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Voz dos Papas


O meio mais eficaz de nos unir a Jesus
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Devemos todos querer que nossa devoção a Nossa Senhora seja perfeita e digna d’Ela. Infeliz do homem que negligencia Maria sob o pretexto de prestar honras a Jesus!

Não é Maria a Mãe de Deus? Logo, Ela é Mãe nossa também. Devemos partir do princípio de que Jesus, o Verbo Encarnado, é ao mesmo tempo o Salvador do gênero humano. Ora, enquanto Homem-Deus, Ele tem um corpo como os demais homens; enquanto Redentor de nossa raça, tem um corpo espiritual, ou, como se costuma dizer, místico, que é a sociedade dos cristãos ligados a Ele pela fé. “Embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo” (Rm 12, 5).

Ora, a Virgem não concebeu o Filho de Deus apenas para Ele fazer-Se homem, mas também para tornar-Se o Salvador dos homens, mediante a natureza humana d’Ela recebida. […]

Por isso somos em verdade chamados, num sentido espiritual e místico, filhos de Maria; e Ela, por sua vez, é Mãe de todos nós. “Mãe segundo o espírito, mas verdadeira Mãe dos membros de Jesus Cristo, que somos nós”.1

Sociedade de vida e de sofrimento entre Jesus e Maria

Se, pois, a Bem-Aventurada Virgem é ao mesmo tempo Mãe de Deus e dos homens, como duvidar que Ela Se empenhe ao máximo para obter que seu Filho, “cabeça do corpo da Igreja” (Col 1, 18), derrame sobre nós, seus membros, os dons de sua graça, sobretudo o de conhecê-Lo e “viver por Ele” (I Jo 4, 9)? […]

São Pio X..jpg
Fotografia de São Pio X colorida
manualmente e estampada numa
litografia de 1907

Assim, houve entre Jesus e Maria uma perpétua sociedade de vida e de sofrimento, de modo que a ambos se pode aplicar esta palavra do profeta: “Minha vida se consome em amargura, e meus anos em gemidos” (Sl 30, 11). E quando chegou para Jesus a hora suprema, estava a Virgem “de pé junto à Cruz”, aflita, sem dúvida, à vista do horroroso espetáculo, mas ao mesmo tempo feliz “porque seu Filho Se imolava pela salvação do gênero humano; ademais, participando de tal forma de suas dores que Lhe parecia infinitamente preferível, se fosse possível, tomar sobre Si todos os tormentos que Ele sofria”.2

Jesus Cristo é a fonte, Maria o canal

A consequência dessa comunhão de sentimentos e de sofrimentos entre Maria e Jesus é que Ela “mereceu muito legitimamente tornar-Se a restauradora da humanidade decaída”,3 e, portanto, a dispensadora de todos os tesouros que para nós Jesus adquiriu por sua Morte e seu Sangue.

Dispensar esses tesouros é por certo um direito próprio e particular de Jesus Cristo, pois eles são fruto exclusivo de sua Morte, e Ele, por natureza, o Mediador entre Deus e os homens. Contudo, em razão da sociedade de dores e angústias entre a Mãe e o Filho, acima mencionada, foi concedido a esta augusta Virgem o privilégio de “ser junto a seu Filho único a potentíssima medianeira e advogada do mundo inteiro”.4

A fonte é, pois, Jesus Cristo, “de cuja plenitude todos nós recebemos” (Jo 1, 16); “por Ele todo o corpo, coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, efetua esse crescimento, visando a sua plena edificação na caridade” (Ef 4, 16). Maria, porém, é o canal, como observa com justeza São Bernardo;5 ou então o pescoço, através do qual a cabeça se une ao corpo e lhe transmite força e eficácia. […]

Maria senta-Se como Rainha à direita de seu Filho

Entretanto, por superar a todos em santidade e união com Jesus Cristo, e estar por Ele associada à obra da Redenção, Maria nos merece de congruo, como dizem os teólogos, aquilo que Jesus nos mereceu de condigno, e é a suprema dispensadora das graças. Jesus “está sentado à direita da Majestade no mais alto dos Céus” (Hb 1, 3). Maria senta-Se à direita de seu Filho, “refúgio tão seguro e socorro tão fiel contra todos os perigos, que nada temos a temer, nem desesperar de coisa alguma, estando sob sua direção, seus auspícios, seu patrocínio, sua égide”.6

Nossa Senhora do Bom Conselho..jpg
Nossa Senhora do Bom Conselho
 Genazzano (Itália)

Postos estes princípios, e para retornarmos ao nosso objetivo, quem não reconhecerá ser a justo título que afirmamos de Maria que – companheira assídua de Jesus desde a casa de Nazaré até o alto do Calvário, iniciada mais que qualquer outro nos segredos de seu Coração, dispensadora, como de direito maternal, dos tesouros de seus méritos – Ela é por todos estes motivos o mais seguro e eficaz auxílio para chegar ao conhecimento e ao amor de Jesus Cristo?

Por sua conduta, dão-nos prova por demais evidente disto – que pena! – os homens que, seduzidos pelos artifícios do demônio ou enganados pelas falsas doutrinas, julgam poder prescindir do socorro da Virgem. Infelizes, que negligenciam Maria sob o pretexto de prestar honras a Jesus! Como se fosse possível encontrar o Filho a não ser junto com a Mãe! […]

Devemos ter a mesma vontade de Maria

O culto à Mãe de Deus deve jorrar do coração; os atos do corpo não terão utilidade nem valor se estiverem separados dos impulsos da alma. Ora, estes impulsos só podem ter um objetivo: que observemos plenamente o que o Divino Filho de Maria nos ordena.

Pois se amor verdadeiro é só aquele que tem o poder de unir as vontades, é de todo necessário que tenhamos com Maria a mesma vontade de servir Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta prudentíssima Virgem nos repete a recomendação por Ela feita aos servidores nas Bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Ora, eis a palavra de Jesus Cristo: “Se queres entrar na vida, observa os mandamentos” (Mt 19, 17). Portanto, cada qual se persuada bem desta verdade: se sua devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria não o impede de pecar ou não lhe inspira a vontade de emendar-se de uma vida culpável, essa é uma devoção falsa e mentirosa, desprovida de seu efeito próprio e de seu fruto natural. (Revista Arautos do Evangelho, Outubro/2016, n. 179, pp. 6-7)

São Pio X. Excertos da Encíclica
Ad diem illum lætissimum, 2/2/1904

Notas:
1 SANTO AGOSTINHO. De sancta virginitate, c.VI.
2 SÃO BOAVENTURA. In I Sent., d.48, ad litt., dub.4.
3 EADMERI MON. De excellentia Virg. Mariæ, c.IX.
4 PIO IX. Bula Ineffabilis Deus.
5 Cf. SÃO BERNARDO DE CLARAVAL. Serm. de temp., in Nativ. B. V. De aquæductu, n.4.
6 PIO IX, op. cit.

 
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