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Voz dos Papas


Um mandato para servir
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Vaticano
O poder de ensinar, na Igreja, obriga a um compromisso ao serviço da obediência à Fé. O Papa não é um soberano absoluto, cujo pensar e querer são leis.

Aquele que se senta na Cátedra de Pedro deve recordar as palavras que o Senhor disse a Simão Pedro durante a Última Ceia: “e tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos” (Lc 22, 32). Aquele que é titular do ministério petrino deve ter a consciência de que é um homem frágil e débil – como são frágeis e débeis as suas próprias forças – constantemente necessitado de purificação e de conversão. Mas ele também pode ter a consciência de que do Senhor lhe vem a força para confirmar os seus irmãos na Fé e mantê-los unidos na confissão de Cristo crucificado e ressuscitado. […]

Mandato superior às capacidades humanas

O Bispo de Roma senta-se na Cátedra para dar testemunho de Cristo. Ela é o símbolo da potestas docendi, aquele poder de ensinar que faz parte essencial do mandato de ligar e desligar conferido pelo Senhor a Pedro e, depois dele, aos Doze. Na Igreja, a Sagrada Escritura – cuja compreensão aumenta sob a inspiração do Espírito Santo – e o ministério da interpretação autêntica, conferido aos Apóstolos, pertencem-se de modo indissolúvel. Onde a Sagrada Escritura é separada da voz viva da Igreja, torna-se vítima das controvérsias dos peritos.

Cerimonia Bispo de Roma.jpg
O Bispo de Roma senta-se na Cátedra para
dar testemunho de Cristo

Cerimônia de posse da Cátedra de Bispo
de Roma na Basílica Lateranense, 7/5/2005

Sem dúvida, tudo o que eles têm para nos dizer é importante e precioso; o trabalho dos sábios é para nós um grande contributo para poder compreender aquele processo vivo com o qual a Escritura cresceu e para compreender a sua riqueza histórica. Mas a ciência sozinha não nos pode fornecer uma interpretação definitiva e vinculante; não é capaz de nos fornecer, na interpretação, aquela certeza com a qual podemos viver e pela qual podemos até morrer.

Por isso é necessário um mandato maior, que não pode surgir unicamente das capacidades humanas. Por isso é necessária a voz da Igreja viva, daquela Igreja confiada a Pedro e ao Colégio dos Apóstolos até ao fim dos tempos.

O poder do Papa está ao serviço da Palavra

Este poder de ensinamento assusta muitos homens dentro e fora da Igreja. Perguntam-se eles se ela não ameaça a liberdade de consciência, se não é uma soberba em oposição à liberdade de pensamento. Não é assim. O poder conferido por Cristo a Pedro e aos seus sucessores é, em sentido absoluto, um mandato para servir.

O poder de ensinar, na Igreja, obriga a um compromisso ao ­serviço da obediência à Fé. O Papa não é um soberano absoluto, cujo pensar e querer são leis. Ao contrário: o ministério do Papa é garantia da obediência a Cristo e à sua Palavra. Ele não deve proclamar as próprias ideias, mas vincular-se constantemente a si e à Igreja à obediência à Palavra de Deus, tanto perante todas as tentativas de adaptação e de adulteração, como diante de qualquer oportunismo.

O Papa João Paulo II fez isto quando, perante todas as tentativas, aparentemente benévolas para com o homem, perante as erradas interpretações da liberdade, realçou de maneira inequivocável a inviolabilidade do ser humano, a inviolabilidade da vida humana desde a concepção até à morte natural. A liberdade de matar não é uma liberdade, mas é uma tirania que reduz o ser humano à escravidão.

O Papa tem a consciência de que está, nas suas grandes decisões, ligado à grande comunidade da Fé de todos os tempos, às interpretações vinculantes que cresceram ao longo do caminho peregrinante da Igreja. Assim, o seu poder não é superior, mas está ao serviço da Palavra de Deus, e sobre ele recai a responsabilidade de fazer com que esta Palavra continue a estar presente na sua ­grandeza e a ressoar na sua pureza, de modo que não seja fragmentada pelas contínuas mudanças das modas.

A Cátedra é – repetimos mais uma vez – símbolo do poder de ensinamento, que é um poder de obediência e de serviço, para que a Palavra de Deus – a Verdade! – possa resplandecer entre nós, indicando-nos o caminho da vida.

Roma: a Igreja que preside no amor

Mas, falando da Cátedra do Bispo de Roma, como não recordar as palavras que Santo Inácio de Antioquia escreveu aos romanos?

Pedro, vindo de Antioquia, a sua primeira sede, dirigiu-se para Roma, sua sede definitiva. Uma sede que se tornou definitiva através do martírio com o qual ligou para sempre a sua sucessão em Roma. Inácio, por seu lado, permanecendo Bispo de Antioquia, estava destinado ao martírio que teria que sofrer em Roma. Na sua carta aos romanos refere-se à Igreja de Roma como “Àquela que preside no amor”, expressão muito significativa.

Não sabemos com certeza o que Inácio pensava exatamente quando usou estas palavras. Mas na Igreja antiga, a palavra amor, agape, referia-se ao mistério da Eucaristia. Neste mistério o amor de Cristo torna-se sempre tangível entre nós. Nele, Ele oferece-Se sempre de novo. Nele, Ele deixa que trespassem o seu Coração sempre de novo; nele, Ele mantém a sua promessa, a promessa que, da Cruz, teria arrebatado tudo a Si.

Na Eucaristia, nós próprios aprendemos o amor de Cristo. Foi graças a este centro e coração, graças à Eucaristia, que os Santos viveram, levando o amor de Deus ao mundo de maneiras e formas sempre novas. Graças à Eucaristia a Igreja renasce sempre de novo! A Igreja mais não é do que aquela rede – a comunidade eucarística! – na qual todos, recebendo o mesmo Senhor, nos tornamos um só corpo e abraçamos o mundo inteiro.

Toda a doutrina da Igreja conduz ao amor

Presidir na doutrina e presidir no amor, no final, devem ser uma só coisa: toda a doutrina da Igreja, no final, conduz ao amor. E a Eucaristia, enquanto amor presente de Jesus Cristo, é o critério de qualquer doutrina. Do amor dependem a Lei e os profetas (cf. Mt 22, 40). O amor é o cumprimento da Lei, escrevia São Paulo aos romanos (cf. Rm 13, 10).

Queridos ­romanos, agora eu sou o ­vosso Bispo. Obrigado ­pela vossa generosidade, obrigado pela vossa simpatia, obrigado pela paciência que tendes comigo!

Como católicos, de certo modo, todos somos também romanos. Com as palavras do Salmo 87, um hino de louvor a Sião, mãe de todos os povos, cantava Israel e canta a Igreja: “De Sião há de dizer-se: todos lá nascemos” (87, 5). De igual modo, também nós podemos dizer: como católicos, de certa forma, todos nascemos em Roma. Assim desejo procurar ser, de todo o coração, o vosso Bispo, o Bispo de Roma. E todos nós desejamos procurar ser cada vez mais católicos – cada vez mais irmãos e irmãs na grande família de Deus, aquela família na qual ninguém é estrangeiro. (Bento XVI. Excertos da homilia na posse da Cátedra de Bispo de Roma, 7/5/2005)

 
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