Fale conosco
 
 
Receba nossos boletins
 
 
 
Artigos


Espiritualidade


Um palácio nascido no lodaçal
 
AUTOR: IR. LETÍCIA GONÇALVES DE SOUSA, EP
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
0
0
 
O Castelo de Chantilly foi construído muitos séculos atrás, sobre um penhasco rodeado de solo pantanoso. Quem se lembra disto, porém, ao considerar o esplendor de tão magnífica obra e a riqueza de sua intrincada história?

Castelo de Chantilly

Por ser a primogênita da Igreja, a França outorga aos seus filhos o dom de marcar com uma nota de maravilhoso as obras mais características por eles engendradas. Nelas se percebe uma síntese de charme e grandeza, que remete ao sobrenatural e raramente se encontra nos outros povos.

Assim se comprova ao percorrer sua rica culinária tradicional, composta de pratos lendários como o pato à laranja, a sopa bouillabaisse ou o crepe suzette. Também nas porcelanas, tecidos, cristais ou licores produzidos nesse país, nota-se esse singular talento. Nada, porém, reflete tanto a harmônica conjugação entre magnificência e delicadeza, entre o terreno e o eterno, que distingue o povo francês, como seus suntuosos e encantadores châteaux.

O de Chantilly, por exemplo, parece transportar quem o contempla a um conto de fadas! Ou, talvez seja melhor dizer, às moradas dos Santos no Paraíso Celeste.

Edificado no século IX, sofreu sucessivas remodelações de acordo com o estilo de cada período histórico e os gostos das famílias que o possuíram. Aos Bouteiller, que erigiram a primigênia fortaleza protegida por sete torres, seguiram os Orgemont, e a estes a célebre estirpe dos Montmorency. Foram eles que transformaram em palácio renascentista o antigo castelo medieval.

Especialmente marcado ficou Chantilly pela presença de Luís II de Bourbon-Condé, o Grande Condé. A ele se deve o feérico parque que o rodeia, projetado por André Le Nôtre, talvez o melhor paisagista de todos os tempos. Tão fastuoso chegou a ser à época esse castelo, que o Grande Condé recebeu de Luís XIV a recomendação de não o embelezar mais, para evitar que fizesse sombra aos palácios da casa real. O Louvre, Fontainebleau, as Tulherias e o ainda incipiente Versailles corriam risco de ter seu brilho ofuscado pelo possante esplendor de Chantilly.

Mais tarde, o célebre arquiteto Jules Hardouin-Mansart restaurou o interior do prédio e redesenhou sua fachada. Acrescentaram-se no século XVIII as Grandes Cavalariças e o Château d’Enghien, e, após ter sido quase inteiramente destruído durante a Revolução Francesa, o conjunto foi refeito por Henrique de Orléans, Duque de Aumale.

Câmara do Príncipe de Condé

Para quem hoje se aproxima do castelo, chamam especial atenção as torres redondas e fortes, vestígio da antiga fortaleza. Elas o prendem solidamente ao chão, sem fazê-lo perder a elegância, e seu reflexo no espelho d’água que circunda o edifício reforça a sensação de se estar ante uma obra mais celestial do que terrena.

Impressiona, sobretudo, saber que os alicerces de Chantilly foram construídos sobre um pequeno penhasco rodeado de solo pantanoso. Isto é, tamanha maravilha surgiu no meio do lodaçal! Porém, quem se lembra desta circunstância ao considerar o esplendor da magnífica obra e a riqueza de sua intrincada história?

Se analisarmos as almas ao nosso redor, não deixaremos de encontrar algumas cuja vida poderia ser simbolizada pelo Castelo de Chantilly. Sobre um pedaço de rocha às vezes muito pequeno, cercado por terreno lamacento, esforçaram-se em construir um sólido edifício. Nos tempos de bonança ele cresceu em tamanho e beleza, mas não faltaram épocas de tragédia, que ameaçaram destruí- -lo até os alicerces.

Ora, essas almas sempre confiaram no infalível auxílio divino e isso as fez atravessar incólumes todas as crises e tormentas. Parecem ter regido sua existência pela máxima tantas vezes repetida por Santa Maravilhas de Jesus: “Si tú Le dejas…” 

Se O deixarmos agir, Jesus fará de nós grandes santos. Sobre quem n’Ele confia poderão soprar furacões, rugir terremotos ou cair as destrutivas bombas de uma guerra. Desde que nos mantenhamos fiéis a Ele e nos abandonemos nas mãos de sua Mãe Santíssima, o Espírito fará em nós obras extraordinárias, como extraordinária é essa joia da Cristandade que acabamos de considerar! (Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2019, n. 212, p. 50-51)

 
Comentários