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História da Igreja


O trompete dourado
 
AUTOR: IR. GUSTAVO ADOLFO KRALJ
 
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Muitas vezes, o destino de uma nação está nas mãos de um pequeno grupo de heróis, ou de apenas uma pessoa. Do seu zelo e coragem pode depender o futuro de um povo inteiro.

Consumado o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, estava morta a morte e a Luz vencera as trevas, na esfera sobrenatural. Contudo, competia aos Apóstolos, discípulos e seus seguidores levarem aos quatro cantos da Terra o anúncio da Boa-nova, serem arautos do Evangelho, tornando efetivo o Reino de Cristo.

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Dubravca da Boêmia por Jan Matejko
Museu Nacional, Vratislava (Polônia) 

Assim, graças a seu zelo missionário, um povo após o outro foi ingressando no seio da Santa Igreja, pelas vias as mais variadas.
Profundas raízes cristãs do povo polonês

A Polônia, hoje uma das nações mais católicas, passou a figurar entre os povos cristãos em 966 com a conversão de Miecislau I, graças à colaboração de sua esposa, Dubravca da Boêmia, uma zelosa católica.

Foi ele também que assentou as bases do país. Ao acrescentar a Pomêrania e a Silésia às terras dominadas pela tribo dos polanos, surgiu um ducado, que mais tarde se transformaria em reino. Podemos afirmar, portanto, que a Polônia foi batizada logo após seu nascimento.

Nesse povo, a Civilização Cristã deitou profundas raízes, suscitando Santos cuja ação se estendeu pela Terra, como Santa Faustina Kowalska ou São Maximiliano Maria Kolbe. E as grandes cidades polonesas como Varsóvia e Cracóvia são famosas pela riqueza, beleza e piedade de suas inúmeras igrejas.

Nelas, invariavelmente, ­chamam atenção as torres, cuja elevação ressalta a dignidade da casa de Deus, mas também pode ter função prática vital. Foi o ocorrido no século XIII.

Uma sentinela no alto da torre

Vivia a Europa Central dias terríveis, sob a constante ameaça de invasão dos mongóis, que tinham feito incontáveis prisioneiros na Hungria e Rutênia, os quais eram vendidos aos pagãos como escravos em ­situações as mais cruéis possíveis. Tudo indicava que a Polônia seria a próxima vítima desses bárbaros. Se ela caísse, corria-se o risco de serem arrasadas outras nações da Europa. E a história da Cristandade seria outra.

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Miecislau, por Jan Matejko
Museu Nacional, Vratislava (Polônia)

Nessa época, a bela cidade de Cracóvia já se tornara importante centro comercial, atraindo a cobiça dessas hordas. Para defendê-la, as autoridades municipais estabeleceram uma sentinela constante no alto da torre da imponente Basílica de Santa Maria de Cracóvia, posto privilegiado de onde se avista todo o horizonte. E foram selecionados homens probos para essa missão. Afinal, em uma emergência, do zelo e da dedicação deles podia depender a vida de todos os cidadãos. Ao longo da História, por diversas vezes, a Divina Providência quis que a sorte de um povo ficasse subordinada à ação de uma pessoa-chave.

Cracóvia estava salva!

Em uma madrugada de 1240, enquanto a população dormia, a temida cavalaria tártara surgiu não distante da cidade. Imediatamente, a sentinela deu o alarme com um toque de trompete forte e cristalino, chamando todos ao combate. Os toques de advertência se multiplicaram, alcançando toda a região, e em pouco tempo os defensores estavam a postos nas muralhas.

Tendo perdido o fator surpresa, os atacantes se resignaram a se aproximar das torres da igreja, lançando grande quantidade de flechas. Por infelicidade, uma delas atingiu a valorosa sentinela que soava o alarme, atravessando-lhe a garganta. E o trompete silenciou…

Contudo, em vista da disposição dos poloneses de resistir a todo custo, os bárbaros decidiram partir. Cracóvia estava salva! E com ela a Polônia!

Tradição renovada de hora em hora

O valoroso homem, que salvara a cidade ao preço da própria vida, foi sepultado com grandes honras. O seu ato heroico serve de exemplo às sucessivas gerações e o seu toque de alarme ressoa de século em século até nossos dias. Sim, no alto da torre da Basílica de Santa Maria de Cracóvia, todos os dias, um toque de trompete é renovado de hora em hora, terminando exatamente na mesma nota musical em que a flecha inimiga interrompeu o alarme há 800 anos… Tornou-se símbolo do sacrifício ­patriótico, e a Rádio Nacional da Polônia transmite ao meio-dia a todo o país esses acordes que lembram o glorioso passado da nação.

Fachada da Basílica de Santa Maria, Cracóvia (Polônia).jpg
Todos os dias, um toque de trompete é renovado de hora em hora no alto da torre da
Basílica terminando exatamente na mesma nota musical em que a
flecha inimiga o interrompera

Fachada da Basílica de Santa Maria, Cracóvia (Polônia) 

Essa bela tradição se estendeu a outros países, chegando ao Cazaquistão, onde a história da valente sentinela é conhecida como a legenda do trompete dourado… (Revista Arautos do Evangelho, Setembro/2016, n. 177, pp. 24-25)

 
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