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Voz dos Papas


A festa de Corpus Christi
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Recomendamos e exortamos no Senhor, e por meio desta bula apostólica vos ordenamos, que celebreis devota e solenemente esta festa tão excelsa e gloriosa, e vos empenheis em fazer celebrá-la nas vossas igrejas.

Cristo nosso Salvador, estando para partir deste mundo e subir ao Pai, instituiu em memória de sua Morte, pouco antes de sua Paixão, na Última Ceia, o supremo e magnífico Sacramento no qual nos dá o seu Corpo como alimento e o seu Sangue como bebida.

Ele ficou verdadeiramente presente entre nós

São Tomás de Aquino apresenta ao Papa
Urbano IV a Liturgia de Corpus Christi
Detalhe de um quadro de Taddeo di
Bartolo Museu de Arte de Filadélfia (EUA)

  Sempre que comemos deste Pão e bebemos deste Cálice anunciamos, com efeito, a Morte do Senhor, pois, ao instituir este Sacramento, Jesus disse aos Apóstolos: “Fazei isto em memória de Mim” (I Cor 11, 24). Manifestou assim seu desejo de que este excelso e venerável Sacramento fosse para nós a principal e mais insigne recordação do grande amor com que Ele nos amou; recordação admirável e estupenda, doce e suave, cara e preciosa, na qual se renovam prodígios e maravilhas imutáveis. Nela se encontram todos os deleites e os mais delicados sabores. Nela degustamos a própria doçura do Senhor e, sobretudo, obtemos forças para a vida e para nossa salvação.

   Neste dulcíssimo, sacrossanto e salutar memorial renovamos nossos agradecimentos por nossa Redenção, nos afastamos do mal, nos firmamos na prática do bem, progredimos na aquisição das virtudes e da graça, somos confortados pela presença corporal de nosso Salvador, porque nesta comemoração sacramental Cristo está presente entre nós, com uma forma diferente, mas em sua verdadeira substância.

   Pois disse Ele aos Apóstolos e seus sucessores, antes de subir ao Céu: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20), e os consolou com a benigna promessa de que poderiam contar inclusive com sua presença corporal. […]

Não há melhor e mais nobre manjar para a alma

   Deu-Se, pois, nosso Salvador como alimento para que, assim como o homem foi corrompido pelo alimento proibido, revivesse por um alimento bendito. Quem caiu pelo fruto de uma árvore de morte, ressuscita por um pão de vida. Daquela árvore pendia um alimento mortal, neste pão encontra-se um alimento de vida; aquele fruto nos trouxe o mal, este, a cura; um apetite desregrado produziu o mal, uma fome diferente engendra o benefício; chegou o remédio ao lugar invadido pela enfermidade; de onde partira a morte, proveio a vida.

   Daquele primeiro alimento se disse: “No dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente” (Gn 2, 17); do segundo está escrito: “Quem comer deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 51).

   É um alimento que restaura e nutre de fato, sacia por inteiro, não o corpo, mas o coração; não a carne, mas o espírito; não as vísceras, mas a alma. O homem necessitava de um alimento espiritual, e nosso misericordioso Salvador deu-lhe o melhor e mais nobre manjar para alimento de sua alma. […] Come-se este manjar, mas ele não se consome nem se modifica, pois não se transforma em quem o come, mas, ao contrário, torna semelhante a ele quem o recebe dignamente.

   Oh, excelso e adorável Sacramento, digno de ser celebrado com os mais emocionantes cânticos de louvor, exaltado pelas mais íntimas fibras da alma, pelas mais ardentes homenagens! Digno sois de ser recebido pelas almas mais puras! Glorioso memorial, deveríeis estar alojado no mais profundo dos corações, indelevelmente impresso nas almas, encerrado nas intimidades do espírito, honrado com a mais assídua e ardente piedade!

   Voltemo-nos sempre para este tão grande Sacramento, a fim de nos lembrarmos a todo momento d’Aquele do qual sabemos que ele é o perfeito memorial. Pois recordamos mais a pessoa cujos benefícios temos constantemente em vista.

O dever de honrar tão admirável Sacramento

   Embora este santo Sacramento seja celebrado todos os dias no solene rito da Missa, julgamos ser digno e conveniente comemorá- lo pelo menos uma vez ao ano numa festa mais solene, a fim de confundir e refutar assim a hostilidade dos hereges.

   Ora, na Quinta-Feira Santa, dia em que Cristo o instituiu, a Santa Igreja está ocupada com a Confissão dos fiéis, a bênção do Crisma, o cumprimento do mandato do lava-pés e com muitas outras cerimônias sagradas. Não pode, portanto, dar plena atenção à celebração deste grande Sacramento.

   A Igreja honra os Santos e, embora os relembre com muita frequência ao longo do ano nas ladainhas, Missas e outros atos litúrgicos, não deixa de celebrar com maior solenidade a festa de sua entrada no Céu e de estabelecer certos dias a eles dedicados, com comemorações especiais em sua honra. E como talvez nessas festas os fiéis omitam algum de seus deveres por negligência ou excesso de ocupações, a Igreja reservou um dia do ano para a comemoração de todos os Santos, de modo a suprir nessa celebração comum o que tenha sido descuidado nas particulares, quer seja por negligência, quer por ocupações mundanas ou pela fragilidade humana.

   Ora, é preciso cumprir esse dever, sobretudo, com relação ao admirável Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, glória e coroa de todos os Santos. Que Ele resplandeça de modo especial numa comemoração solene, de modo a suprir diligentemente o que talvez tenha sido descuidado nas demais celebrações da Missa.

   Desta forma os fiéis, examinando- se com atenção, humildade de espírito e pureza de consciência, poderão reparar as faltas que tiverem cometido na assistência à Missa, quiçá por estarem com a atenção posta nos negócios mundanos ou, mais provavelmente, por negligência ou pela debilidade humana.

Celebrai solenemente esta excelsa e gloriosa festa

  Assim, pois, para que a Fé Católica seja robustecida e exaltada, julgamos justo e oportuno instituir que todo ano seja celebrada na Igreja uma festa especial e solene em honra deste tão grande Sacramento cotidianamente celebrado na Igreja, e estabelecemos como data para essa comemoração a primeira quinta-feira depois da oitava de Pentecostes.

   Que se reúnam nesse dia nos templos devotas multidões de fiéis cheios de afeto. Que todo o clero e o povo entoem jubilosos hinos de louvor, transbordando de alegria nos lábios e nos corações. Cante a fé, vibre a esperança, exulte a caridade. Manifeste-se a devoção, rejubile- se a pureza, brilhe a sinceridade nos corações. Que todos se unam com ânimo diligente e prontidão de vontade para preparar e celebrar esta festa.

   Que o fervor inflame as almas dos fiéis no serviço de Cristo para que, por meio desta festa e de outras boas obras, cumulem diante d’Ele méritos cada vez maiores, de modo que, depois desta vida, possam alcançar como prêmio Aquele que aos homens Se ofereceu como alimento e como preço do seu resgate.

   Por isso vos recomendamos e vos exortamos no Senhor, e por meio desta bula apostólica vos ordenamos, em virtude da santa obediência e para remissão de vossos pecados, que celebreis devota e solenemente esta festa tão excelsa e gloriosa, e vos empenheis com atenção em fazer celebrá-la nas igrejas de vossas cidades e dioceses na mencionada quinta- feira de cada ano, usando as leituras, responsórios, versos, antífonas, salmos, hinos e orações criadas para a mesma, que anexamos nesta bula juntamente com as partes próprias da Missa.

   Ordenamos também que, diretamente ou por intermédio de outros, no domingo anterior à mencionada quinta-feira exorteis vossos fiéis a que, com uma boa Confissão, generosas esmolas, fervorosas orações e outras obras de piedade e devoção, se preparem para, com a ajuda de Deus, receber reverentemente nesse dia tão precioso Sacramento e obtenham por este meio um aumento de graça. (Revista Arautos do Evangelho, Junho/2017, n. 186, p. 6 à 7)

Papa Urbano IV. Excertos da Bula “Transiturus de hoc mundo”, 11/8/1264 – Original latino disponível em www.vatican.va. Tradução: Arautos do Evangelho 

 
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