Fale conosco
 
 
Receba nossos boletins
 
 
 
Artigos


Contos Infantis


Corajoso… mas não tanto!
 
AUTOR: IR. DIANA MILENA DEVIA BURBANO, EP
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
1
0
 
Dia após dia, as crianças se revezaram para guardar lugar ao coronel na fila do confessionário. Contudo, nenhum sinal indicava que o valoroso militar estivesse decidido a aproximar-se dele…

Acotovelados atrás de uma coluna da catedral, os meninos da catequese viram estupefatos o Coronel Alberico entrando pela porta. Era um velho e respeitável senhor de porte marcial, que ostentava no peito numerosas condecorações e medalhas, testemunhando sua bravura e coragem.

No entanto, quem o visse entrar no templo naquele momento podia perceber um fundo de medo em seu olhar e uma atitude inusitada: andando a passos rápidos, mas hesitantes, o aguerrido coronel dirigia-se a um dos confessionários da nave lateral… A poucos passos deste, porém, mudou de rumo e entrou na pequena capela da Mãe do Bom Conselho, onde se deteve para rezar, sentando-se no último banco.

— Nossa!… Não posso acreditar que ele reze! – exclamou o pequeno Henrique, com sua habitual espontaneidade.

— Nunca demonstrou nada em público, é verdade. Só que eu o tenho visto muitíssimas vezes entrar na catedral assim, sorrateiramente, para rezar – disse Lucas, com ares de quem sabe tudo.

— Será que ele tem vergonha de… – balbuciou Vítor, pensando em voz alta, sendo interrompido por Miguel.

— Parecia que ele ia se ajoelhar no confessionário e…

Decidiram então contar ao Pe. Mateus tudo o que tinham visto. Ao passarem perto da capelinha da Virgem do Bom Conselho, alguns se destacaram do grupo para olhar mais de perto o coronel, que ainda se encontrava ali, rezando discretamente.

— É ele mesmo! Vamos investigar o que está fazendo – propôs Henrique.

E foi logo se adiantando na aventura:

— Bom dia, senhor coronel! Que bom vê-lo rezando por aqui…

— O senhor quer guardar um lugar na fila da Confissão? Se quiser, nós podemos… – completou Miguel.

Um arrepio fez saltar o coronel, pois não esperava ser descoberto de forma tão inesperada, e menos ainda por pessoas tão jovens. Com expressão aflita e os lábios trêmulos, levantou-se militarmente do banco, saudou os meninos com um leve gesto de mão e saiu apressado.

— Por que o coronel ficou tão embaraçado quando nós o cumprimentamos? – indagou Miguel.

— Será que ele tem vergonha de rezar?! – perguntou Vítor.

O Pe. Mateus, ao ser abordado pelas crianças, incentivou-as a rezar pelo coronel, dizendo:

— Na vida de um homem, há certas decisões que exigem mais coragem do que lutar numa guerra: aproximar-se humildemente do tribunal da Confissão é, muitas vezes, uma delas. É preciso que vocês rezem muito para que o coronel receba de nossa Mãe Celestial a força necessária para se reconciliar com Deus, pois há décadas que ele não se atreve a dar este passo.

Concordaram os meninos em rezar um Terço todos os dias pedindo à Rainha das Vitórias que concedesse ao Coronel Alberico a energia de alma necessária para confessar o quanto antes suas faltas e receber a absolvição sacramental.

Os dias se passavam vagarosamente…

No início da primavera, chegaram as festas de fundação da cidade, nas quais, segundo o costume, as crianças que faziam sua Primeira Comunhão consagravam a Deus seus pequenos corações e imploravam graças de prosperidade e bem-estar para todos. 

Naquele ano, Henrique, Lucas, Vítor e Miguel se preparavam para receber o Sublime Sacramento. Além de ansiosos pela chegada do esperado momento, eles pediam a Deus que o coronel os precedesse na Confissão e Comunhão solene. Dia após dia haviam rezado por ele e até se revezaram para lhe guardar lugar nas filas do confessionário. Contudo, nenhum sinal indicava que o valoroso militar decidisse se confessar…

Com seus ternos corações oprimidos pela decepção, as crianças decidiram reunir-se para discutir o que poderia ser feito a fim de mover o Coronel Alberico e ele tivesse a valentia de tomar tão importante resolução. Conversaram longamente propondo inúmeras soluções e, no fim, optaram por uma ideia singular: escrever-lhe-iam uma carta em nome de Nossa Senhora, rogando-lhe que se confessasse… Uma vez que o pedido de uma mãe nunca se nega, isso seria infalível para convencê-lo!

Quais as melhores palavras para utilizar e como fazer o coronel entender o que a Mãe do Céu lhe queria dizer? Não foi outro o objeto de suas cogitações e infantis reuniões durante toda a semana. Quando, afinal, conseguiram compor a missiva, pediram ao Pe. Mateus que a corrigisse, dado que a gramática não era seu forte…

Após ter declinado suas faltas, o destemido
militar aproximou-se para receber a Comunhão

Ao anoitecer daquele dia, o Coronel Alberico entrou em casa como de costume. Margarida, sua cozinheira, disse-lhe que havia uma correspondência urgente para ele em cima da lareira. Era um pequeno envelope branco, sem selo e sem remetente…

Abriu-o com cuidado e, ao desdobrar a bela folha de papel e ler a mensagem, copiosas lágrimas correram por sua face:

“Meu querido filhinho, conheço a bravura de teu coração, conheço tuas esperanças, teus medos e até os teus problemas. Sou a Mãe do Bom Conselho, Aquela a quem recorres em tuas dificuldades. Vejo que tens coragem no serviço da Pátria, e nisto reconheço uma dádiva de meu Filho amado para ti. Entretanto, peço-te que dês um passo a mais em tua dedicação e entrega, e que aceites o meu convite: luta denodadamente contra teus defeitos e pecados, lava tua alma no sagrado tribunal da Penitência, e Eu, Maria Santíssima, tua Mãe, te prometo o prêmio da bem-aventurança final!”

Tais palavras vinham acompanhadas de tanta unção, fruto das orações ardorosas dos pequenos apóstolos, que tocaram a fundo o velho militar. Dirigiu-se ele apressadamente para a catedral, esperando ainda encontrar o sacerdote no confessionário. A alguns conhecidos e amigos seus que o paravam pelo caminho para lhe perguntar aonde se dirigia tão resoluto, respondia com convicção:

— Vou aonde muitos deveriam ir se tivessem coragem para tal!

E assim, vencendo o medo e a vergonha de reconhecer os próprios pecados, o destemido coronel declinou suas faltas ao Pe. Mateus e preparou-se para receber no dia seguinte a Comunhão junto com as crianças!

Depois destes acontecimentos, ele nunca mais teve receio de professar em público sua Fé: eis o grande prêmio que recebeu do maternal Coração de sua Mãe Santíssima! (Revista Arautos do Evangelho, Abril/2018, n. 196, p. 46-47)

 
Comentários