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Arautos


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Ser Igreja no século XXI
 
AUTOR: HAMILTOM E CRISTIANE BUZI
 
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Ante um mundo chafurdado na impiedade e no relativismo, um verdadeiro católico deve fortalecer seu propósito de tudo sofrer por amor a Cristo e sua Igreja. Foi nessa impostação de espírito que transcorreu o último Congresso Internacional de Cooperadores dos Arautos.

Filho da Santa Igreja! Que sublime título, que honra incomparável! Como é glorioso pertencer à única instituição que liga o Céu à terra e leva os homens a, vivendo neste mundo, ter por irmãos os Bem-aventurados e, sendo apenas criaturas, participar da família de Deus. Ó nobreza insuperável!

Ser católico não se restringe a considerar-se como tal, guardar uma remota confiança na Providência e acreditar numas tantas verdades que a razão humana não alcança explicar. Ter uma fé sem convicções, timidamente manifestada na Missa dominical e relegada a um plano secundário no dia a dia é muito pouco para quem foi elevado à condição de filho do Altíssimo.

Pelo contrário, nós, cristãos, necessitamos nos unir intimamente a Nosso Senhor, como o corpo à cabeça. Estamos chamados a tornar nossa vida “uma continuação e realização da vida de Jesus” e, por isso, “todos os nossos atos devem ser um desenvolvimento dos d’Ele; é preciso sermos outros Cristos na terra, para nela fazer perdurar sua vida e suas obras”.1


Sinal de contradição para o mundo

Uma das mais conhecidas descrições dessa forma de presença de Nosso Senhor entre os homens, encontramo-la na antiquíssima Carta a Diogneto, na qual um autor anônimo relata como era a vida dos cristãos no início do segundo século:

“Estão na carne, mas não vivem segundo a carne. Moram na terra, mas têm sua cidadania no Céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas seu gênero de vida supera as leis. Amam a todos e por todos são perseguidos. Condenam-nos sem os conhecerem; entregues à morte, lhes é dada a vida. São pobres, mas enriquecem a muitos. Carecem de tudo e tudo têm em abundância. São ultrajados, mas, em meio ao opróbrio, enchem-se de glória. São infamados, mas se manifesta o testemunho de sua justiça. Amaldiçoam-nos e eles bendizem. Sofrem injúrias e retribuem com honras. Fazem o bem e são punidos como malfeitores; ao serem castigados, alegram-se como se recebessem a vida”.2

“Têm sua cidadania no Céu”, frisa o autor. E, por isso mesmo, são objeto de desprezos, injúrias, perseguições… “O meu Reino não é deste mundo” (Jo 18, 36), ensinou Jesus. Como pode, então, causar estranheza que seus discípulos, e a própria Igreja por Ele estabelecida, sejam pedra de escândalo e sinal de contradição?

Ao atrair a seu seguimento os Apóstolos, Nosso Senhor não lhes promete uma carreira brilhante, mas, pelo contrário, os adverte: “Sereis odiados de todos por causa de meu nome, mas aquele que perseverar até o fim será salvo. […] O discípulo não é mais que o mestre, o servidor não é mais que o patrão. Basta ao discípulo ser tratado como seu mestre, e ao servidor como seu patrão. Se chamaram de Beelzebul ao pai de família, quanto mais o farão às pessoas de sua casa! […] Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena” (Mt 10, 22.24-25.28).

De fato, quem analisa com cuidado a trajetória da Esposa Mística de Cristo ao longo dos séculos dificilmente encontrará um período em que ela tenha sido poupada dos ataques de seus inimigos, e seus filhos fiéis tenham levado uma vida despreocupada. Este é precisamente o sinal distintivo daqueles que querem trilhar as vias do Divino Mestre: “Quem não toma a sua cruz e não Me segue, não é digno de Mim” (Mt 10, 38).

Sim, as páginas áureas que compõem a História da Igreja estão crivadas de perseguições, lutas e sofrimentos, que a configuram cada vez mais com Cristo. 

Santo Inácio de Antioquia sendo devorado pelas feras – Basílica de São Clemente, Roma

Sangue de mártires, semente de cristãos

Os primeiros séculos tornaram-se o paradigma, para todos os tempos, dessa batalha dos cristãos contra o mundo. Aos ouvidos deles soava ainda com vigor o mandato de Jesus: “Vós sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo” (At 1, 8).

Sob o Império Romano, a Igreja expandiu-se prodigiosamente por todo o orbe, mas também sofreu cruéis e sangrentas perseguições. “Ut christiani non sint!”,3 clama Nero no ano 64, no primeiro edito contra a Igreja, com o qual se abria a época ao mesmo tempo terrível e gloriosa dos mártires.

Quantos entregaram sua vida pela Fé? É impossível sabê-lo. Raras vezes se faziam julgamentos individuais, as execuções se davam em massa e de maneira sumária. Por volta do ano 250, o número de vítimas era tal que São Montano, antes de ser supliciado, desafiava seus algozes a, “ao menos pela abundância de mártires, entenderem onde estava a verdadeira Igreja”.4

Entretanto, se o antigo inimigo pretendia exterminar a Igreja em seu nascedouro, logo viu frustradas suas esperanças, como atesta São Justino: “Decapitam-nos, pregam-nos em cruzes, atiram-nos às feras, à prisão, ao fogo, e nos submetem a todo tipo de torturas. Todavia, está à vista de todos que não apostatamos de nossa Fé. Ao contrário, quanto maiores são os nossos sofrimentos, mais ainda se multiplicam os que abraçam a Fé e a piedade pelo nome de Jesus”.5

As riquezas deste mundo passam…

Impressiona ver a grandeza de alma e generosidade dos mártires em, com o imprescindível auxílio da graça, vencer-se a si mesmos até o fim. Isso incluía ignorar as chantagens e lisonjas lançadas contra eles para fazê-los desistir de seus propósitos, bem como sofrer as terríveis torturas morais que os aguardavam antes de alcançarem a palma do martírio. Incluía também um desapego absoluto dos bens que possuíam, fossem muitos ou poucos.

No Império Romano havia, por exemplo, uma lei que decretava a confiscação dos bens de quem se declarasse cristão. Em tempos nos quais a tradição e a fortuna muito significavam para a sociedade, essa sanção representava uma prova duríssima, maior ainda que em nossos dias. Não obstante, eles preferiam perder todas as suas posses, a fim de conservar o supremo tesouro da fé. Sabiam que as riquezas deste mundo passam e buscavam juntar seu tesouro “onde o ladrão não chega, e a traça não corrói” (Lc 12, 33).

A ilustre pena de São Basílio registrou o caso da viúva Santa Julita, a qual estava sendo perseguida por um homem que queria roubar-lhe os bens. A infeliz senhora apresentou-se ao tribunal reclamando justiça. O usurpador, porém, alegou contra ela sua condição de cristã, que a tornava incapaz de pedir algo em juízo.

O magistrado mandou então trazer um altar e a convidou a queimar incenso aos ídolos. A viúva respondeu: “Pereça minha vida, pereçam minhas riquezas, pereça meu corpo, se for necessário, antes que saia de minha boca uma palavra contra Deus, meu Criador”.6 Com essa proclamação, sua causa estava perdida e ela caía na completa miséria. Pouco depois, por sua fé, foi condenada à fogueira.

Analisando o mérito de quem tudo entrega por amor a Cristo, Orígenes acrescenta que quanto maiores são os bens terrenos aos quais se renuncia para seguir a Cristo, maior é o prêmio obtido na eternidade. E, nesse sentido, escreve na sua Exortação ao martírio: “Como eu gostaria, se tivesse que morrer mártir, de também deixar casas e campos, […] para receber o cêntuplo que o Senhor prometeu!”7

Pouco mais adiante acrescenta: “A nós, pobres, inclusive ao sofrermos o martírio, a razão nos insta a cedermos aos ricos o primeiro lugar, se eles, por amor a Deus em Cristo, tiverem calcado aos pés a glória, tão mentirosa e desejada por muitos, e perdido suas grandes posses”.8

Santa Perpétua, por Luis Borrassa Museu Episcopal de Vic (Espanha)

Renúncia aos mais afetuosos laços

Havia, contudo, uma prova indizivelmente mais terrível que a do desapego ao ouro e à prata… “Quantos mártires santos, ao se aproximarem da paixão, foram tentados pelas carícias lisonjeiras dos seus, que procuravam fazê-los voltar à doçura vã e fugidia desta vida temporal!”,9 lamenta Santo Agostinho. Sim, para levar o cristão a desistir do caminho da santidade, muitas vezes se interpunham os próprios familiares. 

Pouco depois do ano 200, em Cartago, Santa Perpétua escreve a história de seu calvário, agravado pelas tentativas de seu pai para que renunciasse à Fé:

“Impelido por seu afeto, [ele] não desistia no seu empenho de me vencer.

— Pai – lhe disse –, vês, por exemplo, essa vasilha que está aí no chão?

— Sim, vejo – respondeu-me.

E eu lhe disse:

— Poderias acaso dar-lhe outro nome senão o que tem?

— Não – respondeu.

— Pois tampouco eu posso chamar-me com um nome diferente daquilo que sou: cristã.

Então meu pai, irritado com minhas palavras, lançou-se sobre mim para arrancar-me os olhos, mas se contentou com maltratar-me um pouco. E partiu”.10

A jovem Perpétua havia pouco tivera um filho, ao qual ainda amamentava; aflita com a sorte da criança, conseguiu que a deixassem junto a ela na prisão. Aproximando-se o dia do interrogatório, seu pai novamente a visitou e tentou convencê-la de todas as formas, dizendo:

“— Minha filha, tem compaixão de meus cabelos brancos, tem compaixão de teu pai, se é que ainda mereço ser chamado por ti com esse nome. Se com estas mãos te conduzi até a flor de tua idade, se te preferi a todos os teus irmãos, não me entregues ao opróbrio dos homens. Pensa em teus irmãos, pensa em tua mãe e em tua tia materna; pensa em teu filhinho, que sem ti não poderá viver. Desiste de tua determinação, não nos aniquiles a todos, pois nenhum de nós poderá levantar a voz se te acontecer algo.

“Assim falava como pai, levado por seu afeto, enquanto me beijava as mãos e se lançava a meus pés, chamando-me entre lágrimas não de ‘minha filha’, mas de ‘minha senhora’. E eu estava transida de dor por meu pai, pois era o único em toda a minha família que não se alegraria com meu martírio”.11

O amor filial a movia a compadecer-se de seu pobre pai, e quem sabe se a tentação de abandonar a Fé não lhe bateu insistentemente à porta a cada palavra que saía dos lábios dele… Entretanto, nesse momento crucial certamente ecoaram aos ouvidos daquela jovem as palavras graves e sérias de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem ama seu filho mais que a Mim, não é digno de Mim” (Mt 10, 37). Então, abandonando-se inteiramente nas mãos da Providência, Perpétua lhe respondeu: “No estrado [do tribunal] acontecerá o que Deus quiser; pois deves saber que não fiamos em nosso poder, mas no de Deus”.12

Privada a certa altura da companhia de seu filho, a valorosa mãe preocupava-se dia e noite com seu destino, entregando-o a Deus. Passado algum tempo, a cena com seu pai se repetiu e ela, com o coração sangrando mas inabalável em sua convicção, venceu mais uma vez a prova. Suas linhas, porém, se concluem na dúvida e na incerteza quanto ao futuro.

Coube a outro – segundo alguns, Tertuliano – perpetuar o conhecimento de sua morte: estando já no anfiteatro à espera da morte, Perpétua chamou seu irmão e, desejando nesse momento supremo que os demais trilhassem o mesmo caminho de renúncia do qual ela chegava ao termo, disse-lhe: “Permanecei firmes na fé, amai uns aos outros. E não vos escandalizeis com nossos padecimentos”.13

Paciência, serenidade e alegria na provação

Sendo Rei do Universo, Nosso Senhor Jesus Cristo aceitou, por amor a nós, ser lesado em todos os seus direitos, despojado de todas as suas honras, carregado de ignomínias e reduzido a um réu, colocando-se em situação inferior até mesmo à de um escravo (cf. Fl 2, 7-8).

A exemplo e semelhança d’Ele, eram exigidas dos primeiros cristãos a completa renúncia dos bens terrenos e uma heroica disposição de tudo sofrer por amor ao Divino Mestre. Ao enfrentar tormentos e privações, brilhavam eles diante do mundo como luzeiros; portando-se de forma íntegra e irrepreensível no meio de uma sociedade depravada, mostravam a grandeza de ser filho de Deus (cf. Fl 2, 15). 

A fidelidade à sua fé levou muitos cristãos para a prisão, e quem hoje tem a oportunidade de conhecer o que, naquele então, servia de cadeia, fica espantado ao ouvir as narrações sobre a paciência, serenidade e alegria com que eles lá permaneciam.

Entre os que deixaram à História suas impressões a respeito do tempo que estiveram encarcerados, encontram-se os mártires Lúcio e Montano: “Descemos ao abismo dos sofrimentos como se subíssemos ao Céu. Que dias passamos ali, que noites suportamos! Não há palavras que o possam explicar. Não há afirmação que não fique insuficiente diante dos tormentos do cárcere, e não é possível incorrer em exagero quando se fala da atrocidade daquele lugar. Mas onde a prova é grande, mostra-se ainda maior Aquele que a vence em nós, e não cabe falar de combate, mas, pela proteção do Senhor, de vitória”.14

Tão unidos, porém, estavam a Cristo que, mais adiante, os mesmos mártires manifestam não só resignação, mas entusiasmo em face das atrocidades que os acompanhavam a cada dia, e exclamam a propósito de uma ocasião em que julgavam estar sendo levados para a morte:

“Ó dia alegre e glória de nossas cadeias! Ó atadura que nós havíamos desejado com toda a nossa alma! Ó ferro mais honroso e precioso que o ouro de maior quilate! Ó estridência do ferro, retinindo ao ser arrastado sobre outros ferros!… […] Mas ainda não havia chegado a hora de nosso martírio. Humilhado o diabo, voltamos vitoriosos ao cárcere e fomos reservados para nova vitória. Vencido, pois, o diabo nesta batalha, excogitou novas astúcias, procurando tentar-nos pela fome e sede, e soube conduzir essa batalha fortissimamente durante muitos dias”.15

Congressistas assistindo a uma das exposições no auditório do Seminário
Menor, Caieiras (SP), 27/7/2019

Levados finalmente para o suplício, os mártires passam ainda por uma última prova: contemplar diante de si toda a multidão zombeteira, que ri e se diverte com suas dores e alegra-se com sua morte. Quantos cristãos não terão encontrado em meio a esse público hostil o mais dilacerante dos padecimentos de alma, isto é, o desprezo e ódio de antigos amigos e familiares que, surdos a qualquer explicação, preferem assistir à destruição de sua vidas a admitir que sigam a Cristo! E, até o fim, eles desafiam o mundo, tornando-se dignos do Céu.

A Palavra foi semeada, mas não produziu seu fruto

Nem todos os cristãos, porém, enfrentavam o tribunal com o desapego da viúva Julita, o heroísmo de Perpétua ou o entusiasmo de Lúcio e Montano. Havia aqueles que preferiam o mundo a Cristo, as trevas à luz, e, desprezando o Céu a eles oferecido, afundavam-se na lama da apostasia.

Em um escrito atribuído a Tertuliano, conta-se, por exemplo, o caso de um senador que “da Religião cristã voltou à escravidão aos ídolos”. E o autor o interpela: “Depois de teres atravessado os umbrais da verdadeira Lei, depois de teres conhecido a Deus durante anos, por que conservas o que deverias deixar e rejeitas o que deverias guardar?”16

Como se explica tamanha defecção em alguém que, tendo sido sepultado com Cristo pelo Batismo, estava chamado a ressurgir dos mortos como Ele (cf. Rm 6, 4)?

Boa parte desses renegados haviam sido, sem dúvida, cristãos sinceros, mas superficiais. E, por isso, a semente da Palavra lançada em seu interior não frutificou.

Muitos deles eram solos pedregosos, que acolheram a Boa-Nova com alegria, mas sem permitir que criasse raízes profundas no seu espírito. Sobrevindo uma tribulação ou uma perseguição, logo encontraram uma ocasião de queda (cf. Mt 13, 20-21).

Outros dos que caíram na apostasia permitiram que os cuidados do mundo e a sedução das riquezas sufocassem a boa semente que tinha crescido com força em suas almas, tornando-a infrutífera (cf. Mt 13, 22).

Apenas aqueles que ouviram a Palavra e a compreenderam – isto é, a amaram e puseram em prática – produziram fruto: “cem por um, sessenta por um, trinta por um” (Mt 13, 23).

Outras formas mais sutis e eficazes de perseguição

Para os fiéis dos nossos dias, os cristãos dos primeiros séculos se apresentam como modelos de radicalidade evangélica. Sua exímia fidelidade à Fé levou-os a enfrentar os maiores tormentos e regar com seu sangue bendito os fundamentos da Santa Igreja.

Improvável é que nós, filhos da Igreja no século XXI, sejamos conduzidos a um Coliseu para servir de alimento a feras famintas. E, embora existam perseguições cruentas aos cristãos em países da Ásia ou da África, parece inverossímil que garfos incandescentes dilacerem nossas carnes se nos recusarmos a oferecer incenso a deuses de pedra.

Mas há outras formas mais sutis e eficazes de perseguição, das quais o demônio se utiliza hoje às torrentes. Em um mundo que aparentemente cultua a paz, a compreensão e o diálogo, torna-se cada vez mais difícil ser católico autêntico. Defender de público os valores perenes da Igreja, refletidos no Catecismo, pode supor sermos denunciados diante de um tribunal. Escolher um bom colégio para nossos filhos ou buscar um entretenimento que não fira a moral cristã exige um esforço e uma perícia que não estão ao alcance de todas as famílias.

Entrada solene da imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso dando início ao Congresso, 26/7/2019

A cada instante somos convidados a deitar pequenos ou grandes punhados de incenso aos pés dos novos deuses pagãos, cujos nomes não são Júpiter, Baco ou Diana, mas sim desonestidade, mentira e relativismo. Para muitos de nós, praticar a Religião e cumprir os Mandamentos pode se tornar um prolongado martírio, mais terrível sob certos aspectos que o dos primeiros cristãos. 

Excelso convite para os dias atuais

Foi esse precisamente o fundo de quadro do Congresso de Cooperadores dos Arautos do Evangelho realizado no último mês de julho. Vindos da Europa, Ásia, África e de todos os quadrantes da América e do Brasil, durante três dias pudemos satisfazer em algo nossa apetência pelas maravilhas do Céu e, juntos, haurir forças para perseverar no nobre propósito de ostentarmos nosso amor à Santa Igreja e a ela servirmos.

Seguindo uma programação apertada, as exposições se alternaram com momentos de Adoração ao Santíssimo Sacramento, participação na Santa Missa e recitação do Rosário em conjunto. Tudo contribuía para nos sentirmos irmanados num mesmo ideal e dispostos a todos os esforços para responder com generosidade à voz do Divino Mestre.

Por meio de sua graça, Jesus chamava a cada um de nós a dar testemunho d’Ele diante do mundo. Convidava-nos a sermos mártires da ortodoxia, confessores da verdadeira doutrina, defensores da moral católica multissecular e fiéis seguidores do Magistério, ainda que isso suponha nos deixarmos crucificar com Ele, como o fizeram os primeiros cristãos.

Nesses dias foi-nos descortinado também o horizonte insondável da misericórdia divina, na qual repousam confiantes todos os que a Cristo se entregam sem reservas. Se Ele pede muito de seus soldados e servos, oferece-lhes em contrapartida uma recompensa demasiadamente grande: “Ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de Mim e por causa do Evangelho que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições, e no século vindouro a vida eterna” (Mc 10, 29-30).

Certos do auxílio da graça, concedida com especial abundância a quem se põe sob os cuidados de Nossa Senhora, partimos dali fortalecidos e dispostos a dar novos e decisivos passos na edificação do Reino de Maria em nossas almas. Pois antes que Ela triunfe sobre todo o orbe, como anunciou em Fátima, é preciso que reine em nossos corações.

Junto a Ela, nada devemos temer. Por maiores que sejam nossa fraqueza e nossa inconstância, a vitória está garantida pela promessa de Cristo: “Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). (Revista Arautos do Evangelho, Setembro/2019, n. 213, p. 16-21)

1 SÃO JOÃO EUDES. La vie et le royaume de Jésus dans les âmes chrétiennes. In: Œuvres Complètes. Paris: Gabriel Beauchesne, 1905, t.I, p.166. 2 CARTA A DIOGNETO, n.5: PG 2, 1174-1175. 3 Do latim: “Que não haja cristãos!” 4 MARTIRIO DE LOS SANTOS MONTANO, LUCIO Y COMPAÑEROS, n.14. In: RUIZ BUENO, Daniel (Ed.). Actas de los mártires. 5.ed. Madrid: BAC, 2003, p.813. 5 SÃO JUSTINO DE ROMA. Diálogo com Trifão, n.110. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2014, p.177. 6 SÃO BASÍLIO MAGNO. Homilia in martyrem Iulittam, n.2: PG 31, 239. 7 ORÍGENES. Exhortatio ad martyrium, n.14: PG 11, 582. 8 Idem, n.15, 583. 9 SANTO AGOSTINHO. Sermón 284, n.2. In: Obras Completas. Madrid: BAC, 1984, v.XXV, p.100. 10 EL MARTIRIO DE LAS SANTAS PERPETUA Y FELICIDAD, n.3. In: RUIZ BUENO, op. cit., p.421. 11 Idem, n.5, p.424-425. 12 Idem, p.425. 13 Idem, n.20, p.438. 14 MARTIRIO DE LOS SANTOS MONTANO, LUCIO Y COMPAÑEROS, op. cit., n.4, p.804-805. 15 Idem, n.6, p.806. 16 TERTULIANO. Ad senatorem, c.2: PL 2, 1106.

 
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