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Espiritualidade


Como um caleidoscópio…
 
AUTOR: IR. MARIA TERESA RIBEIRO MATOS, EP
 
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Varões e damas, jovens e anciãos, religiosos e leigos compuseram ao longo dos séculos as ricas figuras de santidade do caleidoscópio divino. Como serão elas no futuro?

Ora uma linda flor dourada ornada com pontinhos vermelhos aparece diante dos nossos olhos; ora uma moldura cor de ametista passa a circundar losangos verdes e laranjas; ora matizes diversos de um feérico azul dominam o conjunto, dando especial nobreza à figura apresentada…

Basta um leve girar no caleidoscópio para que surjam novas imagens. O instrumento é sempre o mesmo, mas as cenas nunca se repetem por mais que, aparentemente, tenhamos voltado ao ponto inicial.

Simples na sua essência, variado nas suas manifestações, ele evoca a História dos homens. Ao longo dos séculos, vão se sucedendo almas que, com as cores e formas próprias ao seu chamado particular, refletem as infinitas perfeições de Deus. Varões e damas, ricos e pobres, jovens e anciãos, religiosos e leigos, coadunam o fulgor de suas virtudes pessoais para, sob a ação do Espírito Santo, compor as ricas e multicoloridas figuras de santidade que marcam cada época.

Já no início da Igreja, vemos refulgir dentro do Colégio Apostólico a alma fogosa e contrita de São Pedro e, junto a ele, o brilho suave, contemplativo e profundamente teológico do Discípulo Amado. O quadro, algum tanto rústico, mas cheio de vida, é completado pelos outros Apóstolos, Evangelistas e mártires como Santo Estêvão.

No decorrer do quarto século, deparamo-nos com a personalidade audaz de Santo Atanásio combatendo a heresia ariana. Sua santidade se conjuga com a de Santo Antão, ancião anacoreta de vida austera penetrada de misticismo.

Olhando para a mesma época, não passa despercebida aos nossos olhos a imagem do fogoso maniqueísta que a bondade do Altíssimo transformou num dos maiores luminares da Igreja: o Bispo Agostinho, cognominado a Águia de Hipona por seus elevados voos de espírito.

E, nesse girar do caleidoscópio divino, como esquecer as luminosas figuras dos fundadores, que deram vida às Ordens e Congregações religiosas, fazendo-as brilhar com as cores dos respectivos carismas?

Em sentido horário: São Pedro, por Pedro Mates – Museu de Arte, Gerona (Espanha); Santo Antão, Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona (Espanha); São Bento, por Spinello Aretino – Museu do Hermitage, São Petersburgo (Rússia); Santo Agostinho – Catedral de Manresa (Espanha); Santo Inácio de Loyola – Museu do Santuário, Azpeitia (Espanha); Santa Teresa d’Ávila – Igreja dos Padres Carmelitas, Segóvia (Espanha)

Em Subiaco, refulge São Bento de Núrsia harmonizando o trabalho e a contemplação: “ora et labora” era seu lema. Deste pai venerável brotou uma florescente família de almas que encheu de esplendor a Idade Média. O grande número de Santos canonizados entre os seus membros atesta a expansão alcançada pela espiritualidade beneditina.

Séculos depois, São Domingos de Gusmão combate a heresia cátara fundando em Toulouse a Ordem dos Pregadores, logo transformada em sólida coluna de doutrina, sobre a qual descansaria a obra evangelizadora da Santa Igreja.

Contemporâneo a ele, o Poverello de Assis reúne um pujante conjunto de amantes da pobreza, dispostos a seguir com inusitada radicalidade os conselhos evangélicos. Seu exemplo haveria de conduzir nobres, reis e plebeus pelas vias da austeridade e penitência.

Nesse caleidoscópio de almas bem-aventuradas que vão se conjugando e sucedendo, encontramos também a grande Teresa d’Ávila, espírito de fogo, reformadora da Ordem do Carmo. E o nobre herdeiro da casa de Loyola, Santo Inácio, que, renunciando a uma brilhante carreira, adota uma vida militante “para maior glória de Deus”. Dele nasce a Companhia de Jesus, formada pelos melhores e mais aguerridos “soldados” que lhe foi possível recrutar.

Todos esses Santos e Santas, e muitos outros que seria impossível lembrar aqui, são valiosíssimos elementos no caleidoscópio divino composto pelo Espírito Santo ao longo da História, e por Ele movido sem cessar, também nos tempos atuais.

Como serão as novas e extraordinárias figuras que o futuro nos permitirá contemplar? Com que fantásticas e desconhecidas cores serão produzidas? Qual a altura espiritual e a íntima união com o sobrenatural alcançada pelas almas chamadas refulgir nos dias vindouros?

Ainda que não saibamos responder a essas perguntas, algo podemos dar como certo: elas brilharão com uma beleza muito maior que as do passado, pois Deus é infinito e, ao suscitar algo novo, sempre supera de longe o que lhe é anterior. (Revista Arautos do Evangelho, Setembro/2019, n. 213, p. 50-51)

 
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