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Voz dos Papas


Semeadores da Beleza do Evangelho
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 11/12/2017
 
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Os três últimos Papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco tem aconselhado os pastores, em suas pregações, as ornarem com um toque de beleza que vem do coração.

Para comunicar aos ouvintes o fulgor da Boa-nova, deve o pregador espelhá-la em sua própria vida. João Paulo II, Bento XVI e Francisco têm estimulado os pastores a ornarem suas pregações com um toque de beleza que parte do coração.

A parábola do semeador (cf. Lc 8, 4-15) é bastante eloquente para significar a importância da Palavra, e o modo como o “terreno” do nosso coração deve estar apto para acolher, alimentar e fazer dar frutos a semente. Contudo, é possível também observar um outro aspecto às vezes olvidado: a importância da boa pregação.

Com efeito, de pouco ou nada vale informar da verdade revelada à inteligência dos homens sem alcançar o seu coração. Se o anúncio da Boa-nova visar simplesmente instruir (docere) as almas pela verdade, sem agradar (delectare) pela beleza, jamais conseguirá movê-las (movere) à bondade, ou seja, à conversão.1

Em outros termos, semeou a verdade, mas sufocou a beleza; a Palavra germinou, mas não amadureceu nem deu frutos.

A metáfora do “Bom Pastor” (Jo 10, 11.14) sugere, na realidade, uma adaptação do grego, pois seu significado original seria “Belo Pastor” (ποιμὴν ὁ καλὸς). De fato, em todos os momentos da sua vida terrena, o Verbo Divino irradiava os divinos esplendores do Pai Eterno, atraindo todos a Si (cf. Jo 12, 32).

Nesse sentido, as mãos de Jesus não só tocavam, falavam. Sua boca não apenas falava, tocava os corações pelas palavras. Seu olhar não se limitava a fitar, fascinava. Se, conforme dizia o povo admirado, “Ele fez bem todas as coisas” (Mc 7, 37), antes belamente as realizou em união com a verdade. Nisso consistiu o modelo de anúncio da verdadeira, bela e boa nova da conversão para o Deus vivo (cf. At 14, 15).

“Christianus alter Christus – O cristão é outro Cristo”. Após contemplar a verdade, cumpre ao cristão comunicar aos outros o que nela hauriu. Aqui se enquadra o papel imprescindível da beleza na transmissão do Evangelho. Não basta pregar a verdade; é necessário “revelá-la”. Ou seja, literalmente, tirar dela os véus pela manifestação sensível. João, o Discípulo Amado, foi testemunha fiel e eficaz do Senhor porque uniu ao verdadeiro o belo constatado pelos sentidos, conforme podemos notar em sua primeira carta: “O que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e o que nossas mãos apalparam do Verbo da vida” (1, 1).

O pulchrum – belo – por sua atração arrebata sensivelmente, move a vontade para se entregar e, por fim, se perfaz no amor, ao repousar o espírito na posse do desejado.

Neste sentido, o Magistério pontifício, sobretudo a partir do Concílio Vaticano II, tem reforçado a importância da via da beleza para a transmissão da Fé. Na Carta aos artistas, João Paulo II destaca: “Para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte. De fato, deve tornar perceptível e até o mais fascinante possível o mundo do espírito, do invisível, de Deus”.2

Bento XVI segue de perto seu predecessor. Ressalta que a Igreja “nunca se cansou de dar a conhecer ao mundo inteiro a beleza do Evangelho”.3 Além disso, “sempre estimou as manifestações artísticas inspiradas na Sagrada Escritura, como, por exemplo, as artes figurativas e a arquitetura, a literatura e a música”.4

Também no Magistério de Francisco se encontra com frequência o tema do belo como caminho de evangelização. Explica ele que, de fato, “é bom que toda a catequese preste uma especial atenção à via da beleza (via pulchritudinis)”.5
De especial importância nesta matéria é a Exortação apostólica Evangelii gaudium, na qual o Pontífice acentua que algumas “verdades reveladas […] são mais importantes por exprimir mais diretamente o coração do Evangelho. Neste núcleo fundamental, o que sobressai é a beleza do amor salvífico de Deus”.6

Cumpre, portanto, “recuperar a estima da beleza para poder chegar ao coração do homem e fazer resplandecer nele a verdade e a bondade do Ressuscitado. […] O Filho feito Homem, revelação da beleza infinita, é sumamente amável e atrai-nos para Si com laços de amor. Por isso, torna-se necessário que a formação na via pulchritudinis esteja inserida na transmissão da Fé. É desejável que cada Igreja particular incentive o uso das artes na sua obra evangelizadora, em continuidade com a riqueza do passado, mas também na vastidão das suas múltiplas expressões atuais, a fim de transmitir a Fé numa nova ‘linguagem parabólica’”.7

Por fim, Francisco aponta para um ponto importante da vida eclesiástica, evocando a via pulchritudinis: “Na homilia, a verdade anda de mãos dadas com a beleza e o bem. Não se trata de verdades abstratas ou de silogismos frios, porque se comunica também a beleza das imagens que o Senhor utilizava para incentivar a prática do bem. A memória do povo fiel, como a de Maria, deve ficar transbordante das maravilhas de Deus”.8

A via pulchritudinis – via da beleza – nos atrai, pelo amor, ao encontro pessoal com Jesus, o “Belo Pastor”, e com Maria, a toda bela – tota pulchra. Assim, através da íntima e sublime união com Eles, a humanidade poderá encontrar a harmonia, a integridade e o esplendor proporcionados e, nesse sentido, “a beleza salvará o mundo”.

Por Pe. Alex Barbosa de Brito, EP

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1. Conforme a tríade da retórica clássica (cf. CÍCERO, Marco Túlio. Brutus, c.XLIX, n.185; Orator, c.XXI, n.69.
2. SÃO JOÃO PAULO II. Carta aos artistas, n.12.
3. BENTO XVI. Ubicumque et semper, 21/9/2010.
4. BENTO XVI. Verbum Domini, n.112; cf. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015, n.95.
5. FRANCISCO. Evangelii gaudium, n.167.
6. Idem, n.36.
7. Idem, n.167.
8. Idem, n.142.

 
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