A virtude do pudor é quase esquecida em nossos dias. Na enganosa tentativa de ignorar a sadia vergonha experimentada por nossos pais depois do primeiro pecado, o mundo moderno promove modos de vestir e de apresentar-se muito distantes do recato e da modéstia aconselhados pela Santa Igreja, Mãe primorosa e vigilante.
A esse propósito, convém lembrar a profecia feita por Santa Jacinta Marto, vidente de Nossa Senhora em Fátima: “Os pecados que levam mais almas para o inferno são os pecados da carne. Hão de vir umas modas que hão de ofender muito a Nosso Senhor”.1
A previsão da tenra menina espanta pela clarividência e pelo acerto… No entanto, haveria um sentido mais profundo neste vaticínio feito em 1918, quando os trajes eram tão outros? Para entender o alcance das palavras da pastorinha seria necessário recordar alguns pontos candentes da moral cristã.
José e a mulher de Putifar, por Friedrich Oberveck – Alte Nationalgalerie, Berlim |
Castidade e pureza do olhar
Antes de mais nada, é preciso traçar brevemente a doutrina católica a respeito da concupiscência dos olhos, mencionada por São João em uma de suas epístolas (cf. I Jo 2, 16).
A virtude da castidade só reina em paz nos corações que se protegem erguendo a muralha da guarda das vistas. Sem este anteparo ela será destronada e a ruína da alma se tornará irremediável. Assim o comprova a História, como veremos em alguns exemplos.
Davi, o rei-profeta, precipitou-se no abismo do adultério e do homicídio porque fitou com malícia Betsabé (cf. II Sm 11, 2-27). O olhar impuro acendeu em seu espírito uma chama devoradora. E, como bem diz o Livro dos Provérbios, “pode alguém esconder fogo em seu seio sem que suas vestes se inflamem” (6, 27)?
Nos tempos do profeta Daniel, dois malvados anciãos cobiçaram em seu coração a casta Suzana e tentaram, em vão, pecar com ela, constringindo-a com ameaças. Vendo-se rechaçados pela íntegra dama, acusaram-na falsamente de adultério, mas Deus veio em socorro de sua filha inocente. Por meio de Daniel, salvou-a da garra dos homens perversos e condenou-os à pena que haviam tentado infligir à vítima de seu ânimo luxurioso.
Velhos encarquilhados, mereceram ouvir a increpação do profeta: “Filho de Canaã! Tu não és judeu: foi a beleza que te seduziu, e a concupiscência que te perverteu” (Dn 13, 56).
Para estes dois miseráveis teria sido de utilidade aplicar os sábios princípios do Eclesiástico: “Desvia os olhos da mulher elegante, não fites com insistência uma beleza desconhecida. Muitos pereceram por causa da beleza feminina, e por causa dela inflama-se o fogo do desejo” (9, 8-9).
“O olho é a luz do teu corpo”
Também o patriarca José tornou-se alvo da concupiscência dos olhos. Feito escravo pela traição de seus irmãos, foi vendido no Egito a Putifar, chefe da guarda do rei, o qual, admirado com a virtude daquele hebreu, confiou-lhe o cuidado de seus bens.
Ora, José “era belo de corpo e de rosto” (Gn 39, 6) e a esposa de Putifar, tomada por paixão desordenada, “lançou seus olhos” (Gn 39, 7) no escravo do marido e lhe propôs o que não é agradável ao Senhor. José, fiel à Lei Divina, rejeitou a péssima solicitação da mulher, recebendo em troca a calúnia e a prisão. A fidelidade do grande patriarca foi mais tarde premiada por Deus, que o fez conquistar a confiança do faraó (cf. Gn 41, 42-44).
Esses episódios mostram o sentido profundo do ensinamento do Divino Mestre: “O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas” (Mt 6, 22-23).
De fato, a vista é a porta dos desejos, de tal sorte que “todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração” (Mt 5, 28). A concupiscência do olhar provém da ferida causada no coração humano pelo pecado original, que afetou todos os homens e mulheres.
Como ignorar, então, a existência de modos de vestir perigosos, próprios a pôr em risco a pureza daqueles que veem e observam quem assim se apresenta? Em sentido contrário, os trajes idealizados com modéstia e elegância auxiliam a casta guarda dos olhos.
Pudor de nossos primeiros pais
O Gênesis narra com terna candura a criação de Eva a partir da costela de Adão. Ela veio a ser a auxiliar ideal para o primeiro homem, carne de sua carne e osso de seus ossos (cf. Gn 2, 23).
A Beata Ana Catarina Emmerick observou em suas visões que o casal, criado na amizade com Deus e ornado com o dom da graça santificante, emitia certo resplendor: “Eva estava de pé, diante de Adão, e este lhe deu a mão. Eram como duas crianças inocentes, maravilhosamente belos e nobres. Estavam luminosos, cobertos de luz, como se fosse um vestido brilhante”.2
Adão e Eva viviam na intimidade de Deus como descreve o autor sagrado ao narrar que o Senhor descia “à hora da brisa da tarde” (Gn 3, 8) para conversar com eles no Éden. Por isso mesmo refletiam em suas feições o brilho da graça espiritual que o Pai de todas as luzes havia impresso em suas almas.3
Além do esplendor da graça sobre os corpos, os olhares de Adão e Eva eram límpidos. O Gênesis faz questão de frisar a pureza com que nossos pais se viam no estado de inocência em que foram criados, a fim de se complementarem e serem fecundos, segundo o mandato de Deus ao abençoá-los: “Frutificai, disse Ele, e multiplicai- -vos, enchei a terra” (Gn 1, 28). Tão feliz estado, porém, não durou muito, vindo a macular horrivelmente a potência visiva, depois de ambos terem dado ouvidos ao inimigo mortal da raça humana.
Batismo administrado por Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias na Catedral de São Paulo |
Consequências do pecado original
Em sua astúcia, a maldita serpente enganou Eva prometendo-lhe que se comesse o fruto da árvore da ciência, proibido por Deus, seus olhos se abririam e tanto ela quanto seu marido seriam “como deuses” (Gn 3, 5).
A realidade, porém, foi diametralmente oposta: por causa da desobediência, o olhar humano recebeu uma ferida profunda que não o tornou semelhante à clarividência divina, senão à espreitadela sinistra do demônio. Contagiados pelo pecado original, todos os degredados filhos de Eva herdaram deles as vistas escurecidas pela mancha da cobiça, do egoísmo e da sensualidade.
Em decorrência da queda, o olhar entenebrecido deparou-se com a própria nudez, dando lugar ao sentimento de vergonha – em latim pudicitia, de onde se deriva o termo pudor –, que levou Adão e Eva a procurarem às pressas um meio de se cobrir: “Vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si” (Gn 3, 7).
Já não se entreviam como filhos de Deus, feitos à sua imagem e envoltos em luz. A percepção do outro ficou conspurcada, perdeu-se aquela refulgência que tornava limpo o olhar, bem como pulcros e diáfanos os traços físicos do primeiro casal.
O horror do próprio aviltamento experimentado após a culpa simboliza não só um fenômeno exterior, mas sobretudo o apagar-se da luz da graça em seus corações. Em função disso, o homem tende a considerar seu próximo com sórdido interesse, pois é a partir do obscurecimento dos espíritos que se degradaram os sentidos exteriores, inclusive o mais nobre, da visão, pela estreita relação entre alma e corpo.
“Divina vestimenta” feita pelo Supremo Alfaiate
Todavia, Deus não os abandonou à sua imperícia e, compadecido pelo precário traje com que procuravam disfarçar sua desonra, Ele mesmo fez “para Adão e sua mulher umas vestes de peles, e os vestiu” (Gn 3, 21). Apesar de não ter curado a chaga da vergonha, o Senhor deu-lhes pronto e eficaz remédio.
Assim agirá a Providência ao longo da História. A graça concedida por Deus no Batismo não suprime as más tendências, fruto do primeiro pecado, como a concupiscência dos olhos, mas dá as forças para vencê-las mediante a ascese, a fim de merecer prêmio ainda maior na glória do Céu.
A arte de vestir-se com recato, modéstia e elegância constituirá não só a salvaguarda dos olhares, como também um sinal de esperança na salvação vinda do Alto, pois o traje com que o Criador cobriu nossos pais é símbolo da graça que nos reconcilia com Ele e da glória com que serão recobertos nossos corpos no Céu.
Esta estreita relação entre o traje exterior e o revestimento da alma pela graça da reconciliação evidencia-se no oráculo do profeta Isaías: “Com grande alegria eu me rejubilarei no Senhor e meu coração exultará de alegria em meu Deus, porque me fez revestir as vestimentas da salvação” (61, 10).
Em síntese, a “divina vestimenta” feita pelo Supremo Alfaiate foi, ao mesmo tempo, misericordiosa cobertura, remédio da concupiscência, promessa de Redenção e penhor da vitória definitiva no Céu.
Desponta a aurora de uma era de pudor
A virtude do pudor,4 que ensina a prática da casta nobreza no vestir-se e no apresentar-se, foi fortemente apreciada por aqueles que nos antecederam com o sinal da Fé. Os primeiros cristãos, à diferença dos pagãos marcados pelo relaxamento moral que os levava a cultuar os próprios corpos com laivos de idolatria,5 assinalaram-se pela elevada consideração da pureza até seus últimos desdobramentos.
Na ata do martírio de Santa Perpétua, no ano 203 da Era Cristã, narra-se um detalhe comovedor. Expuseram a jovem junto com Santa Felicidade no anfiteatro de Cartago, a fim de serem justiçadas no decurso dos jogos e das diversões, segundo o primitivo e brutal costume. Uma vaca selvagem muito agressiva deveria dar cabo à vida de ambas. A primeira a ser lançada ao alto pela investida da besta foi Perpétua e, narra o cronista, ela “caiu de costas, mas em seguida pôs-se sentada e, arranjando sua túnica levantada, cobriu a perna, lembrando-se do pudor antes da dor”.6
E Santa Inês, mártir da castidade, dá um belo testemunho de fé, na certeza de que se manteria na integridade do pudor, quando o magistrado romano a quer induzir ao pecado: “Não creiais, respondeu-lhe Inês, que Jesus Cristo abandona tão facilmente suas esposas. Ele as quer demasiado e as ama com muita delicadeza, para fazê-las sofrer impunemente a perda de seu pudor, e está sempre pronto a socorrê-las”.7
Ambientes desfavoráveis à prática da virtude
A decência dos cristãos estendeu-se à restrição do uso das termas romanas que, nos tempos do Cristianismo nascente, constituía um costume pagão várias vezes secular, justificado pela necessidade da higiene e do espairecimento.
A vida das cidades girava em torno a esses balneários – houve época em que existiram mais de mil na cidade de Roma –, de forma que não os frequentar significava excomungar-se da sociedade. Infelizmente neles reinava um clima avesso ao pudor ensinado pela Igreja. Em certos períodos de especial decadência, chegaram a ser tão escandalosos que preocuparam imperadores pagãos, como Adriano, a ponto de ditarem leis para proibir a frequência mista nas termas oficiais do império.
Para os cristãos, tais ambientes eram altamente desfavoráveis à prática da virtude da castidade, uma perigosa e sedutora ocasião próxima de pecado. Como reagir? Os Padres da Igreja, em sua pregação, deixaram linhas admiráveis de zelo e coragem, ao exigir do rebanho atitudes decididas e intransigentes. Não tinha dito São Paulo que nada poderia separar os fiéis do amor de Cristo?
Santa Inês – Igreja de Santa Maria, Waltham (EUA) |
Não seria o ambiente mundano e sensual das termas que faria capitular os filhos da Igreja! Um batizado não se imergiria naquele clima de moleza e de luxúria, abrindo seu coração ao espírito dominante, tão contrário ao de seu Senhor!
Nesse sentido, vale a pena lembrar um trecho do tratado de São Cipriano dedicado às virgens: “O que dizer das que frequentam banhos promíscuos, que expõem a olhos curiosos e sensuais os corpos consagrados ao pudor e à pureza? […] Fazes do banho um espetáculo; vais a lugares mais indecorosos do que o teatro. Despe-se aí toda a vergonha; juntamente com a veste, se depõe a honra e o pudor do corpo; a virgindade se desnuda a fim de ser observada e contemplada. […] Frequentem-se os banhos em companhia de mulheres entre as quais o banho seja modéstia para convosco”.8
A corajosa intolerância dos pastores e as legislações de diversos concílios regularam e limitaram de tal maneira o uso dos banhos mistos, que eles terminaram caindo em desuso. O influxo social do Cristianismo havia triunfado graças à intransigência evangélica de pastores íntegros e virginais na Fé, fiéis às exortações do Divino Inocente: “Se teu olho te leva ao pecado, arranca-o e lança-o longe de ti” (Mt 18, 9).
“Revesti-vos do Senhor Jesus!”
O incentivo do pudor estendeu-se também às modas mundanas e pouco decentes. São João Crisóstomo, numa de suas Catequeses batismais, increpa a mulher imodesta: “Vais acrescentando enormemente o fogo contra ti mesma, porque excitas os olhares dos jovens, atrais os olhos dos licenciosos e crias perfeitos adúlteros, com o que te tornas responsável da ruína de todos eles”.9
Mas, além de ensinar a decência e a modéstia no modo de apresentar-se, a virtude do pudor estimula a elegância e o decoro no trajar, pois sendo o vestido símbolo da graça santificante recebida no Batismo e signo da glória da Jerusalém Celeste, deve realçar a dignidade de filhos de Deus destinados a reinar eternamente com Ele.
Com efeito, a graça santificante é comparada por São Paulo ao traje: “Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo” (Gal 3, 27). Após ter exortado os cristãos de Roma a viverem com retidão, longe dos vícios e paixões censuráveis, ele afirma: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não façais caso da carne nem lhe satisfaçais aos apetites” (Rm 13, 14).10 E para enfrentar os combates da Fé, aos efésios recomenda que se revistam da armadura de Deus a fim de resistir às insídias do demônio (cf. Ef 6, 11-17).
Em sentido oposto, o espírito das trevas alimenta sórdida simpatia pela desvergonha. É o que nos revela o episódio do endemoniado de Gerasa relatado no Evangelho: “Veio-Lhe ao encontro um homem dessa região, possuído de muitos demônios; há muito tempo não se vestia nem parava em casa” (Lc 8, 27). Depois da ação exorcística de Nosso Senhor, o mesmo personagem aparece coberto de uma túnica, sentado aos pés de seu Libertador, ouvindo com atenção as divinas palavras (cf. Lc 8, 35). Fica patente quanto ama Jesus a casta vestimenta e quanto o demônio incentiva a imodéstia.
Vestes nupciais alvejadas no Sangue do Cordeiro
Tal predileção divina pelo traje se encontra manifesta na parábola do banquete nupcial narrada por São Mateus. O Mestre ambienta seus ensinamentos propondo a cena da festa de casamento do filho do rei. É uma clara alusão à reunião festiva dos Santos no Céu, em torno à glória do Filho.
Ao banquete foram convidados nobres e ricos, que declinaram seu comparecimento por motivos fúteis. Foi então que os servos do soberano se dirigiram às encruzilhadas para recrutar todos os que por ali passassem.
Repleto de convivas o salão do palácio, o rei entrou para cumprimentá- -los e notou que um não se apresentara dignamente trajado. Dirigindo-se a este, perguntou-lhe: “Meu amigo, como entraste aqui, sem a veste nupcial? O homem não proferiu palavra alguma. Disse então o rei aos servos: Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 22, 12-13).
A veste nupcial vai reaparecer com todo o seu esplendor no Apocalipse de São João. De fato, na vida eterna se renovarão todas as coisas (cf. Ap 21, 5) e será abolida a concupiscência dos olhos, bem como o sentimento de vergonha de nossos pais. Entretanto não desaparecerá o vestido. Ao contrário!
O Evangelista contempla, numa de suas grandiosas visões, uma multidão imensa que ninguém pode contar, “de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão” (7, 9).
Continua o Apóstolo Virgem: “Então um dos Anciãos falou comigo e perguntou-me: ‘Esses, que estão revestidos de vestes brancas, quem são e de onde vêm?’ Respondi-lhe: ‘Meu Senhor, tu o sabes’. E ele me disse: ‘Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no Sangue do Cordeiro. Por isso, estão diante do trono de Deus e o servem, dia e noite, no seu templo. Aquele que está sentado no trono os abrigará em sua tenda’” (7, 13-15).
Decerto a brancura das túnicas dos vencedores tem ligação com o costume militar romano de ver desfilar as legiões após um triunfo marcial, revestidos de túnicas brancas e palmas, sinal de vitória. Todavia, à luz do episódio da Transfiguração descrito por São Marcos, pode-se estabelecer também a relação entre a túnica branca dos Santos e as vestes do mesmo Jesus que, na epifania do Tabor, “tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal, que nenhum lavadeiro sobre a terra as pode fazer assim tão brancas” (Mc 9, 3).
Adoração do Cordeiro Místico, por Jan Van Eyck Museu de Belas Artes de Gante (Bélgica) |
Sinal profético de nossa condição celestial
Efetivamente, o ato da criação do homem e da mulher no Éden tinha, em sua natural inocência, o propósito de realçar a complementariedade do primeiro casal com vistas ao Sacramento do Matrimônio e à multiplicação da espécie. No Céu, porém, não será assim: “Na ressurreição dos mortos, os homens não tomarão mulheres, nem as mulheres, maridos, mas serão como os Anjos nos Céus” (Mc 12, 25).
Eis o sentido da vestimenta dos Bem-aventurados. Não se tratará de cobrir a vergonha, filha do pecado, já que ela não existirá mais. Será posta em realce, isto sim, a nova condição angélica dos homens! O vestido nesta terra é, pois, sinal profético de nossa futura condição celestial.
Da esperança na vida eterna decorre, em certa medida, o bom gosto no trajar que caracterizou a Civilização Cristã, rica em vestimentas nobres, sóbrias e dignas, com que se apresentavam ricos e pobres. Nos dias de hoje a vulgaridade, levada quase ao extremo do absurdo, domina as modas e impõe de forma arbitrária o gosto pelo envelhecido, pelo rasgado e pelo sumário. Comercia-se com peças degradadas, vendidas a preços exorbitantes, e muitas pessoas sacrificam-se para não parecerem antiquadas…
Como seria mais sensato e mais católico voltar os olhos para o Alto, onde está Cristo Jesus com seus Anjos, e, inspirando-se no anseio da vida sem fim, revestir-se de decência e de pudor, com discreta e casta elegância. (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2019, n. 209, p. 16-21)
1 DE MARCHI, IMC, João M. Era uma Senhora mais brilhante que o sol. 8.ed. Fátima: Missões Consolata, 1966, p.291. Santo Afonso, ao comentar o sexto e nono preceitos do Decálogo, faz uma afirmação quase idêntica: “Este vício [a luxúria] é a matéria mais frequente e copiosa nas Confissões, pelo qual caem mais almas no inferno, e ainda não duvido em afirmar que só por ele, ou ao menos não sem ele, se condenam todos os réprobos” (NEYRAGUET, Dieudonné [Org.]. Compendio de la Teología Moral de San Alfonso María de Ligorio. 3.ed. Madrid: Viuda de Palacios e Hijos, 1852, p.230). 2 BEATA ANA CATARINA EMMERICK. Visiones y revelaciones completas. Visiones del Antiguo Testamento. Visiones de la vida de Jesucristo y de su Madre Santísima. Buenos Aires: Guadalupe, 1952, t.II, p.16. 3 Esta misteriosa luminosidade voltará a se manifestar mais tarde, de maneira excepcional, em Moisés: “Descendo do monte, Moisés não sabia que a pele de seu rosto se tornara brilhante, durante a sua conversa com o Senhor” (Ex 34, 29). E, na plenitude dos tempos, a veremos fulgurante na glória incomparável do Filho de Deus, que se manifestará no alto do Tabor de forma perfeitíssima: “Seu rosto brilhou como o sol, suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura” (Mt 17, 2). 4 O atual Catecismo da Igreja Católica, ao comentar o Nono Mandamento da Lei de Deus, define o pudor com termos bem precisos: “O pudor é parte integrante da temperança. O pudor preserva a intimidade da pessoa. Designa a recusa de mostrar o que deve ficar oculto. Ordena-se à castidade e comprova-lhe a delicadeza. Orienta os olhares e as atitudes em conformidade com a dignidade das pessoas e com a união que existe entre elas. […] O pudor é modés tia. Inspira a escolha do vestuário, mantém o silêncio ou o recato onde se adivinha o perigo duma curiosidade malsã. O pudor é discrição” (CCE 2521-2522). 5 Quanto a render qualquer culto ao corpo, Santo Agostinho é bem incisivo: “É um crime render culto ao corpo ou à alma no lugar do Deus verdadeiro, só por cuja inabitação a alma é feliz; quanto mais abominável é render-lhes culto de tal forma que o corpo ou a alma do que o rende não obtenha nem a salvação nem a glória humana!” (SANTO AGOSTINHO. De Civitate Dei. L.VII, c.27, n.2. In: Obras Completas. Madrid: BAC, 1958, v.XVI, p.494). 6 RUIZ BUENO, Daniel (Org.). Actas de los mártires. 5.ed. Madrid: BAC, 2003, p.437. 7 RUINART, Teodorico (Org.). Las verdaderas actas de los mártires. Madrid: Ioachin Ibarra, 1776, t.III, p.24. 8 SÃO CIPRIANO DE CARTAGO. A conduta das virgens, n.19; 21. In: Obras Completas I. São Paulo: Paulus, 2016, p.38-39. 9 SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Catequesis V, n.37. In: Las catequesis bautismales. 2.ed. Madrid: Ciudad Nueva, 2007, p.118-119. 10 O Apóstolo das Gentes também aconselha aos colossenses: “Mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes. […] Vós vos despistes do homem velho com os seus vícios, e vos revestistes do novo, que se vai restaurando constantemente à imagem d’Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento. […] Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência” (Col 3, 5-6.9-10.12).