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Espiritualidade


A Ressurreição do Senhor
 
AUTOR: MONS. JOÃO CLÁ DIAS, EP
 
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O Tempo de Páscoa

Introdução:

A importância capital da Páscoa da Ressurreição, a magna festa da Cristandade, a mais antiga, e centro de todas as outras, solene, majestosa é pervadida de júbilo: “Esse é o dia que o Senhor fez, seja para nós dia de alegria e felicidade”.(Sl.117,24) São Paulo, Apóstolo, ressaltará o valor desse grandioso acontecimento: : “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a nossa fé”(1 Cor.15.14). Na liturgia, essa alegria é prolongada pela repetição da palavra “aleluia”, pelo branco dos paramentos e pelos cânticos de exultação. Com razão dizia Tertuliano: – “Somai todas as solenidades dos gentios e não chegareis aos nossos cinqüenta dias de Páscoa”. Ora, entre os acontecimentos daqueles dias, há episódios que passam muitas vezes despercebidos; porém, bem analisados, revelam em toda a sua força o poder do amor.

Oração Preparatória: Ó Imaculado e Sapiencial Coração de Maria, nós Vos oferecemos esta meditação, em reparação a todas as ofensas que recebeis pelos pecados cometidos por toda a Humanidade. E concedei-nos o dom de participar do júbilo glorioso do Vosso Imaculado Coração, inundado de inefável consolação, no momento em que foi restituído à alegria pela triunfal Ressurreição de Jesus. Amém

* * *

I – As ressurreições ao longo dos tempos.

O profeta Elias operara a ressurreição do filho da viúva de Sarepta, em casa de quem vivia. (1Rs 17, 17-24). Mais tarde, o mesmo faria Eliseu com o filho de uma sunamita (2Rs 4, 17-37).

O próprio Salvador, tomado de pena ao encontrar o cadáver da filha de Jairo, ordenou às mulheres que não mais chorassem, pois a menina apenas dormia. Jesus conservou consigo somente os pais e três apóstolos e, tomando-a pela mão, disse-lhe: “Menina, eu te ordeno, levanta-te!”. Ela se pôs de pé cheia de vida e de alegria. Maravilhados com o prodígio, os pais nem se deram conta de que a jovenzinha precisava se alimentar, e o próprio Mestre teve de lhes lembrar isto. (Mc 5, 35-43).

A compaixão de Jesus pelos sofrimentos humanos se manifestou novamente ao deparar Ele com um enterro, na cidade de Naim. Todos caminhavam consternados em extremo, pois falecera o filho de uma viúva, seu único sustento. O féretro encontrava-se cercado por gente desfeita em pranto. As misericordiosas entranhas de Nosso Senhor se comoveram: “Não chores”, diz Ele à pobre mãe. E, colocando sua onipotência divina a serviço de sua bondade infinita, diz: “Moço, eu te ordeno, levanta-te!” Obedecendo à solene voz do Criador, começou a falar aquele que havia pouco ainda era defunto. Jesus tomou-o pela mão e o entregou a sua mãe (Lc 7, 11-16 ).

1 – Os sentimentos fortes e harmônicos do Coração de Jesus …

A mais impressionante de todas as ressurreições operadas por Jesus foi, sem dúvida, a de Lázaro. Maria, irmã do morto, advertiu o Mestre de que o cadáver já estava em decomposição, pois recebera o ósculo da morte quatro dias antes. Entretanto, apesar de saber Jesus que o milagre a ser efetuado aguçaria a inveja dos fariseus e, assim, apressaria sua própria morte, Ele ansiava ardentemente cumprir os desígnios do Pai. No Sagrado Coração de Jesus encontram-se, então, dois fortes sentimentos harmônicos: a compaixão por seu amigo Lázaro e pelas irmãs dele, e a pressa em realizar a finalidade de sua Encarnação.

Manda que se remova a lápide da entrada do túmulo. Um repugnante odor se espalha entre os presentes. Uma voz possante e onipotente ordena: “Lázaro, vém para fora!” À boca do túmulo cavado na pedra, um cadáver revivescido apresenta-se com dificuldade, com vendas por todo o corpo. Uma nova determinação; diz Nosso Senhor: “Desatai-o e deixai-o ir”, com divina serenidade. Era a mesma voz à qual os ventos e os mares obedeciam … (Jo 11, 38-44).

Ao longo da Era cristã haverá outras ressurreições: São Pedro fará retornar à vida Tabita (At 9, 36-46); São Paulo, com um abraço, reerguerá da morte o jovem Êutico (At.20,9-12); São Bento devolverá com saúde, a um camponês, o filho, cujo corpo inerte havia sido posto à porta do mosteiro.

Contudo, se numerosas foram as ressurreições ao longo dos tempos, no que a Ressurreição de Cristo se distingue das demais ? (1)

II – A maior prova da divindade.

“Tenho o poder para entregar a minha vida, bem como para a reassumir” ( Jo.10,18 )

Nunca ninguém profetizou seu próprio retorno à vida terrena. Menos ainda, aconteceu de alguém operar por seu próprio poder esse milagre tão acima da natureza criada. Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou, porque não era apenas homem, mas também Deus.

A morte de Cristo consistiu na separação da alma e do corpo, como na morte dos outros seres humanos. Mas a divindade estava de tal modo ligada ao homem Cristo, que, apesar da alma e do corpo terem se separado, a própria divindade sempre esteve unida ao corpo e à alma de um modo perfeitíssimo. É necessário, pois, que creiamos não apenas que Ele se fez homem e que morreu para nossa Redenção, bem como que ressurgiu dos mortos.

São Tomás de Aquino completa: …e a divindade do Verbo jamais se separou nem da sua alma, nem do seu corpo. Por isso, o corpo reassumia a alma e o corpo, quando queria. !

Quando professamos a nossa fé, rezando no Credo, ressuscitou … e não, foi ressuscitado, como se o fosse por outro, é porque Jesus Cristo por sua própria força entregou a alma, reassumindo-a também, por força própria! Então, podemos ler nos Salmo 3, 6….”adormeci, e estive sepultado no sono e levantei-me.”

Outra diferença ainda entre a Ressurreição de Cristo e a dos outros, é devido ao tipo de vida para a qual o morto ressuscitou. Quando Lázaro, por exemplo, foi ressuscitado, retornou para a mesma vida de antes – vida terrena e corruptível -,ao passo que Cristo ressuscitou para vida gloriosa e incorruptível. (2)

Ao contemplarmos com júbilo o triunfo de Jesus Cristo ressuscitado, juntemo-nos à Nossa Senhora, aos Apóstolos, aos Anjos,com toda a Igreja transbordando de alegria Pascal…

Oração: Ó Senhor Jesus que na verdade ressuscitastes; é certíssimo que sois o Deus todo-poderoso, pois um homem morto não pode ressuscitar-se; e que só Deus, que dispõe da vida e da morte, é capaz de semelhante prodígio. Vossa Ressurreição gloriosa garante a nossa fé, porque se Jesus é Deus, divina é a Sua Religião, divino é o Evangelho, divina é a Igreja que fundou sobre a rocha de São Pedro. Seguindo a luz de minha fé, guia infalível, fazendo os sacrifícios que ela me pede, sei que é nada disso em vão, porque “Jesus Cristo, minha esperança, ressuscitou! Aleluia!”(3)

Ó Coração de Maria, restituído à alegria pela Ressurreição de Jesus! Rogai por nós !

III – Um aspecto pouco comentado… …na narrativa da Ressurreição de Jesus.

Embora não o tenham afirmado os Evangelistas, é de senso comum, e os bons autores são concordes a esse respeito, que Jesus apareceu em primeiro lugar a sua Mãe, logo após a Ressurreição. Na seqüência, apareceu a santa Maria Madalena (Mc 16,9; Jo.11-17) e, depois, a outras santas mulheres. (Mt 28, 9-10).

Então, Jesus apareceu a Maria, sua Mãe, logo após sair do sepulcro. Em segundo lugar, a Madalena (Jo.20,16), com enorme ternura, chamando-a pelo nome. E, em terceiro lugar, apareceu as outras mulheres, também com muita bondade, deixando que d’Ele se aproximassem e até osculassem os seus pés (Mt.28,9-10 ).

Por que motivo teria escolhido as mulheres para Se manifestar, antes dos próprios Apóstolos ?

Parece incompreensível a atitude de Nosso Senhor, encarregando às mulheres de transmitir a Boa Nova aos próprios Apóstolos, a fim de que estes a anunciem pelo mundo; tratando-se do mais importante de todos os milagres, o fundamento de nossa fé, a Ressurreição do Senhor!

E, por cúmulo, eles nem sequer chegam a lhes dar crédito…”não quiseram acreditar.! (Mc.16, 11)

1 – O fervor é um tesouro!

A esta altura nos perguntamos por que essa diferença de atitude, para com elas, de um lado, e para com os Apóstolos, de outro. O trato do Senhor para com os Apóstolos é bem descrito por São Marcos: “Finalmente apareceu aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a sua incredulidade e dureza de coração, por não terem dado crédito aos que o viram ressuscitado” (Mc.16,14). Suas primeiras palavras, portanto, segundo o evangelista, é de censura para com eles. Que diferença! Por quê ?

Não teria entendido nada dessa sublime lição quem afirmasse que Jesus quis dar preeminência à mulher sobre o homem. Não é este o caso. Na verdade, tais episódios deixam transparecer claramente a essência do Evangelho, que Nosso Senhor havia resumido nos seguintes termos: “Dou-vos um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também deveis amar-vos uns aos outros”(Jo.13,34).É no perfeito amor a Deus e ao próximo que está a síntese do Evangelho.

Era tão grande o amor que aquelas mulheres tinham por Jesus que até seu instinto de conservação havia se definhado, pois corriam risco ir. Carregavam imperfeições, mas o amor pelo Senhor era puro. E quando esse amor é assim depurado, Cristo mesmo toma sobre si a tarefa de aperfeiçoar as ações que a natureza humana decaída venha a realizar.

Com essa afirmação, não é nossa intenção fazer o elogio da imprudência enquanto tal, mas ressaltar como as atitudes irrefletidas das santas mulheres do Evangelho eram compensadas pelo puro amor de Deus – a caridade.

É oportuno lembrar que também o coração do jovem costuma mover-se pelo amor, sobretudo quando arrebatado pelo fervor primaveril. Tal como as santas mulheres, muitas vezes não se guia pela prudência, nem pela razão, mas sim pela audácia. Se se trata de um amor desinteressado e puro, Deus o premeia.

Essa chama é um tesouro, que precisa ser tratada com carinho. (1)

2 – A felicidade está em buscar Jesus

No primeiro dia da semana foi Maria Madalena ao sepulcro, de manhã, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro. Correu, pois, e foi ter com Simão Pedro e com outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram¨ (Jo 20, 1-2).

“Logo no primeiro momento que ela pode, porque estava proibido segundo a lei de Moisés, dar mais de duzentos passos no sábado. Ela estava aflita esperando que o sábado passasse para poder ir ao túmulo onde estava o corpo de Jesus. Ela O amava tanto que queria vê-LO ainda que morto e estava disposta a enfrentar a madrugada, pois, está dito no Evangelho – de manhã cedo – quando ainda estava escuro. Ela partiu e não esperou a clarear do dia. Assim devemos ser nós. Quantas vezes temos uma moção interior da graça para procurar Nosso Senhor no Tabernáculo, para entrar em uma igreja, rezar um pouco, parar por um momento nossas atividades e nos dirigir a Deus e nos vem ao pensamento: Não, neste momento não estou sentindo nada, não me sinto propenso. . .

Era escuro, madrugada, era arriscado uma dama naquela circunstância sair pelas ruas, tudo indicava que não era prudente ir ao sepulcro naquela hora. Contudo, ela o faz, e faz porque está tomada de entusiasmo, de ardor, está tomada de devoção. Exemplo para nós. . .

¨Viu a pedra tirada do sepulcro¨ ; ela se deu conta que ali havia se passado algo, a pedra foi parar longe, o próprio trilho em que corria a pedra foi arrancado. Ela o que fez? Terá voltado para casa?

Quantas vezes encontramos pela nossa vida fatos sobrenaturais impressionantes e ao invés de pararmos para os considerar e nos colocar imediatamente em oração, não fazemos como Santa Maria Madalena que correu, ela podia ter caminhado pelas ruas, não, ela correu.

Depois dela ter visto o milagre, senso de hierarquia, foi avisar ao Chefe da Igreja, o Papa. ¨Foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava¨ . Ela escolheu bem as duas pessoas: Um era o Chefe o outro o mais amado; um era o que mais amava o outro era o mais amado.

… e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram.

É bem a situação de quem não tinha ouvido dizer que Nosso Senhor ressuscitaria ao terceiro dia. Se ela soubesse da ressurreição ela certamente acreditaria, mas a ela não foi dada esta notícia, porque Deus queria esta atitude de alma e conseqüentemente os méritos, o mérito de estar aflita, procurando com sofreguidão, com emoção.

Assim devemos ser nós, e por isso voltarmos sempre a Nossa Senhora e pedirmos a Ela este estado de espírito:

Oração: Oh Mãe! Vós quando soubestes da atitude de Santa Maria Madalena, ficastes alegre, porque era bem o que passava em Vosso coração, Vós queríeis encontrar o Vosso Divino Filho o quanto antes, e se Vós não Vos movestes da vossa casa foi porque o próprio Jesus Vos apareceu em primeiro lugar, as primícias da ressurreição vos foram oferecidas pelo Vosso próprio Filho.

Minha Mãe, vendo eu este exemplo de Santa Maria Madalena, nós Vos pedimos: Dai-nos a graça de sempre procurar Jesus ainda que eu esteja na aridez, porque o símbolo da morte está exatamente na aridez, naquela hora em que não sentimos nada no coração, ainda assim saiamos às pressas e com toda a ênfase a procura de Jesus. (4)

3 – Deus faz de nossos desejos a medida de Seus benefícios!

Como é admirável o amor ardente de Santa Maria Madalena: corre ao sepulcro, e não achando lá o sagrado corpo de Jesus, imagina que o tiraram. Onde o puseram? Quer a todo o custo saber; e em vez de se retirar como os discípulos e as outras mulheres, fica ali, retida pelo amor, para buscar Aquele que ela não pode achar. Fica ali sem nada temer, porque depois de haver perdido Jesus, nada há que receie perder.

Para um desejo veemente nada parece impossível e torna o homem capaz de tudo. Como é intenso o seu desejo de achar Jesus! Bem-aventurada a alma que ama a Jesus até O desejar assim! Deus faz dos nossos desejos a medida dos Seus benefícios, e junto d’Ele os maiores bens não custam muitas vezes mais que um suspiro. A nossa grande desgraça é não amar; e, por isso, não desejar com intensidade a nossa perfeição. Supliquemos a Nossa Senhora de toda a santidade, a gloriosa Rainha dos Anjos que afaste de nós os obstáculos que nós mesmos colocamos para a nossa santificação. (3) Assim seja!

CORAÇÃO DE MARIA, INUNDADO DE INEFÁVEL CONSOLAÇÃO NA ASCENÇÃO DE JESUS, rogai por nós!

Referências:
(1) Revista Arautos do Evangelho – Mons. João Clá Dias, nº 4 – abril 2002 págs. 13-17

(2) Exposição sobre o Credo – Santo Tomás de Aquino- Ed. Loyola, 2a.edição, págs.54-55

(3) Meditações – M.Hamon , Lello & Irmãos Editores- Porto, Tomo II, págs. 250-251

(4) Meditação do Mons. João Clá Dias – Catedral Metropolitana da Sé de São Paulo – 3 de julho de 2004 (sem revisão do autor)

 
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