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Voz dos Papas


O mais eficaz meio de trabalhar pela paz
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Não haverá verdadeira paz – a tão almejada paz de Cristo – enquanto os homens não seguirem fielmente os ensinamentos, os preceitos e os exemplos de Cristo, tanto na vida pública, quanto na privada.

É fato evidente para todos que, após a catástrofe da guerra,1 nem os homens, nem a sociedade, nem os povos encontraram ainda a verdadeira paz; e também não se restabeleceu até agora a tranquilidade operosa e fecunda que o mundo almeja.

Analisar cuidadosamente a extensão e gravidade de tal crise e investigar suas causas e origem é a primeira coisa que deve fazer quem, como nós, queira aplicar o remédio apropriado. É isso o que, em virtude do nosso encargo apostólico, pretendemos realizar nesta carta encíclica, e dar continuidade ao longo do nosso pontificado. […]

“Aqueles que abandonam o Senhor perecerão”

Bem antes de a guerra ter incendiado a Europa, a principal causa de tão grandes males já atuava com crescente força, por culpa dos indivíduos e das nações, causa que o próprio horror da guerra não poderia deixar de afastar e suprimir, se todos tivessem compreendido o alcance desses formidáveis acontecimentos.

“Aqueles que abandonam o Senhor perecerão” (Is 1, 28). Quem ignora esta previsão das Escrituras? Não menos conhecida é a tão grave advertência de Jesus, nosso Redentor e Mestre: “Sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5); e esta outra: “Quem não recolhe comigo, espalha” (Lc 11, 23).

Em todos os tempos esses divinos oráculos se confirmaram; porém, nunca como em nossos dias a verdade brilhou com tal evidência aos olhos de todos. É por terem se separado miseravelmente de Deus e de Jesus Cristo que os homens caíram de sua felicidade de outrora nesse abismo de males; pela mesma razão, padecem de uma esterilidade quase completa todos os programas que eles acalentam com vistas a reparar os danos e a salvar o que resta de tantas ruínas.

Até as próprias bases da autoridade foram subvertidas

Como Deus e Jesus Cristo foram excluídos da legislação e dos assuntos públicos, e a autoridade passou a provir não mais de Deus, mas dos homens, as leis perderam a garantia de sanções reais e eficazes, bem como os princípios soberanos do direito, os quais, mesmo aos olhos de filósofos pagãos como Cícero, só podem derivar da eterna Lei divina.

Jesus Cristo reina na família quando esta conserva
inviolavelmente seu caráter de instituição sagrada
Pio XI inaugurando a Rádio Vaticana, 12/2/1931

Mais ainda, as próprias bases da autoridade foram subvertidas, uma vez que se suprimiu a razão fundamental do direito de comandar, para uns, e do dever de obedecer, para outros. Daí decorreu, incontestavelmente, um abalo da sociedade inteira, doravante privada de sólidos sustentáculos, à mercê das facções que disputavam o poder para garantir seus interesses pessoais, e não os da pátria.

Decidiu-se inclusive que nem Deus nem o Senhor Jesus presidiriam mais à fundação da família, reduzindo à categoria de mero contrato civil o matrimônio, do qual Cristo havia feito um grande Sacramento (cf. Ef 5, 32) para ser o símbolo santo e santificador do vínculo indissolúvel pelo qual Ele próprio Se une à sua Igreja. Assim se obscurecem nas massas populares as ideias e os sentimentos religiosos que a Igreja havia infundido na célula mater da sociedade, a família; desaparecem a hierarquia e a paz do lar; a união e a estabilidade da família ficam cada vez mais comprometidas; as baixas paixões e o mortal apego a interesses mesquinhos violam tão frequentemente a santidade do casamento, que chegam a infectar as fontes da vida das famílias e dos povos. 

Por fim, parece que Deus e Cristo foram excluídos da educação da juventude; chegou-se, e isto era inevitável, não tanto a suprimir a Religião nas escolas, mas a atacá-la velada ou mesmo abertamente. Daí os alunos concluíram que, para bem conduzir sua vida, eles nada tinham, ou pelo menos tinham muito pouco, a esperar dessa ordem de coisas que era absolutamente silenciada ou da qual não se falava senão em termos de desprezo.

De fato, se Deus e sua Lei são proscritos do ensino, não se vê mais como se pode solicitar aos jovens que fujam do mal e levem uma vida honesta e santa, nem como formar para a família e a sociedade homens de bons costumes, defensores da ordem e da paz, capazes de contribuir para a prosperidade pública. […]

Cristo reina nos homens, nas famílias e na sociedade

Quando os estados e os governos tomarem como um dever sagrado regular sua vida política, tanto interna quanto externa, pelos ensinamentos e preceitos de Jesus Cristo, então – só então – eles desfrutarão de profícua paz no interior, manterão relações de mútua confiança e resolverão de modo pacífico os conflitos que possam surgir.

Portanto, não haverá verdadeira paz – a tão almejada paz de Cristo – enquanto os homens não seguirem fielmente os ensinamentos, os preceitos e os exemplos de Cristo, tanto na vida pública quanto na privada; é necessário que, regularmente organizada a família humana, a Igreja possa enfim, no cumprimento de sua divina missão, manter face aos indivíduos e à sociedade todos e cada um dos direitos de Deus.

É este o sentido de nossa breve fórmula: o Reino de Cristo. Com efeito, Ele reina antes de tudo sobre todos os homens individualmente considerados; reina nas mentes por seus ensinamentos, nos corações pela caridade, em toda a vida, por fim, quando cada qual se conforma à sua Lei e imita seus exemplos.

Jesus Cristo reina também na família quando esta, firmada no Sacramento do Matrimônio cristão, conserva inviolavelmente seu caráter de instituição sagrada, na qual a autoridade paternal reflete a paternalidade divina, que é a sua fonte e lhe dá o seu nome (cf. Ef 3, 15); na qual os filhos imitam a obediência de Jesus adolescente e toda a vida respira a santidade da família de Nazaré.

Jesus Cristo reina na sociedade quando esta, prestando suprema homenagem a Deus, reconhece que d’Ele derivam a autoridade e seus direitos, o que dá ao poder suas regras, à obediência seu caráter imperativo e sua grandeza; quando reconhece o privilégio da Igreja, recebido de seu Fundador, de sociedade perfeita, mestra e guia das demais sociedades. A Igreja não diminui a autoridade dessas sociedades, legítimas cada uma na própria esfera; ela as completa muito acertadamente, como faz a graça com a natureza. Ademais, o concurso da Igreja possibilita a essas sociedades oferecer aos homens uma possante ajuda para atingir seu fim último, que é a felicidade eterna, e as coloca em melhores condições de assegurar até mesmo a felicidade temporal de seus membros.

É, pois, evidente que não pode haver paz de Cristo a não ser pelo Reino de Cristo, e que o mais eficiente meio de trabalhar pelo restabelecimento da paz é restaurar o Reino de Cristo. (Revista Arautos do Evangelho, Dezembro/2018, n. 204, p. 06-07)

Pio XI. Excertos da Encíclica Ubi arcano Dei consilio, 23/12/1922

1 Nota da Redação: Pio XI subiu ao Sólio Pontifício em fevereiro de 1922, três anos e três meses depois de finalizada a Primeira Guerra Mundial.

 
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