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Plinio Corrêa de Oliveira


“Ciúmes” da velha Europa…
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 31/07/2019
 
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Durante a longa separação imposta pela viagem de Dr. Plinio à Europa em 1950, Dª Lucilia e ele procuravam amenizar as saudades através das cartas que cruzavam, de um lado para outro, o grande oceano.

Em 11 de maio, dia da Ascensão, Dr. Plinio voltava da Alemanha e, de passagem por Paris, escreveu rápidas linhas. Estas só chegarão a São Paulo por volta do dia 24. Ao lê-las e se inteirar da visita de seu filho a Colônia, Dª Lucilia deve ter recordado aqueles longínquos dias em que com ele, menino, visitara a “capital católica” da Alemanha:

Paris, Ascensão, 1950.
Luzinha querida de meu coração.

Aí vai uma imensa quantidade de garranchos para a Senhora matar as saudades. Tive necessidade de imergir rapidamente na Alemanha, da qual regressei arqui-cansado. No Reno, e em Colônia, lembrei-me muito de que já a visitamos juntos.

Porque ninguém daí – nem a Senhora! – me escreve? (…) Mande notícias para o nosso consulado em Roma.

Pode ir comprando o feijão bem preto, meu amor: dentro de dois dias iremos a Lourdes se Deus quiser, e de lá a Roma. Enfim, aproxima-se o dia em que estarei nos braços da D. Lú!

Paris é algo de indizível. Não lhe posso dizer quanto gosto daqui. Graças a Deus, meus assuntos vão bem. Mande esta carta a Rosée, a quem escrevi há dias. De Roma escreverei a ela.

Muitas saudades às Tias, a Tio Nestor, a toda a família (…); e ao meu povo do 6º andar.

Para a senhora, meu bem, milhões de beijos saudosíssimos, todo o carinho e todo o respeito do seu Pimbinchen…. de 41 anos!


“Como me parece longo, longo, este mês de maio!”

Como a areia de uma ampulheta, cada dia do mês de maio ia lentamente escoando no calendário materno. Junho, na perspectiva do regresso de Dr. Plinio, talvez passasse depressa. Aliviando um pouco a pena da separação, sucediam-se as cartas, portadoras de algo da presença dele. Recebida a anterior em 24 de maio, já no dia seguinte Dª Lucilia respondia, enviando muitas e variadas notícias.

S. Paulo 25-V-50.
Filho querido de meu coração!

Fizeste-me sentir que tens recebido poucas cartas minhas! (…) Deves ter cartas minhas em Madrid, algumas no consulado de Lisboa, e outras (…) no Colégio Pio Latino. Pensar que eu pudesse ter te escrito pouco! Mandei também duas ao hotel Regina!

Adolphinho recebeu minha carta?

Será possível que tenham ido à Baviera, sem ir a Munique? “München wie schön!”1, diziam os alemães outrora, e como estará hoje? Viram a Thereza Neumann2? Escreveme logo de Roma, sobretudo depois que tiveres visto o Papa! É bem natural que, na Itália, já te sintas (com pesar) prestes a voltar, mas meu filho, não fiques triste não… Lembra-te, e demos por isso graças a Deus, de que este pouco tempo, para mim tão longo, foi suficiente para te dar “un aperçu” do que foi a Europa antiga, da [Idade] Média.

Gostei muito do postal com a imagem de Nª Srª de Fátima. Quando receberei um de Lourdes? É este o mês de Maria, e eu estou com a imagem florida e uma vela, que como bem sabes, arranjo no meu quarto, e mais do que nunca, firme na ladainha, e no meu “rosário de coquinho”, em que rezo sempre para o meu filho tão querido, hoje tão distante. Como me parece longo, longo, este mês de maio!… no de junho, se Deus permitir, já começo a te esperar. Quinze de junho, me disseste; não é verdade?

Bem, meu querido, a prosa está boa, mas sinto-me muito cansada, por isso termino.

E para ti, filhão, só o coração saudoso de tua mãe extremosa, e suas bênçãos, Lucilia.

Notícias de Roma

Já próximo do fim de maio, um alvissareiro postal enviado da Cidade Eterna interrompe o silêncio epistolar de duas semanas e anuncia estar a viagem caminhando para seu termo. Infelizmente, não nos chegou ele às mãos.

Essas breves linhas no diminuto espaço de um cartão postal inundaram de alegria a alma de Dª Lucilia, levando-a a escrever logo a seu filho. Sabia ela ser o ponto culminante da permanência em Roma uma audiência com o Santo Padre, e nessa intenção rezava fervorosamente. Com suas orações, acompanhava em espírito, passo a passo, o peregrinar de Dr. Plinio. Para não o perder de vista, pede-lhe com insistência que escreva.

S. Paulo, 31-5-1950.
Filho querido de meu coração!

Estava decidida a telegrafar-te pedindo notícias, quando chegou teu postal de Roma. Foi um alívio! Disse-me teu pai, que [um amigo] recebeu uma carta tua, felizmente portadora de boas notícias, pelo que dou graças a Deus, mas eu também quero uma!! Como sempre, se possível mais ainda, tenho rezado muito por ti, querido, e sobretudo, para que possas ver o Santo Papa…. imagino teu prazer, tua grande emoção…. não é permitido vê-lo mais de uma vez, não?

Em que hotel estás, e para onde devo mandar as cartas agora? Penso que muitas das minhas inúmeras cartas se extraviaram.

Quando chegará tua vez de vir, meu “grandão” querido? Vou ficar certamente radiante, contentíssima, dar mil vezes graças a Deus pela tua chegada, mas, meu filho, você vem com tanto pesar de deixar todas as belas cousas já vistas, e o que ainda resta por ver, e vai trazer tantas saudades, que, não sei bem, se na realidade, você vai se alegrar muito com a volta, mesmo para me ver. Estou deveras com ciúme desta velha Europa, “muito mais velha do que eu”! Já estou pensando no preparo da feijoada; e do creme cor de rosa, mas se chegares à tarde, adio a feijoada para o almoço do dia imediato, fazendo então para o dia da chegada, um cuscuz, ou vatapá…. que te parece?

Muito fatigada, envio um afetuoso abraço ao Adolphinho, e recomendo-me a teus bons amigos.

Para você, amor meu, minhas bênçãos e saudosíssimos beijos e abraços. De tua mãe extremosa, Lucilia.

A fim de tranqüilizá-la e diminuir-lhe os “ciúmes” da Europa, escreve-lhe seu filho estas palavras especialmente carinhosas.

Luzinha queridíssima do fundo do meu coração

No Colégio Pio Latino-Americano encontrei sua carta, que redobrou as imensas saudades que tenho da Senhora. Quanto e quanto eu gostaria, meu bem, de a poder abraçar e beijar longamente agora, de ver ao menos um pouco a Senhora, de pelo menos ouvir o timbre de sua voz dizendo-me “filhão queridão”. Mas ainda devemos esperar um pouco. Em todo o caso, o termo da separação se vai aproximando…

Acima, Dr. Plinio durante a sua viagem à Europa em 1950

Enfim, é bem certo que tenho uma verdadeira loucura por minha Manguinha querida, e que os beijos e carinhos dela são para mim artigo de primeira, primeiríssima necessidade. Por tudo isto, considero a perspectiva do regresso com muito gosto, e já antegozo a feijoada monumental que com certeza Lady Perfection já está preparando.

Tenho estado ocupadíssimo, com visitas sobre visitas. As impressões gerais de Roma, a Senhora as terá por uma carta que escrevi ontem aos rapazes do 6º andar.

Aqui, têm todos sido muito amáveis comigo. O Padre Costa3 nem me deixa em paz, tantos os convites, as gentilezas.

Hoje [assisti a uma Missa] junto ao sepulcro de Pio X. Rezei muito por todos os nossos. Acho extraordinário que as Tias não tenham ainda recebido os cartões que de Roma lhes enviei. Espero poder escrever-lhes ainda antes da partida. Contamos sair de Roma pelo dia 10.

Reze muito por mim, Luzinha querida, e dê-me sua bênção. Mil e mil beijos e abraços do filhão que a respeita e quer imensamente.

Exímia conhecedora dos anseios de seu filho e do amor que ele devotava à Europa, Dª Lucilia procura lhe incutir ânimo e consolá-lo diante da perspectiva de ter ele de partir daquelas veneráveis terras, escrevendo num cartão postal enviado em de 4 de junho:

Filho querido!

Mesmo contando os dias que faltam para tua volta, não deixo de pensar no teu pesar de deixar esta “deliciosa” Europa, objeto de teus sonhos e ambições! Coragem… és moço, e repetirás certamente a “tournée”. Bênçãos e abraços de tua mãe extremosa, Lucilia. (Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias)

 foto acima: Praça de Odeon – Munique

1 “Que bela é Munique!”
2 Mística alemã, então de grande renome.
3 Padre Castro e Costa, jesuíta, antigo professor de Dr. Plinio no Colégio São Luís.

 
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