... O Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte. (Mt 20, 18)

OS PRÍNCIPES DO POVO SE REÚNEM PARA ENTREGAR JESUS A MORTE

Chegando a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se em conselho para entregar Jesus à morte. (Mt 27, 1)

Ao amanhecer, reuniram-se os anciãos do povo, os príncipes dos sacerdotes e os escribas, e mandaram trazer Jesus ao seu conselho. Perguntaram-lhe: Dize-nos se és o Cristo! Respondeu-lhes ele: Se eu vo-lo disser, não me acreditareis; e se vos fizer qualquer pergunta, não me respondereis. Mas, doravante, o Filho do Homem estará sentado à direita do poder de Deus. Então perguntaram todos: Logo, tu és o Filho de Deus? Respondeu: Sim, eu sou. Eles então exclamaram: Temos nós ainda necessidade de testemunho? Nós mesmos o ouvimos da sua boca. (Lc 22, 66-71)

O SUICÍDIO DE JUDAS

Fique deserta a sua habitação e não haja quem nela habite... (Sal 68, 26) – Que outro receba seu cargo... (Sal 108, 8) Ele jogou então no templo as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se. (Mt 27, 5) Judas, o traidor, vendo-o então condenado, tomado de remorsos, foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata, dizendo-lhes: Pequei, entregando o sangue de um justo. Responderam-lhe: Que nos importa? Isto é lá contigo! Ele jogou então no templo as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se. Os príncipes dos sacerdotes tomaram o dinheiro e disseram: Não é permitido lançá-lo no tesouro sagrado, porque se trata de preço de sangue. Depois de haverem deliberado, compraram com aquela soma o campo do Oleiro, para que ali se fizesse um cemitério de estrangeiros. Esta é a razão por que aquele terreno é chamado, ainda hoje, Campo de Sangue. Assim se cumpriu a profecia do profeta Jeremias: Eles receberam trinta moedas de prata, preço daquele cujo valor foi estimado pelos filhos de Israel; e deram-no pelo campo do Oleiro, como o Senhor me havia prescrito. (Mt 27, 3-10)

Pai Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.


Segundo as Visões de Anna Catharina Emmerich: Judas aproxima-se da casa do tribunal

Judas, tomado de desespero, impelido pelo demônio, vagueara pelo vale Hinom, no lado íngreme, ao sul de Jerusalém, lugar onde se jogava o lixo, ossos e cadáveres; enquanto Jesus estava no cárcere, ele veio aproximar-se da casa do tribunal de Caifás. Rodeava-a, espreitando; ainda lhe pendia, preso ao cinto, o prêmio da traição, as moedas de prata encadeadas num molho.

A noite já se tornara silenciosa e o infeliz perguntou aos guardas, que não o conheciam, o que seria feito do Nazareno. Responderam-lhe: “Foi condenado a morte e será crucificado”. Ainda ouviu outros falarem entre si que Jesus fora tratado tão cruelmente e sofrera tudo com paciência e resignação; ao amanhecer seria levado outra vez perante o Supremo Conselho, para ser condenado solenemente. Enquanto o traidor colhia cá e lá essas notícias, para não ser reconhecido, amanheceu o dia e já se via muito movimento dentro e em redor da casa. Então, para não ser visto, retirou-se Judas para os fundos da casa; pois fugia dos homens como Caim e o desespero tomava-lhe cada vez mais posse da alma.

Mas eis o que se lhe apresentou ante os olhos: - Achou-se no lugar onde tinham trabalhado preparando a cruz; lá estavam as várias peças já arrumadas e entre elas, envolvidos nos cobertores, estavam os operários dormindo. Por sobre o monte das Oliveiras cintilava a pálida luz da manhã; parecia tremer de horror, ao ver o instrumento da nossa salvação. Judas, ao deparar essa cena, fugiu, preso de horror: vira o madeiro do suplício, para o qual vendera o Senhor. Escondeu-se, porém, nos arredores, esperando pelo fim do julgamento da madrugada.

O julgamento de Jesus na madrugada

Ao romper do dia, quando já clareara, reuniram-se novamente Anás e Caifás, os anciãos e os escribas, na grande sala do tribunal, para uma sessão perfeitamente legal; pois o julgamento feito durante a noite não era válido e era considerado apenas um depoimento preparatório das testemunhas, porque urgia o tempo, por causa da festa iminente. A maior parte dos membros do conselho passaram o resto da noite na casa de Caifás, seja em aposentos contíguos, seja na própria sala do tribunal, onde foram colocados leitos para esse fim. Muitos, entre eles Nicodemos e José de Arimatéia, chegaram ao romper do dia. Foi uma assembléia numerosa e em cuja ação houve muita precipitação.

Como os membros do conselho se incitassem uns aos outros a condenar Jesus à morte, levantaram-se Nicodemos, José de Arimatéia e alguns outros contra os inimigos de Jesus, exigindo que a causa fosse adiada até depois da festa, para não provocar tumultos; também porque não se podia basear um julgamento justo sobre as acusações até então proferidas, por serem contraditórios os depoimentos das testemunhas.

Os sumos sacerdotes e seu partido forte irritaram-se com essa oposição e deixaram ver claramente aos adversários que estes também eram suspeitos de favorecerem a doutrina do Galileu e que por isso naturalmente não lhes agradava esse julgamento, porque se dirigia também contra eles mesmos; assim decidiram eliminar do Conselho todos que eram a favor de Jesus; esses, porém, protestaram contra tal processo e, declarando-se alheios a tudo que o Conselho ainda decidisse, retiraram-se da sala do tribunal e dirigiram-se ao Templo. Depois desse fato, nunca mais tomaram parte nas sessões do conselho.

Caifás, porém, mandou tirar Jesus do cárcere e conduzi-lo, fraco, maltratado e amarrado, como estava, diante do Conselho e preparar tudo de modo que depois do julgamento, pudessem levá-lo imediatamente a Pilatos. Os soldados correram tumultuosamente ao cárcere, lançaram-se com insultos sobre Jesus, desamarraram-no da coluna e tiraram-lhe o manto esfarrapado dos ombros, obrigaram-no, entre golpes, a vestir sua comprida túnica, ainda coberta de toda a imundície e amarrando-o de novo com as cordas pela cintura, conduziram-no para fora do cárcere. Isso foi feito, como tudo, com grande pressa e horrível brutalidade.

Conduziram-no como um pobre animal de sacrifício, entre insultos e golpes, através das fileiras dos soldados, que já estavam reunidos diante da casa, a sala do tribunal. Quando ele, horrivelmente desfigurado pelos maus tratos, pela extenuação e imundície, vestido apenas da túnica toda suja, apareceu diante do Conselho, o nojo aumentou ainda o ódio desses homens. Nesses corações duros de judeus não, havia lugar para a compaixão.

Caifás, porém, cheio de escárnio e raiva de Jesus, que estava em pé diante dele, tão desfigurado, disse-lhe: “Se és o Cristo do Senhor, o Messias, dize-no-lo.” Jesus levantou o rosto e disse, com santa paciência e solene gravidade: “Se vo-lo disser, não acreditareis e se vos perguntar, não me respondereis, nem me dareis a liberdade; de hoje em diante o Filho do homem sentará a direita do poder de Deus.” Entreolharam-se então e com um riso de desprezo, disseram a Jesus: “És então o Filho de Deus:” Jesus respondeu, com a voz da verdade eterna: “Sim, é como dissestes, eu o sou”. A essa palavra de Nosso Senhor gritaram todos: “Que provas precisamos ainda? Ouvimos-lo nós mesmos da sua própria boca.”

Levantaram-se todos, cobrindo Jesus de escárnio e insultos, chamando-o de vagabundo, miserável, de obscuro nascimento, que queria ser o Messias e sentar-se a direita de Deus, deram ordem aos soldados de amarrá-lo de novo, pôr-lhe uma cadeia de ferro em redor do pescoço, como aos condenados a morte, para levá-lo assim ao tribunal de Pilatos. Já antes tinham enviado um mensageiro ao Procurador, avisando-lhe que preparasse tudo para julgar um criminoso, porque deviam apressar-se, por causa da festa.

Ainda murmuravam contra o governador romano, por serem obrigados a levar Jesus ao tribunal do mesmo; porque, quando se tratava de coisas estranhas as leis da religião e do Templo, não podiam aplicar a pena de morte; querendo, pois, condenar Jesus com mais aparência de justiça, acusaram-no de crime contra o imperador, mas diante disso competia o julgamento ao governador romano.

Os soldados já estavam alinhados no adro e até fora da casa e muitos inimigos de Jesus já se tinham reunido diante da casa, com o populacho. Os sumos sacerdotes e parte do conselho abriam o séqüito, seguia-se depois o nosso pobre Salvador, entre os soldados e cercado da soldadesca e por fim toda a corja da população. Assim desceram do monte Sião a cidade baixa, onde ficava o palácio de Pilatos. Uma parte dos sacerdotes que assistiram ao Conselho, dirigiram-se ao Templo, onde nesse dia tinham muito serviço a fazer.

Desespero de Judas

Judas, o traidor, que não se tinha afastado muito, ouviu então o barulho do séqüito, como também as palavras de algumas pessoas, que seguiam de mais, longe; entre outras coisas disseram: “Agora vão levá-lo a Pilatos; o Conselho supremo condenou-o a morte; vai ser crucificado; também não pode mais viver, nesse horrível estado em que O deixaram os maus tratos. Tem uma paciência incrível, não diz nada, apenas que é o Messias e se sentará a direita de Deus; outra coisa não disse e por isso vai morrer na cruz; se não o tivesse dito, não O podiam condenar a morte, mas assim deve morrer. O patife que O vendeu, foi seu discípulo e pouco antes ainda comeu com ele o cordeiro pascal; eu não queria ter parte nesta ação; seja como for, o Galileu pelo menos nunca entregou um amigo a morte por dinheiro.

“Deveras, esse patife de traidor merece também ser enforcado.” Então o arrependimento tardio, a angústia e o desespero começaram a lutar na alma de Judas. O demônio impeliu-o a correr. O molho das trinta moedas de prata, no cinto, sob o manto, era-lhe como uma espora do inferno; segurou-a com a mão, para que não fizesse tanto barulho, batendo-lhe na perna ao correr. Correu a toda a pressa, não atrás do cortejo, para lançar-se aos pés de Jesus, pedindo perdão ao Salvador misericordioso, não para morrer com Ele, nem para confessar a culpa diante de Deus; mas para se limpar diante dos homens da culpa e desfazer-se do prêmio da traição; correu como um insensato ao Templo, aonde diversos membros do supremo conselho como chefes dos sacerdotes em exercício e alguns dos anciãos se tinham dirigido, depois do julgamento de Jesus.

Olharam-se mutuamente, admirados e com um sorriso desprezível, dirigiram olhares altivos a Judas que, impelido pelo arrependimento do desespero e fora de si, correu para eles; arrancou o feixe das moedas de prata do cinto e, estendendo-lhes a mão direita com o dinheiro, disse, em tom de violenta angústia: “Tomai aqui o vosso dinheiro, com o qual me seduzistes a entregar-vos o Justo; retomai o vosso dinheiro e soltai Jesus; eu rompo o nosso pacto. Pequei gravemente, traindo sangue inocente.”

Mas os sacerdotes mostraram-lhe então todo o seu desprezo; retiraram as mãos do dinheiro que lhes oferecia, como se não quisessem manchar-se com o prêmio da traição, dizendo: “Que nos importa que pecasses? Se julgas ter vendido sangue inocente, é lá contigo; sabemos que o compramos de ti e julgamo-lo réu de morte; é teu dinheiro, não temos nada com isso, etc.”. Disseram-lhe essas palavras no tom que usam os homens que estão muito ocupados e querem livrar-se de um importuno e viraram as costas a Judas. Esse, vendo-se assim tratado, foi tomado de tal raiva e desespero, que ficou como louco; eriçaram-se-lhe os cabelos e rompendo com as duas mãos o molho das moedas de prata, espalhou-as com veemência no templo e fugiu para fora da cidade.

Vi-o de novo, correndo como louco, no vale de Hinom e o demônio em figura horrível ao seu lado, segredando-lhe ao ouvido, para levá-lo ao desespero, todas as maldições dos profetas sobre esse vale, onde antigamente os judeus sacrificavam os próprios filhos aos deuses. Parecia lhe que todas essas palavras o indicavam com o dedo, dizendo, por exemplo: “Eles sairão para ver os cadáveres daqueles que contra mim pecaram, cujo verme não morre, cujo fogo não se apaga”. Depois lhe soou aos ouvidos: “Caim, onde está Abel, teu Irmão? Que fizeste? O sangue de teu irmão clama a mim; agora, pois, serás maldito sobre a terra, vagabundo e fugitivo”.

Quando chegou a torrente doe Cedron e olhou na direção do monte das Oliveiras, estremeceu e virou os olhos. Então ouviu de novo as palavras: “Amigo para que vieste? Judas, é com um beijo que entregas o Filho do homem:” Então um imenso horror lhe penetrou no fundo da alma, confundiram-se-lhe os sentidos e o inimigo segredou-lhe ao ouvido: “Aqui sobre o Cedron, fugiu também Davi diante de Absalão; Absalão morreu pendurado numa árvore; Davi referia-se também a ti no salmo: “Retribuíram o bem com o mal, ele terá um juiz severo; Satanás estará a sua direita, todo o tribunal o condenará; os seus dias serão poucos; outro lhe receberá o episcopado; o Senhor recordar-se-á sempre da maldade dos seus pais e dos pecados de sua mãe, porque sem misericórdia perseguiu os pobres e matou os aflitos; ele amava a maldição e esta virá sobre ele; revestia-se da maldição como de uma veste, como água lhe entrou ela nos intestinos, como óleo nos ossos; como uma veste o cobre a maldição, como um cinto que o cinge eternamente”.

Entre esses terríveis remorsos da consciência, chegara Judas a um lugar deserto, pantanoso, cheio de lixo e imundície, a sudeste de Jerusalém, ao pé do monte dos Escândalos, onde ninguém o podia ver. Da cidade se ouvia ainda mais forte o tumulto e o demônio disse-lhe: “Agora O conduzem a morte; vendeste-o; sabes o que está escrito na lei? “Quem vender uma lama entre seus irmãos, os filhos de Israel, morrerá. Acaba com isto, miserável, acaba com isto!” Então tomou Judas desesperado o cinto e enforcou-se numa árvore que crescia em vários troncos, numa cavidade daquele lugar. Quando se enforcou, rebentou-se-lhe o ventre e os intestinos caíram-lhe sobre a terra.