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Voz dos Papas


Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe da Esperança
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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O Reino de Jesus era diferente daquele que os homens tinham podido imaginar. Na hora em que ele se iniciava para nunca mais ter fim, Maria Se encontrava no meio dos discípulos como a sua Mãe, como Mãe da esperança.

Com um hino do século VIII/ IX, portanto com mais de mil anos, a Igreja saúda Maria, a Mãe de Deus, como “estrela do mar”: Ave maris stella.

Luzes vizinhas que orientam a nossa vida

   A vida humana é um caminho. Rumo a qual meta? Como achamos o itinerário a seguir? A vida é como uma viagem no mar da História, com frequência enevoada e tempestuosa, uma viagem na qual perscrutamos os astros que nos indicam a rota.

   As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas que souberam viver com retidão. Elas são luzes de esperança. Certamente, Jesus Cristo é a Luz por antonomásia, o Sol erguido sobre todas as trevas da História. Mas, para chegar até Ele precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da luz d’Ele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia.

   E quem mais do que Maria poderia ser para nós estrela de esperança? Ela que, pelo seu “sim”, abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo; Ela que Se tornou a Arca da Aliança viva, onde Deus Se fez carne, tornou-Se um de nós e estabeleceu a sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1, 14).

   Por isso, a Ela nos dirigimos: Santa Maria, Vós pertencíeis àquelas almas humildes e grandes de Israel que, como Simeão, esperavam “a consolação de Israel” (Lc 2, 25) e, como Ana, aguardavam a “libertação de Jerusalém” (Lc 2, 38).

Bento XVI em 29/9/2007, na
cerimônia de ordenação de
seis novos Bispos na Basílica
de São Pedro

O “sim” de Maria tornou realidade a esperança

   Vós vivíeis em íntimo contato com as Sagradas Escrituras de Israel, que falavam da esperança, da promessa feita a Abraão e à sua descendência (cf. Lc 1, 55). Assim, compreendemos o santo temor que Vos invadiu, quando o Anjo do Senhor entrou nos vossos aposentos e Vos disse que daríeis à luz Aquele que era a esperança de Israel e o esperado do mundo.

   Por meio de Vós, através do vosso “sim”, a esperança dos milênios havia de se tornar realidade, entrar neste mundo e na sua História. Vós Vos inclinastes diante da grandeza desta missão e dissestes “sim”. “Eis a escrava do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

   Quando, cheia de santa alegria, atravessastes apressadamente os montes da Judeia para encontrar a vossa parente Isabel, tornastes-Vos a imagem da futura Igreja, que no seu seio leva a esperança do mundo através dos montes da História. Mas, a par da alegria que difundistes pelos séculos, com as palavras e com o cântico do vosso Magnificat, conhecíeis também as obscuras afirmações dos profetas sobre o sofrimento do Servo de Deus neste mundo.

   Sobre o nascimento no Presépio de Belém brilhou o esplendor dos Anjos que traziam a boa-nova aos pastores, mas, ao mesmo tempo, a pobreza de Deus neste mundo era demasiado palpável. O velho Simeão falou-Vos da espada que atravessaria o vosso Coração (cf. Lc 2, 35), do sinal de contradição que vosso Filho haveria de ser neste mundo. 

A hostilidade e a rejeição se afirmaram à volta de Jesus

   Depois, quando iniciou a atividade pública de Jesus, tivestes de Vos pôr de lado, para que pudesse crescer a nova família, para cuja constituição Ele viera e que deveria desenvolver-se com a contribuição daqueles que tivessem ouvido e observado a sua palavra (cf. Lc 11, 27s). Apesar de toda a grandeza e alegria do primeiro início da atividade de Jesus, Vós, já na sinagoga de Nazaré, tivestes de experimentar a verdade da palavra sobre o “sinal de contradição” (cf. Lc 4, 28s).

   Assim, vistes o crescente poder da hostilidade e da rejeição que se ia progressivamente afirmando à volta de Jesus até à hora da Cruz, quando tivestes de ver o Salvador do mundo, o herdeiro de Davi, o Filho de Deus morrer como um falido, exposto ao escárnio, entre os malfeitores. Acolhestes então a palavra: “Mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19, 26).

   Da Cruz, recebestes uma nova missão. A partir da Cruz ficastes Mãe de uma maneira nova: Mãe de todos aqueles que querem acreditar no vosso Filho Jesus e segui-Lo. A espada da dor trespassou o vosso Coração. Tinha morrido a esperança? Ficou o mundo definitivamente sem luz, a vida sem objetivo?

“Não temas, Maria!”

   Naquela hora, provavelmente, no vosso íntimo tereis ouvido novamente a palavra com que o Anjo tinha respondido ao vosso temor no instante da Anunciação: “Não temas, Maria!” (Lc 1, 30). 

   Quantas vezes o Senhor, o vosso Filho, dissera a mesma coisa aos seus discípulos: Não temais! Na noite do Gólgota, Vós ouvistes outra vez esta palavra. Aos seus discípulos, antes da hora da traição, Ele tinha dito: “Tende confiança! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). “Não se turve o vosso coração, nem se atemorize” (Jo 14, 27). 

   “Não temas, Maria!” Na hora de Nazaré, o Anjo também Vos tinha dito: “O seu reinado não terá fim” (Lc 1, 33). Teria talvez terminado antes de começar? Não; junto da Cruz, na base da palavra mesma de Jesus, Vós tornastes-Vos Mãe dos crentes. Nesta fé que, inclusive na escuridão do Sábado Santo, era certeza da esperança, caminhastes para a manhã de Páscoa.

   A alegria da Ressurreição tocou o vosso Coração e uniu-Vos de um novo modo aos discípulos, destinados a tornar-se família de Jesus mediante a fé. Assim Vós estivestes no meio da comunidade dos crentes, que, nos dias após a Ascensão, rezavam unanimemente pedindo o dom do Espírito Santo (cf. At 1, 14) e o receberam no dia de Pentecostes.

   O “Reino” de Jesus era diferente daquele que os homens tinham podido imaginar. Este “Reino” iniciava naquela hora e nunca mais teria fim. Assim, Vós permaneceis no meio dos discípulos como a sua Mãe, como Mãe da esperança. Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco. Indicai-nos o caminho para o seu Reino! Estrela do mar, brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho! (Revista Arautos do Evangelho, Janeiro/2018, n. 193, pp. 6 à 7)

Bento XVI. Excerto da Encíclica Spe salvi, 30/11/2007

 
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