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Catecismo


A História é a luta entre o bem e o mal
 
AUTOR: PE. FERNANDO NÉSTOR GIOIA OTERO, EP
 
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O transcurso dos acontecimentos humanos não se desenrola divorciado de Deus. Pelo contrário, sendo Ele quem governa a História, esta é um constante combate contra o mal e, apesar das aparências, o bem é sempre invencível.

O processo gradual de mudança no modo de sentir e de viver, pelo qual a humanidade passa desde há séculos, atingiu seu auge no mundo atual. As mudanças por ele provocadas são tão radicais que, como comentava Bento XVI no início de seu pontificado, não é possível “sequer vislumbrar sua direção nem o que pode daí decorrer”.1

   Trata-se de um fenômeno “impalpável, sutil, penetrante como se fosse uma poderosa e temível radioatividade”, 2 cuja gradação dificulta ver a profundidade das transformações por ele causadas. Fruto deste processo, ora célere, ora vagaroso, é a crise moral sem precedentes que abarca todas as atividades humanas em nossa época, levando os homens a se afundarem cada vez mais em um neopaganismo que parece tirar-lhes a esperança.

“Como não pensar na persistente
difusão do indiferentismo religioso e do ateísmo”
São João Paulo II – Museu
Arquidiocesano de Cracóvia (Polônia)

Deus governa a História

   É interessante analisar o Salmo 32 por este prisma, que pode ser considerado como um hino paradigmático à onipotência e à justiça de Deus. Ele canta o senhorio do Altíssimo e sua fidelidade ao povo eleito, mas mostra também como é Ele quem governa o curso dos acontecimentos ao longo dos tempos: “O Senhor desfaz os planos das nações pagãs, reduz a nada os projetos dos povos. Só os desígnios do Senhor permanecem eternamente e os pensamentos de seu coração por todas as gerações” (Sl 32, 10-11).

   Para destacados comentaristas, “a perspectiva do salmista se estende à surda luta entre o bem e o mal na História. Toda a trama bíblica gira em torno de um drama que é a batalha entre aqueles que representam os interesses de Deus e se empenham em plasmar seus desígnios na História e, de outro lado, os que se opõem a essa marcha religiosa da História”.3

   Tais são os dias em que vivemos! “Estamos nos lances supremos de uma luta, que chamaríamos de morte se um dos contendores não fosse imortal, entre a Igreja e a Revolução”. 4 Contenda na qual pretendem os inimigos da Igreja extinguir a vida cristã na sociedade e a consequente visão religiosa do universo, no intuito de substituí-los por modos de ser e de agir diametralmente contrários.

A maior confrontação histórica presenciada pela humanidade

   Já em fins de 1958, São João XXIII estimulava os católicos a ver de frente este panorama e a tomar uma posição: “Nesta hora terrível em que o espírito do mal busca todos os meios para destruir o Reino de Deus, devemos pôr em ação todas as energias para defendê-lo”.5 Alguns anos depois, um dos mais importantes documentos do Concílio Vaticano II nos advertia que “um duro combate contra os poderes das trevas atravessa, com efeito, toda a História humana; começou no princípio do mundo e, segundo a palavra do Senhor (cf. Mt 24, 13; 13, 24-30.36-43), durará até ao último dia”.6

   Bem se aplicam aos dias presentes as palavras que teriam sido pronunciadas pelo Cardeal Wojtyla em 1976, dois anos antes de ascender ao Sólio Pontifício: “Estamos agora perante a maior confrontação histórica presenciada pela humanidade. […] Deparamo-nos com o embate final entre a Igreja e a anti-Igreja, o Evangelho e o antievangelho”.7

   Em outros termos, “enquanto este mundo durar, a História será sempre teatro do conflito entre Deus e satanás, entre o bem e o mal, entre a graça e o pecado, entre a vida e a morte”.8

O mal se infiltra para destruir o Reino de Deus

   Passados os limiares do terceiro milênio e já bem entrados no século XXI, o processo mudou um tanto de figura, tendo, ao mesmo tempo, chegado a seu paroxismo.

   Com enérgicas palavras alertava Bento XVI o Colégio Cardinalício a respeito de uma perigosa tática dos inimigos da Igreja: a de usar a máscara do bem, para atacá-la. Diz ele: “Hoje, a expressão Ecclesia militans está um pouco fora de moda, mas na realidade podemos compreender cada vez melhor que é verdadeira, contém em si mesma a verdade. Vemos como o mal quer dominar no mundo e que é necessário travar uma luta contra o mal. Vemos como o faz de muitos modos cruentos, com diversas formas de violência, mas também com a máscara do bem e, precisamente assim, destruindo os fundamentos morais da sociedade”.9

   Afirmar que “o mal quer dominar no mundo” equivale a reconhecer que a obra de satanás visa conquistar todo o orbe. E age muitas vezes de maneira dissimulada para alcançar com maior facilidade seu objetivo de dessacralizar a sociedade humana, atingindo as sagradas portas da vida eclesial, quando não o seu interior.

   Em seu livro O sentido teológico da Liturgia, Cipriano Vagaggini,10 destacado teólogo contemporâneo, mostra como este combate se trava vigorosamente na Igreja, em especial no campo da Liturgia, e adverte com clareza que satanás é o principal antagonista do Reino de Deus e do mistério de Cristo.

Nos negros panoramas do mundo atual,
a promessa da Virgem Santíssima ressoa
nos ouvidos de todos

Imagem Peregrina do Imaculado Coração de
Maria pertencente aos Arautos do Evangelho

Luta por Cristo ou contra Cristo

   Agrava esta situação o fato, apontado pelo mesmo Vagaggini, de que numerosíssimos fiéis perderam o senso vivo de uma verdade de Fé: “Um aspecto essencial da vida cristã é seu desenvolvimento concreto como uma luta contínua contra satanás e seus satélites”.11 Esquece-se hoje de que a vida do católico é “um dramático e incessante combate não apenas contra o mal abstrato e impessoal, nem só contra nossas paixões e más tendências, senão, em última análise, contra o maligno e seus sequazes”.12

   O Discípulo Amado menciona explicitamente esta militância em sua primeira epístola: “Eis por que o Filho de Deus Se manifestou: para destruir as obras do demônio” (I Jo 3, 8). E o Cardeal Ratzinger, pouco antes de receber o ministério petrino, declarava que “a Igreja existe para exorcizar o avanço do inferno sobre a terra, e torná-la habitável pela luz de Deus”,13 para desta maneira se efetivar o pedido expresso na Oração Dominical: “Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu”.

   Também Pio XII, na Encíclica Evangelii præcones escrita em 1951, alertava o mundo católico: “O gênero humano quase todo tende hoje rapidamente a separar-se em dois opostos campos de batalha: por Cristo ou contra Cristo. Vê-se agora num momento decisivo, de que há de sair ou a salvação de Cristo ou tremenda ruína”.14

   E poucos dias antes do lançamento deste importante documento, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, insigne perscrutador dos passos de Deus na História, exprimia em termos candentes a gravidade do problema: “Quantos são os que vivem em união com a Igreja este momento que é trágico como trágica foi a Paixão, este momento crucial da História, em que uma humanidade inteira está escolhendo por Cristo ou contra Cristo?”15

Desafio a Deus: o joio se misturou ao trigo

   Vivemos tempos que poderíamos qualificar de desafio a Deus. Acumulam-se situações e problemas de todos os tipos no mundo hodierno. Enquanto nele se multiplicam os progressos no campo da ciência e da técnica, cresce a iniquidade e expande-se o mal.

   Não faltam, em nossos dias, hostilidades contra a ação salvífica da Igreja. A avalanche hedonista e relativista da sociedade de consumo “tende a empurrar e desarraigar a cultura cristã dos povos”. 16 Há décadas atrás nos alertava São João Paulo II: “Como não pensar na persistente difusão do indiferentismo religioso e do ateísmo nas suas mais variadas formas, particularmente naquela que hoje talvez seja a mais espalhada, a do secularismo?” 17

   A grande maioria dos homens se deixa arrastar pelos prazeres pecaminosos, pelos vícios. Criou-se uma campânula de silêncio a respeito do contínuo avanço do mal. Os bons se amedrontam. “Como crescem juntos no campo evangélico o joio e o bom trigo, assim na História […] encontram-se, lado a lado, por vezes profundamente emaranhados entre si, o mal e o bem, a injustiça e a justiça, a angústia e a esperança”. 18

A era do mal está próxima de seu fim…

   Nestes difíceis dias em que nos cabe viver, é urgente recordar aos homens o pulchrum, a santidade e a imortalidade da Igreja. Mais do que nunca é preciso dar à humanidade “um admirável testemunho e exemplo desta santidade”,19 a fim de conduzi-la à conversão.

   Para isso, volvamos nossos pensamentos às proféticas palavras de Nossa Senhora de Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.20 Nos negros e fuliginosos panoramas do mundo atual, em que o predomínio do mal atingiu um auge inimaginável, a promessa da Virgem Santíssima ressoa aos ouvidos de todos como garantia do triunfo do bem em nossa quadra histórica.

   A confiar nesta promessa como a certeza da vitória final sobre o mal nos incita Mons. João Scognamiglio Clá Dias: “Trata-se de uma majestosa promessa portadora de paz, de entusiasmo e de luz! […] E tendo chegado, agora, o centenário das aparições de Fátima, pode- -se afirmar com toda segurança que a era de maldade e afastamento de Deus em que vivemos está próxima do fim!”21

   Sim, aos olhos dos homens de fé já reluz a aurora da feliz era na qual a Rainha dos Anjos estabelecerá seu maternal império nas almas, nas famílias, em todos os povos e nações. E mais uma vez na História se verificará a vitória do bem sobre o poder das trevas, pois a Igreja é imortal e “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18)! (Revista Arautos do Evangelho, Outubro/2017, n. 190, pp. 17 à 19)

1 RATZINGER, Joseph. La sal de la tierra: quién es y cómo piensa Benedicto XVI. Una conversación con Peter Seewald. 9.ed. Madrid: Palabra, 2006, p.248. 2 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra- -Revolução. 5.ed. São Paulo: Retornarei, 2002, p.13. 3 CORDERO, OP, Maximiliano García; PÉREZ RODRÍ- GUEZ, Gabriel. Biblia Comentada. Libros Sapienciales. 2.ed. Madrid: BAC, 1967, v.IV, p.322. 4 CORRÊA DE OLIVEIRA, op. cit., p.197. 5 SÃO JOÃO XXIII. Radiomensagem à população de Messina, 28/12/1958. 6 CONCÍLIO VATICANO II. Gaudium et spes, n.37. 7 WEIGEL, George. Witness to Hope. The Biography of Pope John Paul II. Nova York: Harper Collins, 1999, p.226. 8 SÃO JOÃO PAULO II. Homilia na festa da Assunção de Nossa Senhora, 15/8/1998, n.2. 9 BENTO XVI. Discurso no final do almoço oferecido ao Colégio Cardinalício, 21/5/2012. 10 Cf. VAGAGGINI, OSB, Cipriano. El sentido teológico de la Liturgia. Ensayo de Liturgia teológica general. Madrid: BAC, 1959, p.340-341. 11 Idem, p.328. 12 Idem, ibidem. 13 RATZINGER, Joseph. Convocados en el camino de la Fe. La Iglesia como comunión. Madrid: Cristiandad, 2004, p.295. 14 PIO XII. Evangelii præcones, n.69. 15 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Via-Sacra. VIII Estação. In: Catolicismo. Campos dos Goytacazes. Ano I. N.3 (Mar., 1951); p.5. 16 COMISSÃO PONTIFÍCIA PARA A AMÉRICA LATINA. Mensagem para o Dia Hispano-Americano nas dioceses da Espanha, 4/3/2012. 17 SÃO JOÃO PAULO II. Christifideles laici, n.4. 18 Idem, n.3. 19 CONCÍLIO VATICANO II. Lumen gentium, n.39. 20 IRMÃ LÚCIA. Memórias I. Quarta Memória, c.II, n.5. 13.ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2007, p.177. 21 CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará! São Paulo: Lumen Sapientiæ, 2017, p.127-128.

 
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