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Voz dos Papas


Assunta em corpo e alma ao Céu
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Convinha que Aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte.

   O nosso pontificado, assim como os tempos atuais, tem sido assediado por inúmeros cuidados, preocupações e angústias, devido às grandes calamidades e por muitos que andam afastados da verdade e da virtude. Mas é para nós de grande conforto ver como, à medida que a Fé Católica se manifesta publicamente cada vez mais ativa, aumenta também cada dia o amor e a devoção para com a Mãe de Deus, e qua- se por toda parte isso é estímulo e auspício de uma vida melhor e mais santa. […]

Ela venceu o pecado com sua Conceição Imaculada

   Deus, que desde toda a eternidade olhou para a Virgem Maria com particular e pleníssima complacência, quando chegou a plenitude dos tem- pos (cf. Gal 4, 4) atuou o plano da sua providência de forma que refulgissem com perfeitíssima harmonia os privilégios e prerrogativas que Lhe concedera com sua liberalidade. A Igreja sempre reconheceu esta grande lieralidade e a perfeita harmonia de graças, e durante o decurso dos séculos sempre procurou estudá-la melhor. Nestes nossos tempos refulgiu com luz mais clara o privilégio da Assunção corpórea da Mãe de Deus.

   Esse privilégio brilhou com novo fulgor quando o nosso predecessor de imortal memória, Pio IX, definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição. De fato, esses dois dogmas estão estreitamente conexos entre si. Cristo com a própria Morte venceu a morte e o pecado, e todo aquele que pelo Batismo de novo é gerado, sobrenaturalmente, pela graça, vence também o pecado e a morte. Porém Deus, por lei ordinária, só concederá aos justos o pleno efeito desta vitória sobre a morte, quando chegar o fim dos tempos. Por esse motivo, os cor- pos dos justos corrompem-se depois da morte, e só no último dia se juntarão com a própria alma gloriosa.

   Mas Deus quis excetuar dessa lei geral a Bem-Aventurada Virgem Maria. Por um privilégio inteiramente singular Ela venceu o pecado com a sua concepção imaculada; e por esse motivo não foi sujeita à lei de permanecer na corrupção do sepulcro, nem teve de esperar a redenção do corpo até ao fim dos tempos. […]

Bênção singular contraposta à maldição de Eva

  São João Damasceno, ao comparar a Assunção gloriosa da Mãe de Deus com as suas outras prerrogativas e privilégios, exclama com veemente eloquência: “Convinha que Aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que Aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial Aquela que o Eterno Pai desposara. Convinha que Aquela que viu o seu Filho na Cruz, com o Coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no parto, O contemplasse assentado à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus”. […]

   Os doutores escolásticos vislumbram igualmente a Assunção da Mãe de Deus não só em várias figuras do Antigo Testamento, mas também naquela Mulher revestida de sol, que o Apóstolo São João contemplou na Ilha de Patmos (cf. Ap 12, ls). Porém, entre os textos do Novo Testamento, consideraram e examinaram com particular cuidado aquelas palavras: “Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulheres” (Lc 1, 28), pois viram no mistério da Assunção o complemento daquela plenitude de graça, concedida à Santíssima Virgem, e uma singular bênção contraposta à maldição de Eva. […]

Temerário seria sustentar a opinião contrária

   Quando já tinha aparecido em toda a sua luz o mistério que se celebra nesta festa, não faltaram doutores que, em vez de tratar das razões teológicas pelas quais se demonstrasse a absoluta conveniência de crença na Assunção corpórea da Virgem Santíssima, voltaram o pensamento para a fé da Igreja, Mística Esposa de Cristo, sem mancha nem ruga (cf. Ef 5, 27), que o Apóstolo chama “coluna e sustentáculo da verdade” (I Tim 3, 15). E apoiados nesta fé comum pensaram que seria temerária, para não dizer herética, a opinião contrária.

À medida que a Fé se manifesta cada vez mais ativa,
aumenta também o amor para com a Mãe de Deus

Acima, entrada do Papa na Praça São Pedro

   São Pedro Canísio, como outros muitos, depois de declarar que o ter- mo assunção se referia à glorificação não só da alma mas também do corpo, e que a Igreja há muitos séculos venerava e celebrava solenemente este mistério mariano, observa: “Esta opinião é admitida há vários séculos e tão impressa na alma dos fiéis, é tão recomendada pela Igreja, que quem negasse a Assunção ao Céu do corpo de Maria Santíssima nem sequer seria ouvido com paciência, mas seria vaiado como pertinaz, ou mesmo temerário, e imbuí- do mais de espírito herético do que católico”. […]

   Todos esses argumentos e razões dos Santos Padres e teólogos apoiam-se, em último fundamento, na Sagrada Escritura. Esta nos apresenta a Mãe de Deus extremamente unida ao seu Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quase que impossível contemplar Aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e O teve nos braços e apertou contra o peito, estivesse agora, depois da vida terrestre, separada d’Ele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo.

   O nosso Redentor é também Filho de Maria; e como observador perfeitíssimo da Lei divina não podia deixar de honrar a sua Mãe amantíssima logo depois do Eterno Pai. E podendo Ele adorná-La com tamanha honra, preservando-A da corrupção do sepulcro, deve crer-se que realmente o fez. […]

Pronunciamos, declaramos e definimos…

   Deste modo, a augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde toda a eternidade “com um único decreto” de predestinação, imaculada na sua concepção, sempre Virgem, na sua Maternidade Divina, generosa companheira do Divino Redentor que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas consequências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança do seu Divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao Céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. I Tim 1, 17). […]

   Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à Virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta Mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Bem-aventurados Apóstolos São Pedro e São Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial. (Revista Arautos do Evangelho, Novembro/2017, n. 191, pp. 6 a 7)

Pio XII. Excertos da Constituição apostólica Munificentissimus Deus, 1o/11/1950

 
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