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Plinio Corrêa de Oliveira


As almas orantes, esteios da Igreja
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 23/10/2019
 
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A Esposa Mística de Cristo se nutre de almas consagradas de modo particular à oração, pois estas alcançam de Jesus, por meio dela, a força indispensável para vencer as situações excepcionais que pontilham sua existência ao longo dos séculos. Cônscio dessa verdade, Dr. Plinio não se cansava de enaltecer as vocações contemplativas, sobretudo quando as discernia entre seus próprios filhos e discípulos.

Nunca será supérfluo insistir no mérito da oração e na sua eficácia para alcançarmos do Céu as graças e benefícios que favoreçam as nossas mais variadas necessidades espirituais e temporais.

Valor da oração para o apostolado

Essa importância da prece, porém, cresce de vulto quando se trata de afervorar a Fé nos corações, de incentivar no próximo sua correspondência e entrega à Religião católica. Com efeito, tais objetivos não se atingem senão com muita impetração, humilde e perseverante, do socorro divino. Por isso nos ensina Dom Chautard, na sua Alma de todo apostolado, serem a oração e a vida interior o fundamento de qualquer ação apostólica.

Essa verdade é corroborada, de modo curioso, pelo fato de que Nosso Senhor suscita determinadas vocações, não diretamente para a evangelização, mas para rezarem pelo êxito desta, empreendida por outros. Assim, essas almas entregues à súplica apresentam a Deus o quantum de oração que as almas dedicadas ao apostolado, embora tão imbuídas de zelo e intensa vida interior, não têm tempo de fazer.

E desde os primórdios do cristianismo reluziram essas almas orantes que abandonam tudo e passam sua existência rezando, a fim de obter do Céu graças em abundância, determinantes para o sucesso das obras apostólicas — e, portanto, da Igreja Católica — ao longo dos séculos. Essas pessoas são como um turíbulo com incenso de agradável odor que sobe continuamente até Deus, por meio de Nossa Senhora, na glória eterna, rogando-Lhe misericórdia para todos nós.

Beata Ana Maria Taigi

Na história dessas vocações, uma pode ser destinada por Deus a interceder em favor de determinada alma, instituição, etc. Por exemplo, o chamado singular, misterioso, mas extraordinário que teve a Beata Ana Maria Taigi para rezar e expiar pelos membros da família Bonaparte.

Apesar de os parentes mais próximos do célebre General não terem se distinguido por uma séria correspondência aos preceitos católicos, Nossa Senhora se compadeceu deles, e suscitou aquela bem-aventurada — cozinheira na casa dos príncipes Colonna — para tal missão. E suas orações e sacrifícios tiveram efeito. Conta-se que Paulina Bonaparte, irmã de Napoleão e mulher de costumes pouco louváveis, foi assistida na hora da morte por São Vicente Strambi, sacerdote passionista. Quando este saiu do quarto da agonizante, depois de lhe ter ministrado os derradeiros sacramentos, tranquilizou os circunstantes, afirmando que ela falecia em disposições muito boas. Quer dizer, com suas fervorosas preces, Ana Maria Taigi alcançara a salvação daquela alma.

Os contemplativos

Esse chamado especial para a vida de oração aparece com maior intensidade nas ordens contemplativas, masculinas e femininas. Entre estas últimas, há aquelas que cuidam de modo particular da própria congregação. Assim, as redentoristinas, as dominicanas, as franciscanas, etc., devem rezar sobretudo pela fecundidade do apostolado dos institutos religiosos a que pertencem. Claro está, não deixam de pedir, com não menos empenho e ardor, por todos os fiéis, pela perseverança dos bons e pela conversão dos pecadores.

Compreende-se que os contemplativos tenham a missão mais caracteristicamente impetratória, posta a essência de sua vida. Esta consiste em que o religioso, despojado por completo das preocupações meramente terrenas, pode se consagrar ao que São Bento chama de vacare Deo. Ou seja, ter a disponibilidade mental suficiente para que sua atenção esteja voltada de maneira fundamental e contínua para as coisas de Deus. Ora, a clausura é uma condição favorável para isto, por óbvias razões. A pessoa não sai e, sobretudo, ninguém entra no convento ou mosteiro, de sorte que os monges permanecem afastados do mundo.

Além disso, para os que vivem cercados pelas abençoados muros do claustro, uma série de anseios de ordem temporal, como carreira, projeção, fortuna, etc., ficam limitados, embora a miséria humana possa se manifestar em qualquer situação e ambiente. Mas, em via de regra, o enclausurado renuncia às pretensões mundanas, e as distrações e diversões da vida temporal também não penetram em sua alma. Dessa forma, sua fantasia e imaginação têm maior facilidade de se dirigirem para as grandezas divinas.

Então, meditar e ter a atenção habitualmente posta em Deus, seja conversando com Ele, seja considerando todas as coisas à luz da doutrina católica, é um modo de oração próprio da existência contemplativa. 

No movimento, o inestimável papel dos “orantes”

Antes de encerrar essa breve reflexão, gostaria de salientar um ponto de muito interesse para movimentos, como o nosso, que se dedicam ao apostolado. Existem entre nós aqueles mais empenhados na ação externa, no trabalho assíduo e denodado junto às almas que devemos atrair para Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe Santíssima. E há os que têm a venturosa possibilidade de se consagrarem mais à vida de oração e recolhimento.

Extraordinário exemplo de alma orante, Dr. Plinio sempre admirou e estimulou aqueles que se consagravam de modo especial à vida de oração, tornando-se como um turíbulo com incenso de agradável odor subindo até o trono de Deus

Sabemos bem que nosso apostolado é árduo, e nossa correspondência à vocação, não raro dura e difícil — e, portanto, gloriosa — pois não é fácil ser fiel, imerso nos desvarios do século em que vivemos. Para suportar esse apostolado, para corresponder a essa vocação, é preciso haver tais almas orantes, cujas preces incansáveis, insistentes, alcancem para a obra todas as graças de que necessita. Além das suficientes, as extraordinárias, sem as quais não podemos vencer nossas grandes batalhas, sobretudo as de ordem espiritual, que cada um trava no seu interior.

Quantas e quantas vezes, aconselhando a um e a outro, sou obrigado a reconhecer que minha ação individual chegou ao termo, pois não tenho mais influência sobre ele, nem a possibilidade de ajudá-lo. Tudo o que estava ao meu alcance, segundo as vias comuns da graça, foi feito em favor dele. E de nada adiantou. Confiando em Nossa Senhora, entregamos aos seus desvelos maternais a solução para aquela alma. Mais dia, menos dia, esta recebe uma graça extraordinária com a qual não se contava e retoma sua trajetória de ascensão espiritual.

Essa situação é tão freqüente em nossa vida, que torna soberanamente claro o fato de que o movimento somente se mantém porque lhe são concedidas essas dádivas divinas extraordinárias, inesperadas, e às vezes fulminantes. Elas são o “pão nosso de cada dia” na vocação para a qual fomos chamados, obtidas pelas orações de almas muito diletas.

E devo confessar, com profunda gratidão, que é para mim uma alegria, um consolo, um estímulo quando chego em casa à noite e penso: “Eu só tive tempo de rezar minhas preces diárias (que, aliás, não são poucas). Porém, esses filhos que Nossa Senhora me deu oraram e suplicaram bastante segundo as intenções de nosso apostolado. E por isso, mais um dia de conquistas, de batalhas vencidas, de missão cumprida em todas as nossas frentes, termina sob as bênçãos e o afago de Maria Santíssima.” (Revista Dr. Plinio, Agosto/2004, n. 77, p. 16 a 19).

 
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