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Voz dos Papas


Um só Deus, uma só Fé
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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De Jesus Cristo e dos Apóstolos, recebeu a Igreja sua doutrina. E é um absurdo pretender que seja necessária certa restauração e regeneração para reconduzi-la à sua primitiva incolumidade.

É verdadeiramente com profunda dor e com a alma opressa pela tristeza que nos dirigimos a vós, a quem vemos cheios de angústia à vista dos perigos aos quais está exposta nestes tempos a Religião por vós tanto amada. Poderíamos com toda razão dizer que esta é a hora do poder das trevas para joeirar como o trigo os filhos eleitos (cf. Lc 22, 53).

Gregório XVI, por Francesco Podesti Pinacoteca Cívica, Ancona - Itália.jpg
 “Não se esqueçam os fiéis de que o
Matrimônio é uma coisa sagrada”

Gregório XVI, por Francesco Podesti
Pinacoteca Cívica, Ancona (Itália)

Devemos levantar a voz

De fato, “a terra foi profanada por seus habitantes, porque transgrediram as leis, violaram as regras e romperam a aliança eterna” (Is 24, 5). Referimo-nos, veneráveis Irmãos, às coisas que vedes com vossos próprios olhos e todos lamentamos com as mesmas lágrimas. É o triunfo de uma malícia desenfreada, de uma ciência despudorada, de uma ilimitada devassidão. Despreza-se a santidade das coisas sagradas; e a majestade do culto divino, tão poderosa e necessária, é censurada, profanada e escarnecida.
Corrompe-se assim a santa doutrina e se espalham atrevidamente por toda parte erros de todo gênero. As sagradas leis, os direitos, as instituições, os santos ensinamentos: nada está a salvo dos ataques das línguas iníquas. […]

Devemos, pois, elevar a voz e envidar todos os esforços para que o javali selvagem não destrua a vinha nem os lobos rapaces devastem o rebanho. Compete-nos conduzir as ovelhas apenas a pastagens salutares, sem qualquer sombra de perigo. Deus não permita, caríssimos Irmãos, que em meio a tão grandes males e graves perigos, os pastores traiam seu dever e, amedrontados, abandonem suas ovelhas; ou se entreguem a um indolente repouso, sem preocupar-se com a situação de sua grei. […]

Pretende-se rebaixar a Igreja a coisa humana

Reprovável seria, em verdade, e contrário à veneração com a qual devem ser recebidas as leis da Igreja, condenar, por um caprichoso impulso de liberdade de opinião, a disciplina sancionada por ela – que abarca a administração das coisas sagradas, a regra dos costumes, os direitos da Igreja e de seus ministros -, ou censurá-la como oposta a determinados princípios do direito natural, ou apresentá-la como defectiva e dependente do poder civil.

Sendo certo, conforme nos atestam os Padres do Concílio de Trento, que de Jesus Cristo e de seus Apóstolos a Igreja recebeu sua doutrina, e que o Espírito Santo nunca cessa de sugerir-lhe toda a verdade, é completamente absurdo, além de injurioso em alto grau, pretender que seja necessária certa restauração e regeneração para reconduzi-la à sua primitiva incolumidade, dando-lhe novo vigor, como se possível fosse sequer pensar que a Igreja está sujeita a defeitos, à ignorância ou quaisquer outras imperfeições.

Pretendem com isso os inovadores lançar os fundamentos de uma instituição humana moderna e realizar assim aquilo que São Cipriano tanto detestava: rebaixar a Igreja, de instituição divina, a coisa humana. […]

Causa rubor falar de tão torpes intentos

Queremos também estimular vosso grande zelo pela Religião contra a vergonhosa liga que, em ­prejuízo do celibato clerical, cresce a cada dia, porque aos falsos filósofos de nosso século se juntaram alguns eclesiásticos que – olvidando a dignidade de seu estado, e arrastados pela ânsia de prazeres – levaram a licenciosidade a ponto de em alguns lugares se atreverem a pedir pública e repetidamente aos governantes a abolição desta norma disciplinar.

Causa-nos rubor falar longamente de tão torpes intentos. Confiando em vossa piedade, vos recomendamos todo empenho em – conforme prescrevem os sagrados cânones – guardar, reivindicar e defender, em sua integridade e inviolabilidade, essa tão importante lei atacada de todos os lados pelos libertinos.

O Matrimônio legítimo não pode dissolver-se

Reclama também toda a nossa solicitude aquela união santa dos cristãos chamada pelo Apóstolo de grande Sacramento em Cristo e na Igreja (cf. Ef 5, 32; Hb 13, 4), para evitar que, por ideias pouco acuradas, se diga ou se intente algo contra a santidade ou a indissolubilidade do vínculo conjugal. Já vos recordou isto insistentemente em suas cartas nosso Predecessor Pio VIII, de feliz memória.

Contudo, aumentam sem parar os ataques dos adversários. Deve-se, pois, ensinar a todos que o Matrimônio, uma vez legitimamente contraído, não pode dissolver-se; por vontade de Deus, os esposos unidos pelo Matrimônio formam uma sociedade perpétua com vínculos tão estreitos que só se extinguem com a morte.

Não se esqueçam os fiéis de que o Matrimônio é uma coisa sagrada, e por isto está sob a jurisdição da Esposa de Cristo; tenham em vista as leis ditadas pela Igreja a este respeito; prestem-lhe uma obediência santa e escrupulosa, pois do cumprimento dessas leis dependem a eficácia, a força e a justiça da união conjugal.

Não admitam de forma alguma qualquer coisa contrária aos sagrados cânones ou aos decretos dos Concílios, e ponderem bem o inevitável fracasso das uniões contraídas contra a disciplina da Igreja, ou sem implorar a proteção divina, ou unicamente por leviandade, quando os esposos não pensam no Sacramento e nos mistérios por ele simbolizados.

Quem não está com Cristo, está contra Cristo

Outra causa de muitos dos males que afligem a Igreja é o indiferentismo, ou seja, a perversa ­teoria espalhada por toda parte, graças aos embustes dos ímpios, segundo a qual se pode conseguir a vida eterna em qualquer religião, desde que a pessoa tenha retidão e honradez nos costumes.

Em matéria de tal modo clara e evidente, podereis facilmente extirpar de vossa grei tão execrável erro. Se, como diz o Apóstolo, “há um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo” (Ef 4, 5), aqueles que julgam poder chegar por qualquer rota ao porto da salvação entendam que, segundo a sentença do Salvador, estão contra Cristo, pois não estão com Cristo, e espalham miseravelmente, pois não recolhem com Cristo (cf. Lc 11, 23); por isso, com certeza perecerão eternamente aqueles que não tenham a Fé Católica e não a conservem íntegra e sem mancha.

Ouçam São Jerônimo que nos relata como, estando a Igreja dividida pelo cisma em três partidos, respondia sempre com integridade de alma quando alguém procurava atraí-lo para a sua causa: “Estou com quem permanece unido à Cátedra de Pedro”. E não se iludam sob o pretexto de estarem batizados, pois a isto responde Santo Agostinho: “O ramo separado da videira conserva sua forma; mas de que lhe serve esta se ele já não vive da raiz?”. […]

Maria esmaga todas as heresias

E para que tudo isso se realize propícia e felizmente, elevemos nossos olhos e nossas mãos suplicantes à Santíssima Virgem Maria. Somente Ela esmaga todas as heresias. Ela é nossa maior confiança, e mesmo toda a razão de nossa esperança. Que Ela, com sua poderosa intercessão, obtenha o mais feliz êxito para nossos desejos, conselhos e atuação nesta situação de tão grave perigo para o povo cristão. (Gregório XVI. Excertos da Encíclica Mirari vos, 15/8/1832 – Tradução: Arautos do Evangelho)

 
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