisivo a interpelação dessa “geração  má e adúltera” que vivia habituada aos sinais divinos, admirava os milagres e interpretava os fenômenos cósmicos. E a convida a elevar seu olhar acima do sinal pessoal. Exorta-a a tomar consciência de que no meio dela está o Servo de Deus, o Eleito, no qual o Pai encontrou sua predileção e sobre o qual derramou o Espírito. […]

Cardeal Zenon Grocholewski_.jpg
Dom Zenon Grocholewski durante a homilia
na capela do Centro Universitário da FEI,
ladeado por Dom Odilo Pedro Scherer e Dom
Raymundo Damasceno Assis

Do ponto de vista positivo, entretanto, Jesus evoca no Evangelho de hoje dois sinais do passado: o de Jonas e o da sabedoria de Salomão. E os interpreta referindo-os à sua Pessoa, à sua próxima Paixão, Morte e Ressurreição.

Vejamos agora mais detidamente esses dois sinais, que trazem à mente a fé e a razão, as quais – conforme a Encíclica Fides et ratio, do Beato João Paulo II – constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade.

Primeira asa: a Fé em Cristo ressuscitado

A respeito do sinal de Jonas, diz o texto bíblico: “Com efeito, assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o Filho do Homem estará três dias e três noites no seio da terra”. Jesus, então, exorta seus interlocutores a interpretar o sinal de Jonas sob o prisma do mistério de sua próxima Morte e Ressurreição. […]

Através do sinal de Jonas, indica-nos Ele implicitamente que para conhecê-Lo de fato requer-se o dom da Fé: Fé fundamentada no mistério pascal e alimentada pela pregação, ou seja, pelo depósito da Fé. […]

No mundo universitário católico a Fé nunca pode ser considerada um acessório ou uma moda momentânea. A Fé em Cristo morto e ressuscitado deve acompanhar cada reflexão e aprofundamento a respeito da natureza, do homem e da sociedade. Querer dissociar a Fé da investigação científica equivale a construir uma ciência na qual reinam a vacuidade e o absurdo, pois, como assinalava o Beato João Paulo II, toda realidade humana, individual e social, foi libertada por Cristo: tanto as pessoas como as atividades dos homens, cuja manifestação mais elevada e personificada é a cultura.

Como nos recorda Jesus no Evangelho de hoje, os ninivitas se converteram pela pregação de Jonas. Da mesma maneira, ante o próximo Ano da Fé, a iniciar-se no dia 11 de outubro, o mundo universitário católico está chamado a intensificar e renovar sua Fé em Cristo morto e ressuscitado. Por isso, como salienta a Congregação para a Doutrina da Fé, a universidade católica está convidada a fomentar “um diálogo renovado e criativo entre Fé e Razão”, por meio de simpósios, congressos e jornadas de estudo. Está chamada também a participar de “celebrações penitenciais, nas quais se ponha especial ênfase em pedir a Deus perdão pelos pecados contra a Fé”.

Segunda asa: a Razão em harmonia com a Fé

Como dissemos no início desta reflexão, em seu diálogo com os mestres da Lei e os fariseus, Jesus oferece outro sinal: o de Salomão. Fala especificamente da sabedoria de Salomão. Este sinal nos leva, pois, a entender que para conhecer Cristo por inteiro se requer, além da fé n’Ele, a asa da sabedoria ou da razão, a qual, em perfeita harmonia com a fé, pode alcançar os mistérios divinos.

Enfatizava o Beato João Paulo II: “A Razão, privada do contributo da Revelação, percorreu sendas marginais com o risco de perder de vista a sua meta final. A Fé, privada da Razão, pôs em maior evidência o sentimento e a experiência, correndo o risco de deixar de ser uma proposta universal” (Fides et ratio, n.48). […]

A este propósito, é necessário recordar que a fonte da sabedoria de Salomão era seu permanente contato com Deus, ou seja, a oração e a contemplação, sem as quais seu arrazoado seria considerado banal ou sem prestígio. A Rainha do Sul não teria vindo escutar a sabedoria de Salomão se não tivesse encontrado em seu pensamento uma verdade nova e real: a verdade de Deus. […]

O grande desafio das universidades católicas

Nas universidades católicas, a Razão não pode esvaziar o mistério de amor que a Cruz representa, mas esta pode dar à Razão a resposta última que ela procura. O critério de verdade e, ao mesmo tempo, de salvação, não é a sabedoria das palavras, mas sim a Palavra da Sabedoria. Disse o Papa Bento XVI na Universidade Católica do Sagrado Coração: “Eis então o grande desafio das Universidades católicas: fazer ciência no horizonte de uma racionalidade verdadeira, diversa da que hoje é amplamente dominante, segundo uma razão aberta à questão da verdade e aos grandes valores inscritos no próprio ser e, por conseguinte, aberta ao transcendente, a Deus”. […]

Peçamos, então, que nossas instituições universitárias católicas sigam dando testemunho da Fé em Cristo e da sabedoria procedente do alto. Que ambas as asas, a Fé e a Razão, continuem guiando o mundo universitário católico.

(Trechos da homilia na Missa de abertura da 24ª Assembleia Geral da Federação Internacional das Universidades Católicas, 23/7/2012 – Transcrição da exposição oral, não revista pelo autor)

(Revista Arautos do Evangelho, Set/2012, n. 129, p. 38-39)

 
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