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Coisas que ninguém pergunta
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 28/07/2019
 
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Numa conversa, um jovem amigo externou uma dificuldade: estava a ler o documento no qual o Papa Pio XII proclama o dogma da Assunção de Nossa Senhora aos céus, e deparou-se com a frase central da proclamação: “… pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a Imaculada Mãe de Deus, a Sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”. (1)

Como católico ele aceitava plenamente essa verdade, pois o Sumo Pontífice, atendeu todas as condições para uma declaração infalível:

— O Papa, em sua declaração, preencheu todas as condições para seu pronunciamento ser infalível: dirigiu-se à Igreja universal, proclamou “ex-cathedra”, ou seja, no seu ofício de pastor e mestre de todos os cristãos, fez uso de sua suprema autoridade, declarou o desejo de definir uma doutrina sobre fé e costumes, a ser aceito por todos os católicos (2) Uma coisa, entretanto, não me ficou clara:

O Papa diz “é dogma divinamente revelado”. Mas, fui procurar nos Evangelhos, Atos dos Apóstolos e Epístolas e não encontrei.

Tentei esclarecer:

— A fonte da Revelação divina não é só a Bíblia. São João termina o seu Evangelho dizendo que, se fosse narrar tudo, nem o mundo inteiro poderia conter os livros a serem escritos. (Jo  21, 25). Talvez você não esteja lembrado: as fontes da Revelação são duas, a Bíblia e a Tradição. A tradição é a transmissão oral feita inicialmente pelos que conviveram com Jesus, com Maria Santíssima, os Apóstolos e discípulos.

Veja por exemplo, uma coisa simples: onde está escrito na Bíblia que o Evangelho de São Mateus foi escrito por ele? O mesmo se pode perguntar sobre os outros Evangelhos. Quem transmitiu a autoria dos Evangelhos foi a tradição oral na Igreja Católica, então nascente. Como esse, vários outros dados sobre a Bíblia foram transmitidos por via oral, ou seja, pela tradição.

— É verdade… Não tinha pensado nisso.

— Veja um ponto — entre muitíssimos outros — onde se verifica a tradição oral. E dito pelos lábios virginais de Maria! Na Anunciação do Anjo, só Ela estava presente. Só podia ser Ela quem transmitiu o fato. O mesmo podemos dizer do Nascimento de Jesus, de sua apresentação no Templo, da fuga para o Egito, da visita a Santa Isabel e o canto do Magnificat, da perda e encontro do Menino Jesus no templo, etc. A fonte primeira desses fatos é a Santíssima Virgem, única testemunha ocular. Ela os transmitiu aos evangelistas diretamente ou por meio de outros.

— Quer dizer, a Assunção…

— … foi presenciada pelos Apóstolos e discípulos e transmitida por eles às gerações seguintes. Seria, mais ou menos, o seguinte: por que acreditamos ter sido Cabral quem descobriu o Brasil e chegou em tal lugar? Além de documentos, houve a transmissão oral. Vários fatos registrados pela História, só foram postos por escrito posteriormente, com base em testemunhas oculares da época.

O mesmo se dá com a transmissão oral que constitui a Tradição. Por isso a Tradição oral é fonte de Revelação. Diz um autor merecedor de todo crédito: “os ensinamentos orais dos Apóstolos eram tão palavras de Deus como os ensinamentos que encontramos no Novo Testamento”. (3) A mesma coisa é afirmada no catecismo oficial da Igreja, publicado pelo Vaticano. (4) Ficou claro?

Notas:

(1) Papa Pio XII, Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, n. 44, 1º de novembro de 1950.
(2) Papa Pio IX, Constituição Dogmática Pastor Aeternus, n. promulgada pelo Concílio Vaticano I em 18 de julho de 1870.
(3) Pe. Leo J. Treese, A fé explicada, Ed. Quadrante, São Paulo, São Paulo, 2010, 11ª edição, p. 468.
(4) Catecismo da Igreja Católica – (Tradução oficial revista pelo Vaticano), São Paulo, Ed. Loyola, 2001, nº 81

 
 
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