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Espiritualidade


Os Conselhos Evangélicos
 
AUTOR: IR. SEBASTIÁN CORREA VELÁSQUEZ, EP
 
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Para o comum dos fiéis, a santificação se alcança observando os preceitos do Evangelho. Porém, um número mais restrito de batizados recebe do Divino Mestre um especial chamado para a perfeição.

Infinitos e universais são os frutos da sagrada árvore da Cruz. Mas, como nos ensina a Parábola do Semeador, os homens não se beneficiam deles por igual. Além das sementes que morrem sem nada produzir, três são as categorias das plantadas em terreno fértil, as quais também tiveram de morrer, rendendo quantidades diferentes: “uma cem, outra sessenta e outra trinta” (Mt 13, 8). Jesus, nessa ocasião, explica a seus discípulos estar se referindo aos fiéis que ouvem e observam a palavra de Deus (cf. Mt 13, 23), os quais morrem para o pecado e para si mesmos.

Surge, então, uma pergunta: a quem caberá render o cem por um, o imolar-se por completo?

A vocação religiosa

Para o comum dos católicos, o caminho da santificação consiste principalmente em observar os preceitos do Evangelho, cada um em seu respectivo estado de vida, e perseverar na graça de Deus, a fim de alcançar a salvação eterna. Porém, um número mais restrito de batizados recebe do Divino Mestre convite excepcional para não se restringir aos meios comuns, mas, renunciando a tudo o que possuem (cf. Lc 14, 33), abraçar um estado especial de perfeição, vivendo já nesta Terra “como os Anjos do Céu” (Mt 22, 30). Estes são conhecidos na Igreja Católica com o nome de “religiosos”, os quais, ao seguirem mais de perto Nosso Senhor pelo “caminho apertado” e pela “porta estreita” (cf. Mt 7, 14), experimentam quão copiosa é a Redenção que n’Ele se encontra (cf. Sl 129, 7).1

Na Antiga Aliança, a vida consagrada era uma vocação extremamente rara. Quem não tinha descendência era facilmente discriminado, pois estava privado de vir a ser ancestral do Messias. Além do mais, as posses materiais, em especial a de terras, eram consideradas como um sinal de predileção divina. O advento de Cristo reverteu essa situação: seu reino não é deste mundo (cf. Jo 18, 36) e realiza-se no interior dos corações. Ele mesmo afirmou serem seus familiares aqueles que “ouvem a palavra de Deus e a observam” (Lc 8, 21). Assim, por meio do seu divino exemplo de desapego terreno, abriu-se nova e esplêndida via de santificação.

De onde vem essa força?

Em certa ocasião, estando na Judeia, um jovem aproximou-se de Jesus e Lhe perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?”. Ele respondeu: “Observa os Mandamentos”. Disse-Lhe o jovem: “Já os tenho observado desde a minha infância. Que me falta ainda?”. Jesus fixou nele o olhar com grande amor e acrescentou: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois vem e segue-Me!”. O jovem foi-se cheio de tristeza, pois era muito rico e não queria acatar as palavras do Divino Mestre (cf. Mc 10, 17-22; Mt 19, 16- 22). “Jesus disse então aos seus discípulos: ‘Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos Céus!’ […] Pedro então, tomando a palavra, disse-Lhe: ‘Eis que deixamos tudo para Te seguir. Que haverá então para nós?’. Respondeu Jesus: ‘Em verdade vos declaro: […] todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna'” (Mt 19, 23.27-29).

Ora, de onde provém essa força para tudo deixar e configurar-se plenamente com Cristo, pobre, casto e obediente? Ela emana, precisamente, da palavra do próprio Deus encarnado, capaz de incutir a graça nas almas: “Segue-Me!”. Esse foi o convite feito a muitos de seus discípulos, como a Filipe (cf. Jo 1, 43) e a Mateus (cf. Mt 9, 9), para outros terá sido apenas um gesto ou talvez um simples olhar, mas é sempre a divina vontade que, almejando um assentimento daquele queJesus com o jovem rico - Vitral da Catedral de Hamilton_Canadá.jpgéchamado, escolhe e incentiva interiormente cada um, conforme diz o Evangelho: “Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça” (Jo 15, 16).

Sementes de fruto abundante

À semelhança do moço rico, Jesus olha com amor para seus escolhidos, aconselhando paternalmente: “Se quereis ser perfeitos, vinde e segui-Me!” (cf. Mt 19, 21); dessa maneira, parece dizer-lhes: “Vinde para serdes transformados em outros Eu mesmo!”.

Magnífica promessa para os que, imolando-se nas mãos de Nosso Senhor, deixam tudo e O seguem. Tornam-se sementes de fruto abundante, pois, ao ouvirem e observarem com maior perfeição os conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, subtraem-se à herança do pecado, morrendo para a tríplice concupiscência:2 ao renunciarem a seus bens, entregam a Deus a capacidade de possuir; praticando com radicalidade a virtude da pureza, consagram-Lhe seus corpos; e acatando as determinações de seus superiores, mortificam a soberba da própria vontade.

A vida comunitária

Na História da Igreja surgiram diversos meios para tornar efetiva essa forma mais perfeita de entrega, entre os quais cabe destacar o ingresso em uma comunidade, pois é na vida em comum “onde os conselhos evangélicos de pobreza e obediência recebem aplicação e realização concretas”.3 Assim, “guiado pelos superiores, ajudado pelos seus irmãos, sustentado pelas regras, as quais determinam até os mínimos detalhes aquilo que deve fazer, o religioso sentirá a realidade do Corpo Místico de Cristo”.4

Quantos Santos os religiosos têm como exemplos a imitarem! Muito mais, eles têm o próprio Deus encarnado, primeiro e exímio praticante de seus divinos conselhos. Quem tudo possuía, despojou-Se de rica condição, para nascer numa situação paupérrima, conforme disse o Apóstolo: “Vós conheceis a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, Se fez pobre, a fim de vos enriquecer mediante sua pobreza” (II Cor 8, 9). Também “a castidade religiosa […] é verdadeiramente querer ser como Cristo; todas as razões que se podem apresentar esvanecem-se diante desta razão essencial: Jesus era puro”.5 E, finalmente, “o conselho evangélico de obediência é o chamamento que promana desta obediência de Cristo ‘até a morte’ (Fl 2, 8)”,6 pois “assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores, pela obediência de um só todos se tornarão justos” (Rm 5, 19).

Ora, como se efetiva a prática dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência no seio da vida consagrada? Significará, por exemplo, um religioso carecer dos recursos necessários para subsistir ao abraçar a pobreza? É o que veremos num próximo artigo. (Revista Arautos do Evangelho, Abril/2013, n. 136, p. 22 à 24)

 
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