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Plinio Corrêa de Oliveira


“Esses cânticos de pedra…”
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 30/08/2019
 
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Elas povoaram a Europa medieval, ocupando vales e altos de montanhas. Estabeleciam seus muros vigorosos com a mesma solidez do ideal religioso que as idealizara. Erguiam seus tetos e torres para o céu, como impulsionados pelo mesmo élan com que desejavam o Paraíso eterno aquelas almas a viverem entre suas longas colunatas de pedra, seus claustros acolhedores, suas imponentes abóbodas, seus esplendores impregnados de paz e contemplação.

Delas evolavam-se cânticos e preces, ou a misteriosa voz do silêncio, ele também transformado em contínua oração a subir até os tronos de Jesus e de Maria.

Em torno ou ao pé delas, como filhos protegidos pela mãe, aglutinaram-se vilas e cidades, que assim cresceram à luz e à sombra dos grandes edifícios consagrados ao serviço de Deus.

Sim, o monacato sincero, vivido com profundidade, fez das abadias verdadeiras obras-primas, não apenas geradoras de toda espécie de manifestação de arte, mas, sobretudo, difusoras daquele espírito que levaria a civilização cristã aos seus mais rutilantes dias de glória.

Abadias-fortaleza, abadias-castelo, abadias-sacrário, abadias heróicas, por cima das quais os Anjos pairam e a Virgem Santíssima aparece. Abadias magníficas, cercadas de um cerimonial faustoso, onde, sob as coruscações de lindos vitrais, reluzem os objetos mais preciosos e o culto divino se desenrola com toda a pompa que lhe é devida.

E quando alguns monges, julgando excessiva a riqueza de seus adornos, resolveram emprestar-lhes feições mais austeras, ainda assim — como todos os frutos engendrados pela Santa Igreja — as abadias se revestiram de particular beleza. Se já não havia a opulência do ouro e da prata, nem a exuberante policromia dos vitrais, tinha-se a singeleza que desprende as almas da Terra para as elevar às pulcritudes da bem-aventurança eterna; concebera-se a simplicidade opalina dos vidros que vieram se aconchegar, humildes e alegres, nos vazios das janelas românicas, das ogivas e das rosáceas. E tudo isso, aos olhos do espírito católico, é igualmente digno de enlevo e admiração.

De muitas, restam apenas gloriosos vestígios que se obstinam contra as voragens do tempo e a indiferença dos homens. Muitas outras ainda sobrevivem, perpetuando neste mundo a afirmação do que pôde o élan de almas santas, amorosas do sublime, e a ousadia de corações que suspiravam pelas maravilhas do Céu.

Seja como for, conservam um papel perene na vida da Igreja, irradiando um perfume do qual, por desígnio divino, nunca se deve privar a Esposa Mística de Cristo.

A elas se referiu, com sobejos de talento e verve, certo autor francês:

“Seria preciso páginas e mais páginas para reconstituir o extraordinário ‘instante’ histórico que constitui esse período entre os séculos XI e XII. A Cristandade desabrocha. Abadias surgem e florescem; por toda a parte se erigem esses desafios ao senso comum, à penúria, ao pesado — esses cânticos de pedra…” (Revista Dr. Plinio, Outubro/2003, n. 67, p. 31 a 35)

 
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