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Espiritualidade


Miséria saltitante à espera de compaixão
 
AUTOR: IR. ANGELIS DAVID FERREIRA, EP
 
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Pequeno, fraco, fugidio e de cores pardacentas, o pardal é, talvez, o mais insignificante dos pássaros. Mas nem por isso deixa de pular de um lado para outro buscando abrigo e alimento. De onde lhe vem tamanha alegria?

O pardal não voa com a elegância das andorinhas, nem possui as belas cores das saíras, e carece também da agilidade estonteante do colibri

O pardal não voa com a elegância das andorinhas, não canta como os rouxinóis, nem possui as belas cores das saíras. Carece da agilidade estonteante do colibri e da habilidade de um joão-de-barro. É, talvez, o mais insignificante dos passarinhos.

Também não empreende grandes migrações, nem faz vistosos ninhos nas torres das igrejas. Leva uma vida banal nas cidades e nos campos, saltitando junto aos refeitórios e cozinhas, mendigando despretensiosamente migalhas de pão ou percorrendo as sementeiras em busca de grãos de trigo.

Ao olhar para um deles e compará-lo com tantas outras maravilhosas aves que Deus criou, caberia perguntar: por que será que o pardal existe? Sua presença em nada eleva a mente ao Céu Empíreo; tampouco sua forma de viver, tão corriqueira, convida a remontar o espírito às alturas celestes.

Contudo, não deixou ele de chamar a atenção do salmista, que proclama: “Quão amável, ó Senhor, é vossa casa, quanto a amo, Senhor Deus do universo! Minha alma desfalece de saudades e anseia pelos átrios do Senhor! Meu coração e minha carne rejubilam e exultam de alegria no Deus vivo! Mesmo o pardal encontra abrigo em vossa casa, e a andorinha aí prepara o seu ninho” (Sl 83, 2-4).

Pequeno, fraco, fugidio e de cores apagadas, o pardal é, no reino animal, o que o mais simples dos pedregulhos é no reino mineral. No entanto, pode-se tomá-lo como um belo símbolo: o das almas repletas de misérias que, reconhecendo nada merecer, pulam alegres de um lado para o outro à busca de abrigo e alimento espiritual. Sua humildade as deixa saltitantes à espera de compaixão, cheias de confiança na bondosa largueza do Deus que as criou.

Saíra-sete-cores (Tangara seledon) fotografada na
Casa Turris Eburnea, Caieiras (SP)

Até o pardal, diz o salmista, encontra abrigo na casa de Deus. Na Igreja Católica nunca falta lugar para os carentes de forças ou parcos em qualidades. E há não apenas um abrigo, mas o caminho para uma verdadeira transmutação.

Ao serem tocadas pela misericórdia divina, essas almas-pardal podem ter a plumagem revestida das mais esplêndidas cores e as asas fortalecidas para voos longos e elegantes. Para isso, basta que reconheçam suas falhas, confiem na bondade infinita de Deus e creiam no poder transformador do Espírito Santo.

Se tu, leitor, em certos períodos de tua existência te sentes também uma alma-pardal, não te deixes abater pelas tuas misérias. Lembra-te de que até a mais insignificante das criaturas encontra abrigo na casa do Altíssimo.

No olhar doce e benevolente do Sagrado Coração de Jesus, sempre acharemos amparo. Maria Santíssima, sua Mãe, está a todo momento querendo nos afagar, converter e aproximar da misericórdia de seu Divino Filho. Ao nos abandonarmos nas mãos d’Eles, as nossas asas de pardal tornar-se-ão belas, ágeis e fortes, capazes de nos impulsionar aos mais altos píncaros da santidade! (Revista Arautos do Evangelho, Julho/2019, n. 211, p. 50-51)

 
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