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Plinio Corrêa de Oliveira


Como os encantos do mar…
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 20/10/2019
 
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O mar… Objeto perpétuo de meu enlevo, meu encanto, meu entusiasmo! Eu seria capaz de passar uma tarde inteira sozinho olhando para o mar, quieto, inteiramente entretido, sem nenhuma outra preocupação que me distraísse desse convívio com as águas do imenso oceano!

No mar sempre me chamou muito a atenção o fato de ele se apresentar variando entre dois pontos extremos, com todas as gamas intermediárias. É agradável considerar tantas formas de belezas postas por Deus na Criação. E a magnificência do Altíssimo se reflete de modo especial nessa capacidade que foi dada ao mar de passar do auge da serenidade para o auge da impetuosidade, através de etapas. Se, de repente, a seqüência desse processo fosse bruscamente interrompida, saltando de um lado para outro, levaríamos um susto.

O ordenado e o bonito daquelas imensas ondas que avançam em ofensiva para a terra, sem se mostrarem descabeladas nem fazendo tumulto, evocam um ataque em regra de uma cavalaria nobre.

Já a maré montante de certos dias, que vai cobrindo a praia, tem seu esplendor próprio, lembrando uma bataille rangée, em fileiras.

É linda, igualmente, a variedade das ondas, porque às vezes algumas não chegam a rebentar: apenas formam aquelas eminências e vão adiante. Outras, pelo contrário,  arrebentam e há um gáudio de gotas pelo ar que depois caem e seguem na sua ofensiva, detendo-se um pouco antes de atingir a praia, saltitando, porque vão se entranhar nas profundidades das areias, e terão de esperar um longo tempo até se tornarem água de novo. Elas então bailam pelo ar, jubilosamente, como guerreiros que, antes de desferir o ataque definitivo, entregam-se à dança da vitória.

Agrada-me também considerar o mar quando se acha calmo, quase imóvel. Dir-se-ia que está de tal maneira absorto na contemplação do firmamento, que nem pensa em si. De súbito, percebe-se que de um lugar qualquer virá uma surpresa. Algo começa a se mover, e dentro em pouco forma-se um vagalhão; é uma bagunça aquática, um assalto contra a terra em que os vários elementos do mar não vêm em bataille rangée, mas parecem se empurrarem uns aos outros para tomar a dianteira, a fim de conquistar a costa mais depressa. É o esplendor da variedade, do inesperado, do quase susto, do imprevisto, que tem seu encanto próprio. E a sucessão desses aspectos torna o mar muitíssimo entretido.

Esses diversos modos do movimento das águas têm pulchrum, porque é belo o mar. Se este fosse feio, suas variações também o seriam. Imagine-se um espetáculo em que aparecesse uma dançarina feia dançando bem. Ninguém quereria assisti-lo, porque a dança é bela quando é belo quem a executa.

Afigurem-se um exército que avança. Será muito bonito quando composto de homens fortes, robustos. Se, pelo contrário, formado de capengas a se arrastarem em certa ordem, não valerá coisa alguma. Assim também o mar: é belo e a sua movimentação está à altura dele.

Além disso, confere-lhe particular formosura os mistérios que ele contém. É um outro mundo a se mover em suas entranhas, nas suas profundidades ocultas aos nossos  olhos os quais, das areias, continuam a contemplar o atraente vaivém das ondas…

Concluo essas divagações, fazendo notar que no existir humano há situações e aspectos de alma análogos aos movimentos do mar. Por exemplo, indivíduos cujos pensamentos avançam em bataille rangée, cuja oratória, argumentação e dialética apertam e estalam nas praias da polêmica.

E há homens que não são do gênero Turenne, general de Luís XIV, célebre por suas triunfantes táticas de combate, mas são os “condeanos”, imitadores do Grande Condé: afeitos aos pulos de vitória em meio a raios de luz e de aventura. Percebem rapidamente uma situação e a resolvem com rasgos de ousadia.

Há espíritos e feitios de inteligência de uma e outra espécie, todos eles com sua beleza peculiar, assim como se reveste de encantos próprios o mar quando sereno, quando impetuoso… (Revista Dr. Plinio, n. 74, Maio/2004, n. 31 a 35).

 
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