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Espiritualidade


O assassino e a inocente
 
AUTOR: CARLOS TONELLI
 
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A confiança da jovem Teresa na misericórdia divina lhe dava a certeza de que esse infeliz seria perdoado. Mas pediu a Deus um sinal... E esse sinal lhe foi dado!

Em Henrique Pranzini, as qualidades naturais e os vícios disputavam a primazia. Falava na perfeição vários idiomas e viajara por muitos países. Aventureiro, alistarase no Exército das Índias e foi lutar no Afeganistão. Depois ofereceu seus serviços ao Império russo para combater no Sudão.

Em 1887, ei-lo em Paris, onde se relacionou com a rica e tristemente célebre Regina de Montille. No intuito de, ao que consta, apoderar-se da fortuna dessa infeliz mulher, estrangulou- a a sangue frio, mais sua filha de doze anos e uma empregada.

Preso por esse tríplice assassinato, proclamou com cínica empáfia sua “inocência” e passou seus últimos dias lendo livros obscenos. Em vão vários sacerdotes o visitaram na prisão: não dava sinal algum de arrependimento e jactava-se de não temer a condenação eterna.

Jesus fez de mim uma pescadora de almas

O fato repercutiu em toda a França e chegou ao conhecimento de uma graciosa jovem de quatorze anos, residente na pequena cidade de Lisieux: Teresa Martin, a futura Santa Teresinha.

Justamente nesses dias, Teresa sentia em sua alma um premente apelo de Jesus, que ela própria assim descreve: “Ele fez de mim uma pescadora de almas. Senti um grande desejo de trabalhar pela conversão dos pecadores. (…) Olhando uma fotografia de Nosso Senhor crucificado, comoveu-me ver o sangue que corria de uma de suas mãos divinas e causou- me grande pena a consideração de que esse sangue caía por terra sem que ninguém procurasse recolhê-lo, e resolvi manter-me em espírito ao pé da Cruz para receber esse Divino Orvalho e distribuí-lo às almas (…) Eu ardia do desejo de arrancar das chamas do inferno as almas dos grandes pecadores”.

Assim estava a santa “Pescadora de Almas” quando Pranzini foi condenado à morte. E ela se pôs a campo para livrá-lo da eterna condenação: rezou, fez sacrifícios e mandou celebrar uma Missa, nessa intenção.

Sua confiança na misericórdia divina lhe dava a certeza de que esse infeliz seria perdoado, mesmo se ele não se confessasse nem sequer se mostrasse arrependido. Entretanto, diz ela, “pedi a Jesus apenas ‘um sinal’ de arrependimento, simplesmente para minha consolação”.

E esse sinal lhe foi dado!

“Meu primeiro filho”

No dia seguinte ao da execução, ela leu no jornal “La Croix” a descrição detalhada dos derradeiros minutos de vida do criminoso:

“Às cinco horas menos dois minutos, enquanto os pássaros silvam nas árvores da praça e um murmúrio confuso se ergue da multidão (…) abrese a porta da prisão e assoma pálido o assassino. O capelão, Pe. Faure, põe-se à sua frente, ele repele o padre e os carrascos. Ei-lo diante da guilhotina para onde o carrasco Deibler o empurra. Um ajudante, colocado do outro lado, agarra-lhe a cabeça, para mantê-la presa pelo cabelo embaixo da lâmina prestes a cair. Antes, porém, talvez um relâmpago de arrependimento tenha atravessado a consciência do criminoso. Pranzini pediu ao capelão o crucifixo e beijou-o duas vezes. Depois, o cutelo caiu, e quando um dos ajudantes agarrou pelas orelhas a cabeça cortada, concluímos que, se a justiça humana estava satisfeita, talvez este derradeiro ósculo tenha satisfeito também a Justiça Divina, a qual pede, sobretudo, o arrependimento”.

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Buissonnets, residência da família onde Teresa Martin passou a infância

E a futura Padroeira das Missões deu graças a Deus por esse seu primeiro pecador convertido, “meu primeiro filho” – escreveu ela, emocionada, nos Manuscritos Autobiográficos.

Enquanto Santa Teresinha permaneceu no século, utilizava o dinheiro que ajuntara no seu cofrezinho para encomendar Missas pela alma de Pranzini a cada dia 31 de agosto, aniversário da execução do condenado. Hábito este que, com a devida licença da superiora, conservou também no Carmelo.

(Revista Arautos do Evangelho, Jan/2007, n. 61, p. 32-33)

 
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