
A figura de Santa Margarida possui o fulgor próprio às almas de grandeza incomum, capazes de influenciar e transformar um povo inteiro. Ela brilha nos céus da História afirmando ser possível a existência de um mundo feliz e maravilhoso, fundado no respeito à Lei de Deus.
Torna-se rainha da Escócia
O soberano escocês, Malcolm III, admirado com a virtude de Santa Margarida, decidiu casar-se com ela. Embora tivesse o desejo de consagrar sua vida a Deus, acabou por aceitar. No entanto tinha à época por volta de vinte anos.
Tornou-se deste modo, na terra, rainha da nação escocesa, enquanto, do Céu, a Virgem Santíssima parecia tê-la escolhido por mãe e protetora de um povo que se mostrava aberto às sublimidades da Fé.
Aliás, a vida desta rainha nos reporta a um mundo maravilhoso, que pode parecer irreal aos olhos de quem desconhece a força transformadora da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fruto do Sangue Preciosíssimo d’Ele foram os inumeráveis Santos e Santas, religiosos e leigos, que fizeram surgir na Idade Média, a partir de povos bárbaros, a admirável Civilização Cristã.
Venerada como mãe pelo seu povo, conta-nos Turgot de Durham, Bispo de Saint Andrews, confessor e principal biógrafo da rainha, que na pessoa da soberana se aliavam a operosidade e a contemplação, a elevação de espírito e um atilado senso das coisas práticas, uma inteligência brilhante e uma afabilidade que levava os últimos de seus súditos a venerá-la não só como rainha, mas também como mãe.
Excelente formadora de bons costumes
Ademais, comenta um outro historiador que a rainha era “dotada por Deus de muitas e excelentes qualidades naturais, de mente e de corpo, e os felizes efeitos de uma plenitude de graça sobrenatural em sua alma apareceram muito cedo”.
Além da força de influência própria à virtude, por outro lado a rainha orientava seus súditos no caminho do bem dando o exemplo de uma piedade ardente e zelosa por tudo quanto dizia respeito à Santa Igreja.

Santa Margarida foi ensinando o rude Rei Malcolm a rezar e a governar com verdadeira justiça – Rei Malcolm – Scottish National Portrait Gallery, Edimburgo
Assim, era por todos conhecida a sua grande inclinação à oração e à leitura das Sagradas Escrituras . Sobretudo, destacava-se sua devoção à Santa Missa: assistia cinco ou seis celebrações por dia. Ademais, empenhava-se tanto em aprimorar tudo o que concernia ao Sacrifício do Altar, que seus aposentos no castelo mais pareciam depósitos de paramentos e vasos sagrados…
Santa Margarida eleva o nível cultural e espiritual de seu povo
A rainha procurou, ademais, requintar o esplendor e a pompa da corte, como meio indispensável para elevar o nível cultural e espiritual do povo. Aumentou o número de servos e criados no castelo, e estabeleceu que a família real fosse servida à mesa com baixelas de ouro e prata.
Embora sempre exigisse dos membros da corte modéstia no modo de se vestir, ela fez introduzir na Escócia o uso de tecidos de melhor qualidade e com maior variedade de cores. Há historiadores que atribuem a Santa Margarida a criação do tartan, característico tecido de lã, usado até os dias de hoje, cujas cores e padrões variam de acordo com o clã ou a região a que se pertença.
Longe de querer estimular a vaidade ou ostentação, ela se preocupava com essas questões por conhecer bem o quanto os bons costumes, uma forma digna de vestir e a elevação no trato social contribuem para a formação de uma mentalidade ordeira e respeitosa, sobre a qual repousa a paz.
“Que meus filhos amem e temam a Deus”
O casal teve oito filhos. Santa Margarida não poupou esforços para educá-los, estando sempre vigilante sobre as más inclinações que despontam já em tenra idade.
Seu coração maternal os repreendia e castigava com firmeza e sabedoria. Contudo, fazia-o com uma bondade tão transbordante que eles se deixavam moldar por ela com inteira confiança. Graças aos seus cuidados, tornaram-se afetuosos e pacíficos. Desde pequenos, os mais novos respeitavam os irmãos mais velhos, dando exemplo de como deve ser o verdadeiro relacionamento cristão.
Ao alcançarem a idade adulta, a vida dos filhos de Santa Margarida foi digna da grandeza dos seus antepassados.
Sabedoria e equilíbrio, até o fim!
Durante seis meses Margarida esteve doente, podendo poucas vezes levantar-se da cama. A cada dia suas dores aumentavam, mas ela tudo suportava com paciência e oração. Não reclamava, e permanecia sempre serena.
Seu marido, o Rei Malcolm, teve de partir para a guerra contra Guilherme, o Conquistador. Entretanto, veio a perecer no combate, juntamente com seu filho primogênito, Edward. Conta-se que Margarida soube, à distância, o que acontecia. Naquela tarde ela ficou muito triste e disse, suspirando:
“Talvez neste dia uma pesada calamidade caia sobre o reino da Escócia, como não houve em muitos anos passados”.
Quatro dias depois, seu filho Edgar retornou da batalha. Ao entrar no quarto de sua mãe, ela lhe perguntou: “Vai tudo bem com o rei e com o meu Edward?” Edgar respondeu: “Vosso esposo e vosso filho foram mortos”.
Erguendo os olhos para o céu, ela replicou: “Louvor e bênçãos a Vós, ó Deus todo-poderoso, que achastes bem fazer com que eu sofresse tão amarga angústia na hora de minha partida, para purificar-me, em alguma medida, da corrupção dos meus pecados. E Vós, Senhor Jesus Cristo, que pela vontade do Pai redimistes o mundo por vossa Morte, libertai-me!”
Dizendo estas palavras, rendeu sua alma a Deus.
A vida de Santa Margarida se apresenta aos nossos olhos como uma seguidilha ininterrupta de atos de virtude. Ela brilha nos céus da História afirmando a existência de “um mundo onde as maravilhas são possíveis e o extraordinário e o estupendo se tornam realizáveis”.
(Revista Arautos do Evangelho, Novembro/2019, n. 215, p. 30 a 33).